Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 207: Amor Paterno e Devoção Filial
O combate de encontro havia começado.
A batalha teve início com a primeira salva do Névoa do Mar. Um estrondo ensurdecedor ribombou por todo o mar, enquanto os projéteis traçavam arcos no céu antes de despencar nas águas, levantando colunas d’água altíssimas e provocando ondulações caóticas ao redor.
Primeira rodada: todos os tiros erraram. Segunda rodada: erraram de novo. Somente na terceira salva os projéteis do Névoa do Mar finalmente passaram de raspão pelo casco do Banido.
As chamas espirituais ardiam intensamente em cada junta e mastro do navio, enquanto Duncan mantinha as mãos firmes no leme. O imenso navio fantasma deslizava pelo mar como uma montanha em chamas, cortando as ondas com sua proa imponente e levantando espumas brancas e rastros ao longo de ambos os bordos. Pelo canto do olho, Duncan captou a silhueta de uma sombra escura vindo em direção à popa.
Era um projétil disparado pelo Névoa do Mar — depois de tantos tiros errados, o couraçado de aço finalmente parecia ter calibrado sua artilharia. Aquele projétil vinha direto para a parte traseira do Banido, desta vez sem chance de desvio.
Aquela cena típica de virar bruscamente o leme para desviar de um tiro não acontece no mundo real. O Banido, apesar de suas anomalias, ainda respeitava algumas leis da física… provavelmente.
O navio seria atingido.
Mas, no instante seguinte, Duncan sentiu sua visão se aguçar de forma incomum. Ele foi capaz de captar com exatidão a trajetória da bala em queda, a inclinação do seu eixo, as ondas de calor ondulando ao redor, o deslocamento de ar causado pela onda de choque, o brilho escarlate da ogiva e até as ranhuras no casco do projétil — ele fixou os olhos no aço incandescente, e o aço, por sua vez, respondeu ao seu chamado.
No último instante antes de atingir o Banido, o projétil do Névoa do Mar subitamente se cobriu por chamas verde-espectrais, como se tivesse sido mergulhado nas labaredas espirituais que envolviam o navio. Suavemente, ele se converteu em uma estrela cadente verde, desenhando um arco lento e estranho antes de cair docemente no mar de fogo sobre o convés do Banido.
Com um baque surdo, o projétil em chamas espectrais pousou sobre o convés, fazendo a embarcação tremer — mas sem causar qualquer dano adicional.
“Uma captura belíssima!” A voz do Cabeça de Bode ecoou de repente na mente de Duncan, trazendo-o de volta à realidade. “Capitão, como você fez isso?!”
“…Foi instinto. Nem pensei muito.” Duncan respondeu, quase distraído — e, logo em seguida, o som agudo de mais projéteis cortando o céu chegou até ele.
Seus nervos se tensionaram. Ele começou a ajustar sutilmente o curso do Banido, ao mesmo tempo em que rastreava cada novo projétil que se aproximava — e, um a um, novos meteoros verdes começaram a surgir no ar acima do navio em chamas.
No entanto, a habilidade de Duncan tinha limites. À medida que a distância entre o Banido e o Névoa do Mar diminuía, os disparos do inimigo se tornavam mais precisos — e mais brutais. Os canhões secundários e sistemas de defesa próximos finalmente entraram em alcance efetivo.
E quando a tempestade de projéteis começou a chover do céu, finalmente, alguns conseguiram escapar da visão de Duncan… e atingiram diretamente o casco do Banido.
No meio de uma sequência ensurdecedora de explosões, Duncan viu uma parte do costado do navio ser atingida por algo — uma sombra escura atravessou as tábuas de madeira, causando um dano violento e rasgando a estrutura antes de despencar no mar. O ponto de impacto explodiu com um estrondo, espalhando fragmentos estilhaçados em todas as direções.
Mas então, uma cena absurda se desenrolou diante de seus olhos: os pedaços rompidos do costado voaram pelos ares… e pararam. Ficaram suspensos, imóveis no ar, acompanhando o Banido como se ainda fizessem parte do navio — uma estrutura fragmentada, mas que ainda se movia em uníssono com a embarcação.
Era uma imagem estranhamente perturbadora — como se, mesmo tendo sido despedaçada no plano físico, aquela parte da estrutura do navio ainda existisse inteira em outro nível de realidade. Visualmente, parecia estilhaçada… mas, em essência, permanecia coesa.
Duncan imediatamente se lembrou da quilha submersa do Banido — aquele que, embora fragmentado e imerso no Subespaço, ainda navegava plenamente funcional.
No instante seguinte, ele viu os estilhaços do costado começarem a descer lentamente, retornando ao lugar de origem, como se o tempo estivesse voltando. Em questão de segundos, a estrutura se recompôs por completo — como se o dano nunca tivesse ocorrido.
Duncan finalmente desviou o olhar da lateral do navio.
Era a primeira vez que via o Banido ser atingido. E, ao mesmo tempo, era a primeira vez que via como ele se curava. O processo de regeneração não era como uma reconstrução comum — parecia literalmente reverter o tempo até o momento anterior ao impacto!
Agora ele compreendia porque navios como o Névoa do Mar, apesar de seu armamento avançado e aparência moderna, não conseguiam vencer um navio fantasma de cem anos atrás.
O Subespaço havia transformado o Banido por completo, inserindo-o numa estrutura temporal e espacial anômala — uma estrutura inalcançável por qualquer poder convencional deste mundo.
A voz do Cabeça de Bode ecoou triunfante em sua mente: “Capitão, o Banido é o melhor navio deste mundo, não é?”
“…Tenho que admitir: é mesmo.”
“E agora, qual é o plano?”
Duncan ergueu ligeiramente o olhar, encarando o Névoa do Mar, que se aproximava cada vez mais.
“…Seguir viagem e bater no filho no caminho. Afinal, estamos sem nada melhor pra fazer, não é?”
“Capitão! Aquele navio está avançando em nossa direção com força total!” A voz do imediato Aiden ecoou na ponte de comando, com uma ponta de tensão. “Tem algo errado… Nosso poder de fogo está sendo ainda menos eficaz do que na última vez, há meio século! Mais da metade dos projéteis desaparece dentro das chamas do Banido, como se nunca tivessem existido!”
“Eu estou vendo.” Tyrian Abnomar mantinha-se firme na ponte, o olhar cravado na embarcação espectral que se aproximava e já começava a ajustar o rumo. Suas mãos, involuntariamente, apertavam com força a grade de proteção à sua frente, e seu rosto estava sombrio como o prenúncio de uma tempestade.
“Depois de meio século… ele está ainda mais forte que da última vez.”
“Então… ainda vamos continuar lutando?” gritou o imediato Aiden, com um tom nervoso. “Pelo jeito, não vai ser tão fácil quanto da última vez empurrar aquele navio de volta pro Subespaço! E, com o perdão da palavra, eu tenho certeza de que seu pai está muito puto agora… aquela coisa tá vindo numa velocidade absurdamente anormal!”
Tyrian permaneceu calado por alguns segundos, com a expressão sombria como nuvens antes de uma tempestade. Por fim, respondeu com voz firme: “…Continue enfrentando.”
Enquanto dizia essas palavras, ele mantinha o olhar fixo no navio a velas em chamas que se aproximava — especialmente na popa. Ele sabia que ali ficava o leme do Banido.
E em suas memórias desbotadas, seu pai… sempre estava ali.
Será que ele ainda estava ali agora? Será que ele também estava olhando diretamente para o Névoa do Mar?
Uma densa nuvem de fumaça subiu do mar — e logo depois, o rugido abafado de uma explosão.
“O Banido abriu fogo!” Um dos marinheiros gritou.
Tyrian manteve-se imóvel na plataforma do capitão, como um iceberg no Mar Gélido. Mas logo franziu as sobrancelhas.
O Banido não havia girado completamente para alinhar todos os canhões. Em vez disso, entrou em um arco suave na direção da rota do Névoa do Mar e disparou durante a manobra.
Isso significava que apenas cerca de um quarto de seus canhões laterais estavam em posição de disparo.
Estaria revidando apenas simbolicamente? Não pretendia levar a batalha até o fim?
Não era o estilo de seu pai. E tampouco condizia com o confronto de cinquenta anos atrás — naquela ocasião, o Banido lutou com o Névoa do Mar até o último instante. Só pararam quando ambos os navios estavam devastados.
Naquele embate, o Banido chegou ao limite de sua regeneração e foi forçado a recuar para o Subespaço, enquanto o Névoa do Mar quase afundou e levou três anos para reaparecer no Mar Infinito.
Mas agora não havia tempo para reflexões.
O contra-ataque do Banido havia começado — e ao contrário dos disparos iniciais do Névoa do Mar, que erraram todos os tiros, cada projétil lançado pela embarcação fantasma acertava com precisão aterradora.
Dezenas de bolas de fogo verde-espectral cruzaram o céu como meteoros, colidindo contra o casco de aço do couraçado. O impacto foi imediato — o rugido das explosões ecoou enquanto o fogo espiritual se alastrava.
Camadas de luz sagrada se ergueram em torno do Névoa do Mar, os sistemas sagrados da capela e os artefatos começaram a se ativar automaticamente, tentando conter a contaminação. Mas não foi o suficiente.
Cavidades grotescas abriram-se em toda a estrutura metálica — os projéteis flamejantes de ferro fundido pareciam bolas de fogo caindo na neve: tudo o que tocavam — madeira, aço, blindagem — era consumido e apagado da existência num piscar de olhos.
Nenhuma couraça resistia. Os ataques do Banido não se baseavam em explosão ou força cinética — eram feitos para devorar, para deslocar matéria para outra dimensão. O Névoa do Mar era apagado como traços de lápis sob uma borracha. Na primeira salva, perdeu metade das torres principais. Na segunda, buracos enormes abriram-se nas laterais — em qualquer navio normal, isso significaria o afundamento imediato.
O couraçado teve de cessar seus disparos. Em segundos, até os sistemas de propulsão foram comprometidos.
Tyrian arregalou os olhos.
Algo estava muito errado. Isso não era como da última vez. Aquele… não era o mesmo Banido de suas memórias.
E então, no auge de sua perplexidade, ele viu — o Banido cessou o bombardeio.
Em seguida, todas as velas se inflaram ao máximo. O mar ao redor se ergueu num turbilhão, e o navio espectral acelerou até seu limite — partindo diretamente para colidir com o Névoa do Mar.
“…Bordo todo! Rápido! Desviem!” — gritou o imediato Aiden. O timoneiro já girava desesperadamente o leme, tentando tirar o navio da rota.
Mas tudo foi em vão.
“O leme não responde!” o timoneiro gritou, em pânico. “Está se movendo sozinho! Estamos indo direto ao encontro deles!”
E, como ele dissera, o Névoa do Mar estava indo por vontade própria de encontro ao navio espectral.
Tyrian percebeu a anomalia. Ouviu as engrenagens rangendo sob seus pés. Ouviu as janelas estremecerem como se algo tentasse romper o casco.
Viu as últimas torres remanescentes abaixarem os canos. E dos buracos escancarados nas laterais do navio, chamas verde-espectrais começaram a subir… mais altas a cada segundo.
Aquilo… Nem mesmo na batalha infernal de meio século atrás, isso havia acontecido.
O Névoa do Mar reconhecera o navio à sua frente — e lembrava quem era sua nau capitânia.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.