Capítulo 233: A Maldição da Família

O Bispo Valentine guardou o papel com o desenho do emblema estranho.

“Nenhum de nós reconhece este padrão. É provável que venha de uma era muito antiga ou de uma sociedade secreta que nunca se expôs”, disse o velho bispo enquanto guardava o papel. “Pode haver registros correspondentes nos arquivos. Além disso, entrarei em contato com alguns amigos do meio acadêmico para ver se eles o reconhecem.”

O olhar de Vanna voltou-se para Tyrian. Ela olhou curiosa para o “capitão pirata” à sua frente: “Seu pai demonstrou alguma outra anormalidade antes da conversa secreta com aqueles estranhos ‘ascetas’? Por exemplo, obter subitamente um códice misterioso ou explorar algum reino secreto?”

“É difícil dizer”, Tyrian balançou a cabeça. “Você deve saber que, um século atrás, ele era um dos exploradores mais notáveis do mundo. Lidar com todo tipo de relíquias e reinos secretos bizarros era seu trabalho diário. Ele estava em contato com as coisas que você mencionou quase o tempo todo. Naquela época, eu e Lucretia estávamos apenas começando a ajudar nosso pai com algumas tarefas e não tivemos muitas oportunidades de conhecer em detalhes sua ‘coleção’. E, além disso…”

Tyrian fez uma pausa e suspirou suavemente.

“E, naquela época, eu e Lucretia nem imaginávamos o que aconteceria depois. Aqueles ‘visitantes’ estranhos, embora um pouco bizarros, não eram nada de novo, já que meu pai costumava receber todo tipo de ‘convidados’ estranhos. Quando percebemos que o estado de meu pai estava ficando cada vez mais estranho, já havia se passado quase um ano desde aquela ‘conversa secreta’, e não havia mais como investigar.”

Vanna assentiu levemente. Nesse momento, o som alto de um sino e o apito de uma sirene vieram de fora da janela, interrompendo a conversa na sala de visitas.

“O sino do crepúsculo soou”, o Bispo Valentine ergueu a cabeça e olhou para fora, vendo o sol, contido por runas duplas, afundar gradualmente no horizonte, enquanto a imagem da Criação do Mundo era vagamente visível no céu. “Vamos parar por aqui hoje.”

Ele desviou o olhar e acenou para Tyrian: “Se não se importa, pode descansar na Catedral esta noite. Já preparamos o jantar e um quarto de hóspedes sem perturbações.”

“Muito obrigado, então”, Tyrian aceitou de bom grado e acrescentou: “Pretendo ficar nesta cidade-estado por mais alguns dias. Cem anos atrás, morei aqui por um curto período e estou muito interessado em ver suas mudanças.”

“Claro que pode”, Valentine sorriu. “O Névoa do Mar já é um amigo de Pland, e estamos sempre preparados para os amigos. Você pode ficar aqui o tempo que quiser.”

Vanna se levantou do sofá e acenou para Tyrian: “Eu os levarei aos quartos.”

Após o término daquela reunião especial, Tyrian deixou a sala de visitas com Vanna, encontrou seus marinheiros que descansavam em um quarto próximo e o grupo seguiu para as profundezas da Catedral.

“Não esperava que a Senhora Inquisidora nos guiasse pessoalmente”, disse Tyrian casualmente no caminho para os quartos. “Para um ‘pirata’, esta é uma grande honra.”

“Apenas um ‘pirata’?”, Vanna virou-se ligeiramente, com um sorriso no rosto. “A identidade de Vossa Excelência não é tão comum. Filho de Duncan, general da Rainha de Geada, comandante da frota do Névoa do Mar… Se todos os piratas do Mar Infinito fossem assim, não precisaríamos de autoridades nas cidades-estados.”

“… ‘Pirata’ é apenas uma identidade conveniente. Facilita muito para eu causar problemas a certas pessoas no Mar Gélido, e eles também gostam dessa minha identidade, pois lhes permite emitir mais mandados de prisão para fingir que ainda são úteis”, disse Tyrian com indiferença. “Mas as coisas que você mencionou são do passado, Senhora Inquisidora.”

Após um breve silêncio, Tyrian continuou: “Eu nunca revelei a estranhos tantos detalhes sobre ‘ele’. Espero que você entenda isso.”

“Claro”, Vanna assentiu levemente. “Se eu estivesse no seu lugar, também não estaria disposta a revelar a… ‘maldição’ da minha família a estranhos. Desculpe, não consigo pensar em outra palavra.”

“Não se preocupe, é realmente uma maldição”, Tyrian suspirou. “Se não fosse pela situação bizarra e estranha em Pland, e pelo fato de vocês terem mencionado a anormalidade ‘dele’, há coisas que eu realmente não gostaria de lembrar.”

Enquanto falava, seu olhar passou casualmente pelos olhos de Vanna. No segundo seguinte, ele baixou o olhar involuntariamente.

Aquela pressão sutil reapareceu, e era ainda mais evidente do que a que sentira no cais.

Associando isso às recentes e repetidas conversas da jovem Inquisidora com “aquela pessoa”, Tyrian começou a ter algumas suposições aterrorizantes sobre essa pressão indescritível.

Vanna notou a estranheza dele.

“Você parece um pouco tenso, Capitão Tyrian”, ela perguntou diretamente. “Eu o deixo nervoso?”

“Não, Senhora Inquisidora”, Tyrian balançou a cabeça e, em seguida, hesitou. “Eu só pensei de repente no que você mencionou. Você disse que conversou várias vezes com meu pai… Além da conversa, ele lhe deu alguma… outra coisa? Por exemplo, poder?”

Os passos de Vanna pararam de repente.

“Por que pergunta?”

“Não tenho segundas intenções”, Tyrian percebeu que sua pergunta poderia ter sido um tanto ofensiva para uma santa devota e firme, e explicou imediatamente. “Eu só queria lembrá-la que o poder que meu pai… trouxe do subespaço é extremamente bizarro e difícil de remover. E, como outras corrosões caóticas do subespaço, esse poder é altamente contaminante. Se você se envolver profundamente demais por acidente…”

“Obrigada pelo aviso”, Vanna respirou fundo, agradecendo sinceramente.

Mas, na verdade, o que ela pensava era que o aviso dele talvez tivesse chegado um pouco tarde. A influência do Capitão Duncan era muito mais séria do que todos imaginavam. Agora, ela só podia esperar que, da próxima vez que o capitão a procurasse, ele realmente batesse na porta…

Tyrian, no entanto, não sabia o que se passava na mente da Inquisidora. Ele apenas sentiu que a atmosfera ficara muito mais estranha. Mas esse constrangimento não durou muito, pois Vanna quebrou o silêncio.

“Tenho uma curiosidade”, ela perguntou de repente. “Sobre a ‘contagem regressiva’ que seu pai mencionou antes de enlouquecer… você sabe mais alguma informação? Ele mencionou outros detalhes?”

Ao fazer essa pergunta, Vanna lembrou-se de sua comunicação anterior com a Deusa da Tempestade, Gomona, e das palavras incompreensíveis que a deusa lhe transmitira:

O tempo é limitado, está prestes a se tornar crítico.

Essa frase, que ela não conseguiu entender na época, agora parecia ter uma conexão intrínseca com a “contagem regressiva” mencionada por Tyrian!

Tyrian encontrou o olhar de Vanna.

Após alguns segundos de silêncio, ele falou com voz grave: “Nos últimos dias, ele disse de repente uma frase a Lucretia. Ele disse: ‘Nosso mundo é apenas um monte de brasas que se apagam’.”

O corredor chegou ao fim.

“Obrigado por me guiar”, Tyrian acenou para Vanna. “Agora, gostaria de ficar um pouco com meus homens.”

Vanna despertou de seus pensamentos. A frase de Tyrian ainda ecoava em sua mente. Ela assentiu distraidamente e se despediu do grande pirata.

A porta do quarto de hóspedes se fechou. Somente quando tudo ficou quieto, Tyrian finalmente soltou um suspiro de alívio.

Ele relembrou sua última conversa com a jovem Inquisidora, a pressão sutil que sentiu nela, e um sentimento tardio de palpitação começou a se espalhar.

Distraidamente, ele se lembrou do último instante em que seus olhares se cruzaram…

Naquele momento, ele sentiu como se estivesse sob o olhar de seu “pai”!

“Capitão, o senhor está bem?”, um de seus marinheiros de confiança olhou preocupado para seu chefe. “O senhor está tenso desde que desembarcou.”

“…Estou bem”, Tyrian se acalmou, acenou para o subordinado e caminhou em direção a uma mesa próxima. “Traga as coisas.”

Um marinheiro se adiantou e colocou sobre a mesa uma maleta que trouxeram do Névoa do Mar. Tyrian abriu a maleta com uma chave, revelando seu conteúdo.

Era um dispositivo de lentes complexo, composto por muitas lentes pequenas e hastes curvas, com uma grande esfera de cristal no centro.

“Vigiem a porta, não deixem ninguém nos perturbar”, ordenou Tyrian a seus homens.

Somente depois que os marinheiros saíram, ele concentrou sua atenção na esfera de cristal, ajustou suavemente o ângulo de uma das lentes e chamou em voz baixa: “Lucretia.”

Depois de um bom tempo, o conjunto de lentes começou a vibrar e a funcionar. A esfera de cristal no centro começou a emitir um brilho fraco. Acompanhada por um ruído de interferência, a imagem borrada de Lucretia apareceu na esfera de cristal: “Estou aqui.”

“Por que está tão embaçado?”, Tyrian franziu a testa. “Onde você está agora?”

“Eu… fronteira…”, a voz de Lucretia veio da esfera de cristal, com estalos de interferência, mas ainda era mal audível. “Aqui… ambiente… interferência aumentou, eu… ajustando… está melhor agora? Consegue me ouvir?”

A interferência finalmente desapareceu, e a imagem de Lucretia tornou-se gradualmente mais nítida.

“O ambiente aqui mudou um pouco, o mundo espiritual está causando uma perturbação estranha na dimensão da realidade”, explicou a voz na esfera de cristal. “Aconteceu alguma coisa, irmão? O Brilho Estelar está atravessando águas instáveis. Se não for nada importante…”

“Estou em Pland agora”, Tyrian foi direto ao ponto. “O Névoa do Mar sofreu danos graves em um confronto com o Banido, e a situação nesta cidade-estado também não parece certa.”

A figura do outro lado da esfera de cristal ficou paralisada por um momento.

Alguns segundos depois, a voz ligeiramente nervosa de Lucretia soou: “Você realmente encontrou o Banido? Você está bem?”

“…Francamente, levei uma bela surra, mas estou bem por enquanto”, disse Tyrian com voz grave. “O problema é que… a situação ‘dele’ parece um pouco estranha.”

“A situação ‘dele’ está estranha?”, Lucretia franziu a testa. “Você o viu de perto?”

“Sim.”

“Então…”, Lucretia abriu a boca, parecendo um pouco hesitante. “Desta vez, quem você viu foi o nosso ‘pai’?”

“…Não inteiramente.”