Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 24: Pomba?
A pomba de penas brancas estava parada em cima da mesa, imóvel, com a pequena bússola de latão que Duncan havia procurado por tanto tempo pendurada em seu pescoço. Aos pés da ave repousava a familiar pequena adaga de obsidiana.
Duncan observava a pomba com uma expressão de perplexidade, enquanto ela devolvia o olhar com a mesma expressão atônita.
Não era uma tarefa fácil perceber expressão em um pássaro, mas, por algum motivo, Duncan tinha certeza de que conseguia entender claramente o semblante daquela pomba. Mais do que isso, ele sentia que podia discernir algum tipo de ‘sabedoria’ brilhando nos olhos ligeiramente avermelhados da ave. Aqueles olhinhos pequenos e redondos encaravam fixamente à sua frente. Quando Duncan lançou seu olhar na direção da ave, um dos olhos dela claramente focou nele, enquanto o outro parecia ainda fixado no teto da cabine do capitão, vagando de maneira errática.
“Uma… pomba?”
Foram necessários vários segundos para Duncan finalmente reagir, seus lábios se movendo enquanto ele murmurava quase instintivamente.
Por que uma pomba? Por que uma pomba simplesmente apareceu ali do nada? Por que sua bússola de latão estava pendurada no pescoço dessa pomba? E como aquela adaga veio parar aqui?
Ou, resumindo todas essas perguntas em uma só: nessa embarcação tão estranha, será que algo normal poderia, por favor, acontecer pelo menos uma vez?!
Enquanto esses pensamentos fervilhavam na mente de Duncan, a pomba, que até então estava imóvel, parecia finalmente ter ‘despertado’. Ela deu dois passos na mesa, aproximando-se de Duncan, esticou o pescoço com força e soltou um alto “Coo coo!”.
“…”
Duncan olhou para o pássaro em silêncio, e sua mente foi tomada de repente pela imagem de vários capitães piratas clássicos que ele recordava de histórias e lendas. Ele então olhou para o uniforme de capitão que vestia.
“Ter uma ave ao lado do capitão parece algo bem padrão… mas, normalmente, não deveria ser um papagaio? O que é que uma pomba está fazendo aqui?”
Ao ouvir as palavras de Duncan, a pomba imediatamente balançou a cabeça com um ar de seriedade. Então, para a completa surpresa dele, respondeu com uma voz feminina, estranhamente monótona e robótica:
“Transferência concluída!”
Todos os pensamentos e murmúrios de Duncan congelaram imediatamente. Ele quase engasgou com a própria saliva, seus olhos se arregalando enquanto encarava a pomba branca à sua frente, completamente atônito.
Ele se lembrou de sua primeira vez a bordo daquela embarcação, do momento em que, na cabine do capitão, encontrou a cabeça de bode falante.
No entanto, essa já não era a primeira vez de Duncan a bordo do Banido. Ele havia se acostumado com as peculiaridades deste mundo, então o fato de a pomba começar a falar só o surpreendeu por um instante. No segundo seguinte, sua expressão ficou séria, enquanto uma leve chama verde-espectral surgia em sua mão. Em estado de alerta, ele fixou o olhar na pomba à sua frente:
“De onde você veio?”
A pomba inclinou a cabeça para o lado, com um olho fixo em Duncan e o outro vagueando pelo teto da cabine:
“Endereço incorreto. Por favor, verifique o endereço ou entre em contato com o administrador do sistema.”
Duncan: “…?”
Mais do que o instante de perplexidade em sua expressão, uma enorme onda de choque tomou conta de sua mente!
As palavras da pomba… não combinavam com o ‘estilo’ deste mundo. Diferiam completamente do que ele já havia ouvido do Cabeça de Bode, de Alice ou dos cultistas de mantos negros. Em vez disso, eram termos que faziam muito mais sentido para ele como Zhou Ming, um humano da Terra!
Mesmo assim, a pomba parecia totalmente indiferente à mudança de expressão e ao olhar de Duncan. Ela abaixou a cabeça para bicar suas próprias asas, balançou o peito com a bússola de latão pendurada e, em seguida, começou a andar tranquilamente pela mesa, como se estivesse passeando despreocupada.
Após alguns passos, a pomba foi até a pequena adaga de obsidiana, usou as garras para empurrá-la na direção de Duncan e, mais uma vez, soltou aquela voz feminina monótona e estranhamente robótica:
“Pegue este machado de batalha movido a energia solar e abrace a glória da batalha!”
Duncan levantou-se bruscamente de sua cadeira, que arranhou o chão com um som agudo e incômodo. Ele olhava fixamente para a pomba, que continuava com sua expressão serena e inocente, enquanto uma mistura absurda de incredulidade e humor grotesco dominava sua mente.
Aquela pomba certamente não era algo originalmente pertencente ao Banido. Mais ainda, ela provavelmente não fazia parte deste mundo!
As palavras que saíam de sua boca só faziam sentido para ‘Zhou Ming’!
Talvez o som da cadeira arrastando tivesse sido alto demais, porque até a Sala de Mapas parecia ter percebido a movimentação. Duncan ouviu a voz do Cabeça de Bode em sua mente:
“Capitão? Está tudo bem?”
Duncan continuava encarando a pomba na mesa. Ele sabia que o Cabeça de Bode não ousava observar diretamente o que acontecia na cabine do capitão. Assim, respondeu em um tom baixo, mantendo sua habitual frieza:
“Estou bem.”
“A senhorita Alice veio procurá-lo. Devo…?”
“Atenda você primeiro.”
“Sim, capitão.”
Duncan soltou um longo suspiro, lançando um olhar para a porta que levava à Sala de Mapas.
Alice continuava a lidar com a interminável tagarelice do Cabeça de Bode, a senhorita boneca já havia tentado se levantar várias vezes para sair, mas fora impedida de deixar o local. Duncan sabia que deveria intervir e resgatar a pobre boneca daquela situação constrangedora, mas agora… ele tinha algo mais importante para confirmar.
Alice teria que aguentar um pouco mais.
Ele se sentou novamente à frente de sua escrivaninha, decidido a tentar estabelecer algum tipo de comunicação coerente com a pomba à sua frente. No entanto, foi só então que ele notou algo que havia passado despercebido até aquele momento:
Uma tênue ‘linha de fogo’ se estendia da chama espectral em sua mão direita. A linha, fina como um fio de cabelo, surgia entre os dedos de Duncan e se estendia alguns centímetros antes de desaparecer no ar.
Na pomba, por outro lado, um rastro semelhante de chamas verde-espectrais se entrelaçava entre suas penas, escondido sob as asas. O rastro também se estendia para o ar e desaparecia a certa altura.
Duncan franziu a testa, levantou a mão direita e, com um pensamento, fez a chama dançar. Num piscar de olhos, a pomba desapareceu da mesa.
No segundo seguinte, ela surgiu em seu ombro. Baixando a cabeça, a ave bicou o cabelo de Duncan e soltou um alto e enérgico “Coo coo!”.
Duncan estalou os dedos novamente, e a pomba retornou para a mesa em um instante.
A bússola de latão, pendurada no peito da pomba, reluzia sob o brilho esverdeado das chamas.
Duncan franziu ainda mais a testa.
“… Está relacionado a essa bússola de latão?”
Ele já tinha certeza de que havia algum tipo de conexão entre ele e a pomba. Essa ligação parecia até mais forte do que aquela que ele compartilhava com o Banido. Talvez isso explicasse como a pomba parecia ‘saber’ coisas que apenas ele, como Zhou Ming, conhecia, coisas que pertenciam à Terra. No entanto, ele ainda não conseguia determinar o motivo de sua aparição.
Pensando nisso, sua suspeita inevitavelmente recaía sobre a estranha bússola de latão.
Desde que começou a testar as chamas espectrais, todos os fenômenos incomuns pareciam ter origem na bússola. Seja a experiência de atravessar almas, a projeção de sua consciência em um cadáver ou até mesmo o desaparecimento repentino da bússola, que reapareceu pendurada no pescoço da pomba… tudo parecia convergir para esse objeto.
Duncan ficou observando a pomba por um momento, depois estendeu a mão em direção à bússola.
Ele queria tirar o objeto para examiná-lo adequadamente.
A pomba não se moveu nem tentou impedi-lo. No entanto, quando os dedos de Duncan tocaram o suposto objeto, não sentiram nada sólido. Eles atravessaram a bússola de latão e tocaram as penas macias do peito da pomba.
Era como se ele tivesse atravessado uma ilusão.
A pomba deu dois pequenos pulos no mesmo lugar, parecendo ligeiramente incomodada, e abriu o bico para gritar:
“Hoje é a Quinta Maluca do KFC, me mande 50!”
Duncan piscou, confuso, e seus olhos tremeram com incredulidade. Ele tentou mais duas vezes, mas o resultado foi o mesmo. Por fim, ele teve que aceitar que não poderia remover a bússola do peito da pomba.
A bússola havia claramente passado por algum tipo de transformação. Agora, parecia ser uma ilusão, algo fundido à pomba e impossível de separar ou tocar.
Ou talvez… a pomba fosse, na verdade, a própria bússola de latão em sua nova forma?
Uma enxurrada de hipóteses, algumas delas tão absurdas que ele mesmo hesitava em acreditar, surgiu em sua mente. No entanto, havia apenas uma coisa da qual ele tinha certeza: a aparição dessa pomba estava diretamente ligada à sua experiência de ‘travessia de alma’ usando a bússola de latão. Essa experiência, por sua vez, parecia ter alterado a própria natureza do objeto.
Talvez essa fosse a verdadeira essência da bússola, uma característica inerente a ela como um ‘objeto anômalo’. Talvez fosse até um tipo de ‘custo de uso’. Quanto ao comportamento estranho da pomba, Duncan suspeitava que o problema não fosse a bússola em si, mas o fato de ele ser Zhou Ming, alguém da Terra.
Por enquanto, não havia como confirmar ou refutar essas ideias. A menos, é claro, que Duncan encontrasse algum tipo de manual que explicasse os objetos anômalos do Banido.
No momento, ele precisava decidir o que fazer com essa… pomba peculiar.
Após refletir brevemente, ele concluiu que a melhor maneira de lidar com a situação seria dar um nome à pomba.
“Eu preciso te dar um nome”, disse ele, batendo levemente os dedos na mesa enquanto olhava para a ave com seriedade. “Acho que você consegue entender o que estou dizendo, não é?”
A pomba inclinou a cabeça para o lado, seus olhinhos verdes e pequenos vagando enquanto ela respondeu com sua voz peculiar:
“Ai?”
Capítulo revisado dia 26/01/2025
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