Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 219: Os Novos Tripulantes
Duncan retornou à cabine com uma bela pescaria.
Com um baque surdo, ele jogou no chão um peixe tão grande quanto um adulto, seguido por alguns outros peixes menores e feiosos que caíram ao lado com estalos.
“Esses peixes lutaram bastante hoje, mas felizmente ainda sou mais forte”, disse Duncan com um tom satisfeito e animado, enquanto levantava a mão para limpar a testa — embora nem tivesse suado, como todo bom pescador exibindo seus troféus, enxugar a testa era o mínimo de respeito pelas presas. “Venham dar uma olhada, isso aqui é uma iguaria típica das profundezas do Mar Infinito, não se deixem enganar pela feiura, o gosto é bem… por que essas caras?”
O olhar de Duncan finalmente se desviou das presas e se voltou para a cabine, onde viu Shirley, Morris e o Cão encolhidos a uma boa distância. Tirando o Cão, cujo semblante era difícil de decifrar, o rosto de Morris e Shirley claramente não estava nada bem.
Só Nina correu até ele, como sempre, cumprimentando animada:
“Tio Duncan!”
Em seguida, ela observou curiosa os peixes jogados no chão.
Eram realmente peixes, embora bem feios — mas de fato eram do mesmo tipo que Duncan costumava trazer para casa.
“São mesmo muito feios…” comentou Nina, surpresa. “Antes de virarem peixe seco, eles já eram assim tão horríveis? E como foi que ficaram desse jeito…”
“Por que eles estão com essas caras?” perguntou Duncan, olhando para o outro lado da cabine, onde Shirley e Morris pareciam ter visto um fantasma.
“Eles se assustaram com o barulho que o senhor fez pescando”, respondeu Nina prontamente, mas logo pareceu refletir e demonstrou certo constrangimento. “Na verdade, eu também me assustei… O senhor fez bastante barulho pescando…”
“Eu fiz muito barulho pescando?” Duncan franziu o cenho, confuso, como se começasse a perceber algo. Então olhou para Morris, que estava sentado mais afastado. “Aconteceu alguma coisa agora há pouco?”
Morris se levantou com cautela, aproximou-se lentamente dos peixes feiosos, examinando-os com atenção. Depois de confirmar que realmente eram apenas peixes, falou com hesitação:
“Senhor Duncan… o senhor tem alguma rixa com a Prole do Mar Profundo? A ponto de precisar deformá-los dessa maneira…”
Duncan ficou surpreso. Finalmente entendeu o motivo daquela sensação estranha que sentia desde o início. Virou-se lentamente para Nina e perguntou, pensativo:
“…Na sua visão, o que eu pesquei não eram peixes?”
“Agora são, mas antes não eram”, respondeu Nina, fazendo careta e abaixando a voz. “Antes parecia que o senhor estava lutando com alguma coisa… bem… desse tamanho…”
Ela esticou os braços o máximo que pôde, tentando demonstrar o tamanho da criatura marinha gigantesca e indescritível que havia visto. Depois começou a descrever a cena no convés durante o momento da pesca.
Enquanto Nina falava, a expressão de Duncan foi ficando cada vez mais séria, até mergulhar num profundo silêncio reflexivo.
“Foi mais ou menos isso”, concluiu Nina, após terminar seu relato. Ela então virou o rosto e lançou mais um olhar para os peixes grotescos, ainda com um tom de incredulidade na voz. “Mas a gente não achou que aquilo fosse realmente virar… peixe.”
Duncan permaneceu em silêncio por um tempo. Só depois de um longo instante, murmurou com um leve tom pensativo:
“Isso parece… uma lula bem grande…”
Shirley, que até então se mantinha afastada sem dizer uma palavra, finalmente criou coragem e se aproximou, não contendo a curiosidade:
“Lula? O que é isso?”
“Na verdade, dá pra comer também”, explicou Duncan. “Assusta um pouco pela aparência, mas o gosto é bom.”
Assim que disse isso, os rostos de Shirley e Morris ficaram ainda mais expressivos.
Mas Duncan não pareceu notar a reação deles. Continuou apenas encarando sua caça com uma expressão reflexiva.
Afinal… os ‘peixes’ que ele pescou… não eram peixes no começo.
Prole do Mar Profundo — os temidos ‘monstros’ do Mar Infinito, criaturas tão assustadoras que aterrorizavam capitães e marinheiros — só haviam se tornado peixes depois de serem ‘pescadas’ por ele.
Por que essa transformação aconteceu?
Duncan sentiu primeiro surpresa e confusão, mas no fim, tudo isso acabou se reduzindo a uma dúvida mais prática e urgente:
Esses peixes… ainda são comestíveis?
Ele ficou um pouco dividido por alguns segundos, mas logo chegou a uma resposta — já tinha comido antes, e tirando a aparência, o sabor era muito bom.
Estavam no Mar Infinito, onde o estranho era regra, e diante das verdadeiras e inomináveis criaturas aterradoras que existiam nesse mundo, um monstro que virava peixe ao chegar no convés nem era tão surpreendente assim. ‘Prole do Mar Profundo’ podia soar intimidador, mas, pensando bem, não deixavam de ser um tipo de criatura marinha. E ao longo da história da civilização humana, quantos monstros marítimos tidos como temíveis acabaram virando prato típico?
Para Duncan, tudo se resumia a um ingrediente que, ao chegar ao Banido, virava outro tipo de ingrediente…
“Já comi” — essas duas palavras dissiparam toda dúvida e hesitação de sua mente. Ele decidiu não pensar mais no assunto. Que fosse o segredo por trás do sabor especial — e, se realmente preocupasse, bastava pedir pra Alice cozinhar por mais tempo.
Shirley e Morris apenas observavam, boquiabertos, enquanto viam o rosto de Duncan voltar a exibir aquele ar satisfeito.
“Não vou pensar mais nisso. Vou levar esses peixes pra cozinha.”
Shirley não conseguiu mais segurar a inquietação:
“Você vai mesmo comer isso?!”
“Você já comeu”, respondeu Duncan, lançando um olhar curioso e sarcástico para ela. “Da última vez você devorou como se fosse a melhor coisa do mundo.”
Shirley: “…”
Não importava como os visitantes se sentiam com aquilo… aquele jantar especial a bordo do Banido acabou sendo servido mesmo assim.
Para Duncan, aquele dia também estava fadado a ser especial.
Depois de tanto tempo em silêncio, o Banido finalmente vivia um momento que se poderia chamar, com alguma generosidade, de ‘movimentado’. No camarote da seção central do convés, o refeitório — fechado há muito tempo — foi reaberto. As lamparinas de óleo de baleia iluminaram o espaço, dissipando a penumbra do navio. A longa mesa havia sido polida até brilhar, e sobre ela repousava a refeição mais farta que o navio podia oferecer:
Pão recém-assado, sopa de legumes, ensopado de ervilha com carne, geleia e purê de batata, duas bebidas alcoólicas leves e uma bebida forte — além do peixe.
E, claro, as batatas fritas com ketchup da Ai.
Duncan sentou-se a uma das pontas da longa mesa, com Nina ao seu lado. Do outro lado estava Alice, juntando-se à refeição por hábito. Ao longo da mesa, estavam Shirley, o Cão, Morris e Ai.
Sinceramente, comparado ao tamanho da sala e da mesa, aquele pequeno grupo de pessoas mal podia ser chamado de ‘multidão’. E, tecnicamente, com exceção de Morris, nem sequer havia um ‘humano comum’ ali. Ainda assim, era a refeição mais acolhedora que Duncan tivera desde que embarcara no navio.
Afinal, normalmente suas refeições envolviam a cabeça de um bode ou a companhia de Alice. Era raro encontrar dois seres que comiam comida de verdade a bordo. Quando Ai surgiu, seu cardápio se limitava a batatas fritas…
Para os ‘visitantes’ que subiram a bordo naquele dia, aquele também prometia ser o jantar mais inacreditável e memorável de suas vidas.
Morris observava o prato à sua frente. A posta de peixe grelhado, cuidadosamente cortada por Alice, ocupava o centro. Após ser preparada e cozida, a carne da criatura já não exibia nenhum sinal visível de sua origem sinistra — era alimento de verdade, exalando um aroma apetitoso.
Sentado a bordo do Banido, na presença das sombras do Subespaço, e agora… partilhando a carne da Prole do Mar Profundo.
Morris teve que conter o impulso de sussurrar o nome sagrado do Deus da Sabedoria, Lahm — temendo que a divindade lhe respondesse de fato e revelasse algo que ele não estivesse preparado para ver.
O clima à mesa estava um tanto tenso, o que Duncan percebeu logo. Por isso, foi o primeiro a erguer seu copo:
“Antes de mais nada, sejam bem-vindos mais uma vez — mesmo que a chegada tenha sido… incomum, vocês agora são parte da tripulação do Banido. Que este brinde sirva de cerimônia de boas-vindas.”
A tensão interna de Morris deu lugar ao reflexo imediato de levantar o copo. Shirley o seguiu, e Nina, por instinto, imitou os dois — mas Duncan logo as olhou com seriedade:
“Vocês duas vão de suco.”
“Já tô quase na idade!” retrucou Shirley automaticamente.
“Eu… eu só vou molhar os lábios”, disse Nina em voz baixa. “Pode ser vinho de fruta…”
“…Então só um gole cada uma”, decretou Duncan, com expressão firme. “E a Alice vai ficar de olho.”
“Sim, senhor!” / “Tá bom, tio!”
A cena fez Morris arregalar os olhos. A naturalidade daquela troca, quase doméstica, o pegou de surpresa e aliviou um pouco da tensão em seu peito.
E ele não foi o único.
Quando Nina tomou um gole do vinho frutado e logo em seguida começou a tossir descontroladamente, toda a atmosfera da sala pareceu se suavizar.
Duncan percebeu que era o momento certo para falar sobre seus planos.
“Depois do jantar, pedirei à Ai que leve vocês de volta à cidade-estado”, disse ele, olhando calmamente para os rostos ao redor da mesa. “Senhor Morris, você pode ir direto para casa. Shirley, o Cão e Nina, vocês podem voltar para a loja de antiguidades.”
Nina, ainda se recuperando da tosse causada pelo gole, ergueu a cabeça com os olhos arregalados:
“Kh… tio… kh, e você…?”
“Claro que estarei lá esperando por você”, Duncan sorriu, e voltou o olhar para Shirley. “Na verdade, sempre estive — estou tanto aqui quanto na cidade-estado.”
“Ah…” Shirley piscou, surpresa. Depois de alguns segundos em silêncio, murmurou: “Achei que… depois de resolver o caso de Pland, o senhor deixaria de se importar com a cidade. Tipo… como nos contos, em que o capitão segue em sua aventura…”
“O capitão vai continuar em sua aventura sim. O Banido ainda navega pelo Mar Infinito”, respondeu Duncan, com um leve sorriso enigmático. “Mas o capitão também se importa com o mundo civilizado. E quanto à tripulação do Banido… vocês vão voltar às suas rotinas em terra firme — mas nada impede que, se necessário, embarquem de novo.”
“… A gente vai ter que voltar?!” Shirley ficou atônita por um momento.
E Nina também reagiu: “A gente pode voltar?!”
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