Índice de Capítulo

    A pomba inclinou a cabeça, como se achasse que Duncan não tinha ouvido claramente, e rapidamente repetiu o que havia dito, dessa vez em um tom ainda mais alto:

    “Ai!”

    Duncan finalmente entendeu o que ela queria dizer:

    “Você está dizendo que seu nome é Ai?”

    A pomba assentiu com orgulho, caminhando pela mesa de um lado para o outro enquanto soltava mais um sonoro “Coo coo!”.

    Duncan não conseguiu evitar massagear as têmporas, sentindo que tentar se comunicar com essa ave era ainda mais bizarro do que lidar com o Cabeça de Bode. E isso se devia principalmente à forma completamente imprevisível da ‘linguagem’ da pomba:

    “Você sabe como nasceu? Ou melhor… como veio parar aqui?”

    A pomba pareceu pensar por um momento, seus dois olhos vagando para direções diferentes. Então ela soltou:

    “Ah, Erro 404, não encontrado! Tente atualizar!”

    Duncan: “…”

    Ele percebeu que era impossível entender o que essa pomba estava pensando, muito menos saber se suas palavras estavam realmente conectadas ao assunto em questão.

    Mas, ao mesmo tempo, ele tinha absoluta certeza de que a ave estava pensando — e se esforçando seriamente para se comunicar com ele.

    Só que, claramente, ela tinha sua própria interpretação do que significava ‘comunicar’.

    Duncan tentou conversar mais algumas vezes com a pomba, que havia se apresentado como ‘Ai’. No entanto, o diálogo parecia seguir em frequências completamente paralelas. Cada um falava de uma coisa, e, embora a pomba sempre respondesse a tudo que ele perguntava, raramente suas respostas faziam sentido no contexto. Ainda assim, ocasionalmente, ela soltava algo que parecia uma resposta direta às suas perguntas.

    No final, a conversa não rendeu muito progresso. Duncan apenas murmurou para si mesmo com a testa franzida:

    “Que tipo de coisa estranha é essa agora…?”

    Ele começou a aceitar que levaria muito tempo para estabelecer uma comunicação minimamente funcional com essa pomba. Esse processo parecia que seria ainda mais desafiador do que se acostumar com a tagarelice interminável do Cabeça de Bode.

    A pomba, por sua vez, continuava empoleirada na mesa à sua frente, piscando os olhos inocentemente. De vez em quando, soltava seu peculiar pedido:

    “Me manda 50!”

    Duncan ignorou os murmúrios da pomba e, em vez disso, esfregou levemente os dedos, observando a chama verde-espectral dançar no ar. Pelo menos uma coisa estava clara para ele: embora a bússola de latão tivesse se fundido com a pomba chamada ‘Ai’, sua essência ainda era a de um ‘objeto anômalo’ sob seu controle.

    Enquanto a chama verde-espectral subia de seus dedos, uma chama similar emergia das fendas entre as penas de ‘Ai’. Ao mesmo tempo, a bússola pendurada no peito da ave fez um leve clique, abrindo-se. Sob a cobertura de vidro transparente, um ponteiro translúcido começou a se estabilizar lentamente, seguindo a vontade de Duncan. O mostrador, cheio de símbolos misteriosos, foi gradualmente preenchido pela energia da chama.

    A pomba, por outro lado, não mostrou qualquer reação. Ela parecia completamente à vontade, como se banhar-se na chama espectral fosse algo natural, esperando pacientemente por uma ordem de Duncan.

    Antes que a bússola fosse totalmente ativada, Duncan decidiu dissipar a chama.

    Enquanto testava o objeto, Duncan refletia em silêncio:

    A bússola ainda funciona… mas agora tem esse ‘intermediário estranho’ no processo. Não sei exatamente como a pomba influenciará isso. Pode ser algum tipo de benefício…

    Ainda não entendo completamente a natureza da bússola. Antes de estar bem preparado, é melhor evitar uma segunda ‘travessia’… Na próxima vez que testar, preciso monitorar cuidadosamente as mudanças na bússola e na pomba.

    Existe claramente uma ligação entre mim e a pomba. Quando uso a chama espectral, essa conexão fica mais evidente, permitindo que eu controle parcialmente onde a pomba aparece… mas esse controle é limitado.

    ‘Ai’ tem sua própria vontade. Ela age de acordo com seus próprios pensamentos e nem sempre segue as instruções que recebe. Isso é diferente dos outros ‘objetos’ no Banido.

    Ela pode falar, tem certa capacidade de pensamento e consegue julgar as situações por conta própria… Comparada a um objeto anômalo comum, a natureza dessa pomba parece mais próxima à do Cabeça de Bode.

    Após organizar essas informações em sua mente, Duncan finalmente voltou sua atenção para a pequena adaga de obsidiana sobre a mesa.

    A lâmina, tão negra quanto a noite, brilhava com um reflexo sombrio, e seu cabo, curvado e seco, parecia com os dedos retorcidos de uma mão esquelética.

    Esta era a mesma adaga que o sacerdote de túnica negra, usando a máscara dourada em forma de sol, havia empunhado durante o ritual de sacrifício maligno nos esgotos. Pelo que Duncan pôde deduzir, a adaga era uma ferramenta ritualística, uma ‘lâmina cerimonial’.

    Duncan havia projetado sua consciência para aquele local subterrâneo, provavelmente situado sob a Cidade-Estado de Pland, e retornara da mesma forma, através da projeção espiritual. Ele assumira que o processo era puramente espiritual ou relacionado à alma, mas agora, a adaga ritualística estava bem ali, na sua frente, real e tangível.

    Refletindo brevemente, Duncan estendeu a mão e pegou a adaga.

    O toque frio e sólido confirmou que se tratava de um objeto real.

    Ele liberou uma pequena quantidade de chama verde-espectral, deixando-a envolver a lâmina. A falta de resposta indicou que qualquer energia extraordinária que antes residia na adaga já havia desaparecido completamente.

    Assim como ele havia deduzido durante o ritual de sacrifício, esse objeto não era um ‘item anômalo’ verdadeiro, mas provavelmente o produto de uma extensão temporária de algum tipo de poder sobrenatural. Talvez fosse algo criado artificialmente para conter temporariamente essa energia.

    Embora Duncan não compreendesse completamente os sistemas de classificação dos objetos anômalos desse mundo, ele suspeitava que essa adaga não era algo particularmente raro. Pelo menos, ela parecia ser um objeto que poderia ser produzido em massa.

    “Isso foi algo que você trouxe de volta?” Duncan levantou os olhos, encarando ‘Ai’, que descansava tranquilamente sobre a mesa, enquanto levantava a adaga de obsidiana em sua mão. “E foi algo que você trouxe especificamente para mim?”

    A pomba fixou seus pequenos olhos vermelhos diretamente em Duncan, imóvel como uma estátua, sem dar qualquer resposta.

    Duncan: “…?”

    Ele repetiu a pergunta, mas a pomba permaneceu absolutamente imóvel, como se tivesse se transformado em uma escultura inanimada.

    A súbita mudança de comportamento fez Duncan franzir levemente a testa. Prestes a usar a chama espectral para estimular ‘Ai’ e tentar forçar uma resposta, a pomba ‘acordou’ subitamente. Ela deu dois pequenos pulos no lugar e começou a gritar alto:

    “Pegue este machado de batalha movido a energia solar! Pegue este machado de batalha movido a energia solar! Pegue este machado…”

    “Tá bom, tá bom, eu já entendi! Não precisa repetir para cada pergunta que fiz agora há pouco!” Duncan interrompeu, acenando com a mão enquanto tentava acalmá-la. Ele reorganizou seus pensamentos e fez outra pergunta: “Você sabe como trouxe essa adaga para cá? Ou melhor, você consegue carregar ‘objetos reais’ através das travessias? É isso?”

    A pomba pareceu pensar por um momento. Depois, abaixou a cabeça e bicou os dedos de Duncan, declarando com um tom sério:

    “Promoção especial! Frete grátis para todo o país!”

    Duncan suspirou profundamente, balançando a cabeça:

    “Eu… vou fingir que entendi.”

    Ele sentiu que havia atingido o limite de comunicação possível com aquela pomba.

    Depois disso, levantou-se da mesa e olhou na direção da Sala de Mapas.

    O Cabeça de Bode e Alice ainda estavam lá fora, imersos em sua ‘animada’ conversa.

    A senhorita boneca não emitia um som havia algum tempo, enquanto o Cabeça de Bode começava a detalhar a décima sétima receita de ensopado de algas.

    Duncan sentiu que era hora de intervir e resgatar sua única tripulante — e, surpreendentemente, a que parecia ter o comportamento mais ‘normal’.

    Além disso, ele havia passado tempo demais dentro da cabine, e o barulho que fizera anteriormente com certeza havia gerado alguma preocupação. Era melhor sair e tranquilizar o Cabeça de Bode.

    Antes de sair, no entanto, ele hesitou e lançou um olhar para ‘Ai’, que corria animadamente sobre a mesa.

    Deveria levar essa pomba junto? E, se levasse, como explicaria isso?

    Duncan pensou por apenas dois segundos antes de agir. Decidiu agarrar a pomba e colocá-la em seu ombro.

    Ele sabia que passaria muito tempo no Banido, e parecia inevitável que essa pomba o seguisse no futuro. Ainda não estava claro quais eram os hábitos da ave, mas, sendo um ‘objeto anômalo’ com capacidade de pensamento e comunicação, seria impossível escondê-la como se fosse algo inanimado.

    Um novo ‘tripulante’ no navio era algo que não poderia ser mantido em segredo. Esconder isso agora só pioraria as coisas quando fosse revelado no futuro, prejudicando a autoridade de ‘Capitão Duncan’.

    Então, por que não ser direto? Ele levaria a pomba e diria que era seu novo ‘troféu’. Afinal, ele não precisava explicar nada ao Cabeça de Bode. O capitão não devia satisfações ao imediato.

    O Cabeça de Bode saberia como preencher as lacunas com sua imaginação.

    Quanto às frases absurdas que a pomba soltava ocasionalmente (que certamente seriam incompreensíveis para qualquer pessoa deste mundo), Duncan não pretendia dar explicações.

    Que o Cabeça de Bode e Alice encontrassem suas próprias teorias para lidar com isso.

    Com a pomba orgulhosamente empoleirada em seu ombro, Duncan ajustou sua postura, certificando-se de que estava apresentável, e caminhou com confiança em direção à Sala de Mapas.

    No caminho, ‘Ai’ ergueu o peito como se estivesse proclamando algo importante e gritou em voz alta:

    “Autêntico chá refrescante, autêntica boa voz, bem-vindo ao programa patrocinado por…!”

    Capítulo revisado dia 26/01/2025.

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