Capítulo 273: Amuleto?
Uma figura muito alta bloqueou de repente a luz do sol.
Shirley, que acabara de jogar água no espaço aberto em frente à loja e estava prestes a voltar com o balde vazio, ficou surpresa. Ela ergueu a cabeça e, contra a luz, viu a Inquisidora parada silenciosamente à sua frente.
“…Puta merda!!”, ela exclamou instintivamente, mas logo em seguida se deu conta, tossiu duas vezes e, nervosa, tentou organizar as palavras. “Err, uhm, você… a senhora…”
Vanna franziu a testa ligeiramente. Por alguma razão, ela sempre sentia que esta garota pequena e magra ficava excessivamente nervosa ao vê-la. Foi assim da última vez que ela e Heidi vieram à loja, e era assim agora.
No entanto, ela não pensou muito sobre isso. Afinal, por várias razões, ela já estava acostumada com a “reação nervosa” das pessoas ao vê-la.
“Lembro que seu nome é Shirley”, Vanna abriu um sorriso, tentando fazer a garota relaxar. “Não fique tão nervosa, só vim dar uma olhada.”
Shirley se endireitou rapidamente e assentiu rigidamente: “Err… ah! Certo, bem-vinda…”
Vanna balançou a cabeça, resignada, passou por Shirley, que ainda estava tensa, e acenou com a cabeça para Nina, que olhava com curiosidade, antes de entrar diretamente na loja de antiguidades.
Com o som nítido de sinos colidindo, a porta se abriu, quebrando o silêncio do primeiro andar da loja. Vanna entrou e seu olhar se voltou para a figura atrás do balcão.
No segundo seguinte, ela franziu a testa, um tanto surpresa.
Sob a luz do sol da manhã, uma mulher de cabelos dourados que ela nunca vira antes estava sentada atrás do balcão. Era uma senhora muito… bonita, com uma elegância e um ar de mistério que pareciam não pertencer àquele lugar, nem mesmo àquela era. Seu perfil, sob a luz do sol, parecia ter um brilho quente.
Ao ouvir o barulho na porta da loja, a mulher de cabelos dourados atrás do balcão ergueu a cabeça e olhou com curiosidade para Vanna, que entrava. Ela deu um leve sorriso, e sua voz, suave e um tanto magnética, soou: “Bem-vinda, fique à vontade para olhar?”
Vanna ficou um pouco atordoada. Por alguma razão, ela sentia que este novo rosto na loja de antiguidades não deveria estar ali. Mas, no segundo seguinte, sentiu que o temperamento misterioso e elegante da mulher combinava perfeitamente com a… atmosfera da loja.
Aqui, estava cheio de objetos de aparência antiga e misteriosa, e deveria haver uma senhora com um ar de mistério e elegância sentada atrás do balcão.
Mas nesta loja de antiguidades, tudo era falso.
Vanna encarou fixamente a mulher de cabelos dourados atrás do balcão.
Ah, sim, falso.
“Com licença…”, Alice, um tanto confusa ao ver Vanna parada ali, olhando para o nada, desde que entrou, perguntou. A situação parecia ter extrapolado o “procedimento padrão de atendimento ao cliente” que o capitão lhe ensinara, e ela não sabia o que fazer. “Quer comprar alguma coisa?”
Vanna despertou com um sobressalto.
Uma sensação de torpor e vertigem caótica encheu sua mente, interrompendo seus pensamentos. Ela vagamente se lembrava de ter visto algo, ou pensado em algo, mas a confusão súbita cobriu completamente tudo o que ela viu e soube naquele instante.
No segundo seguinte, o som suave de ondas do mar ecoou em sua mente. E, com esse som, ela se esqueceu completamente do torpor e da vertigem.
Ela sentiu como se tivesse acabado de entrar na loja, e a jovem mulher atrás do balcão estivesse conversando com ela.
“Ah, o Senhor Duncan não está?”, Vanna olhou curiosamente para o interior do primeiro andar, sem encontrar o dono da loja. “Eu o conheço.”
“Senhor Duncan? Ele subiu para guardar umas coisas, desce logo”, Alice não se importou com o momento de distração da outra. Contanto que a conversa continuasse, para ela estava tudo bem. “Quer comprar algo? Tem algum produto reservado? Posso ajudar a procurar, embora não garanta que vou encontrar…”
Que fala direta.
Vanna sentiu algo estranho. Ela instintivamente sentiu que havia algo incongruente na bela jovem à sua frente, mas toda vez que tentava se concentrar nisso, esquecia o pensamento. Isso a fazia falar mais devagar do que o normal: “Eu… só estou olhando. Vou esperar um pouco. Com licença… você é nova aqui? Não a vi da última vez que vim.”
“Ah, sou nova, me chamo Alice”, Alice sorriu imediatamente. Ela gostava de se apresentar. “O Senhor Duncan me pediu para ajudar a cuidar da loja.”
Vagamente, Vanna pareceu notar uma certa estranheza. A estranheza se escondia nos movimentos contidos, mas um tanto rígidos de Alice, em seu sorriso perfeito, mas excessivamente perfeito, e até mesmo na ausência de fluxo de ar em sua voz enquanto falava.
A Inquisidora franziu a testa, mas não percebeu nada de realmente estranho.
Apenas uma nova funcionária. Não havia nada de anormal nisso.
E, nesse momento, o som de passos veio de repente da escada ao lado, interrompendo a conversa entre Vanna e Alice.
A figura de Duncan apareceu na escada.
Ele sentiu a presença de Vanna momentos antes, mas, para confirmar a intenção da Inquisidora, ele esperou deliberadamente por alguns minutos no segundo andar. Agora, percebendo que ela não parecia ter nenhum objetivo especial, ele desceu.
“Parece que temos uma cliente especial”, disse Duncan à senhorita boneca atrás do balcão. “Eu atendo, é uma conhecida. Alice, vá fazer um chá.”
“Sim, Senhor Duncan!”
Alice se levantou, feliz, e, depois de concordar, foi até o pequeno fogão do outro lado da escada. Duncan se aproximou de Vanna e cumprimentou a Inquisidora, com quem já se encontrou várias vezes, com um sorriso: “Há quanto tempo, senhorita Inquisidora.”
“Pode me chamar pelo meu nome”, Vanna esfregou a testa. “Desculpe a visita repentina, mas na verdade vim confirmar algumas questões.”
“Questões?”, Duncan ergueu as sobrancelhas. “Que questões?”
Vanna se acalmou, ponderando como deveria começar.
Algumas pistas vagas apontavam para esta loja comum. Alguma intuição a guiou até ali. A experiência e o faro de uma Inquisidora pareciam estar sutilmente em ação. No entanto, a Igreja já havia investigado por canais oficiais e não encontrou nada de anormal. A única razão que sustentava sua visita de investigação parecia ser o “amuleto” de sua amiga.
“Pelo que sei, Heidi tinha um amuleto que veio daqui”, disse Vanna lentamente. “Antes daquele desastre de contaminação da realidade, ela sempre o usava.”
“Ah, lembro-me disso”, Duncan assentiu, com uma expressão normal e um ar de quem se recorda de algo. “Aquele amuleto foi um presente meu para o Senhor Morris. E, nos últimos dias, dei outro.”
Enquanto falava, ele se virou e pegou outro amuleto da prateleira atrás de si, mostrando-o a Vanna.
“É deste tipo.”
Vanna olhou com uma expressão um tanto estranha para o dono da loja, que exibia abertamente os “tesouros” de sua loja como produtos em massa: “Você tem muitos desses amuletos?”
“Comprei uma caixa inteira. Até agora, entre presentes e vendas, já saíram vinte e um”, Duncan assentiu seriamente. “Você também se interessou?”
Enquanto falava, ele olhou para a jovem Inquisidora mais duas vezes, instintivamente.
A Vanna de hoje lhe parecia muito estranha. Parecia um tanto distraída, e sua fala era um pouco lenta. Mas, mais estranho do que essas aparências, era sua “aura” instável.
Duncan não sabia explicar, mas a sensação que a jovem Inquisidora lhe transmitia… era como se houvesse outra pessoa escondida em seus pensamentos, outro par de olhos em seu olhar. Ela estava ali, conversando com ele, mas no fundo de sua consciência, parecia haver outra coisa.
Vanna, por sua vez, não pareceu notar o olhar de Duncan. Ela apenas estava um pouco desconfortável com a atitude de negócios tão franca do outro. Embora soubesse desde o início que não havia nada de verdadeiro naquela loja: “Err… não, só vim investigar algumas coisas. Gostaria de saber os canais de fornecimento específicos desses amuletos e se eles já apresentaram alguma particularidade, ou se as pessoas que os compraram já relataram algo incomum.”
“Você quer dizer…”
“Heidi acredita que o amuleto que ela usava na época teve um efeito protetor real, e até a ajudou a manter a consciência durante aquele ‘desastre’”, disse Vanna sucintamente, sem entrar em muitos detalhes. “Acredito que o amuleto que você entregou ao Senhor Morris possa ter sido… influenciado por poder sobrenatural, por isso vim investigar. Claro, não precisa se preocupar. Pelas informações atuais, não parece ser uma influência ruim.”
Enquanto dizia isso, ela ainda tinha algo em mente que não disse: investigação era uma coisa, mas ela não esperava, antes de vir, que Duncan tivesse uma caixa inteira de amuletos semelhantes! E que já tivesse vendido tantos!
Duncan, por sua vez, sentiu um estalo ao ouvir as palavras de Vanna.
Aquela coisa… realmente funcionou? O “presente” que eu dei casualmente realmente protegeu a autoconsciência daquela psiquiatra?
Por que isso aconteceu?
Qual é o ponto-chave?
Foi o ato de eu “dar o presente” em si, ou porque a própria “intuição” daquela psiquiatra era muito alta?
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