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    Depois disso, Duncan não conseguiu extrair mais nenhuma informação útil da boca daqueles Pregadores do Fim.

    Eles apenas se sentavam em silêncio no convés, como se estivessem tentando aproveitar ao máximo cada segundo, respirando a brisa do mar infinito. Diante das perguntas de Duncan, ou respondiam com olhares vazios e frios, ou com risadas insanas e desconexas.

    Mas a última frase que haviam dito antes disso já havia se gravado profundamente na mente de Duncan.

    Esses fanáticos que seguiam o Subespaço, com a sanidade possivelmente já em valores negativos… pareciam ter obtido, por meio de sua fé enlouquecida, um conhecimento que teoricamente jamais deveria existir — revelações que, em teoria, nunca haviam sido divulgadas.

    Eles ‘viram’ que havia uma humanidade anormal dentro do ‘Capitão Duncan’ — e ainda disseram que essa humanidade havia sido ‘recolhida’. O que isso queria dizer, exatamente? Será que eles eram capazes de perceber que a alma dentro deste corpo já não era mais a original?!

    Além disso, os cultistas haviam dito momentos atrás que não estavam escondidos na cidade-estado… mas sim, ocultos dentro de uma história amaldiçoada? O que isso significava? Seria possível que esses Pregadores do Fim, loucos e delirantes, nem mesmo existissem no espaço-tempo convencional? Seria por isso que conseguiam agir de forma tão bizarra sem serem detectados pelas autoridades da cidade?

    Duncan observou em silêncio os Pregadores do Fim, que sorriam com expressões distorcidas, enquanto seus pensamentos se agitavam. Ele também mantinha sua atenção sobre toda a embarcação, tentando perceber se havia alguma mudança no Banido.

    A cabeça de bode continuava obedientemente na sala de mapa, mantendo-se ao leme como de costume — aparentemente sem se importar com o que acontecia no convés.

    Todas as partes do Banido estavam funcionando normalmente; as palavras dos Pregadores do Fim não haviam surtido nenhum efeito sobre a embarcação.

    Alice estava sentada um pouco mais adiante, em cima de um grande barril, abraçando a própria cabeça com expressão entediada enquanto ajeitava os cabelos — a Srta. Boneca já não acompanhava mais a conversa entre o capitão e os cultistas, tendo perdido o interesse há um bom tempo.

    Não se sabia quanto tempo passou até que Duncan finalmente soltasse um leve suspiro.

    Parecia ter desperdiçado tempo demais com esses fanáticos, sendo até mesmo influenciado pelas palavras insanas deles.

    Já havia extraído bastante informação útil dessas bocas enlouquecidas, e não parecia que haveria mais revelações — então, não havia razão para continuar perdendo tempo com loucos.

    No instante em que sua expressão começou a mudar, um dos Pregadores do Fim ergueu repentinamente a cabeça. Em seus olhos caóticos refletiam-se as velas ocas e etéreas do Banido, e ele murmurou como em um delírio:

    “Está na hora de descer do navio?”

    “Este navio nunca teve lugar para vocês”, disse Duncan, com expressão impassível, “mas antes de jogá-los fora, ainda podem ser úteis.”

    Os três Pregadores do Fim levantaram a cabeça ao mesmo tempo, abrindo lentamente sorrisos estranhos.

    Apesar da euforia que haviam demonstrado ao embarcar — chegando ao ponto de beijar o convés com devoção —, naquele momento, ao ouvir as palavras de Duncan, não demonstraram qualquer sinal de frustração ou medo.

    Inicialmente, Duncan ainda achava que eles ao menos tentariam resistir — que tentariam encontrar uma maneira de permanecer à força naquele navio ou até usar a embarcação como meio de alcançar o tão almejado ‘Subespaço’, a sua ‘Terra Prometida’. No entanto… nada disso aconteceu. Apenas um torpor estranho preenchia os olhos daqueles homens.

    Era como se, em algum instante imperceptível, a maior parte de suas personalidades e memórias tivesse deixado seus corpos — ou talvez tivessem ouvido algum tipo de ‘chamado’ vindo das sombras, e então simplesmente aceitaram o destino com naturalidade.

    Duncan franziu a testa, sem se aprofundar demais no que se passava nas mentes daquelas criaturas já enlouquecidas. Em vez disso, virou-se na direção da boneca gótica que estava distraída não muito longe:

    “Alice, venha aqui um instante.”

    A boneca reagiu imediatamente. Com habilidade, pegou a própria cabeça, encaixou-a de volta no pescoço, pulou do barril e correu até Duncan:

    “O senhor me chamou, capitão?”

    “… Será que dá pra parar de ficar arrancando a própria cabeça o tempo todo? As articulações já não são muito firmes, e parece que tua inteligência escorre junto quando você tira”, murmurou Duncan, franzindo a testa antes de balançar a cabeça e apontar para os três cultistas. “Vou te pedir pra fazer um pequeno teste.”

    “Um teste?” Alice piscou, confusa. “Que tipo de teste?”

    “Quero ver se aquela sua habilidade incontrolável de ‘guilhotina’ ainda está ativa.” Ergueu uma sobrancelha. “E não me diga que já esqueceu disso.”

    “Esqueci sim!” respondeu Alice com firmeza, assentindo com convicção. “Só lembrei agora que o senhor mencionou!”

    Ela parecia completamente à vontade, sem notar a expressão levemente constrangida que surgiu no rosto de Duncan por um instante. Logo em seguida, virou-se animadamente para os ‘Pregadores do Fim’ e acenou:

    “Olá! Esqueci de me apresentar antes… meu nome é Alice! Eu sou a… cozinheira do navio?”

    “Você devia contar a eles sua outra identidade”, disse Duncan em tom calmo. Embora falasse com Alice, mantinha os olhos fixos nos cultistas. “Anomalia 099.”

    Os olhos dos três Pregadores do Fim finalmente demonstraram alguma mudança. Um deles não conseguiu evitar olhar diretamente para Alice, e sua expressão assumiu, repentinamente, um traço de seriedade.

    “Achei que vocês já estivessem apáticos a ponto de nem temerem mais a morte”, comentou Duncan, notando a mudança de atitude, mas mantendo-se sereno. “Pois bem… espero que vocês, que nem ao Subespaço temem, apreciem o que está por vir. A tarefa é simples: fiquem perto da Alice… e sobrevivam. Ou… morram decapitados.”

    Alice, que ouvia ao lado, inclinou-se de repente e sussurrou:

    “Capitão, o senhor falando assim parece até um vilão…”

    Duncan lançou um olhar surpreso à boneca:

    “… Você está do lado de quem, afinal?”

    “A morte não tem significado para nós…” disse então um dos Pregadores do Fim, interrompendo o cochicho entre Duncan e Alice. Olhou diretamente para a boneca e até deu um passo à frente, com uma pitada de escárnio na voz. “Nada além de uma pausa a mais nessa longa jornada… E você, que recusou a dádiva do Subespaço, tolo iludido pelas miragens do mundo real… jamais conhecerá a verdade que existe além da vida e da morte…”

    Duncan puxou o braço de Alice rapidamente:

    “Você ouviu isso? Isso sim é fala de vilão…”

    Alice assentiu com a cabeça:

    “Ah, entendi.”

    Em seguida, Duncan ignorou completamente a reação dos Pregadores do Fim. Levantou os olhos e olhou para o céu noturno, onde pairava a Criação do Mundo, antes de perguntar de repente:

    “Há quanto tempo esses sujeitos estão a bordo?”

    “Já faz algumas horas, né?” respondeu Alice, pensativa. “E olha que eu sou boa com essa coisa de tempo!”

    “Algumas horas…” murmurou Duncan, refletindo. “Ou seja, o tempo necessário para a ativação e verificação da guilhotina já passou pelo menos uma vez.”

    Seus olhos pousaram sobre a boneca à sua frente, enquanto na mente repassava tudo o que lembrava sobre as características da Anomalia 099.

    “Mas isso ainda não é suficiente. Vamos esperar mais um pouco, depois faremos a próxima rodada de testes.

    “Próxima rodada de testes?” Alice piscou, confusa. “Que tipo de teste?”

    “Por enquanto, tudo indica que sua habilidade de guilhotina não se ativou. Mas ainda não dá pra saber se isso acontece por influência do Banido, ou minha”, disse Duncan, lançando um olhar aos cultistas, como se quisesse confirmar que suas cabeças continuavam presas ao corpo. “Quando tiver certeza de que o ciclo de verificação da sua habilidade se completou, quero que você e esses ‘Pregadores’ saiam temporariamente do Banido.”

    Alice arregalou os olhos:

    “Sair do Banido temporariamente? Mas… ir pra onde?”

    Ela se virou e lançou o olhar além da amurada do navio. Tudo que podia ver era o mar sem fim. A essa altura, as águas estavam calmas, e toda a superfície marinha se encontrava banhada pelo brilho pálido da Criação do Mundo, como se fosse uma imensa planície de neve sem fim. Mas… não havia nenhum lugar visível para onde ir.

    Duncan pensou um pouco.

    Agora que já havia conseguido os ‘materiais’ de teste para Alice, ainda precisava de um ‘campo experimental’ livre de interferências externas — e, acima de tudo, que não estivesse sob a influência do Banido. Esse local, no entanto, também não poderia ser em terra firme, onde houvesse muita população. Restava uma única opção.

    “Ainda temos alguns botes salva-vidas em perfeito estado. Vou colocar um na água e cortar temporariamente sua ligação com o Banido”, explicou Duncan, olhando nos olhos de Alice. “Vocês vão flutuar no mar por um tempo. Mas a embarcação principal vai continuar por perto — não vou te abandonar.”

    Ao ouvir o plano, a Srta. Boneca encolheu os ombros na hora:

    “D-De novo flutuar no mar?! Eu tenho traumas com isso! E se escurecer e o senhor me perder de vista? E se vier uma onda e o bote for levado? E se virar o barco…”

    Duncan não esperou a ladainha terminar:

    “Chega, chega, chega! Não tem esse tanto de ‘e se’! Eu vou mandar a Ai ficar sobrevoando vocês, vigiando tudo. E convenhamos: você ainda tem medo de não conseguir voltar pro navio? Da outra vez, te dei uma tábua de caixão e você atravessou o mar inteiro, nem oito balas de canhão te seguraram! Dessa vez você vai ter remos de verdade!”

    Alice até se calou por um instante com a resposta, mas foi só por um instante. Logo lançou um olhar preocupado para a imensidão do mar e, depois, para os cultistas de aparência nada confiável, com suas mentes afundadas na loucura. Agarrando com força a manga da camisa de Duncan, murmurou:

    “Capitão… promete que não vai me deixar pra trás, hein?”

    Duncan: “…”

    Por que ele tinha a sensação de que essa boneca estava ficando cada vez mais molenga a bordo? Ela era bem mais ‘resolvida’ quando cruzava o mar sozinha naquela tampa de caixão… Pelo menos naquela época, tinha um tipo de determinação meio boba…

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