Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Duncan ficou um tanto arrepiado com o olhar fixo daquela boneca. Depois de manter a calma por alguns segundos, não aguentou e franziu o cenho:

    “O que você tá olhando?”

    Alice respondeu com toda honestidade: “Você.”

    Duncan fez uma cara de total confusão: “E o que tem de tão interessante pra olhar?”

    “É a primeira vez que vejo você falando… com essa aparência”, disse Alice, num tom de espanto. “Você já tinha comentado que tinha outro corpo e identidade aqui, mas ver com os próprios olhos ainda é meio inacreditável! O senhor parece tão diferente do que é no navio… não tão alto, nem tão sombrio… tá com cara de… gente boa…”

    Ao ouvir isso, os olhos de Duncan se arregalaram na hora. Mas antes que pudesse responder, Alice se apressou em completar:

    “Ah! Não quis insultar o senhor, perdão!”

    “Quantas vezes eu já falei pra parar de copiar aquelas idiotices do Cabeça de Bode?! Dizer que alguém é ‘gente boa’ não é ofensa! Nem quando é comigo!” Duncan esfregava as têmporas, sentindo o cérebro latejar. “E você já esqueceu o que eu te falei? Aqui na cidade-estado, nada de ‘Capitão’ — é ‘senhor Duncan’ ou ‘senhor dono da loja’. Entendeu?”

    Alice encolheu os ombros num espasmo e acenou apressada:

    “Ah… entendi sim, senh… senhor dono da loja!”

    “…Quer saber? Melhor continuar me chamando de ‘senhor Duncan’ mesmo”, suspirou Duncan, exausto. “Pelo menos esse você tem menos chance de errar.”

    “Tá bom, tá bom, senhor Duncan.” Alice logo respondeu baixando a cabeça — mas mal fez isso e já ouviu a voz do Duncan, mais uma vez com tom de advertência:

    “Nada de abaixar a cabeça! Vai acabar derrubando ela — e se sua cabeça rolar na frente dos outros, sua viagem pela cidade-estado vai acabar ali mesmo.”

    “Ahh, tá!” respondeu Alice, voltando a erguer o queixo. Em seguida, franziu a testa e pensou alto: “Ei, acho que já ouvi o Ai dizer algo parecido com isso… mas não era bem isso. Ele falou: ‘Não abaixe a cabeça… a coroa pode…’”

    “Você tem coroa na cabeça agora?! O que você tem aí é uma peruca — e ainda por cima, mais firme que sua própria cabeça!”

    Alice ficou alguns segundos em silêncio. Pensou… e depois soltou um riso abafado: “Ehehe…”

    O silêncio, no entanto, durou pouco.

    Menos de dois segundos depois, ela já estava encarando Duncan outra vez. E dessa vez, se antecipou antes que ele perguntasse:

    “Capitão… posso tocar no seu rosto?”

    Duncan arregalou os olhos, completamente perdido: “Eu não me importo, mas… por quê?”

    Alice já tinha avançado assim que ouviu as palavras “não me importo”. Pelo visto, depois de deixar o corpo imponente do Capitão Duncan no navio, a ousadia da boneca atingira níveis alarmantes. Ela se aproximou com naturalidade e começou a apertar as bochechas do corpo atual de Duncan, os olhos brilhando de curiosidade:

    “Uau! É de verdade mesmo! No navio, seu rosto parecia esculpido em pedra!”

    Duncan se contorcia de desconforto, tentando recuar enquanto falava com resignação:

    “Já deu, né? Pega leve com—”

    Antes que ele terminasse a frase, dois passos leves soaram vindo da escada, seguidos pela voz alegre de Nina:

    “Tio, a gente acabou de comer! O que você tá fazendo aí embaixo?”

    Duncan se virou de cara fechada. A mão de Alice ainda estava estendida no ar. E Nina parou no alto da escada, paralisada diante da cena — olhando, atônita, para a belíssima dama que parecia ter saído da alta nobreza do Distrito Superior, agora sentada com toda elegância ao lado do balcão da loja.

    Shirley, que vinha logo atrás, quase esbarrou nela:

    “Ei, por que parou de repente?”

    Com um gesto rápido, Alice recolheu a mão e juntou as duas no colo. Sentou-se ereta, imóvel, como se tivesse acabado de ser posta na vitrine de uma galeria de bonecas luxuosas.

    Postura perfeita, olhos serenos. Igualzinha a uma peça de exposição da Casa de Bonecas da Rose.

    Nina demorou um pouco para reagir. Desceu os degraus devagar, os olhos ainda presos na estranha visitante. Shirley também viu a cena lá embaixo, mas sua mente foi para outro caminho completamente diferente:

    Cão, Cão, olha só! Quem é essa sentada de frente pro senhor Duncan? Aquilo é… é gente mesmo? Você acha que consegue enfrentar ela?

    A resposta do Cão demorou mais que o normal — e soou extremamente cautelosa:

    Pelo que consigo ver através dos seus olhos… aquilo aí tá mais pra ‘não humano’. Não sei se consigo vencer. Na dúvida… prefiro nem tentar.

    Como assim? Você nem sabe o que é, por que esse medo todo?

    Ué! Ela teve coragem de apertar a cara do senhor Duncan! Só isso já me dá vontade de pegar lenha e preparar a panela pra mim mesmo!

    … Você tá cada vez mais patético, Cão.

    Isso se chama instinto de sobrevivência! Você sabe quantos humanos gastam a vida inteira tentando aprender esse instinto?

    Shirley simplesmente o ignorou.

    Enquanto isso, ela e Nina já tinham descido até o térreo.

    Shirley viu Nina se aproximar de Duncan e da bela jovem, e ouviu a pergunta sair carregada de curiosidade:

    “Tio… quem é essa moça?”

    Os olhos de Nina estavam cheios de brilho. Ela nunca tinha visto uma mulher tão bonita de perto — ainda mais alguém que parecia ter tanta liberdade ao lado do seu tio. A postura, a presença, o jeito como interagia… era tudo fascinante demais.

    Duncan pigarreou duas vezes, tentando dissipar o clima esquisito, e logo respondeu com naturalidade:

    “Ah, boa hora pra apresentar. O nome dela é Alice. Lembra que eu comentei que ia contratar mais uma pessoa pra ajudar na loja? Pois é, é ela.”

    Logo em seguida, apontou para as duas garotas:

    “Essa é minha sobrinha, Nina. E essa aqui é Shirley, que tá ficando com a gente por um tempo.”

    “Prazer em conhecê-las.” Alice se adiantou, cumprimentando com educação impecável. Ela se manteve sentada de forma exemplar, fez um aceno de cabeça na medida certa, sem exageros, e conteve qualquer resquício de impulsividade. Seguiu à risca todos os ensinamentos de Duncan para parecer uma dama comportada.

    Dessa vez, estava absolutamente perfeita.

    Mas talvez fosse por alguma ‘qualidade’ impossível de ocultar que vinha da sua essência de boneca — por mais que Alice estivesse sentada de forma impecável e contida, seu comportamento, aos olhos de Nina e Shirley, parecia… diferente.

    Havia ali uma elegância refinada e uma aura misteriosa que nem elas sabiam como descrever. Algo impossível de fingir.

    E assim, na primeira vez que encontraram a pessoa mais estabanada da casa, as duas garotas construíram, juntas, um mal-entendido épico.

    “Mu… muito prazer”, disse Nina, um pouco tensa, engolindo em seco e inclinando a cabeça educadamente para Alice, como se temesse causar má impressão.

    Shirley também se apressou em cumprimentar, igualmente nervosa — embora seu nervosismo viesse mais das palavras do Cão do que da situação em si: “Prazer, é um… um prazer também.”

    O clima congelou de imediato.

    As duas estavam tão sérias que ninguém mais conseguia puxar conversa. Nina e Shirley não sabiam o que dizer — afinal, a moça à frente delas parecia uma nobre do Distrito Superior, completamente fora de lugar ali no andar térreo de uma loja do subúrbio. Qualquer palavra errada poderia soar ofensiva.

    Alice, por sua vez… bom, Alice era Alice.

    A maior parte do tempo, sua mente era um espaço vazio. E o resto do tempo… era preenchida por mingau.

    Felizmente, Duncan já esperava algo assim. Ao ver o silêncio desconfortável se instalar, ele tossiu levemente para quebrar o gelo: “Cof cof. Shirley, como estão os seus ferimentos?”

    “Fe… ferimentos! Ah! Já estão totalmente curados!” Shirley se endireitou como se estivesse prestando continência. “E também comi bastante agora há pouco! Nem fome tô sentindo!”

    “Eu nem perguntei isso… mas que bom que gostou da comida”, Duncan riu e assentiu com a cabeça. “Reforce bem a alimentação nesses próximos dias. Vou preparar pratos nutritivos pra você recuperar as forças. Nina, você tem algum plano pra hoje?”

    “Sim! Eu ia levar a Shirley pra dar uma volta nas lojinhas da rua ao lado”, disse Nina na hora. “Quero comprar umas roupas novas pra ela… e sapatos também. Os que ela tem tão bem velhos.”

    Ela então se virou para Shirley e, antes que a amiga pudesse protestar, emendou com firmeza: “É presente de boas-vindas. Se recusar, é falta de educação.”

    “Eu…” Shirley hesitou, sem saber o que dizer, mas no fim só conseguiu balançar a cabeça: “Tá bom… então obrigada. A você e ao senhor Duncan.”

    Duncan assentiu com um leve sorriso. “Então não se afastem muito. Voltem antes do anoitecer. Shirley, cuide bem da Nina.”

    “Sim, senhor Duncan!” respondeu Shirley com uma rigidez militar que fez Nina até dar um pulo.

    Logo as duas se despediram de Duncan e Alice e caminharam até a porta da loja. Nina ainda resmungava, rindo:

    “Precisa responder desse jeito? Que susto… e meu tio nem é assustador assim…”

    “É que… eu tô aprendendo a ser educada…”

    Enquanto as vozes das duas iam se afastando, Duncan sorriu discretamente. Mas ao se virar, viu Alice de novo… o encarando fixamente.

    “Tá me olhando de novo por quê?”

    “Senhor Duncan… você é bem diferente aqui na cidade”, disse Alice, com olhar sério. “Bem mais… acolhedor do que no navio.”

    “Chega, para com esses comentários do nada”, Duncan deu uma risadinha sem paciência. Ele entendia bem o que ela queria dizer. Sabia que, mesmo depois de algum tempo, ele ainda se mantinha tenso no navio — lá, tudo era sobrevivência e vigilância. Aqui, com uma aparência nova e um ritmo diferente, até ele próprio se sentia mais solto. Mas não era o momento de filosofar sobre isso. Mudou logo de assunto:

    “Falando de você… Como não tem uma identidade legal, é melhor evitar circular pela parte alta da cidade. Por enquanto, vai me ajudar aqui na loja. Isso vai te ajudar a se adaptar e, de quebra, você já me ajuda em algumas tarefas. Quando eu sair, você fica no balcão — se aparecer algum cliente, você só precisa…”

    Ele parou subitamente. Encostou os olhos nela com uma expressão estranha. Depois de alguns segundos de silêncio, perguntou, hesitante:

    “…Alice… você sabe o que é dinheiro?”

    Alice o encarou com o rosto cheio de curiosidade: “Dinheiro… é de comer?”

    Duncan: “……”

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