Capítulo 268: Alice, a de Cabeça Firme
Vendo a postura confiante de Alice, com o pescoço erguido, o raciocínio de Duncan simplesmente travou. E ele instantaneamente percebeu que aquela postura não era de confiança ou orgulho, mas sim porque estava travada e não se movia…
Mas a senhorita boneca parecia não ter a menor noção da gravidade da situação. Ainda com um ar de presunção, ela entregou o jornal a Duncan e sorriu, claramente muito feliz por ter conseguido fazer compras sozinha: “Para o senhor, o jornal. E eu lembrei do troco!”
Duncan finalmente pegou o jornal, com o rosto inexpressivo. Após dois ou três segundos, ele lembrou a ingênua: “Alice, acene com a cabeça.”
“Ah? Por quê?”, Alice ficou surpresa, mas imediatamente escolheu obedecer à ordem do capitão. No entanto, sua cabeça apenas balançou um pouco, e um som estranho veio de seu pescoço, e então ela não conseguiu mais se mover.
Após dois segundos de perplexidade, a boneca finalmente entendeu e gritou: “Senhor Duncan! Não consigo me mover! Me ajude, me ajude!”
Duncan, exausto, olhou para a boneca e se virou para entrar na loja de antiguidades: “Pare de gritar aí fora. Vamos resolver isso lá dentro.”
Alice seguiu apressadamente os passos de Duncan, seguida por Nina, que também estava um pouco perplexa e sem saber o que fazer. Os três entraram na loja. Nina, a última a entrar, voltou-se para fechar a porta com cuidado, sem esquecer de pendurar a placa de “fechado para descanso”.
Duncan jogou casualmente o jornal recém-comprado no balcão e, quando estava prestes a verificar a situação de Alice, o canto de seu olho captou uma manchete na primeira página.
Sua atenção foi imediatamente atraída de volta para o jornal.
Lá, impresso em negrito e no maior tamanho de fonte, estava uma frase:
<A Catedral da Tempestade Chegará à Leal Pland ao Meio-dia de Amanhã — A Glória da Soberana da Tempestade Protege a Todos Nós>
A Catedral da Tempestade? A misteriosa “sede marítima” da Igreja do Mar Profundo? A mensageira da Deusa da Tempestade, Gomona, viria a esta cidade… por causa do incidente de contaminação histórica anterior? Ou por causa do Banido? Ou por ambos?
Duncan franziu a testa, pegou o jornal e seus olhos varreram o artigo principal.
Alice, por sua vez, andava em círculos, aflita. Ela finalmente percebeu que derramar cola na articulação de seu pescoço não foi uma atitude muito inteligente. Ao notar que o capitão não tinha tempo para ela, voltou-se para Nina em busca de ajuda: “Senhorita Nina, me ajude, socorro, socorro, socorro…”
Nina também estava um pouco em pânico. Ela se aproximou e balançou a cabeça de Alice para os lados, descobrindo que a cola já havia endurecido completamente: “Isso… não sai! Parece cola de secagem rápida!”
“Pense em algo”, Alice parecia prestes a chorar, segurando a cabeça com as duas mãos. “Senhorita Nina, você não estuda conserto de máquinas? Você sabe consertar até um núcleo a vapor tão complexo. Conserte-me.”
“Mas eu não sei consertar bonecas!”, Nina também estava aflita e, no final, voltou-se para Duncan em busca de ajuda. “Tio, pense em algo. A cabeça da senhorita Alice está completamente colada…”
Duncan finalmente largou o jornal, virou-se para as duas moças barulhentas ao seu lado e seu olhar pousou em Alice: “Quanta cola você despejou, e que tipo de cola?”
“Uma garrafa, mais ou menos deste tamanho”, Alice gesticulou com as mãos. “Encontrei no seu quarto, uma pequena garrafa de vidro marrom.”
“…Você despejou tudo?!”, o canto do olho de Duncan tremeu visivelmente. “Uma garrafa tão grande, como você conseguiu?”
“Primeiro tirei a cabeça, virei de cabeça para baixo, despejei a cola, agitei um pouco e depois encaixei de volta”, a voz de Alice parecia conter um choro. “Shirley disse que assim ficaria firme…”
Duncan olhou para ela, boquiaberto. Ele podia sentir a dor e o desespero da bela boneca, mas bonecas não choram, e toda a sua tristeza só podia fluir em seu coração vazio. Dito assim, até soava poético, se ignorado o detalhe de que “a razão do desespero da boneca era ter colado a própria cabeça”.
Duncan suspirou, jogou o jornal de lado, aproximou-se para remover a gola de renda do pescoço de Alice e inspecionou a cola endurecida na borda de sua articulação. Após um momento de silêncio, ele se virou para Nina: “…Onde está a Shirley?”
“Ela… uma hora atrás, disse que estava com dor de cabeça de tanto decorar o alfabeto e que ia tomar um ar”, Nina disse, encolhendo o pescoço. “Será que ela fugiu por culpa?”
“Duvido muito que ela tenha pensado nisso. A coisa que mais passa pela cabeça dela agora é apenas matar aula”, Duncan suspirou, balançando a cabeça. “Não adianta, já secou completamente, pelo menos há meia hora. É cola rápida, não vai sair com força bruta agora.”
“Então o que fazemos?!”, Alice olhou para Duncan, desamparada. “Eu… eu preciso tirar a cabeça para pentear o cabelo. Não sei pentear o cabelo com a cabeça no lugar.”
“…Então você só está preocupada com isso depois que sua cabeça ficou presa?”, Duncan lançou um olhar severo para Alice e, em seguida, acenou com a mão, exausto. “Certo, não fique com essa cara de choro. Essa cola, embora muito forte, não resiste bem ao calor nem à água. Use água quente, vai se soltar em pouco tempo.”
Alice sentiu-se como se tivesse sido salva. Nina, que também estava preocupada, reagiu imediatamente e se adiantou para pegar a mão de Alice: “Então eu te levo ao banheiro. Eu esquento a água bem rápido agora!”
O fragmento do sol e a boneca com a cabeça colada subiram as escadas correndo. Duncan suspirou, resignado, e pegou novamente o jornal que deixou de lado.
De acordo com as notícias publicadas, a atracação da Catedral da Tempestade em Pland era apenas uma parada normal para reparos e manutenção. A Papisa Helena faria uma breve visita à Catedral de Pland e discutiria alguns assuntos da Igreja com o Arcebispo e a Inquisidora. O jornal não mencionava o incidente de contaminação histórica anterior nem nada relacionado ao Banido.
Mas, mesmo que o jornal não mencionasse, qualquer pessoa inteligente saberia que a Papisa do Mar Profundo certamente viera por causa desses dois grandes eventos.
Duncan não se importava com as questões de fé da Deusa da Tempestade, mas não pôde deixar de pensar em como isso o afetaria.
Ou melhor, ele poderia… coletar alguma informação aproveitando esta oportunidade?
Ele ainda se lembrava da mensagem “obrigado” que a Deusa da Tempestade parecia ter lhe enviado. E, mesmo sem isso, ele tinha uma certa curiosidade sobre os próprios deuses deste mundo. Ele também estava bastante interessado naquela Catedral da Tempestade, que supostamente navegava constantemente pelo Mar Infinito.
E, por outro lado, ele também estava curioso para saber se a mais alta representante da Deusa da Tempestade, ao chegar aqui, descobriria alguma anomalia na cidade-estado de Pland, se descobriria ele, esta “sombra do subespaço” escondida na cidade.
As coisas estavam ficando interessantes.
Duncan largou o jornal, sentou-se ao lado do balcão e coçou o queixo, pensativo.
A loja de antiguidades estava muito silenciosa. Os sons de Nina e Alice no banheiro do segundo andar podiam até ser ouvidos vagamente. O mais claro era a voz surpresa de Nina:
“Ah! Essas articulações são realmente incríveis… tão bonitas!”
“Senhorita Alice, seu pulso pode girar trezentos e sessenta graus… pode mesmo?!”
“Senhorita Alice, tem um buraco de chave nas suas costas. Ah? Você também não sabe para que serve?”
“Não tem problema se entrar água no buraco da chave? Ah, então fico mais tranquila…”
Duncan esfregou as têmporas, com dor de cabeça.
Ele começou a suspeitar que as duas lá em cima já haviam se esquecido do assunto principal.
Mas logo o barulho no andar de cima silenciou, seguido por uma corrida de passos um tanto apressados até o topo da escada. A voz de Nina soou: “Tio Duncan! Não adianta! Venha ver, não sai de jeito nenhum!”
Duncan: “…?”
Ele subiu as escadas, confuso, e viu Nina parada no corredor com uma expressão de desamparo. Ele olhou para o banheiro no final do corredor e viu Alice espiando, um tanto sem graça.
Em seguida, a senhorita boneca saiu, completamente molhada, enrolada em uma toalha de banho, com a cabeça ainda firmemente no lugar.
“Capitão, ainda não deu certo”, disse Alice com uma cara de choro.
“Não soltou nada”, Nina sussurrou. “Usamos água quente por um bom tempo.”
Duncan olhou para Alice, depois para Nina, que segurava a ponta de sua roupa, e finalmente suspirou.
“Usem água fervente.”
“Ah?”, Nina ficou chocada. “Mes… mesmo?! A senhorita Alice aguenta…”
“Ela já fritou a própria cabeça em óleo, essa temperatura não é nada”, Duncan abriu as mãos. “Pelo visto, usar água quente não adianta. Com água fervente, ainda há esperança.”
Os olhos de Nina pareceram um pouco confusos. Ela pensou bastante no processo e falou com alguma hesitação: “Água fervente é fácil, eu consigo fazer rapidinho. Mas… não temos uma panela tão grande em casa, nem uma banheira onde ela possa mergulhar o corpo todo. Para mergulhar a cabeça na água fervente, pelo menos a senhorita Alice teria que ficar agachada inteira na água, não é?”
Enquanto falava, ela gesticulava. Embora fosse uma aluna exemplar na escola, naquele momento, Nina sentia que sua imaginação não conseguia acompanhar a realidade.
Mas Duncan, em termos de raciocínio, claramente não tinha as mesmas limitações de Nina. Ele apenas olhou para a boneca gótica enrolada na toalha, que parecia lamentável, e se virou para Nina: “Isso é simples. Pegue qualquer panela grande, e ela enfia a cabeça… No máximo, eu fico segurando.”
Nina imaginou a cena. Uma imagem se formou em sua mente, mas seu tom era extremamente hesitante: “Acho que a senhorita Alice vai parecer um pouco lamentável assim…”
“Lamentável o cacete!”, Duncan finalmente não se conteve e, pela primeira vez na história, soltou um palavrão. “Ela se deixou enganar por uma analfabeta para derramar uma garrafa inteira de cola na articulação. É para ela aprender a lição!”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.