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    Capítulo revisado dia 25/01/2025

    O sistema de esgoto era imenso, tão grande que, aos olhos de Duncan, parecia exceder em muito o que seria necessário para a simples função de ‘drenagem urbana’. A presença das lâmpadas a gás marcadas com runas e a estrutura reforçada, que poderia servir como abrigo subterrâneo, alimentava inúmeras teorias em sua mente sobre o propósito inicial desse espaço.

    Mas, independentemente das intenções de seus construtores, um fato era inegável: nas profundezas dessa gigantesca instalação, longe dos olhos do mundo da superfície, esse lugar sombrio e frio havia se tornado o solo fértil para o crescimento de uma força sombria.

    Um culto que, em nome do sol, não trazia calor, mas sim um frio arrepiante.

    No cruzamento de vários corredores do esgoto havia um amplo espaço subterrâneo. Pilares robustos de concreto sustentavam uma cúpula construída de tijolos, enquanto estruturas metálicas formavam uma rede intrincada próxima ao teto, como uma teia de aranha. As lâmpadas a gás iluminavam o local, lançando luz sobre a multidão reunida naquele ‘ponto de encontro’.

    Havia pelo menos centenas de encapuzados vestidos de preto, aglomerados nesse lugar úmido e poluído. No centro deles, uma plataforma elevada destacava-se, e, sobre ela, estava um homem alto, também vestido com uma longa túnica preta. Claramente, ele era a figura de maior autoridade entre os presentes.

    Esse homem, ao contrário dos outros, não usava um capuz. Em vez disso, ele usava uma máscara dourada de formato peculiar, parecendo um disco irradiando raios de luz em todas as direções. A superfície da máscara, no entanto, estava coberta de rachaduras, como se tivesse sido estilhaçada e colada novamente.

    Atrás desse homem mascarado, na plataforma, havia um totem peculiar – um poste alto com um globo flamejante fixado no topo. No núcleo da esfera havia algo metálico, com pequenas aberturas por onde jorravam as chamas.

    Quando Duncan foi levado para esse lugar, esta foi a cena que encontrou.

    Os encapuzados reunidos no salão notaram imediatamente sua chegada.

    “Encontramos um sacrifício fugitivo a caminho do salão!” anunciou um dos guardas que o escoltara, aproximando-se respeitosamente do líder mascarado na plataforma. Sua voz carregava um tom de orgulho e tentativa de ganhar mérito.
    “Este sacrifício permaneceu na escuridão por tempo demais e sua mente foi perturbada. Pedimos que use seu poder para trazer a glória do Mestre a este corpo miserável!”

    O líder encapuzado, usando a máscara dourada, virou-se para encarar Duncan com um olhar fixo e frio. Sua voz carregava uma pitada de surpresa:
    “Um sacrifício fugitivo?”

    Duncan não reagiu. Ele continuou observando o local com curiosidade, estudando tanto o líder mascarado quanto o totem flamejante atrás dele.

    Para a maioria das pessoas deste mundo, aquelas imagens provavelmente seriam estranhas e assustadoras. No entanto, Duncan rapidamente percebeu o que elas representavam: estavam imitando o sol.

    Não era uma tentativa de replicar o ‘sol’ atual, aquele envolto em fluxos flamejantes e cercado por dois anéis rúnicos. Era uma representação do sol que Duncan conhecia – brilhante, irradiando luz e queimando com intensidade implacável.

    Essas pessoas realmente adoravam o sol. Um sol que, aparentemente, havia ‘caído’ em tempos muito antigos, tratado como uma divindade.

    Duncan levantou a cabeça, encarando o sacerdote mascarado no alto da plataforma com uma expressão tranquila. No entanto, devido à rigidez de seus músculos faciais no corpo temporário, sua tranquilidade provavelmente parecia, para os outros, uma apatia desprovida de emoção.

    O sacerdote mascarado manteve o olhar por apenas dois segundos antes de se virar para um dos subordinados próximos à plataforma e ordenar:
    “Vá verificar o local onde os sacrifícios estão presos. Relate imediatamente.”

    Depois de dar a ordem, ele assentiu para os guardas que haviam trazido Duncan, com um leve tom de elogio em sua voz:
    “Vocês fizeram bem. Embora seja um pequeno serviço ao Mestre, isso se transformará em glória eterna quando o sol brilhar novamente sobre todas as coisas.”

    Mesmo sendo uma declaração genérica e rotineira, os guardas pareciam profundamente inspirados. Um por um, começaram a louvar o ‘verdadeiro Sol Negro’ com fervor enquanto empurravam Duncan para a frente da plataforma.

    Finalmente, o sacerdote mascarado falou diretamente com Duncan:
    “Ó pobre alma desviada… você sentiu o frio nas rochas e na terra sem luz?”

    Duncan não fazia ideia do que aquele fanático estava tentando dizer, então permaneceu em silêncio. O sacerdote, no entanto, parecia indiferente à falta de resposta. Não estava falando com Duncan, mas com a multidão ao redor e, talvez, com o ‘Deus Sol’ em que acreditava.

    “O frio e a escuridão são os sofrimentos deixados para este mundo pelo falso sol”, proclamou ele, com uma voz que ecoava pelo salão subterrâneo. “Sob o domínio do falso sol, os oceanos negros e profundos assolam o mundo. Apenas pequenos fragmentos de terra permitem que a vida sobreviva. Mas, mesmo nesses pedaços fragmentados, o sofrimento não termina. Nas profundezas, as sombras antigas rastejam, suas garras devoradoras se movendo sem luz. Acima, o ódio e o conflito envenenam as almas humanas, enquanto o sopro dos falsos deuses corrompe a pureza da humanidade…

    “Como podemos suportar este sofrimento prolongado? Como podemos aceitar este mundo distorcido e absurdo trazido pelo falso sol?

    “Não podemos suportar. Desejamos apenas o retorno de nosso Mestre, o verdadeiro Sol Negro, para que ele desça novamente à terra, ressurgindo do sangue e do fogo, trazendo ordem e prosperidade de volta à humanidade!”

    Com o tom altamente persuasivo do sacerdote mascarado, Duncan sentiu claramente a mudança na atmosfera do salão. Os encapuzados começaram a se agitar. O murmúrio inicial de apoio logo se transformou em gritos fervorosos:
    “Que o verdadeiro Sol Negro desça novamente à terra! Que Ele ressuscite do sangue e do fogo!”
    “Que o verdadeiro Sol Negro desça novamente à terra! Que Ele ressuscite do sangue e do fogo!”

    “Que o verdadeiro Sol Negro desça novamente à terra”, o sacerdote gritou do alto da plataforma. Ele então apontou para Duncan:
    “E hoje, nosso Mestre despertará ainda mais de seu sono! O sangue do perdido aliviará as feridas deixadas pela queda do sol!”

    “Tragam o sacrifício!”

    Vários encapuzados avançaram na direção de Duncan, mas ele foi mais rápido. Sem esperar que o empurrassem, Duncan subiu na plataforma por conta própria.

    Embora o corpo temporário fosse fraco, ainda era suficiente para escalar a estrutura.

    Uma vez no topo, Duncan se viu frente a frente com o sacerdote mascarado, que ainda mantinha sua postura imponente e misteriosa. A mudança repentina na situação foi tão inesperada que o líder do culto ficou completamente surpreso. Atrás da máscara dourada, seus olhos transmitiam confusão enquanto olhava para Duncan. O salão caiu em um silêncio estranho.

    Duncan, no entanto, parecia alheio à tensão. Ele estava satisfeito por ter coletado mais informações sobre o mundo e estava ansioso para ver até onde essa experiência única poderia levá-lo antes de o corpo ser ‘descartado’.

    “Então”, Duncan começou, esfregando as mãos com expectativa, “o que acontece agora? Qual é o próximo passo?”

    O sacerdote mascarado: “…”

    “Não ouviu bem?” Duncan insistiu, tentando franzir as sobrancelhas – embora o estado do corpo dificultasse a expressão. “Eu perguntei, qual é o próximo passo?”

    Finalmente, o sacerdote reagiu. Apesar de seu rosto estar escondido pela máscara, Duncan percebeu um momento de confusão nos olhos do homem. Recuperando o controle, o sacerdote respondeu com uma voz grave:
    “As sombras da escuridão claramente afetaram sua mente. Mas não se preocupe – o sagrado Sol Negro aliviará seu sofrimento. Levem o sacrifício ao totem!”

    Dois encapuzados subiram rapidamente na plataforma, pegando Duncan pelos braços e guiando-o em direção ao totem com o globo de fogo. Duncan não compreendia totalmente o que estava prestes a acontecer e, portanto, não tentou resistir. Ele permitiu que os dois homens o levassem ao local designado, permanecendo em silêncio e observando com curiosidade.

    Embora Duncan não oferecesse nenhuma resistência física, os dois encapuzados que seguravam seus braços pareciam usar uma força descomunal para contê-lo. Era como se estivessem aterrorizados com a possibilidade de que o ‘sacrifício’ pudesse, de repente, lutar e escapar. A pressão era tão intensa que Duncan podia sentir os ossos de seu corpo temporário começando a ceder, o que o levou a lançar um olhar curioso para os dois homens.

    Logo depois, o sacerdote mascarado se aproximou.

    A atenção de Duncan se voltou imediatamente para ele. Ele observou enquanto o sacerdote retirava uma adaga de formato peculiar do manto. A lâmina era curva e torcida, lembrando articulações secas e deformadas. Era negra como obsidiana, refletindo as chamas do totem com um brilho estranho e ameaçador.

    Duncan, internamente, começou a se preparar para cortar sua ‘projeção espiritual’. Ele sabia que aquela casca temporária já havia coletado tudo o que poderia em termos de informações.

    A voz do sacerdote começou a ecoar pela plataforma, entoando um cântico ritual:

    “Ó sagrado e supremo Sol Negro! Aceite este sacrifício sobre o altar! Ofereço a Vós o coração deste sacrifício, para que possais retornar do sangue e do fogo!”

    Duncan parou imediatamente o movimento que cortaria sua conexão com o corpo temporário. Ele olhou para o sacerdote com uma expressão que, se seu rosto estivesse funcionando corretamente, seria de total incredulidade.

    Era como se ele estivesse assistindo a uma cena de pura insanidade.

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