Capítulo 19: O Salão Subterrâneo
Os indivíduos vestidos com mantos e capuzes inevitavelmente notaram Duncan, que estava parado bem no meio do caminho, sem a menor intenção de se esconder.
Duncan ainda estava do mesmo jeito que quando deixara a caverna: um corpo magro e frágil, coberto por trapos esfarrapados, com pedaços de tecido improvisados cobrindo o buraco no peito. Ele permanecia ali, imóvel, no centro do caminho, como se tivesse sido pego de surpresa pelo súbito aparecimento dos encapuzados.
Os estranhos pararam por um momento, claramente surpresos com a cena. O líder do grupo foi o primeiro a reagir, gritando:
“Um dos sacrifícios escapou!”
Imediatamente, os outros começaram a correr em sua direção, com um deles gritando:
“Depressa! Peguem-no! Não deixem ele fugir!”
Duncan deu de ombros, observando os indivíduos suspeitos se aproximarem, seu rosto permanecendo impassível. Ele não tinha intenção de fugir – não apenas porque sabia que seria inútil com o estado daquele corpo temporário, mas também porque calculara que obter informações seria mais valioso. Ainda assim, os gritos dos encapuzados ecoaram:
“Não deixem ele fugir!”
“Um sacrifício escapou!”
No entanto, Duncan estava parado ali, sem mover um músculo. Esse comportamento inesperado fez a situação ficar… desconfortável. Enquanto corriam, os encapuzados começaram a perceber que algo não estava certo. Eles reduziram o ritmo e, aos poucos, os gritos cessaram. Ainda assim, continuaram se aproximando até cercá-lo. Duncan podia quase sentir a mistura de constrangimento e irritação emanando dos indivíduos sob os capuzes.
Agora cercado, Duncan olhou calmamente para os encapuzados ao seu redor. Após alguns segundos de hesitação, ele comentou:
“Talvez eu devesse ter corrido um pouco? Só para entrar no clima…”
Os encapuzados ignoraram o comentário irônico. Eles apenas lançaram olhares cautelosos para Duncan antes de olhar para algo atrás dele. Dois deles começaram a murmurar entre si, e Duncan conseguiu captar fragmentos da conversa:
“Por que um deles saiu?”
“Será que os cães da Igreja descobriram este lugar…? Mas ele não parece ter sido libertado por ninguém.”
“De qualquer forma, precisamos levá-lo de volta. Este sacrifício está estranho… é melhor nos livrarmos dele logo.”
“Deixe que o Emissário decida.”
Duncan não fazia ideia de quem ou o que era esse ‘Emissário’, mas, considerando o que havia visto até agora e a menção frequente ao termo ‘sacrifício’, ele já tinha uma ideia do que estava acontecendo.
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Ele não sabia como ‘um sacrifício normal’ deveria agir, e definitivamente não estava interessado em colaborar com a ‘encenação’ dessas pessoas. Estando fora do Banido, e com um corpo descartável, Duncan sentia que tinha pouco a perder. Após observar o grupo por um momento, ele perguntou, de maneira direta:
“Para onde vocês estão me levando?”
Os indivíduos encapuzados ficaram visivelmente surpresos ao ouvir o ‘sacrifício’ à sua frente falar tão calmamente. Embora seus rostos estivessem escondidos sob capuzes e véus escuros, Duncan podia sentir a surpresa em sua postura. Um dos encapuzados lançou-lhe um olhar ameaçador através do véu e disse, com uma voz baixa e áspera:
“Você não tem o direito de questionar – levem-no!”
Antes que eles pudessem se mover, Duncan deu um passo à frente por conta própria.
“Não precisam me arrastar, eu vou com vocês.”
Os encapuzados se entreolharam, claramente perplexos com a atitude. Talvez pensassem que o ‘sacrifício’ estava mentalmente instável. O líder, no entanto, apenas acenou com a mão:
“Assim é melhor. De qualquer forma, você não tem como escapar… Venha, talvez você tenha uma oportunidade de encontrar a honra de forma digna.”
Os encapuzados cercaram Duncan, bloqueando todas as possíveis rotas de fuga, e o conduziram para as profundezas do esgoto.
O fedor úmido e rançoso do esgoto era sufocante, mas os encapuzados pareciam completamente alheios ao cheiro, caminhando com naturalidade pelas passagens sujas e mofadas. Duncan os seguiu em silêncio, mantendo uma expressão impassível enquanto prestava atenção em cada palavra que eles diziam. As conversas entre os encapuzados eram raras, mas Duncan conseguiu captar algumas palavras importantes, como ‘Pland’, ‘governador’ e ‘Igreja’.
“Então, este é o Cidade-Estado de Pland?” Duncan perguntou de repente, como se estivesse conversando com velhos conhecidos.
“Claro que é…” um dos encapuzados respondeu automaticamente, mas parou no meio da frase ao perceber o que havia feito. Ele lançou um olhar surpreso e desconfiado para Duncan.
“Você está bem calmo, garoto. Sabe o que vai acontecer em breve?”
“Tenho uma ideia,” Duncan respondeu com um sorriso, e então fez uma pergunta casual:
“O Sol Negro, não é?”
Os passos dos encapuzados hesitaram por um momento. Eles claramente interpretaram mal a reação de Duncan. Um deles cochichou para o outro:
“Espere, ele também é um seguidor do Mestre?”
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“Impossível. Ele obviamente é um sacrifício que escapou…” o outro respondeu em um sussurro, antes de olhar novamente para Duncan. “Você parece esperto, mas não pense que isso vai te salvar. O Mestre já decidiu seu destino. É melhor aceitá-lo com gratidão.”
Duncan não respondeu, mas sabia que sua atitude calma estava confundindo os encapuzados. Eles provavelmente achavam que ele estava fingindo ser um ‘seguidor’ para tentar sobreviver. A verdade, no entanto, era muito mais simples.
Afinal, o corpo temporário que Duncan estava usando era tão fraco que até manter uma expressão facial mais complexa era impossível. Sua ‘calma’ era na verdade o resultado da rigidez de suas expressões!
Mas ele não se importava com o que aqueles fanáticos estavam pensando. Seu único objetivo era coletar o máximo de informações possível durante essa ‘missão de uso único’. Assim, ele continuou a fazer perguntas:
“Então, vocês acreditam que o ‘sol’ no céu agora é um falso sol? E que ele vai cair um dia?”
“O falso sol cairá, com certeza!” A questão claramente tocou um ponto sensível entre os encapuzados, e Duncan ouviu a resposta fervorosa de um deles:
“Mesmo os cães da Igreja admitem em suas crônicas que o sol atual apareceu apenas após a Grande Aniquilação – uma entidade distorcida e aberrante! O verdadeiro Sol Negro, que traz vida e ordem a todas as coisas, foi usurpado por essa fraude… Mas o impostor no céu está destinado a cair!”
Imediatamente, outros encapuzados começaram a murmurar com fervor:
“O falso sol vai cair!”
“O verdadeiro Sol Negro em breve despertará!”
“As águas desnecessárias serão banidas pelo poder do Sol Negro, e a terra retornará a uma era de abundância e estabilidade!”
Enquanto ouvia os devaneios fervorosos dos fanáticos, Duncan ponderava rapidamente. Ele sabia que fanáticos religiosos como aqueles não podiam ser compreendidos através da lógica comum. O que eles acreditavam muitas vezes era uma versão distorcida e manipulada da verdade. No entanto, algumas informações reveladas por eles ainda poderiam ser úteis:
O ‘sol’ que pairava no céu era uma fraude…
O verdadeiro sol havia sido usurpado…
Eles acreditavam que o verdadeiro sol era uma divindade caída e um dia ela ‘renasceria do sangue e do fogo’…
Eles mencionaram a ideia de ‘águas desnecessárias’ e uma ‘era de abundância e estabilidade’. Mas o que exatamente isso significava?
Enquanto os pensamentos se acumulavam na mente de Duncan, os fanáticos finalmente começaram a se acalmar. Eles se lembraram de sua tarefa: escoltar um ‘sacrifício fugitivo’. Os encapuzados mais próximos de Duncan silenciaram, mas ele conseguiu ouvir os dois que estavam mais atrás, cochichando em voz baixa:
“Você não acha que esse sacrifício é meio… estranho?”
“Ele parece esquisito… algo sobre ele me deixa inquieto.”
“Talvez ele tenha ficado tempo demais nos subterrâneos sem luz enquanto fugia, e sua mente foi afetada por algo…”
“Isso é perfeito. O poder do Mestre o purificará.”
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Duncan prestava atenção à conversa, especialmente às palavras ‘subterrâneos sem luz’. Mas, antes que pudesse captar mais informações, o líder do grupo interrompeu ao parar abruptamente:
“Chegamos.”
A voz fria e baixa do líder ressoou.
Duncan sentiu uma leve decepção por não ter conseguido mais informações, mas logo sua atenção foi completamente capturada pela cena à sua frente.
O grupo havia chegado ao final de uma passagem – um ponto onde várias seções do sistema de esgoto se encontravam. O local se abria em um espaço amplo, quase como uma pequena catedral subterrânea. Dentro daquele espaço, uma cena inquietante se revelava: era o local de uma reunião dos encapuzados.
Capítulo revisado dia 25/01/2025
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