Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 204: Teletransporte para Fora
“Eu vim ajudar você.”
“Me ajudar?” Ao ouvir as palavras de Vanna, a jovem freira franziu a testa, confusa. Só então ela reparou em certos detalhes no equipamento da outra.
Era de fato o uniforme e os emblemas da Igreja da Tempestade, mas não correspondia a nenhum modelo que ela conhecesse — e nunca ouvira falar de nenhuma sacerdotisa de alto escalão que utilizasse uma espada tão descomunal em combate. Aquela espada era claramente feita sob encomenda, e de modo algum pertencia a uma simples guardiã.
A ‘irmã de batalha’ à sua frente, de estatura incomumente alta e tão jovem quanto ela própria, vinha de uma época que lhe era desconhecida.
A jovem freira ficou em silêncio por alguns segundos antes de perguntar com serenidade:
“…De onde você veio?”
“Do ano de 1900.”
“Eu morri hoje, não foi?”
“Sim.” Vanna avançou calmamente. “Parece que você já compreendeu o que aconteceu.”
“Os Pregadores do Fim… não sei como conseguiram, mas abriram uma fenda para o Subespaço dentro da capela. Enviei um alerta para fora, mas não houve resposta…”
Abriram uma fenda para o Subespaço dentro do santuário protegido pelos deuses?!
O coração de Vanna se agitou com o impacto da revelação — algo tão inédito e alarmante que sua confusão aumentou drasticamente. Mas logo em seguida, ela ouviu a jovem freira murmurar: “Hoje eu consegui, não foi?”
“…Pelo menos essa invasão, você conteve.” Vanna ergueu o rosto, fitando os olhos da freira. “Você trancou a própria morte e a invasão deles no ano de 1885.”
“Ah… que bom.” A freira soltou um leve suspiro e ergueu lentamente a longa espada em sua mão.
Ao mesmo tempo, um som grave e sibilante começou a emergir da escuridão próxima. Soava como membros úmidos e pegajosos rastejando pelo chão… ou como algo surgindo das profundezas de um líquido viscoso. Ainda invisível aos olhos, a criatura já começava a adentrar este plano da realidade.
“Agora, o que resta é simples.”
Vanna também ergueu ligeiramente sua enorme espada: “Essa é a minha especialidade.”
“Ah, certo…” A freira então virou o rosto de repente e perguntou: “Vocês estão preparados aí do ‘outro lado’?”
“…Não recebemos o alerta que você enviou, então não houve nenhuma preparação extra”, respondeu Vanna com calma, ajustando a respiração até alcançar o estado ideal. “Mas… os Guardiões estão sempre prontos.”
Um rugido ecoou das profundezas da escuridão — a criatura rastejante oriunda do Subespaço finalmente condensou, dentro daquele espaço-tempo selado, uma projeção repleta de malícia.
A lanterna presa à cintura de Vanna reagiu instantaneamente, irrompendo em chamas crepitantes. As labaredas brilharam com tanta intensidade que pareciam prestes a consumir todo o combustível em poucos minutos, quase escapando do compartimento. Ao mesmo tempo, a espada longa e a espada gigante vibraram em uníssono com um zumbido cortante — e, por fim, o som de trovões surgiu da vibração do metal.
Vanna pôde ver claramente a forma daquela sombra: parecia uma massa disforme de lodo, mas no centro desse lodo surgia continuamente a imagem da jovem freira. Nas bordas, braços e pernas deformados e mutantes cresciam das extremidades de tentáculos. Aquela entidade profana parecia tentar, de maneira grotesca e imperfeita, imitar a forma humana — mas, por não compreender as regras do plano real, só conseguia produzir uma amálgama repulsiva de membros horrendos.
A coisa avançava rastejando rapidamente em sua direção.
“Essa parte é com você, irmã.”
A voz da jovem freira soou ao lado. Assim que a criatura havia surgido, ela abaixou a espada longa e pegou uma adaga de prata repleta de entalhes florais. Lançou um último olhar à monstruosidade que se aproximava e, em seguida, dirigiu um gesto final a Vanna. Então, com total serenidade, cravou a adaga em seu próprio peito.
No instante em que o coração da freira parou de bater, a criatura deformada pareceu sofrer um golpe devastador — sua superfície amorfa se cobriu de dezenas de bocas de diversos tamanhos, e um coro de gritos agudos e ensurdecedores explodiu de cada uma delas!
Vanna ouviu o som do corpo da freira tombando atrás de si, mas não se virou. Em passos largos, avançou rumo àquela ‘massa de lodo’ projetada pelo Subespaço. Quando ergueu sua enorme espada, murmurou com uma expressão solene e tranquila:
“Peço que testemunhe…”
A batalha chegou ao fim.
E foi ainda mais rápida que a destruição de um resquício da Prole do Sol.
Naquele ponto do tempo, o que aparecera no santuário subterrâneo não passava de uma projeção nascida do vazio espiritual de uma clériga de baixo escalão. Mesmo vinda do Subespaço, por causa das restrições do ‘canal’, sua força era limitada — o único problema é que, dentro daquele espaço-tempo fechado, essa projeção estava eternamente ligada à freira.
Agora, esse ciclo repugnante parecia finalmente encerrado.
Vanna observou enquanto o ‘lodo’ no chão desaparecia gradualmente. Soltou um suspiro leve e se virou, ajoelhando-se com um joelho ao lado da jovem freira já sem vida. Baixou o olhar e declarou:
“Agradeço pelo seu sacrifício sagrado.”
No segundo seguinte, viu o corpo da freira começar a desaparecer — como uma miragem do ontem, dissipando-se no ar.
Logo após, as portas do santuário subterrâneo se fecharam com um estrondo. Nas paredes e no chão ao redor, começaram a surgir de forma abrupta marcas de espadas e impactos de balas. Uivos ocos e irreais soaram de lugares vazios. Sangue começou a brotar no solo, traçando lentamente um caminho até a porta selada…
O ciclo repulsivo continuava. Tudo o que havia acontecido ali começava a se repetir pontualmente. A interferência de Vanna, uma intrusa, não passava de uma ondulação efêmera na história pré-determinada — e essa ondulação fora suavizada quase no mesmo instante em que surgiu.
“Como isso é possível…” Vanna se levantou, atônita, olhando para as marcas que brotavam do nada no santuário. “Isso é só um trecho da hist—”
Antes que pudesse concluir, algo brilhou em verde espectral no canto escuro de seu campo de visão. No instante seguinte, aquela pequena chama explodiu em um gigantesco redemoinho. Uma porta se materializou entre as chamas, e de dentro dela emergiu uma figura alta e imponente, que avançou com passos firmes.
Ela ouviu a voz da figura imponente diante de si:
“A contaminação já se espalhou fundo demais — e os verdadeiros culpados perceberam que vocês estão despertando e resistindo. Eliminar um simples invasor do Subespaço já não é o suficiente para corrigir toda essa sequência de distorções históricas. Vanna, a fonte da corrupção agora não é mais essa pequena capela… e sim toda a cidade-estado.”
“…Capitão Duncan!” Os olhos de Vanna se arregalaram no mesmo instante. Ela já sabia, ao ver aquelas chamas verdes espectrais se espalharem, que o poder do Capitão Fantasma havia invadido ‘este lado’ — mas não imaginava que ele apareceria fisicamente ali, no santuário subterrâneo. Instintivamente, apertou a empunhadura da espada gigante, quase reagindo com um salto e golpe descendente, mas conteve o impulso no último instante. Manteve-se em alerta máximo, fitando com desconfiança a figura à sua frente, tentando discernir se era o corpo verdadeiro… ou apenas uma ilusão projetada em sua visão.
“O que você quer fazer?!”
“Levar você de volta ao mundo real.” Duncan a fitou com tranquilidade. “Achei que ia me receber como da última vez, com um salto e um golpe na cabeça.”
“…Sei que esse tipo de ataque não funciona com você. Quem aparece diante de mim nunca é o seu corpo verdadeiro.” O corpo de Vanna estava inteiramente preparado para combate. “Você disse que vai me levar de volta ao mundo real? O que isso quer dizer?”
“É difícil de entender? Você não precisa de ajuda agora? Ou vai sair desse véu sozinha, atravessando a cidade-estado inteira na marra?”
O canto dos olhos de Vanna estremeceu levemente. Ela lançou um olhar profundamente desconfiado ao Capitão Fantasma à sua frente.
Afinal… o que esse desastre errante dos mares estava tentando fazer?
Mas Duncan não pareceu interessado em dar muitas explicações. Apenas ergueu a mão direita de repente — e na ponta de seus dedos, uma chama verde começou a pulsar suavemente.
Vanna se alarmou na hora. Deu meio passo para trás com a espada já erguida:
“O que você está tentando fazer?!”
“Te mandar de volta pro mundo real, oras — o que mais seria?” respondeu Duncan, com a maior naturalidade. “Mas é a primeira vez que tento algo assim, então não tenho certeza se vai funcionar. Se der certo, você volta. Se não der… a gente tenta outra coisa.”
“…Você quer tentar?” Vanna ficou estarrecida diante daquele lendário Capitão Fantasma. Por alguma razão, tudo que ele fazia parecia não condizer em nada com os registros que lera sobre ele. Mas, ao ver a chama crescer em intensidade e forma, todo seu espanto cedeu espaço ao puro instinto de defesa e recusa.
“Pare agora mesmo, ou eu vou—”
“A batalha no mundo real já começou, Vanna. A tempestade está devastando a cidade-estado. Seus inimigos de verdade já despertaram.” Duncan a interrompeu com firmeza, fitando seus olhos com seriedade. “Mais do que lutar sozinha aqui, é lá fora que você é realmente necessária — toque essa chama, ou então eu mesmo vou agir.”
Vanna manteve os olhos fixos na chama verde nas mãos de Duncan. Não deu um passo.
Com toda honestidade, mesmo que não soubesse quem era Duncan, qualquer pessoa sensata também hesitaria ao ver uma chama tão evidentemente maldita.
Duncan, claro, sabia disso. Então só estava sendo educado mesmo.
Enquanto Vanna mantinha os sentidos concentrados, uma trilha de fogo rastejante começou a se espalhar discretamente sob seus pés. No instante seguinte, uma enorme muralha de chamas se ergueu diante dela — e então desabou como uma avalanche!
Num reflexo, os pelos de Vanna se eriçaram. Seus olhos se arregalaram e, no segundo seguinte, ela ergueu a espada gigante com um grito, saltando alto:
“Her—”
A muralha flamejante varreu o ambiente. E a silhueta da jovem Inquisidora desapareceu dentro do turbilhão de fogo.
No convés do Banido, uma labareda verde espectral surgiu brevemente — e desapareceu no instante seguinte.
Nas ruas da cidade-estado de Pland, sob uma tempestade torrencial, uma silhueta feminina alta emergiu subitamente do nada no meio do ar. Gritando de raiva, ela desceu com a espada em um corte brutal:
“—ége!”
Um latão de lixo foi partido ao meio por seu salto e golpe, deixando uma marca de corte no solo que se estendia por mais de dez metros.
Vanna levantou a cabeça, perplexa, e olhou ao redor com um ar atônito. Envolta pelo vento frio e pela chuva intensa, encarava sem compreender esse mundo chuvoso no qual havia retornado.
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