Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Morris estava sentado no primeiro andar da loja de antiguidades, esperando o tempo passar com evidente tensão.

    Do lado de fora, a chuva ainda caía em torrentes. O vento uivava ferozmente. O som da tempestade, amortecido pelas portas e janelas, transformava-se num uivo estranho e inquietante, como ondas batendo contra uma ilha solitária em meio ao furacão, ecoando de todos os cantos. Pela vitrine próxima, já não se podia ver nada do outro lado da rua.

    Nina e Shirley também haviam descido para o primeiro andar. As duas garotas se aproximaram da janela, observando com apreensão a tempestade do lado de fora, cochichando entre si de tempos em tempos.

    A senhorita misteriosa chamada Alice, no entanto, parecia completamente alheia a esse clima de nervosismo. Ela também observava a paisagem lá fora — mas em seus olhos havia apenas curiosidade e entusiasmo. Um tipo de alegria… que Morris não conseguia compreender.

    “A paisagem da cidade-estado é mesmo interessante”, disse Alice de repente. Em meio ao ruído da tempestade, sua voz soou com uma estranha força e magnetismo. “Mas vocês parecem todos muito tensos… Isso é assustador?”

    “Você não tem medo, senhorita Alice?” Nina se virou, atraída pela pergunta, e indagou com curiosidade.

    “Medo? Nenhum. Acho divertido.” Alice sorriu com elegância e balançou a cabeça suavemente. “Além disso, o senhor Duncan vai resolver tudo.”

    “Senhorita Alice… você sabe o que está acontecendo, afinal?” Nina mordeu levemente os lábios, reunindo coragem para perguntar. Ela fitava os olhos da mulher — essa bela dama que parecia ter uma relação muito próxima com seu tio, apesar de Nina nunca tê-la visto antes. “Você parece… confiar muito no tio Duncan.”

    “Confio bastante nele, sim.” Alice respondeu como se fosse óbvio. “Não sei o que está acontecendo. Mas no fim das contas, o senhor Duncan sempre dá um jeito.”

    A sinceridade tão direta de Alice deixou Nina sem palavras por um momento, sem saber como continuar a conversa. E foi justamente nesse instante que um trovão especialmente forte explodiu lá fora — o estrondo repentino fez todos levarem um susto e interrompeu o que restava da conversa na loja.

    Shirley e Nina se encolheram, tapando os ouvidos por reflexo. Morris, porém, após um breve momento de surpresa, pareceu sentir algo. Levantou a cabeça bruscamente e olhou para fora.

    “Vanna voltou…”

    O velho murmurou, depois repetiu em voz mais alta:
    “Vanna voltou!”

    “Aquela Inquisidora?” Shirley se virou, assustada com o grito de Morris. “O que tem ela? O que você quer dizer com ‘voltou’?”

    Morris, no entanto, não respondeu. Ele próprio não sabia como explicar aquilo. Só soube que, de repente, as memórias confusas e fragmentadas em sua mente haviam se ajustado, como se uma peça faltante tivesse finalmente se encaixado — e, mesmo no meio daquela tempestade, uma tênue luz de esperança se acendera em seu espírito, trazendo alívio e estabilidade.

    Calmamente, o velho estendeu a mão e pegou a xícara de chá ao lado.

    Naquele instante, ele chegou até a sentir que até mesmo aquele chá horrível estava… um pouco mais saboroso.


    A muralha de chamas verde-espectrais se dissipou, e o escuro santuário subterrâneo retomou o aspecto anterior — restava apenas uma última e tênue chama flutuando ao lado de Duncan, iluminando fracamente aquele lugar mergulhado nas trevas.

    Vanna já havia deixado ‘este lado’ e agora se encontrava do outro lado do Véu.

    Ela era como um farol resplandecente, que delineava com clareza para Duncan o caminho de saída através do Véu. Ele podia sentir como ela havia atravessado — e confirmar que sua teoria estava correta.

    Respirando suavemente, ergueu o olhar para o ponto exato onde Vanna estivera por último.

    “…Sendo sincero, aquele salto com golpe realmente foi assustador.”

    Murmurou isso em voz baixa e, em seguida, virou-se para caminhar em direção à entrada do santuário, aproximando-se da grande porta agora fechada.

    A porta havia se fechado outra vez. E ali, encostado a ela, jazia um corpo ferido e exausto, sentado no chão. A freira pressionava a porta com o próprio corpo, segurando com firmeza uma espada longa. Ao seu redor, havia marcas de batalha e sangue por toda parte.

    Entre os inúmeros cortes de espada espalhados no solo, era possível ver, ainda que de forma tênue, os números que ela havia gravado com suas últimas forças: 1885.

    O ciclo se mantinha. O eterno retorno persistia.

    A história havia se cristalizado naquele espaço. A intervenção de Vanna não fora suficiente para interromper o ciclo temporal fechado — por mais poderosa que fosse, ela ainda não tinha meios para interferir no fluxo do tempo.

    Duncan permaneceu por um tempo ao lado da freira, em silêncio. Depois, inclinou-se lentamente, estendendo a mão. Nesse exato momento, o corpo da freira estremeceu levemente. Com esforço, ela ergueu a cabeça e abriu os olhos, débeis e confusos, encarando o visitante inesperado à sua frente.

    “…Ah, então eu estava certo. Você ainda estava viva no momento em que se apoiou contra a porta”, disse Duncan com calma, sustentando o olhar da freira. “Tem algo que queira dizer?”

    “…Tive um breve sonho. Sonhei com uma irmã de batalha que apareceu aqui. Ela tentou me libertar deste ciclo… mas fracassou”, murmurou a freira. “Ela realmente esteve aqui, não foi?”

    “Ela fez tudo que pôde. Mas esse não é o domínio em que ela se sobressai — agora, ela retornou ao seu campo de batalha”, respondeu Duncan, curvando-se mais para frente, pousando suavemente a mão sobre o fio da espada da freira. Uma centelha de chama verde cintilou em seus dedos e escorreu como água pela lâmina. “Agora sou eu quem assumirá o que resta.”

    “…Você também é um guardião da cidade-estado?” murmurou a freira, já sem forças para manter os olhos abertos. Suas pálpebras pesavam como se o sono a arrastasse, e sua voz soava como um sussurro entre sonhos: “Nunca vi você antes…”

    “Não sou.” Duncan balançou levemente a cabeça. “Mas, por ora… posso ser.”

    A freira já não parecia ouvir. Suas pálpebras se fecharam por completo. Como se adentrasse aos poucos um sonho tranquilo, ela murmurou uma última frase, antes que o sono eterno a tomasse:

    “…Peço que testemunhe…”

    “Eu testemunhei.”

    As chamas verde-espectrais se ergueram em espiral, e assim que as palavras de Duncan foram ditas, tudo dentro de sua visão foi engolido pelo fogo — a freira, sua espada, as manchas de sangue ao redor — tudo foi reduzido a cinzas. Sob seu controle consciente, toda e qualquer força sobrenatural presente naquele lugar foi totalmente dissipada por essa purificação em chamas.

    As labaredas consumiram não apenas um corpo, mas também todo o ciclo temporal fechado. No santuário subterrâneo agora restava apenas uma centelha solitária dançando sobre o chão, deslizando suavemente entre os sulcos das marcas de espada, até finalmente consumir o número ‘1885’.

    Duncan esperou em silêncio até que tudo terminasse. Então, suspirou levemente e avançou até a grande porta que levava à estrutura superior da pequena capela.

    Desde 1885, aquela porta nunca havia sido aberta a partir do interior do santuário.

    Subindo os longos degraus, Duncan atravessou o salão em ruínas da capela — passando por bancos quebrados e cinzas acumuladas — até alcançar a rua exterior.

    As chamas verdes surgiam como miragens, tomando forma ao seu redor no ar. À medida que ele caminhava, espalhavam-se e ardiam com vigor. As chamas espirituais que antes haviam se espalhado silenciosamente pelo Véu começaram a reagir com sua presença, ressoando e convergindo. Em instantes, toda a capela estava em chamas, envolta em uma fogueira sobrenatural.

    Ao sair pela porta e olhar para trás, Duncan viu a capela inteira tomada por essa labareda verde-espectral poderosa.

    E mais adiante, nos cantos dos bairros vizinhos, nas ruas próximas, até nos limites da cidade-estado… chamas espirituais começaram a se manifestar. Uma a uma, surgiam e se alastravam — tochas vivas de diferentes tamanhos se espalhando, até formarem uma rede flamejante interligada.

    Eram as chamas que, ao sentirem Duncan dentro do Véu, haviam despertado.

    Sem que ele percebesse, o alcance delas havia crescido consideravelmente.

    E à medida que essas chamas se acendiam, Duncan também sentia que algo estava despertando na cidade-estado — gritos ecoavam ao longe, as cinzas e a poeira nas ruas tremiam e se agitavam, e chamas vermelhas se erguiam ferozes de vários pontos.

    Duncan ergueu os olhos, encarando uma direção mais ao fundo da cidade:

    “Ficarem nervosos só agora… talvez seja tarde demais.”


    A bordo do Banido, Duncan empurrou a porta da cabine do capitão. Caminhou com passos firmes até a mesa de navegação, apoiou as mãos sobre o mapa e perguntou em tom grave:

    “Falta quanto até a cidade-estado?”

    “Oh, grande capitão, estamos a menos de dois dias de distância”, respondeu prontamente a voz solícita do Cabeça de Bode. “Teoricamente, já podemos cruzar com navios mercantes ou patrulheiros da marinha que operam nas rotas da cidade-estado…”

    Duncan ouviu o falatório da escultura de madeira sem interromper. Calculava silenciosamente, até que, subitamente, se afastou da mesa e saiu da cabine com decisão.

    A voz surpresa do Cabeça de Bode soou às suas costas:

    Ah! Capitão, aonde está indo?”

    Duncan já havia cruzado o convés de popa, subido a escada e chegado à plataforma superior atrás da cabine. Em pensamento, respondeu com naturalidade:

    “Vou assumir o leme pessoalmente.”

    “…Sim, senhor! Capitão!”

    A resposta do Cabeça de Bode veio sonora e imediata. No mesmo instante, Duncan sentiu a estrutura do Banido estremecer levemente. Em sua percepção, o navio pareceu ganhar vida — como se cada parte viva da embarcação se revigorasse de uma só vez.

    E no momento em que suas mãos tocaram o timão, o Banido entrou em pleno estado de prontidão — as velas espectrais ficaram mais infladas, as cordas tensionadas vibravam no ar, o casco murmurava sob o embate das ondas. Toda a superfície do mar ao redor parecia responder a uma força invisível, formando ondas sobre ondas que impulsionavam a embarcação adiante.

    A velocidade do Banido aumentou subitamente.

    Duncan sentia a distância entre ele e seu corpo físico na loja de antiguidades diminuir a cada instante. Respirou fundo.

    Mas, de repente, uma sensação estranha emergiu do fundo de sua alma.

    Era como se alguém, em algum lugar distante, o tivesse detectado — como se tivesse se tornado um ‘alvo’.

    No mesmo instante, franziu o cenho, voltando o olhar para o ponto de onde sentira essa percepção. E, quase simultaneamente, ouviu a voz do Cabeça de Bode ecoar em sua mente:

    “Capitão, o Névoa do Mar apareceu nas proximidades.”

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