Capítulo 248: O Convite

A dona da Casa de Bonecas da Rosa procurou por um bom tempo no depósito e finalmente encontrou o que queria. No entanto, quando saiu, descobriu que o “cliente” que estava em frente ao balcão havia desaparecido.

“…Que impaciente…”, depois de confirmar que Tyrian havia partido, a velha senhora não pôde deixar de resmungar. “Não é à toa que a irmã virou uma erudita e o irmão foi para a guerra…”

No entanto, Tyrian certamente não saberia o que a velha senhora elfa estava resmungando sobre ele. A essa altura, ele já havia saído correndo da loja de bonecas e estava na rua do lado de fora.

Mas, parado no espaço aberto em frente à loja e olhando ao redor, ele não conseguiu encontrar a figura da senhora de cabelos dourados.

Os marinheiros que haviam ficado do lado de fora esperando viram o capitão sair e olhar para todos os lados e se aproximaram imediatamente: “Capitão, estamos aqui.”

“Não estou procurando por vocês”, disse Tyrian rapidamente, enquanto seu olhar ainda vasculhava as ruas e becos próximos. “Vocês viram uma senhora de cabelos longos e dourados parada perto da vitrine? Mais ou menos… meia cabeça mais baixa que eu, vestindo um vestido roxo.”

Os marinheiros se entreolharam e, em seguida, lançaram a Tyrian olhares de espanto.

Tyrian franziu a testa: “…O que significam esses olhares?”

“Capitão…”, um marinheiro se atreveu a falar, com hesitação na voz. “Amor à primeira vista é uma coisa boa, mas acho que um relacionamento inter-cidades-estados…”

Tyrian olhou para seu subordinado com uma expressão calma: “Se você disser mais uma palavra, vou te enfiar nos seis canhões principais do Névoa do Mar e te disparar em direções diferentes.”

O marinheiro se calou na mesma hora.

Tyrian, por sua vez, já começara a pensar rapidamente.

Ele tinha certeza de que não se enganou. Havia de fato uma mulher de cabelos dourados com a mesma aparência da Sua Majestade Ray Nora batendo na janela.

No meio da multidão, se fosse apenas uma pessoa com aparência semelhante à da Rainha de Geada, Tyrian não teria reagido muito. Em meio século de vida, ele já vira muitas pessoas parecidas. No entanto, o fato de ela estar batendo na vitrine era diferente.

Ela obviamente veio por ele.

Uma pessoa quase idêntica à Rainha de Geada, que apareceu perto desta loja de bonecas como se estivesse preparada, bateu na janela para chamar sua atenção e depois fugiu quando ele apareceu. Toda essa sequência de ações transmitia um sinal claro.

Tyrian franziu a testa ligeiramente, como se vagamente pensasse em algo. Ele ergueu a cabeça e olhou para os homens que trouxera: “Vocês, voltem para a Catedral primeiro.”

“Ah?”, os marinheiros ficaram surpresos, e um deles falou, atônito: “Mas…”

“Sem mas”, Tyrian acenou com a mão. “Tenho algumas coisas para fazer. Vocês podem ir.”

Outro marinheiro ainda não se conteve: “Mas, Capitão, nós…”

A expressão de Tyrian tornou-se séria: “Isto é uma ordem.”

“Mas nós não trouxemos dinheiro”, o terceiro marinheiro finalmente terminou a frase. “Nem para o transporte. Daqui até a Catedral não é perto.”

Tyrian: “…”

Momentos depois, o “Almirante de Aço” jogou um saco de moedas para seus homens e, quase rangendo os dentes, proferiu algumas palavras: “Vocês, sumam daqui.”

Os marinheiros partiram, e Tyrian finalmente soltou um suspiro de alívio. Ele olhou ao redor, pensou um pouco e caminhou em direção ao beco mais isolado à vista, esperando silenciosamente que a pessoa aparecesse.

Se sua suposição estivesse correta, ela certamente apareceria por conta própria. Ele dispensou seus homens na rua para sinalizar que “podia se encontrar” com ela.

E a situação foi exatamente como ele previra.

Depois de esperar por um breve momento no beco isolado, ele de repente ouviu o som de passos vindo de perto. Ergueu a cabeça e, ao seguir o som, a senhora de cabelos dourados com a aparência da Rainha de Geada de fato apareceu em uma sombra não muito distante.

Mesmo já tendo a visto através da vitrine, Tyrian ainda não pôde deixar de ficar chocado. Era realmente muito parecida!

Ele já vira pessoas parecidas, mas parecidas a este ponto… estava muito além do normal, além da imaginação.

E foi justamente por causa dessa semelhança excessiva que a primeira reação de Tyrian, após o espanto inicial, foi de cautela e vigilância. Ele encarou a misteriosa senhora de cabelos dourados como se ela fosse uma pessoa perigosa que merecia sua total atenção. E, nessa observação cuidadosa, ele também notou algumas peculiaridades nela.

Seus gestos tinham uma elegância e contenção que não eram de uma pessoa comum. Sua aparência era requintada, mas faltava um pouco… do “sopro de vida”. Uma pessoa comum talvez não notasse nada à primeira vista, mas, como capitão que liderava uma legião de mortos-vivos, Tyrian gradualmente sentiu nela uma característica… extremamente incongruente para um ser vivo.

“Inacreditável”, enquanto o coração de Tyrian se enchia de vigilância, a senhora de cabelos dourados falou primeiro. “Você realmente veio. Pelo visto, atrair as pessoas é bem simples.”

Até a voz dela era idêntica à da Rainha de Geada?!

Tyrian, longe de se sentir feliz ou animado, ficou ainda mais cauteloso: “…Quem é você?”

“Eu me chamo Alice.”

A senhora de cabelos dourados à sua frente sorriu e respondeu com franqueza.

“…Não estou perguntando seu nome”, Tyrian franziu a testa. “Estou perguntando sua identidade e o que você quer. Por que me procurar?”

“O capitão quer vê-lo”, Alice respondeu com seriedade, a tudo o que lhe era perguntado. “Ele disse que, com você na Catedral, há muitas pessoas ao redor, e não é bom discutir assuntos secretos. Ele quer te levar a um lugar mais tranquilo para conversar.”

Um capitão misterioso queria falar com ele sobre assuntos secretos e, por isso, mandou alguém para atraí-lo?

Tyrian franziu a testa. Por alguma razão, seu coração relaxou um pouco. Ele fora um pirata no Mar Gélido por meio século e já vira situações semelhantes inúmeras vezes. Comparado a uma ressurreição repentina da Rainha de Geada Ray Nora, uma reunião secreta e conspiratória entre capitães era uma situação com a qual ele estava mais familiarizado.

Mas ele não tinha a intenção de se encontrar com a pessoa.

“Não estou interessado em pessoas que se escondem”, depois de confirmar que este era um “roteiro” familiar, a expressão de Tyrian relaxou. Ele respondeu casualmente: “Vá dizer ao seu mestre que, se ele quiser se encontrar com o capitão do Névoa do Mar, pode vir abertamente me procurar na Catedral. E se for um negócio escuso, lamento, mas o Névoa do Mar só faz negócios legais fora do Mar Gélido.”

Dito isso, ele já tinha a intenção de se virar e partir. Mas a senhora de cabelos dourados que se autodenominava Alice disse de repente: “Você não quer saber quem é o ‘capitão’ de quem estou falando?”

“Hmm?”, Tyrian franziu a testa. “Quem?”

“Seu pai”, Alice respondeu honestamente.

Tyrian, no entanto, ao ouvir suas palavras, mudou de expressão instantaneamente: “Desculpe, essa piada não tem graça. Com sua licença.”

Alice pensou por um momento: “Ah, o capitão também disse que você provavelmente reagiria assim, então há outro plano de convite…”

Tyrian estava prestes a se virar e partir, mas, ao ouvir as palavras dela, hesitou instintivamente: “Outro…”

Ele mal murmurou algumas palavras quando sentiu o ar ao seu redor mudar. Um sinal de alerta surgiu instantaneamente. Ele se virou bruscamente na direção de onde sentiu a presença, mas só viu uma garotinha que aparecera sabe-se lá quando, balançando o braço e jogando algo em sua direção.

Parecia um cachorro.

Por menos de um segundo, Tyrian achou que tinha a chance de desviar. Mesmo sendo um ataque surpresa, mesmo que a força e a velocidade do oponente fossem claramente de um ser sobrenatural, ele ainda tinha a chance de desviar. No entanto, no momento em que tentou, descobriu que todos os seus membros haviam perdido a capacidade de resposta — como se incontáveis fios invisíveis tivessem amarrado seus ossos e músculos, ele perdeu o controle de seu próprio corpo.

A única coisa que conseguiu fazer foi virar a cabeça com dificuldade e olhar para a senhora de cabelos dourados que sorria inocentemente. No segundo seguinte, o que viu foi a cabeça feia de um cão se aproximando rapidamente na borda de sua visão.

Com um baque surdo, o grande pirata voou vários metros e ficou imóvel.

Shirley olhou para seu feito, um tanto atônita.

“…Acertei ele assim?”, ela olhou para a corrente em sua mão, depois para Tyrian, que fora arremessado. Enquanto se aproximava para verificar a situação, ela murmurou: “Pensei que teríamos pelo menos uma grande batalha. O lendário grande pirata é só isso… não o matei, né?”

“Acho que não”, Alice também se aproximou, olhando para o desmaiado Tyrian e sussurrando com Shirley. “O capitão disse que Tyrian é um garoto resistente.”

“Por que ele não desviou?”, Shirley se agachou e cutucou o rosto de Tyrian com um galho. “Aqueles pregadores do fim pelo menos conseguiam desviar um pouco…”

“Não sei”, Alice balançou a cabeça. “Eu não sei lutar.”

Shirley pensou por um momento e teve uma nova preocupação: “…Se o capitão vir a cabeça do filho inchada assim, ele não vai ficar bravo?”

“Acho que não”, Alice continuou a balançar a cabeça. “O capitão disse que, se ele não cooperasse, era para você usar o Cão para bater nele, fazendo-o girar como um pião…”

“E ele girou?”

“Acho que… sim, girou várias vezes no ar.”

Shirley finalmente se tranquilizou e bateu as mãos: “Então está tudo bem. Vou chamar a Ai para levar a pessoa.”