Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Todo aquele que cruzasse o caminho do Banido inevitavelmente acabaria estabelecendo algum tipo de ‘vínculo’ com Duncan — e, sob outra perspectiva, esse “forasteiro” precisava realmente construir vínculos amplos com o mundo ao seu redor. Apenas reunindo canais de conhecimento e aliados o suficiente, ele poderia compreender melhor este mundo, o domínio do extraordinário e, quem sabe… entender a si mesmo.

    Morris e os demais terem sido levados a bordo pode ter sido resultado de uma situação emergencial. Mas, mesmo que não tivessem subido no navio hoje, Duncan já tinha planos de expandir sua ‘influência’ nesse mundo — e, em sua visão, os que agora se reuniam a bordo do Banido eram candidatos perfeitos para isso.

    Morris: um historiador notável, erudito, devoto do deus da sabedoria. Um homem que detinha conhecimento valioso — o recurso de que Duncan mais carecia no momento. Além disso, o velho acadêmico era alguém com certo prestígio no mundo humano, um membro da alta sociedade cujos contatos poderiam ser bastante úteis em ocasiões apropriadas.

    Shirley e o Cão: uma invocadora fundida a um demônio das Profundezas Abissais, e o próprio demônio sob controle. Ambos eram combatentes, mas também possuíam conhecimento sobre os domínios abissais e, em parte, sobre o próprio Subespaço — complementando perfeitamente a bagagem teórica de Morris, o ‘acadêmico humano’. Além disso, aquela dupla tinha métodos únicos de percepção, capazes de detectar vestígios do sobrenatural sem custo — ou com custo mínimo.

    Nina: a sobrinha meiga e adorável.

    E, incidentalmente, atual receptáculo do Fragmento do Sol.

    O olhar de Duncan percorreu lentamente a longa mesa. Ao redor dela, algumas faces demonstravam tensão, outras hesitação, e algumas apenas pura curiosidade.

    Ninguém ali parecia ter percebido ainda que, naquela refeição, um grupo bastante singular havia começado a se formar — e o que os unia era sua nova identidade comum:

    Tripulantes do Banido.

    “Minha promessa anterior continua valendo: ser um tripulante do Banido não limita a liberdade de vocês. Não exijo fidelidade forçada, tampouco sacrifícios ou oferendas — isso tudo não tem nenhum sentido pra mim”, disse Duncan em tom tranquilo, enquanto o som suave das ondas batia no casco do navio, do lado de fora da vigia. “Mas, dado que o vínculo entre nós já se estabeleceu, talvez isso possa ser encarado como… a base de um grupo informal.

    “Para ser franco, estive afastado do mundo civilizado por muitos anos — Morris deve saber que o Banido não teve contato com nenhuma cidade-estado no último século. Nesse período, muitas histórias horríveis circularam sobre mim e sobre este navio. E sim, essas histórias têm um fundo de verdade. Por muito tempo… esta embarcação esteve fora de controle.”

    Duncan falava devagar, com calma. Essas palavras, na verdade, haviam sido cuidadosamente preparadas durante seu momento de pesca mais cedo — ele precisava ‘recrutar tripulantes’. Mas o passado sombrio do Banido tornava improvável que novos integrantes embarcassem de bom grado. Era preciso um discurso razoável, sereno e convincente, que aliviasse os receios e tensões dos recém-chegados. E, para isso, a primeira etapa era clara: estabelecer a imagem de um ‘capitão racional e amigável’.

    O Banido estivera fora de controle — mas agora, seu capitão havia recuperado sua humanidade e retomado o comando. Esse era o fundamento para que uma nova tripulação pudesse existir.

    Se os novos acreditariam nisso ou não… já era um problema do outro lado da mesa.

    De toda forma, pescar realmente se mostrara um excelente exercício de contemplação — Duncan achava que devia agradecer à natureza… ou à Prole do Mar Profundo, talvez.

    Morris, ao ouvir tudo aquilo, assumiu uma expressão pensativa. Ainda custava a crer que o que ouvira fosse mesmo real. Na verdade, ele nem tinha certeza de que o navio diante de si era mesmo o verdadeiro Banido… Mas, recordando a conduta sempre cordial de Duncan até então, começou aos poucos a se convencer.

    Ao menos, se tudo aquilo fosse verdade, a aparente gentileza da sombra do Subespaço pareceria bem mais plausível.

    Shirley ainda parecia refletir, como se não tivesse compreendido tudo. Mas ao lado dela, o Cão, um Cão de Caça Abissal, já havia entendido e, com certa coragem, lançou um olhar a Duncan:

    “Quer dizer então que o senhor quer que a gente… se torne seus seguidores? Pra fazer certas coisas por você no mundo?”

    “Talvez”, respondeu Duncan com um leve sorriso. “Quando eu precisar. Mas eu não chamaria isso de ‘seguidores’ — vocês são tripulantes. Podem me chamar de capitão. Ou continuar usando o nome de antes, como preferirem.”

    Shirley e o Cão acenaram com um “ah, entendi”. Do outro lado da mesa, após breve reflexão, Morris perguntou de súbito:

    “E como o senhor vai entrar em contato conosco? Ah, claro, sei que tem uma encarnação na cidade-estado de Pland, mas quero dizer…”

    “Eu entendi o que quer dizer”, respondeu Duncan, interrompendo-o com um leve aceno. “Se eu quiser encontrar vocês, encontrarei imediatamente. E, se vocês precisarem entrar em contato comigo, podem simplesmente chamar meu nome ou o nome do Banido próximo a uma superfície espelhada — eu consigo ouvir. Além disso, chamas aumentam minha força. Se estiverem em perigo, podem acender fogo logo após me chamar.”

    Morris ouvia tudo com uma expressão um tanto complicada. Afinal de contas, ele ainda era um devoto do deus da sabedoria. E agora, ali estava ele — meio que de forma voluntária — integrando um ‘grupo herege’ como aquele, aprendendo conhecimentos que vinham diretamente de uma sombra do Subespaço. Isso, por si só, já o deixava desconfortável.

    Mas o que o incomodava ainda mais… era o fato de que o bracelete de pedras protetoras em seu pulso, herança devocional com quatro pedras ainda intactas, não estava reagindo de forma alguma.

    O Senhor não viu? O Senhor não se importou? O Senhor aprovou o que ele estava fazendo?

    Qualquer uma das três respostas deixava o velho acadêmico com sentimentos confusos.

    Nina, por outro lado, arregalou levemente os olhos ao ouvir as palavras de Duncan, e no rosto dela brotou um certo entusiasmo:

    “Isso soa incrível!”

    Duncan lançou um olhar de lado para ela:

    “Você, no caso, não precisa de nenhuma chama adicional…”

    “Hã? Por quê?” perguntou ela, sem entender.

    Mas antes que ele respondesse, a expressão dela mudou e ela logo acenou com as mãos, apressada:

    “Ah, ah, entendi! Eu posso—”

    “Nem pense em fazer isso aqui!” interrompeu Duncan de imediato, ao notar que o ar ao redor dela já começava a se distorcer levemente. “Enquanto você não aprender a controlar completamente o poder do Fragmento do Sol, está proibida de mudar de forma em espaços fechados ou cheios de gente!”

    Nina imediatamente abaixou a cabeça:

    “Tá bom…”

    Vendo o ar ao redor dela se estabilizar e o calor dissipar, Duncan soltou um leve suspiro de alívio.

    Graças à sua intervenção como usurpador do fogo, o Fragmento dentro de Nina estava sob controle. Mas, evidentemente, a garota ainda não tinha plena consciência do poder que repousava em seu corpo — não importava o quanto fosse madura para sua idade, ela ainda tinha apenas dezesseis, dezessete anos. E para jovens assim, o encanto das primeiras experiências com poderes sobrenaturais era difícil de conter.

    Haveria oportunidade para treiná-la melhor, no espaço amplo e aberto do Mar Infinito. Isso ajudaria tanto a fortalecer o controle sobre o Fragmento quanto a fazê-la entender o quão perigosa era a chama de uma estrela.

    “Talvez no futuro tenhamos novos membros”, disse Duncan, pensativo. “Então que essa refeição de hoje se torne o ritual padrão de boas-vindas. Acho que ajuda a fortalecer os laços dentro do grupo.”

    Morris, sem pensar, lançou um olhar para o prato à sua frente. Sentiu que, sob aquela aura de cordialidade, estava enxergando demais… vendo uma certa ‘verdade’ oculta por trás da atmosfera calorosa.

    Jantar sob o olhar de uma sombra do Subespaço. Dividir a carne da Prole do Mar Profundo. Aprender rituais e fórmulas de evocação de forças transcendentais…

    Era tudo… muito familiar, de certo modo.

    Mas o que mais ele poderia fazer agora?

    Já era membro desta tripulação, já havia aceitado a proteção do Sr. Duncan. E a carne da Prole estava ali, como parte essencial daquele ‘ritual’. Sair agora, desistir, era impossível.

    Só lhe restava seguir o exemplo daquela pomba ao seu lado — que, desde o início do jantar, devorava batatas fritas com absoluto entusiasmo — e aceitar com serenidade o destino de quem descobre que, no fundo… é tudo muito mais saboroso do que imaginava.

    O velho suspirou baixinho em seu íntimo, aceitando por completo aquela guinada repentina em sua trajetória — ao mesmo tempo em que tentava se consolar com um pensamento solene: a partir de hoje, estou no mesmo caminho dos grandes estudiosos que entraram para a História, trilhando uma jornada sem retorno rumo aos abismos da verdade. Provavelmente, nada neste mundo conseguiria surpreendê-lo novamente.

    Enquanto pensava nisso, uma voz inesperada quebrou o silêncio. Vinha de Alice, que até então permanecera quieta atrás de Duncan, como sempre.

    “Ah, capitão… então isso quer dizer que eu não sou mais a única tripulante?”

    “Você só percebeu agora?” Duncan virou ligeiramente o rosto para encará-la. “É claro que não é mais a única. E antes que eles partam, você vai ensinar a eles o regulamento da tripulação, igual o Cabeça de Bode ensinou pra você.”

    Alice ficou parada por um momento, até que pareceu finalmente entender a situação. Então abriu um sorriso radiante e bateu palmas, entusiasmada:

    “Que legal! Isso quer dizer que agora eu—”

    No instante seguinte — talvez empolgada demais —, Duncan ouviu um som já bem familiar:

    “Plop—”

    Uma cabeça com uma peruca loira reluzente caiu do lado dele e rolou até o meio da mesa, bem diante dos olhos de todos.

    O silêncio dominou o salão.

    Até que a voz de Shirley irrompeu:

    “AAAAH! A cabeça caiu! A cabeça caiu!! C-A-I-U!!!”

    E então, o caos.

    Gritos de Shirley e Nina, xingamentos do Cão, os pedidos de ajuda gaguejados de Alice tentando alcançar o próprio corpo, os ‘grugrugru’ escandalosos de Ai em pânico — tudo ao mesmo tempo.

    Morris, imóvel, apenas observava. E chegou a uma única conclusão:

    Talvez… talvez se adaptar a esse ‘novo grupo’ fosse levar mais tempo do que ele imaginava.

    Caso queira me apoiar de alguma forma, considere fazer uma doação

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