Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 223: Aprofundando o Entendimento
Sendo sincero, naquele momento Duncan estava mesmo agindo de forma genuína — ele realmente admirava aquela Inquisidora de vontade firme e personalidade direta, admirava a forma como ela havia se comportado durante aquela catástrofe, e mesmo deixando de lado essa admiração, ele valorizava profundamente o fato de Vanna ser um ‘ponto de conexão’ tão especial.
Se não fosse por uma combinação de coincidências improváveis, não seria nada fácil inserir um ‘nó espiritual’ entre os membros da alta cúpula da Igreja — e estabelecer qualquer tipo de laço pessoal com alguém nesse nível era ainda mais difícil.
Vanna era extremamente franca, e essa franqueza, paradoxalmente, garantia que ela não negaria os méritos de Duncan na proteção da Cidade-estado de Pland; garantia que, mesmo que pessoalmente se sentisse desconfortável, ela ainda assim lidaria de forma justa com esse ‘grande favor’.
O problema era que a sinceridade de Duncan podia ser um tanto… intimidadora para os outros.
Um vínculo inquebrável como uma maldição, uma sombra do Subespaço capaz de invadir sua mente a qualquer momento, uma entidade superior poderosa o bastante para reverter contaminações históricas — mas de intenções desconhecidas… Se não fosse pela força de vontade de Vanna, qualquer outra pessoa já teria falhado no teste de sanidade várias vezes.
Vanna respirou fundo, mantendo o foco. Ela não desviou o olhar de Duncan, encarando-o com firmeza. Embora seu coração ainda estivesse repleto de vigilância, racionalmente, ela não conseguia acreditar plenamente em nenhuma das palavras daquele ‘Capitão Fantasma’ — mesmo com o fato incontestável de que ele havia protegido Pland, ainda assim havia a possibilidade de que por trás daquele gesto existisse uma conspiração muito mais aterradora… Afinal, a história está cheia de exemplos assim. Mas em termos emocionais…
Seu coração dizia para não confiar apenas na razão.
“…O que o senhor quer, afinal?” Vanna inspirou lentamente, mais uma vez expressando dúvida. Mas dessa vez, sua dúvida não vinha apenas da resistência e da desconfiança — havia também uma certa seriedade. Ela queria conversar de verdade com aquela figura lendária, ouvir de verdade o que ele tinha a dizer. Mesmo que não fosse como amiga… talvez pudessem, ao menos por ora, não ser inimigos.
Depois de dizer isso, ela hesitou por um instante, e então completou rapidamente:
“E por favor… não venha de novo com esse papo de ‘batata frita’. Eu quero ouvir algo sério.”
“…Mas esse papo de ‘batata frita’ é sério”, Duncan respondeu com um suspiro resignado. “Se possível, com bastante ketchup.”
Vanna: “…?”
“Estou tentando melhorar a comida a bordo do meu navio, isso não está claro?” Duncan de repente riu. Nenhuma das reações de Vanna o surpreendia. Em seguida, ele deu alguns passos dentro do espelho, como se tivesse se sentado em algo, e assumiu uma postura bem relaxada antes de continuar: “Vanna, o que você acha que um capitão como eu faz no dia a dia?”
“O que faz no dia a dia?” Vanna ficou surpresa. Ela não havia notado que o clima da conversa já não era mais tenso e hostil — com a figura no espelho sentada, o que se seguiu mais parecia uma conversa casual entre dois conhecidos. “Eu… nunca pensei nisso…”
“Pois é, você nunca pensou — ninguém pensa. Porque um Capitão Fantasma assustador só precisa cumprir o papel de ser ‘assustador’. O ideal é que eu passe 24 horas por dia arquitetando planos para destruir o mundo, aí sim combino com a imagem que vocês têm de mim. Mas e na prática?”
Duncan disse isso e deu de ombros.
“Tenho um navio extremamente grande para administrar. E nele há um bando de figuras que só me dão dor de cabeça. Meus ‘tripulantes’ vivem criando confusão, é sempre um pandemônio no convés. A comida do Banido é outro problema que me tira o sono — mas o pior mesmo é a água quente. Ultimamente estou pensando em instalar uma caldeira a bordo. Você teria alguma sugestão?”
“Eu não entendo muito de caldeiras… espera, não, não é isso que importa agora.” Vanna falou por instinto, mas no meio da frase percebeu que havia algo errado. Arregalou os olhos, encarando o Capitão Fantasma do outro lado do espelho — ele estava com um meio sorriso no rosto, um olhar que parecia zombar dela, ou talvez… brincar com ela. “Por que está me dizendo essas coisas de repente? E… hã… o senhor está falando sério?”
Duncan ajustou a postura, e seu semblante foi se tornando gradualmente mais sério enquanto olhava nos olhos de Vanna:
“Vanna, percebeu? Eu não sou tão assustador quanto você imaginava. O medo vem do desconhecido — agora, você já me conhece um pouco melhor.”
Vanna ficou em silêncio. Estava completamente fora do ritmo daquele homem, sem saber o que dizer.
Depois de um momento, ela soltou um leve suspiro, tentando desviar o assunto:
“…O senhor levou o Fragmento do Sol, o que também eliminou outro grande risco dentro da Cidade-estado de Pland. Eu deveria lhe agradecer por isso.”
A boca de Duncan tremeu levemente num sorriso contido:
“…Foi um pequeno esforço. Tenho um certo gosto por colecionar coisas.”
Mas, na verdade, o que ele queria mesmo dizer era que já havia devolvido o Fragmento do Sol para Pland — embora Nina, no começo, tivesse ficado empolgada em passar a noite no navio, acabou descobrindo que não conseguia dormir fora de casa…
Duncan achou melhor não comentar isso — tinha quase certeza de que, se dissesse, tomaria uma espadada de imediato.
Vanna, no entanto, não percebeu a breve mudança em sua expressão. Ela apenas assentiu levemente antes de continuar:
“Agora, a ordem na cidade-estado está sendo gradualmente restaurada. As ondas de contaminação deixadas pelos Pregadores do Fim já desapareceram por completo. E aqueles cultistas que invocaram o Sol Negro… se tornaram lenha queimada, como tanto desejavam. Espero que esse desfecho lhe agrade.”
“Até que sim — de qualquer forma, mais cedo ou mais tarde eles reapareceriam.” Duncan comentou sem cerimônia. “Cultistas heréticos são como o fôlego dos Deuses Abissais. Enquanto as ‘raízes’ não forem destruídas, não tem como eliminar completamente os cultos. Da próxima vez que surgirem, é só continuar limpando.”
Vanna escutou cada palavra com atenção, e seu rosto expressava uma leve curiosidade:
“Falando assim… parece que o senhor tem uma péssima relação com esses cultistas heréticos.”
“Você está tentando arrancar informações.” Duncan sorriu. “Afinal, é uma oportunidade rara — quase um século desde que alguém pôde conversar diretamente com o ‘Capitão Duncan’ e com o Banido. Mas você pode perguntar diretamente, se quiser.”
Vanna ficou sem palavras por um instante, e sua expressão ganhou um traço de embaraço. Mas logo, ouviu a resposta tranquila do Capitão Fantasma vinda do espelho:
“Eu não gosto daqueles cultistas — não gosto dos seguidores do Sol nem dos Pregadores do Fim. Quanto aos cultistas da aniquilação que adoram o Senhor das Profundezas… não conheço muito bem, mas imagino que a maioria também sejam lunáticos que me dão nos nervos.
“Então você pode reportar isso diretamente: o Banido é inimigo declarado das três grandes seitas hereges, e, sempre que possível, o Capitão Duncan se dispõe a eliminar qualquer um desses cultistas que cruzar seu caminho — esse deve ser um dado útil.”
“…Agradeço sua resposta.” Vanna hesitou por um momento, mas assentiu com seriedade.
“Tem mais alguma coisa que queira saber?” Duncan perguntou em seguida.
Vanna mordeu levemente os lábios.
Claro que tinha. Mas não sabia se era certo fazer perguntas sobre suas dúvidas espirituais e sobre o Subespaço para aquele Capitão Fantasma logo à sua frente.
No fim, ela decidiu não falar diretamente sobre sua inquietação interior. Em vez disso, escolheu uma forma mais indireta de abordar o assunto — fazendo uma pergunta que, embora parecesse teórica, na verdade dizia respeito a si mesma:
“…Quero saber se o Subespaço responde aos desejos dos mortais — e, se sim, qual é o preço dessa resposta.”
Ela fez questão de frisar a palavra ‘preço’, pois sabia que aquela pergunta era bem diferente das anteriores.
Até agora, a conversa não havia tocado em conhecimentos do domínio sobrenatural. Mas aquela pergunta… era um pedido por conhecimento proibido, dirigido a uma sombra que retornou do Subespaço. Era um passo perigoso.
Ela não temia pagar um preço. Mas queria saber qual seria esse preço.
“Não precisa ficar tão tensa, não há preço nenhum”, Duncan riu do outro lado do espelho. “Porque eu não conheço bem Eles.”
Vanna: “…Hã?”
“Por que todo mundo acha que eu sei tudo sobre o Subespaço?” Duncan levou a mão à testa, com certa frustração. “Sim, eu estive lá. Mas não fiquei fazendo censo populacional no Subespaço — você mora num bairro, conhece cada pessoa que vive nele?”
Vanna assentiu: “Conheço, sim.”
Duncan: “…”
Vanna então se deu conta do que acabara de dizer, ficando ligeiramente sem graça, e completou com certa pressa:
“Quer dizer… talvez nem todos tão bem assim… ok, entendi o que quis dizer.”
“Não posso responder à sua pergunta, mas posso ver que ela está ligada ao seu estado de espírito — que não está nada bom”, Duncan voltou a adotar um tom mais sério. “Tem algo do Subespaço te perseguindo?”
Vanna lançou um olhar esquisito ao espelho.
Duncan pensou melhor e emendou:
“Quero dizer… além de mim.”
“Eu não sei.” Vanna balançou a cabeça, depois entreabriu os lábios como se fosse dizer algo, mas acabou desistindo na última hora.
“Ok, parece que você ainda tem suas reservas — e tudo bem, eu entendo.” Duncan não parecia se incomodar. “Mas, se algum dia algo do Subespaço realmente estiver te causando problemas, pode me procurar. Pelo menos nesse campo… eu posso te ajudar.”
Vanna ficou em silêncio. Passaram-se quase dez segundos antes que ela falasse de novo, rompendo o silêncio com uma única palavra:
“Por quê?”
“Está perguntando por que eu estaria disposto a te ajudar?” A voz de Duncan ecoou do espelho. Para Vanna, ainda soava imponente — até sombria — mas agora havia também uma nota sincera, quase gentil. “Talvez porque já lutamos lado a lado em Pland… Vanna, admiro sua coragem e sua determinação.”
A figura refletida levantou-se.
O Capitão Fantasma parecia prestes a ir embora.
Vanna soltou um leve suspiro. Ela mesma não sabia se o que sentia era um instinto de alerta ou apenas puro nervosismo — mas o simples fato de perceber que ele iria embora a fez relaxar.
Contudo, quando a imagem de Duncan estava prestes a sumir completamente no espelho, Vanna pareceu se lembrar de algo e falou de repente:
“Espere, mais uma coisa.”
Duncan virou levemente o rosto: “Hm?”
“Da próxima vez…” Vanna hesitou, procurando as palavras, até que enfim completou com certa cautela: “Quero dizer, se o senhor ainda pretende… ‘aparecer’… será que poderia não fazer isso tão de repente?”
Duncan não respondeu de imediato. Seu rosto se ocultou na sombra do espelho, tornando impossível ver sua expressão.
Alguns segundos depois, Vanna ouviu a voz dele atravessar o véu de vidro:
“Na próxima vez… eu bato na porta.”
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