Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 241: “O Lado Oposto”
Um continente inteiro, suspenso de cabeça para baixo, movia-se lentamente sobre sua cabeça. Sua sombra colossal e sinistra cobria quatro quintos do campo de visão, e a opressão que essa cena transmitia era espantosa — a ponto de até mesmo Duncan sentir-se sufocado e com vontade de desviar o olhar.
Mas ele se forçou a controlar esse impulso e, em vez disso, ergueu a cabeça para observar com mais atenção o fragmento de corpo celeste suspenso.
Ele não sabia o que estava acontecendo ali, como havia chegado, nem como voltar — mas era exatamente por isso que precisava observar cada cena suspeita, coletar toda informação que pudesse ser útil.
Aquele destroço celestial suspenso… era real? Ou apenas uma ilusão terrível? Seriam os ossos de um mundo que se fragmentou? Ou apenas uma projeção distorcida do tempo-espaço caótico do subespaço?
A terra suspensa se aproximava lentamente em uma trajetória inclinada, ficando cada vez mais perto do Banido. Duncan ficou subitamente tenso, pois percebeu que a direção de movimento do navio sob seus pés parecia tangenciar a borda daquele “continente”. Havia a possibilidade de colisão!
Mas, no momento em que o continente se aproximava cada vez mais e a popa do Banido estava prestes a tocar o pico de uma montanha quebrada na borda do continente, Duncan sentiu de repente o convés sob seus pés tremer.
Em seguida, ele pareceu ouvir gritos ilusórios vindos de algum lugar desconhecido e o som agudo e rangente de todas as partes daquele velho e decrépito navio fantasma. Esses sons quebraram o silêncio do Banido. No instante seguinte, o enorme casco sob seus pés começou a virar ligeiramente — e, por uma distância perigosamente pequena, a superestrutura do Banido passou raspando pela montanha quebrada.
Duncan observou, atônito, os movimentos do navio, e ouviu os gritos ilusórios e os rangidos gradualmente voltarem ao silêncio. Mas, de repente, o canto do olho pareceu capturar algo. Ele ergueu a cabeça bruscamente, olhando para o pico da montanha quebrada na borda do continente suspenso.
O Banido já havia cruzado a linha média do pico, e seus mastros velhos quase roçavam o cume escuro e enevoado. Agora, Duncan via a cena por trás da montanha.
Ele viu um penhasco, um penhasco escarpado que parecia ter sido rasgado por uma força bruta. E uma criatura humanoide gigantesca estava encostada naquele penhasco. “Ele” era quase tão alto quanto a montanha inteira, com membros longos, finos e pálidos, e uma cabeça deformada e inchada. Em seu rosto esburacado, havia um único olho gigante, semicerrado, do qual escorria um líquido turvo que se solidificava no ar em gotas semelhantes a âmbar.
Este ciclope estava obviamente morto há inúmeros anos, mas seu corpo remanescente parecia ainda emanar uma espécie de pressão e poder avassaladores. Não havia feridas visíveis em seu corpo; ele parecia ter morrido de exaustão. E, até o momento de sua morte, suas mãos estavam firmemente pressionadas contra o penhasco atrás de si, com os dedos cravados profundamente na rocha.
O continente escuro e sem cor, e o ciclope pálido morto na beira do penhasco. Neste subespaço caótico e sombrio, sob a luz de um longo “relâmpago”, esta cena deslumbrante em preto e branco ficou profundamente gravada na mente de Duncan.
Em seguida, o clarão que durou muito tempo finalmente começou a se dissipar. Ele atravessou o centro do continente e começou a desaparecer a partir do meio. No campo de visão de Duncan, a terra suspensa gradualmente voltou à escuridão.
Mas ele continuou de cabeça erguida. Sabia que o continente ainda não se afastara completamente; sua última parte ainda passava lentamente sobre o Banido. Ele quase podia ouvir o rugido baixo e pesado de algo maciço sendo esmagado sobre sua cabeça — embora soubesse que era apenas uma ilusão, essa ilusão de rugido ainda ecoava em sua mente, como o último lamento de um mundo morto, deixado para trás no subespaço.
Duncan finalmente desviou o olhar, olhando lentamente ao redor, para o vasto caos além da amurada do navio.
De vez em quando, fluxos de luz e sombra surgiam; de vez em quando, clarões brilhantes rasgavam a escuridão. Neste vazio sombrio e caótico, esses clarões e fluxos de luz ocasionalmente refletiam algumas coisas: aglomerados de tamanhos variados, sombras inomináveis.
Duncan respirou fundo e olhou para o navio sob seus pés — este Banido, tão diferente do que ele conhecia, com uma aparência decrépita por toda parte.
Ele fechou os olhos por um momento, tentando se comunicar com este navio — assim como se comunicava com o Banido intacto no mundo real — para entender este navio fantasma que flutuava no subespaço.
Mas, no instante seguinte, ele abriu os olhos bruscamente.
Ele não conseguia sentir este navio — não era uma questão de não conseguir se comunicar, mas de não sentir a existência do navio de forma alguma!
No momento em que sua percepção se expandiu, ele “sentiu” que o navio sob seus pés havia desaparecido. Não havia convés, mastros ou cabines. Ele até se sentiu como se estivesse flutuando sozinho neste vasto caos, e a enorme sensação de vazio e o deslocamento de percepção que se seguiram interromperam diretamente sua concentração.
Duncan olhou, atônito, para as estruturas do navio ao seu redor, e depois pisou no convés, como se não acreditasse que o navio que o carregava era, na verdade, apenas uma ilusão.
Ou… seria ele mesmo a “ilusão”?
Por um momento, a mente de Duncan se encheu de pensamentos. Em seguida, ele balançou a cabeça e caminhou em direção à escotilha que levava ao convés inferior.
Ele decidiu continuar com seu plano de exploração anterior.
Não importava o que estava acontecendo com este navio, não importava por que ele parecia “inexistente” em sua percepção. Pelo menos, por enquanto, ele o estava carregando e não mostrava sinais de repulsa ou hostilidade para com seu “capitão”. Isso deu a Duncan a motivação e a confiança para continuar explorando.
Ele desceu os degraus, entrando no porão vazio do convés inferior.
Abriu várias cabines consecutivas, e todas apresentavam a mesma cena de velhice e decrepitude. Manchas pretas e suspeitas cobriam as paredes e o teto, e todos os quartos estavam vazios. Alguns quartos, que na memória de Duncan eram depósitos cheios de coisas, agora só tinham paredes e pilares em ruínas.
Ele até procurou especificamente a cabine de Alice, que, naturalmente, também estava vazia. Por alguma razão, isso o aliviou.
Ele preferia não ver pessoas ou coisas familiares neste lugar bizarro e aterrorizante.
Depois de deixar o quarto de Alice, Duncan atravessou diretamente a área da tripulação e a sala de jantar, avançando para as profundezas do porão.
Ao passar pelo depósito do meio, ele hesitou por dois minutos em frente à escada que levava a uma área ainda mais profunda.
No Banido da dimensão real, ele explorou essas áreas e sabia que abaixo ficavam os porões com luz e sombra invertidas, e o ainda mais profundo “fundo do casco quebrado”. Mas, naquela exploração, ele estava com uma lanterna especial.
Aquela lanterna o ajudava a expandir sua percepção e a revelar com antecedência os cantos perigosos e distorcidos do porão.
Mas aqui, ele não encontrou aquela lanterna.
No entanto, após um momento de hesitação, Duncan decidiu continuar.
A situação aqui já havia mudado sabe-se lá o quanto em comparação com a dimensão real. Mesmo que encontrasse a lanterna, não era garantido que ela ainda funcionaria nas cabines abaixo. E a principal habilidade da lanterna era expandir sua percepção — mas, em sua percepção, este navio nem sequer existia. Que sentido teria expandir a percepção em várias vezes?
Duncan apenas ergueu a espada em sua mão e passou os dedos levemente sobre a lâmina. Uma chama verde-espectral fraca se acendeu na lâmina, fornecendo uma iluminação limitada.
Ele usou a espada como lanterna, desceu os degraus e avançou lentamente.
Um porão escuro e amplo apareceu em sua visão.
Este era o porão de “luz e sombra invertidas”. Na dimensão real, este porão estava cheio de lamparinas, mas a luz emitida por elas e a escuridão nos cantos do porão apresentavam um estado de inversão: onde havia mais luz, era mais escuro; onde não havia luz, era mais claro.
Duncan olhou ao redor.
Não havia inversão de luz e sombra aqui, apenas uma escuridão caótica e uniforme. A chama espectral que queimava na lâmina de sua espada não acionou nenhum mecanismo de inversão, iluminando os arredores normalmente.
“…Este lugar é bem mais normal.”
Duncan não pôde deixar de murmurar para si mesmo. Em seguida, atravessou o lugar vazio com cautela e continuou avançando, até que outra escada apareceu em sua visão.
Esta escada levava ao fundo do casco do Banido, àquele lugar fragmentado.
Duncan parou em frente à escada, respirou fundo e desceu.
Uma porta apareceu no final da escada.
Duncan ergueu a cabeça instintivamente, olhando para o batente da porta. Ele ainda se lembrava de que havia uma frase escrita nesta porta, indicando que era a última grande porta do fundo do casco.
Não havia nada no batente da porta.
Nenhum aviso para a posteridade, nenhuma instrução para guiar o caminho. Era apenas uma porta de madeira comum, ligeiramente aberta, como se convidasse o visitante a entrar.
Duncan não ficou muito surpreso. Apenas desviou o olhar silenciosamente, segurando firmemente a espada em chamas com uma mão e empurrando lentamente a porta com a outra.
Do outro lado da porta também havia um lugar escuro, um porão velho e decrépito.
Mas estava inteiro.
Duncan entrou e, imediatamente, notou a estrutura intacta das paredes ao redor. Embora estivessem em ruínas, não havia uma única fenda nas paredes, e, naturalmente, não se podia ver a paisagem do lado de fora.
O fundo do casco na dimensão real estava em pedaços, mas o fundo do casco aqui estava tão completo?
Uma sensação estranha surgiu no coração de Duncan. Ele continuou a andar para a frente e, depois de alguns passos, parou de repente.
Nas profundezas enevoadas e escuras do porão à frente, uma porta antiga e decrépita se erguia do nada.
Duncan sentiu seu coração disparar e acelerou o passo. A aparência da porta tornou-se clara em sua visão.
Era idêntica à porta no fundo do casco do Banido na dimensão real!
Duncan chegou em frente à porta e, à primeira vista, notou que ela estava ligeiramente aberta — uma fresta aberta para dentro.
E, através da fresta, ele podia ver vagamente a cena do outro lado.
Era um porão em pedaços, no qual flutuava uma luz fraca.
Duncan virou-se bruscamente, olhando para o lugar onde estava.
Um porão antigo e decrépito, escuro e empoeirado, abandonado por sabe-se lá quanto tempo — exatamente como a cena que ele vira na fresta da porta quando explorou o fundo do casco com Alice.
Duncan finalmente confirmou sua suspeita inicial: Ele estava do “lado oposto” da porta.
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