Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 237: Os Insônes
As chamas no espelho se dissiparam e a figura imponente desapareceu gradualmente na escuridão, mas o símbolo misterioso que o Capitão Duncan lhe mostrou permaneceu vividamente em sua mente.
Morris deixou o depósito, olhou para sua esposa adormecida e foi até a escrivaninha sob a janela. Ele pegou papel e caneta e, sob a fria luz noturna vinda de fora, enquanto a memória ainda estava fresca, desenhou o símbolo misterioso e estranho.
Em seguida, o erudito ancião franziu a testa, olhando para o padrão no papel, e mergulhou em uma breve reflexão.
Até mesmo um erudito capaz de passar nos exames mais rigorosos da Academia da Verdade ficava perplexo ao ver aquele símbolo. A única coisa que ele podia afirmar com certeza era que aquilo não era uma marca usada por nenhuma cidade-estado, igreja ou organização oficial, nem se conformava às normas rúnicas do simbolismo místico.
Segundo o capitão, era um emblema usado por alguns ascetas que visitaram o Banido há cem anos, e agora ele subitamente se interessou por ele.
Como um “servo” do capitão, Morris não pretendia bisbilhotar os segredos dele, mas sentiu uma imensa curiosidade sobre aqueles misteriosos ascetas. Que tipo de “pessoas” usariam um amuleto tão estranho e, cem anos depois, de repente despertariam a atenção do Capitão Duncan?
Depois de ponderar por um longo tempo, Morris soltou um suspiro suave, dobrou o papel cuidadosamente, guardou-o na gaveta da escrivaninha e trancou-a.
Ele planejava esperar o sol nascer no dia seguinte para vasculhar em sua biblioteca os livros sobre cidades-estados antigas e sociedades secretas. Embora o deus da sabedoria concedesse a seus seguidores uma memória excelente, até a melhor memória podia ter falhas. Quem sabe se não haveria um registro daquele símbolo em sua coleção de livros?
Se não encontrasse nenhuma pista em seus livros… então iria investigar nas grandes bibliotecas da cidade-estado e nos arquivos da universidade da Cidade Alta. Embora já estivesse afastado da universidade há muitos anos, seus contatos e influência ainda existiam, e não seria problema pegar emprestados alguns livros raros.
Se não encontrasse nenhum registro em toda Pland, então teria que escrever cartas e enviar telegramas para seus velhos amigos em Lensa e outros lugares. Alguns velhos companheiros com bastante conhecimento em história e misticismo talvez pudessem ajudar. E, mesmo que não pudessem, as universidades e instituições de pesquisa por trás deles poderiam.
De qualquer forma, esta era a primeira tarefa que o capitão lhe confiava. Ele lhe concedeu o milagre da ressurreição, e agora ele finalmente tinha a chance de ajudar em algo.
Morris planejou isso silenciosamente em sua mente, e a agitação causada pela insônia se acalmou sem que ele percebesse. Ele sentiu como se tivesse reencontrado o mesmo vigor e determinação por um objetivo que tinha quando entrou na academia pela primeira vez. E, junto com essa determinação…
Veio um sono há muito esperado.
Tyrian se revirou na cama por várias horas, ainda sem nenhum sinal de sono.
Ele não se lembrava há quantos anos não tinha uma insônia tão severa. Como comandante da frota do Névoa do Mar, como capitão do Névoa do Mar, ele sempre teve um forte autocontrole e uma boa rotina, adormecendo e acordando com a precisão controlada de uma máquina — exceto hoje.
Todo tipo de pensamentos e imagens surgiam e desapareciam em sua mente, intercalados com inúmeras memórias amareladas e fragmentadas: as chamas que surgiram no espelho, o pai sombrio e imponente, o navio de exploração que um dia partiu sob aplausos e elogios, a sombra do navio que retornou do subespaço…
Até mesmo a batalha com o Banido perto da costa de Geada, e as palavras que a Rainha de Geada lhe dissera no início do “Projeto Abismo”:
“Há coisas terríveis sob o mar profundo, mas sob o mar profundo também devem estar todas as respostas.”
Tyrian virou-se e sentou-se na cama.
Ele olhou para a parede próxima. O espelho que antes estava pendurado ali fora removido e agora estava virado para baixo sobre a mesa ao lado. Na parede, restava uma marca oval de cor ligeiramente mais clara. A maleta com a esfera de cristal e o conjunto de lentes estava aos pés da cama, trancada novamente. Outros lugares do quarto com espelhos ou superfícies lisas e espelhadas também foram cobertos com panos.
Mas os panos brancos sobre os espelhos tornavam o quarto ainda mais sombrio e estranho. Sob o brilho frio da Criação do Mundo, o quarto parecia um lugar de reunião de fantasmas.
No entanto, Tyrian não temia fantasmas. Ele tinha um navio cheio de marinheiros mortos-vivos, um navio de guerra vivo e amaldiçoado, e várias bases secretas que frequentemente manifestavam ilusões estranhas e assustadoras. Comparado ao seu pai, fantasmas não eram nada assustadores.
Depois de andar de um lado para o outro no quarto silencioso e sombrio por alguns minutos, o olhar de Tyrian pousou na maleta aos pés da cama. Após uma breve hesitação, ele pegou a maleta.
Parley já havia voado de volta ao navio para relatar que estava tudo bem. Como capitão, ele não podia simplesmente ir ao quarto ao lado e acordar seus subordinados para jogar cartas e aliviar o tédio. Era melhor ver o que Lucretia estava fazendo.
Talvez ela também estivesse sofrendo de insônia, como ele.
Ele acendeu a luz elétrica, colocou a maleta sobre a mesa, abriu a tampa e a esfera de cristal, cercada por um complexo conjunto de lentes e braços curvos, apareceu diante dele. Tyrian estendeu a mão, mas antes que pudesse ativar as lentes, o dispositivo zumbiu e a esfera de cristal em seu centro se iluminou rapidamente.
Em poucos instantes, a figura de Lucretia apareceu na esfera de cristal.
A “Bruxa do Mar”, vestindo uma camisola de seda, com os cabelos negros soltos e uma aura misteriosa, agora olhava para seu irmão com uma expressão de exaustão.
“Irmão, estou com insônia.”
“Se está com insônia, pode se distrair com seus autômatos ou fazer seus experimentos mágicos”, disse Tyrian com o rosto sério, mantendo a compostura. “Estou elaborando os planos futuros para a frota do Névoa do Mar…”
“Mas seu cabelo está tão bagunçado quanto o de alguém que rolou no travesseiro por quatro horas”, disse Lucretia com indiferença. “Essa é uma nova postura para elaborar planos de desenvolvimento?”
“…”
Tyrian ficou em silêncio por alguns segundos, com uma expressão exausta: “Tem alguma boa sugestão para a insônia? Use sua inteligência como ‘bruxa’… Esquece, deixa pra lá.”
Os dois irmãos mergulharam em um breve e constrangedor silêncio. Em seguida, conversaram um pouco, mas ambos evitavam, intencionalmente ou não, algum ponto crucial. No entanto, gradualmente, o assunto inevitavelmente começou a se mover em uma certa direção.
“…Eu fiz algumas ‘modificações’ na Luni agora há pouco”, disse Lucretia. “Reforcei a proteção de suas articulações e adicionei um pequeno recipiente para armazenar óleo sagrado e runas de proteção ao lado da esfera que contém sua ‘alma’.”
“Você acha que isso vai impedir o pai de contatá-la através de ‘Nilu’ da próxima vez?”
“Não, mas talvez impeça a Luni de travar completamente da próxima vez”, o tom de Lucretia carregava um traço de resignação. “Na verdade, ela também ficou traumatizada com o último travamento. Tivemos uma conversa séria sobre isso agora há pouco.”
Tyrian ficou curioso: “Conversa? O que você e sua autômata conversaram?”
“Ela me aconselhou a não ficar nervosa, e eu a aconselhei a encarar as coisas com mais leveza.”
Tyrian: “…”
Eles ficaram em silêncio mais uma vez, mas desta vez não por muito tempo. Tyrian disse de repente: “Na verdade, eu estava pensando em uma coisa.”
“Pensando em quê?”
“Lembra das últimas palavras do pai hoje?”, disse Tyrian lentamente. “Ele disse que encontrou a irmã da Luni, ‘Nilu’, e mencionou que a autômata nunca foi vendida…”
O olhar de Lucretia mudou ligeiramente: “Você quer dizer…”
“Isso significa que a loja ainda existe. Você ainda se lembra onde fica aquela loja de bonecas?”, a expressão de Tyrian tornou-se séria. “Só me lembro que fica na cidade de Pland.”
Lucretia franziu a testa, mergulhando em suas memórias, enquanto Tyrian continuava lentamente: “Se o pai realmente ‘comprou’ a Nilu daquela loja, isso revela uma informação crucial: ele já havia pisado nesta cidade-estado de alguma forma antes da contaminação histórica, e até mesmo se movia abertamente por aqui…”
“Você já pensou que esta pode ser uma pista que o pai nos deu de propósito?”, disse Lucretia de repente. “Agora que você pensou nisso, talvez seja exatamente isso que o pai quer que você investigue.”
Tyrian ficou em silêncio por alguns segundos antes de falar: “Eu considerei essa possibilidade. Mas, mesmo assim, você sabe que não vou deixar essa pista passar.”
“…Eu só me lembro vagamente da localização da loja”, disse Lucretia. “Deve ser na borda da Cidade Alta, perto de algum cruzamento da Cidade Baixa do sul. A dona era uma senhora elfa… Quando a vi, cem anos atrás, ela já parecia bem velha. Mas, considerando a longevidade dos elfos, a dona da loja ainda deve ser ela.”
Tyrian assentiu levemente, memorizando silenciosamente a informação fornecida por Lucretia.
O mar estava um pouco agitado. O Banido balançava suavemente com as ondas. Duncan estava sentado à mesa de navegação, estudando entediado o mapa coberto de névoa à sua frente.
Seu corpo na cidade-estado de Pland já havia adormecido, mas este “corpo principal” a bordo do Banido quase não precisava de descanso. Assim, o período de navegação noturna se tornava bastante entediante, especialmente com a dupla restrição de não ser bom ler à noite e não ser bom ler no mar. Ele não podia trazer os livros de lazer que comprou em Pland para se distrair, o que tornava o tédio ainda maior.
Afinal, ele não podia passar todos os dias explorando o navio como uma diversão. Por maior que fosse o Banido, a exploração tinha um fim.
“Estou quase querendo sair por aí no plano espiritual, batendo em vidros, para chamar Vanna, Tyrian e os outros para jogar cartas”, suspirou Duncan, entediado, erguendo os olhos para o Cabeça de Bode. “Com Vanna não sei, mas Tyrian provavelmente não vai conseguir dormir esta noite…”
“Se o senhor realmente fizer isso, ele também terá insônia amanhã à noite”, disse o Cabeça de Bode imediatamente. “Mas, francamente, sua ideia é realmente muito atraente, com um efeito de suspense e entretenimento considerável. Em quem o senhor pretende bater primeiro?”
“Eu só estava comentando”, Duncan lançou um olhar de soslaio para o Cabeça de Bode e varreu o mapa com o olhar mais uma vez. Mas, de repente, ele pareceu se lembrar de algo e ergueu a cabeça abruptamente. “Quanto tempo falta para o nascer do sol?”
“…Ainda faltam três horas”, o Cabeça de Bode estimou. “Se ele nascer na hora hoje.”
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