Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    “Volte ao que era.”

    No instante em que ouviu essas palavras, Vanna também escutou um ruído ensurdecedor — um estrondo contínuo, difícil de descrever em palavras, misturado ao som dilacerante de algo sendo rasgado dentro de chamas. Esse som não vinha de uma direção específica, mas parecia reverberar por toda a cidade-estado, como se o mundo inteiro estivesse emitindo aquele ruído aterrador.

    No meio daquele estrondo de partir a cabeça, ela olhou para a figura que estava atrás do Pregador do Fim — era o ‘Capitão Duncan’ que ela havia visto em sonhos. Mas, diferente da última vez, o que estava ali agora era um ‘espectro’ completamente envolto em chamas, com uma forma translúcida, como se fosse uma entidade espiritual.

    Bastou um instante para Vanna perceber que aquilo não era o corpo real — era mais uma projeção. No entanto, essa projeção havia chegado até o alto da torre por meio dela como ‘canal’. Ela conseguia sentir o fluxo daquele poder, sentir algo queimando dentro de sua alma, sentir uma voz que não lhe pertencia em sua mente.

    Instintivamente, ela ergueu as mãos e viu chamas verde-espectrais aderindo silenciosamente ao seu corpo. A seus pés, uma trilha flamejante se espalhava. Ela entendeu. Compreendeu que, desde muito tempo, o Capitão Fantasma já a havia transformado em um tipo de ‘nó’ capaz de canalizar seu poder. O grau de invasão e contaminação há muito superava tudo o que ela e o Bispo Valentine haviam imaginado — e tudo isso… tinha sido preparado para hoje.

    No segundo seguinte, o mundo diante de seus olhos mudou de forma abrupta.

    As chamas verde-espectrais se espalharam — em cada incêndio de Pland, em cada montanha de cinzas, em cada coluna de fumaça que se erguia, aquelas chamas já estavam ocultas fazia tempo. E agora, num piscar de olhos, explodiram por completo, engolindo toda a cidade-estado!

    Foi tão rápido que não houve tempo de reagir — ou melhor, tudo já estava consumado antes mesmo de essa ‘invasão da realidade’ começar. Vanna se lembrou da cena que testemunhara do outro lado do Véu e, de repente, compreendeu que aquele incêndio provocado pelos Pregadores do Fim e pelos hereges solares já havia se tornado, sem que percebessem, o veículo para a chama espectral… Ao incendiar a cidade inteira, eles forneceram justamente o que o Capitão Fantasma precisava para completar a ‘usurpação do fogo’.

    Um grito estridente irrompeu, trazendo Vanna de volta à consciência. Ela olhou na direção do som e viu o Pregador do Fim, magro como um cadáver, também envolto pelas chamas espectrais. Ele se contorcia e gritava na beira da plataforma como uma tocha humana. No reflexo de seus olhos, que derretiam aos poucos, via-se a cena do fogo da cidade sendo tomado num instante. O fanático gritava e amaldiçoava em voz alta:

    “Insensatez! Insensatez! Tudo perdido! Vocês rejeitaram a dádiva do Subespaço — e agora sofrerão eternamente neste mundo de tormento… insensatos!!”

    No entanto, em contraste com os gritos e maldições daquele fanático, surgiu outra cena—

    A cidade-estado de Pland, completamente consumida pelas chamas espectrais, começou a se restaurar numa velocidade inacreditável!

    As construções destruídas pelo fogo se reerguiam rapidamente; as ruas derretidas e dilaceradas se recompunham como se nunca tivessem sido danificadas. A chuva de fogo que caía do céu cessara, e aquelas nuvens apocalípticas se dissipavam rapidamente, como se o tempo estivesse regredindo. Na orla da cidade-estado, surgiu até um recorte de céu claro — e, em um ponto ainda mais distante…

    Soou o toque de sinos há muito tempo silenciados.

    Assim como o Capitão Duncan havia dito: volte ao que era.

    Vanna arregalou os olhos diante daquela cena incompreensível. Nunca imaginou que uma cidade completamente arrasada pudesse realmente ser restaurada — e logo percebeu a verdadeira natureza daquela ‘restauração’:

    A contaminação histórica provocada pelos Pregadores do Fim e pelos hereges do sol estava sendo desfeita. A ‘história falsa’ que havia coberto e substituído por completo a realidade de Pland estava sendo rejeitada por alguma força poderosa!

    Atônita, ela voltou o olhar para a imponente figura ali perto. Mas ele apenas encarava serenamente o Pregador do Fim, já reduzido a carvão, e após um longo silêncio, murmurou como se falasse consigo mesmo:

    “Tudo pode ser corrompido… exceto o Subespaço.”

    Aquele Pregador do Fim ainda não havia morrido. Mesmo já completamente deformado e irreconhecível, sua voz rouca e estarrecida ainda soava das cinzas retorcidas:

    “Você… você transformou esta cidade-estado em parte do Banido!?”

    “O Banido é a arca prometida. E eu penso que podemos expandir um pouco o conceito de ‘arca’”, respondeu Duncan com um sorriso, curvando-se levemente. “Se os navios que cruzam o caminho do Banido no mar podem ser assimilados, então… por que Pland, sob meu olhar, não poderia ser considerada outro Banido?”

    O som forte de um sino de ancoragem ecoou ao longe, e Vanna, instintivamente, levantou a cabeça — e no instante seguinte, viu algo que a deixou profundamente abalada:

    Ela viu um navio.

    O Banido havia surgido, vindo na direção do Mar Infinito, envolto em chamas espirituais flamejantes. Suas velas semimateriais ondulavam como véus que ocultavam os céus.

    O navio atravessou a costa, passou pelo porto que se restaurava em alta velocidade e adentrou diretamente a cidade de Pland, agora tomada pelas chamas verde-espectrais. Ele navegava majestosamente entre os muros, casas e torres que se reconstruíam. À medida que avançava, ondas etéreas se expandiam de suas laterais, e a cada onda que se espalhava, a restauração da cidade avançava ainda mais — como se toda Pland estivesse renascendo no rastro deixado pelo Banido!

    “Você… pode salvar esta cidade-estado… mas não conseguirá impedir a descida do Sol…” a voz fraca soou de dentro daquilo que antes fora um Pregador do Fim, como o último sussurro de um pesadelo prestes a se dissipar. “Mesmo que sejam apenas fragmentos evocados da história… ainda serão suficientes… para destruir novamente… está selado pelo destino…”

    A voz foi se esvaindo até desaparecer completamente. Aquele monte deformado de carvão finalmente perdeu qualquer vestígio de vida, transformando-se em um punhado de cinzas que se dispersaram ao vento, consumidas pelas chamas espirituais.

    Mas Vanna, ao ouvir as palavras do Pregador do Fim, reagiu de repente. Ela levantou a cabeça bruscamente e, com um choque, viu que aquele ‘Sol Negro’ — de bordas extremamente brilhantes e um centro negro-avermelhado como a entrada de um abismo — ainda pairava no céu acima da cidade-estado. E o pulsar dentro dele… estava ainda mais intenso do que antes!

    As chamas do Banido haviam eliminado a contaminação histórica de Pland — no entanto, aquele sol profano… desde o princípio não fazia parte de Pland. Ele era uma projeção histórica invocada em conjunto pelos Pregadores do Fim e pela Prole do Sol, uma existência que transcende todas as linhas da história, verdadeiras ou falsas!

    “Tem algo despertando dentro do Sol Negro!” naquele instante, Vanna até se esqueceu das identidades que ela e aquele ‘Capitão Duncan’ representavam. Num impulso, gritou em alerta: “Ele vai…”

    Mas Duncan apenas acenou para ela com leveza.

    Em seguida, Vanna viu o Capitão Fantasma se virar em direção àquele sol profano suspenso no céu. Ele ergueu a mão, como se chamasse ou acolhesse algo, e sua voz soou suave:

    “Venha para cá… isso, não se preocupe, você não vai cair. Só venha.

    “Lembra como se anda de bicicleta? É igual… venha, eu vou te segurar.”

    No instante seguinte, um arco flamejante dourado cruzou o céu, ofuscando a visão de Vanna. Ela viu uma fenda gigantesca se abrir na borda daquele Sol Negro, e uma chama curva, radiante, saltou com alegria em direção ao Capitão Duncan. No mesmo instante em que aquela chama partiu, um uivo estridente ecoou do interior do sol profano!

    Como se uma besta gigantesca tivesse sido perfurada no coração, o núcleo negro-avermelhado da estrela começou a se encher de rachaduras escarlates, e seu anel luminoso ao redor foi imediatamente consumido pelas chamas verde-espectrais. Logo em seguida, esse fogo espectral avançou com força devastadora em direção ao núcleo escuro do sol.

    O pulsar dentro do núcleo cessou por completo — qualquer resquício de vitalidade desapareceu num piscar de olhos. A estrutura interna se rompeu, e um material fervente e abrasador começou a vazar… mas foi totalmente incinerado pelas chamas verde-espectrais antes mesmo de tocar o solo da cidade.

    Ao som de uma sequência de uivos, estrondos e estalos, aquele sol profano, deformado e abominável, foi finalmente desintegrado. Restaram apenas fragmentos dispersos que caíram entre as ondas ilusórias nas bordas do Banido.

    E foi nesse momento que o imenso navio-fantasma chegou ao centro da cidade-estado. Flutuando em estado espectral, ele começou a se elevar. Entre as águas ilusórias e as ondulações etéreas, aproximou-se do campanário da catedral. Suas velas fantasmagóricas, que encobriam o céu, varreram o firmamento acima, e as sombras dos mastros e cordames passaram ao lado de Vanna.

    Ela ouviu um sino tocar — era o sino da catedral. O campanário sob seus pés finalmente se libertara da contaminação histórica, e seu mecanismo havia voltado a funcionar.

    A figura do Bispo Valentine também começou a se materializar no ar — esse retorno bem-sucedido à realidade, por parte daquele que protegeu a cidade até o fim, era a prova de que o ramo da história que levava à destruição havia sido completamente apagado.

    Mas o olhar de Vanna não se voltou para o bispo. Ela continuou observando Duncan, que agora se virava em sua direção — envolto por um arco de chamas dançantes, cuja luz e calor suavizavam até mesmo sua expressão severa.

    “Achei que você fosse me atacar com um salto e corte vertical”, disse Duncan com um sorriso, como se conversasse com uma velha amiga. “Igual da outra vez.”

    “…Não sou uma cabeça quente sem noção.”

    “É mesmo? Eu jurava que você adorava um salto e corte — todo guerreiro experiente sente esse impulso irresistível de começar uma luta com um salto e corte”, brincou Duncan. Ele passou a mão pela chama curva ao seu lado, que parecia um pouco inquieta, como se a estivesse tranquilizando. Em seguida, assentiu para Vanna. “Terminei meu trabalho. Até a próxima.”

    Vanna hesitou, deu um passo à frente por impulso: “Espere! Você não pode simplesmente…”

    Mas Duncan já havia se virado. Ele acenou com a mão e caminhou para fora da plataforma do campanário — o imenso navio-fantasma deslizava lentamente junto à torre, e ao lado do leme, estava o próprio Capitão.

    A projeção envolta em chamas espectrais avançou em direção ao navio e fundiu-se com seu corpo original.

    Duncan permaneceu ao leme, com um leve sorriso, acenando para Vanna mais uma vez.

    O gigantesco navio-fantasma então começou a acelerar suavemente. Seu casco etéreo cruzou os céus de Pland, deslizando entre ondulações cada vez mais largas, rumo à costa oposta da cidade — em direção ao Mar Infinito.

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