Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    “Vocês acham que… Como será que as coisas estão lá em Pland agora?”

    Após um longo momento de silêncio, Shirley finalmente não conseguiu mais se segurar. Ela levantou a cabeça, olhou para o velho estudioso à sua frente e depois para a senhorita Alice, que parecia ter bastante intimidade com o Sr. Duncan, e perguntou com hesitação.

    “…Eu não sei, mas acho que o Sr. Duncan provavelmente já interveio para resolver a situação — embora eu não consiga imaginar como ele fez isso”, disse Morris, coçando a testa enquanto refletia. “Mais do que isso, agora o que mais me preocupa é aqui…”

    Ele levantou a cabeça, observando ao redor, até que seu olhar se fixou nas velas espirituais que tremulavam sozinhas acima deles, e sua expressão tornou-se um tanto estranha.

    “Este navio… me faz lembrar de uma certa lenda, uma lenda sobre o Banido…”

    “Pois é”, antes que Morris terminasse de falar, a voz de Alice surgiu ao seu lado. Ela sorria com orgulho. “Este aqui é o Banido — bem-vindo a bordo.”

    O gesto de coçar a testa de Morris cessou instantaneamente. Ele arregalou os olhos em choque: “Este é mesmo o Banido?! Então a identidade do Sr. Duncan…”

    “O capitão, né? Poxa, velhote, você demorou pra sacar”, Shirley fez um biquinho do outro lado. Após tanto tempo tensa, ela finalmente se sentiu um pouco melhor por saber algo que os outros não sabiam, o que a deixou mais à vontade. “Ele se chama Duncan, e você ainda não tinha percebido?”

    “Você já sabia disso há algum tempo?” Morris olhou incrédulo para a garota à sua frente. “Achei que você, assim como eu, estivesse vindo a bordo pela primeira vez…”

    “É a primeira vez que venho aqui — mas não é a primeira vez que vejo o verdadeiro aspecto do Capitão Duncan”, disse Shirley, estufando o peito com orgulho. “Eu e o Cão conhecemos o Capitão Duncan há muito tempo… bem antes de você!”

    Mas Morris nem prestou atenção à última parte da frase de Shirley. Assim que ela mencionou ‘o verdadeiro aspecto do capitão’, ele não conseguiu evitar sentir um arrepio na testa e murmurou com uma expressão estranha:

    “…Se possível, eu preferia não saber o que é esse tal de ‘verdadeiro aspecto’…”

    Shirley piscou, confusa: “Hã? O que foi que você disse, velhote?”

    “Nada não… Tem coisas que é melhor não comentar com frequência. Faz bem pra saúde física e mental.”

    Tsc, fala se quiser. Vocês estudiosos vivem com esses segredinhos misteriosos”, Shirley fez pouco caso, mas nem dois segundos depois já estava inquieta novamente. Ela não conseguiu evitar olhar para o fim do convés da grande embarcação. “Vocês acham… que a Nina está bem? Ela sumiu de repente na nossa frente, mas o Sr. Duncan disse que foi só uma saída temporária…”

    A voz suave e segura de Alice ecoou ao lado dela, tranquilizando a preocupada Shirley:

    “Pode ficar tranquila, não vai acontecer nada com ela.”

    Shirley ergueu os olhos. Ela não conhecia muito bem Alice, mas sabia que aquela mulher misteriosa e absurdamente bela parecia estar ao lado do ‘Capitão Duncan’ desde muito antes. Imaginando que ela talvez soubesse de coisas que os outros não sabiam, não resistiu à curiosidade e perguntou:

    “Por que você diz isso? Você sabe o que aconteceu com a Nina…”

    “Porque o capitão disse”, respondeu Alice com um sorriso. “Ele disse que não era pra se preocupar.”

    Shirley não conseguiu mais dizer nada depois disso.

    Por algum motivo, ela de repente teve a impressão de que aquela senhorita incrivelmente bonita… não parecia ser muito inteligente…


    Ao mesmo tempo, na parte traseira do convés do Banido, Duncan observava o arco flamejante e brilhante que flutuava no ar à sua frente.

    Agora, ele podia ter cem por cento de certeza de que, ao menos em termos de forma, aquele arco de chamas era uma proeminência solar em erupção — e mais, ela repetia continuamente o processo de erupção e queda. A sensação que transmitia… era a de que uma proeminência havia sido recortada diretamente da superfície de um sol, não apenas em sua existência, mas também em seu ciclo temporal.

    Aquela proeminência recortada flutuava silenciosamente sobre o Banido, e parecia ter pouco mais que a altura de uma pessoa.

    Mas isso não significava que ela fosse realmente… ‘pequena e inofensiva’.

    Duncan podia sentir a energia assustadora contida em seu interior. Ainda que pudesse perceber apenas uma pequena parte, aquele calor devastador e o poder aterrador vindo de uma estrela eram suficientes para deixá-lo sem fôlego. Essa sensação superava até mesmo a que experimentara ao espiar o ‘sol profano’ por meio da máscara dourada. E isso o fazia ter ainda mais certeza de que aquela corrente flamejante vinha mesmo de um ‘sol’.

    De um sol verdadeiro, que ultrapassava em muito a compreensão daqueles fanáticos do Culto do Sol, um sol que já havia sido corrompido e desmantelado em uma era muito antiga.

    A aparência atual, aparentemente inofensiva, daquela proeminência… era apenas porque ela ainda estava sob controle.

    Duncan não conseguia entender aquilo. Em todo o arcabouço de conhecimento que possuía, não havia nenhuma explicação possível para o motivo de uma parte de um sol ter assumido essa forma. Também não havia como deduzir o que exatamente teria acontecido à estrela à qual aquela proeminência pertencia.

    Assim como ele também não compreendia este mundo… não entendia que tipo de Grande Ruína teria dado origem a esta era estranha e perigosa — a chamada ‘Era do Mar Profundo’.

    Mas, no fim, ele apenas balançou a cabeça.

    Essas coisas não importavam no momento.

    Duncan respirou fundo, forçando sua mente a se concentrar novamente, e então estendeu a mão direita em direção à ‘proeminência’, em um gesto de aproximação.

    O calor letal surgiu em sua percepção — mas no instante seguinte, aquilo pareceu dissipar-se como uma ilusão. Ele viu uma centelha de fogo verde-espectral dançar na ponta de seus dedos, e dentro da proeminência, também havia fios e fragmentos da mesma chama verde, circulando em silêncio — como se estivessem em ressonância.

    Foi justamente essa ‘contaminação’ implantada anteriormente que, há pouco tempo, interrompeu e rasgou o processo de nascimento do sol negro sobre Pland — e salvou a humanidade de Nina.

    “Nina, tente mais uma vez”, disse Duncan. “Recorde a sensação da transformação… volte para si. Da última vez, estivemos muito perto de conseguir.”

    Aquela corrente flamejante tremeu no ar por alguns instantes, e logo sua superfície começou a inflar, com chamas douradas subindo e se entrelaçando. Em pouco tempo, no meio daquelas chamas pulsantes, uma silhueta começou a se formar — uma figura feminina ainda borrada, mas que já revelava ser a de uma jovem garota, embora os traços do rosto permanecessem indistintos.

    Ela abaixou a cabeça, parecendo curiosa ao olhar para o próprio corpo — mas, no instante seguinte, as chamas recém-condensadas se despedaçaram com um estalo, e ela voltou à forma de uma corrente flamejante em erupção.

    “Não desanime, vamos tentar de novo”, disse Duncan, sem demonstrar qualquer sinal de impaciência. Sua voz era calma e gentil enquanto continuava a guiá-la: “Eu vou te ‘amparar’. Se você conseguiu se recompor até esse ponto, significa que essa abordagem é viável…”

    A proeminência voltou a inflar mais uma vez, e estalos secos ressoaram dentro das chamas douradas. Logo em seguida, a figura de Nina surgiu novamente das chamas.

    Duncan observava tudo com certa tensão — esse tipo de tentativa já havia sido feita inúmeras vezes, e sempre fracassava no meio do processo. Ainda que, pelas respostas fornecidas pela chama espiritual implantada dentro do Fragmento do Sol, o procedimento fosse teoricamente controlável, era evidente que essa força vasta e estranha não era nada fácil de dominar.

    As chamas douradas crepitavam vivamente, e Duncan já se preparava para mais um fracasso.

    Mas, no instante seguinte, toda a luz e a proeminência diante de seus olhos desapareceram de uma só vez.

    E uma figura familiar saltou da última centelha flamejante.

    A brisa suave do mar soprou pelo convés, trazendo umidade e frio. As pontas dos cabelos de Nina esvoaçaram levemente com o vento. A luz solar atravessava obliquamente as nuvens e passava por entre os fios soltos, fazendo o brilho do sol dançar entre os cabelos como pequenas chamas.

    No momento seguinte, aquelas chamas solares que dançavam em seus fios desapareceram como ilusões.

    Nina sorriu, olhando para o homem à sua frente — tão diferente da imagem que tinha dele, mas, ainda assim, inconfundivelmente seu ‘Tio Duncan’:

    “Tio, eu voltei!”

    Somente nesse momento Duncan soltou um leve suspiro de alívio. E, junto com esse suspiro, o Banido inteiro reagiu — parecia que até então a embarcação inteira estivera tensa, com cada corda, mastro e vela esticados ao máximo. Agora, sons de estalos ressoaram por todos os lados, misturados a sopros e rangidos vindos de debaixo do convés.

    Era como se o navio inteiro estivesse comemorando, celebrando junto com seu capitão.

    “Silêncio”, disse Duncan por sobre o ombro, e o navio silenciou instantaneamente. Só então ele voltou a olhar para Nina, observando-a com certa curiosidade:

    “Você ainda conseguiu me reconhecer?”

    “Claro que sim, o senhor é o Tio Duncan”, respondeu Nina, como se fosse óbvio. Mas logo em seguida coçou o rosto — um gesto típico dela, para disfarçar o embaraço. “Só que… eu não sei como reconheci. Eu simplesmente soube que era o senhor. Quando o senhor me chamou lá do alto, flutuando no céu, eu reconheci na hora…”

    Ela hesitou por um instante, examinando Duncan da cabeça aos pés, e então semicerrando os olhos como se tentasse captar certos detalhes do ‘tio’ à sua frente.

    Ele não se parecia nem um pouco com o Duncan da loja de antiguidades — praticamente não havia nada em comum.

    Mas a certeza em sua mente estava ali, nítida como se fosse um fato impresso diretamente em sua consciência.

    Como se ela não o tivesse reconhecido com os olhos… mas sim lido a verdade diretamente da realidade.

    Nina não sabia como explicar o que estava sentindo. Só conseguia dar um sorriso bobo, sem entender muito, até que Duncan se aproximou e, como sempre fazia, bagunçou carinhosamente seus cabelos.

    “Assim é melhor”, disse Duncan, soltando outro leve suspiro. “Eu estava me perguntando como ia te explicar sobre este navio… e sobre meu outro ‘eu’.”

    Nina encolheu a cabeça, fugindo da mão que lhe afagava os cabelos. Este Tio Duncan era bem mais alto do que ela lembrava. A palma da mão dele também era muito mais larga e áspera — os dedos calejados que passaram por sua testa provocaram cócegas.

    Passou mais um tempo, e quando ele finalmente recuou a mão, ela ergueu o rosto de repente e olhou fixamente nos olhos de Duncan.

    “Na verdade, eu tenho dois ‘tios’… né?”

    Ela disse de repente.

    O olhar de Duncan não vacilou. Apesar da surpresa súbita, ele não pareceu particularmente espantado.

    Como se já soubesse, desde muito tempo, que esse momento acabaria chegando.

    Se houvesse algo neste mundo capaz de resistir ao poder do Capitão Duncan, então o ‘sol’ — qualquer que fosse o sol — sempre seria uma das possibilidades mais prováveis.

    Ele encarou Nina em silêncio.

    “Você percebeu?”

    “… Uhum.”

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