Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    A vida real não é como as histórias de terror e mistério.

    A maior diferença entre elas é que, na vida real, você precisa lidar com inúmeros detalhes banais e práticos.

    Uma boneca amaldiçoada precisa cuidar das articulações? Se Alice continuar desmontando seus membros regularmente, existe o risco de que um dia ela simplesmente se desmonte sozinha enquanto caminha?

    A carne salgada e o queijo seco armazenados no Banido ainda estão próprios para consumo ou já passaram da validade há um século?

    Super-heróis que passam o dia interagindo com as pessoas e à noite lutando contra o mal… eles conseguem dormir em algum momento? E os vilões que enfrentam — eles precisam ir ao mercado e comprar mantimentos em dias normais?

    Histórias nunca abordam esses aspectos.

    Nos contos, os protagonistas estão sempre impecáveis, suas roupas esvoaçam ao vento, e eles vêm e vão com a leveza de um fantasma. Bonecas amaldiçoadas só precisam emergir dos cantos escuros para assustar as pessoas. E capitães de navios fantasma nunca parecem se preocupar com o fato de que os únicos suprimentos disponíveis a bordo estão ali há mais de um século.

    Mas, na realidade, uma boneca amaldiçoada que caiu na água salgada agora sente coceiras pelo corpo inteiro e precisa descobrir como remover os grãos de sal presos em suas juntas antes de poder tomar banho…

    Duncan suspirou do lado de fora da cabine.

    Ele percebeu, mais uma vez, que sobreviver a longo prazo a bordo do Banido exigiria muito mais do que apenas determinação.

    Ele teria que lidar com uma série de problemas práticos.

    Especialmente agora que havia mais tripulantes a bordo.

    Duncan já sabia que os recursos do Banido eram extremamente limitados.

    O navio fornecia água doce ilimitada, mas isso era tudo.

    Os suprimentos no depósito não se reabasteciam sozinhos. Os únicos alimentos disponíveis eram carne salgada e queijo seco. Apesar da natureza especial do Banido, que impedia a deterioração dos suprimentos, Duncan suspeitava fortemente que esses itens estavam armazenados há pelo menos um século.

    Além disso, o navio não tinha roupas sobressalentes que servissem para Alice (embora ela nunca tivesse mencionado essa necessidade). Também não havia nenhuma forma de entretenimento — nem mesmo um simples tabuleiro de xadrez ou um baralho de cartas.

    O Mar Infinito era vasto e sem fronteiras, mas o Banido parecia incapaz de obter recursos dele. O navio não possuía um porto seguro para reabastecimento, muito menos uma conexão com as cidades-estado da terra firme.

    O Cabeça de Bode nunca demonstrou qualquer preocupação com isso.

    Mas Duncan, agora, começava a refletir seriamente.

    Ele precisava encontrar uma maneira de solucionar a escassez de recursos do Banido.

    Duncan também começou a considerar como poderia estabelecer contato com as cidades-estado em terra firme.

    Navegar sem rumo pelo oceano era um método extremamente ineficiente de exploração. Se ele quisesse obter informações concretas sobre esse mundo, precisava buscá-las em terra.

    Essa foi a maior lição que tirou de sua última travessia pelo Plano Espiritual.

    Mesmo deixando essa questão de lado, havia outra preocupação: sua própria sanidade.

    Ele precisava se conectar com as cidades e com a sociedade civilizada deste mundo — caso contrário, temia que, após tempo demais vagando pelo mar, acabaria se tornando um capitão fantasma sombrio, isolado e taciturno, perdido em sua própria existência.

    Pensando nisso, ele virou ligeiramente a cabeça e olhou para Ai, a pomba branca empoleirada em seu ombro, que tranquilamente alisava suas penas.

    Seu olhar, no entanto, não estava fixo na ave em si, mas sim na bússola de latão pendurada em seu peito.

    A pomba percebeu o olhar de Duncan, inclinou a cabeça e, do nada, soltou:

    “Monte uma base! Espalhe tapetes de micélio! Ei, você sabe mesmo administrar um território?”

    Duncan ficou em silêncio por um instante.

    Essa pomba era, na maior parte do tempo, completamente insana, mas ocasionalmente soltava frases que pareciam assustadoramente relevantes — tão precisas que ele se pegava questionando se sua loucura era intencional.

    No momento, a travessia pelo Plano Espiritual parecia ser sua única maneira de alcançar as cidades-estado.

    Apesar de sua natureza imprevisível — e do fato de que, da última vez, isso resultou no surgimento de Ai — Duncan sabia que logo precisaria tentar novamente.

    Não apenas para reunir informações sobre a terra firme, mas também para compreender melhor e dominar essa habilidade.

    Outro fator importante era o estranho poder da pomba de trazer objetos físicos da terra firme.

    Se ela conseguiu trazer uma adaga ritualística, então o que mais poderia carregar?

    Havia regras para isso? Limites? Seria possível controlar esse processo?

    Após um breve momento de reflexão, Duncan decidiu perguntar diretamente:

    “Você sabe como trouxe aquela adaga para cá?”

    A pomba assumiu uma expressão solene, sua voz adquirindo um tom profundo e enigmático:

    “Você precisa de mais cristais de mineração.”

    Duncan: “…”

    Ele desistiu.

    Era melhor testar essas questões diretamente na próxima travessia.


    Na cabine, Alice finalmente conseguiu entender — depois de algumas tentativas atrapalhadas — como funcionava o sistema de encanamento para retirar água.

    Dadas as condições limitadas do Banido, ela teria que se contentar com um banho frio. Mas, para uma boneca amaldiçoada, isso não era problema algum.

    Porém, antes de entrar na banheira, Alice decidiu que era apropriado cumprimentar tudo dentro da cabine.

    Ela deu algumas batidinhas no grande barril de carvalho, depois tocou a coluna que sustentava a estrutura da cabine. Com a ponta do pé, cutucou o chão e, por fim, ergueu-se na ponta dos pés para puxar levemente as cordas e ganchos pendurados no teto.

    “Olá! Meu nome é Alice!” disse animadamente, dirigindo-se a cada um desses objetos inanimados como se fossem velhos amigos. “Vou morar neste navio a partir de agora!”

    Nada na cabine respondeu.

    Mas isso não incomodou Alice nem um pouco.

    O Cabeça de Bode já havia dito que o Banido estava vivo e que muitos objetos a bordo possuíam uma espécie de existência própria.

    Eles talvez não tivessem uma mente consciente como a do Cabeça de Bode, nem fossem capazes de se comunicar, mas isso não impedia Alice de tratá-los como vizinhos que mereciam uma saudação adequada.

    O Banido era um objeto vivo.

    E ela também era.

    Convencida de que tinha sido educada e cortês, Alice sentiu-se ainda mais animada.

    Somente então começou a despir seu vestido extravagante e, um pouco desajeitada, escalou o barril de carvalho cheio de água.

    Primeiro passo: remover a cabeça para lavá-la separadamente — afinal, a junta do pescoço já não era muito firme mesmo.

    A senhorita boneca considerou esse plano perfeitamente lógico e eficiente.


    À medida que a noite avançava, Pland finalmente se despedia do caos do dia.

    Sob a luz fria e pálida do céu noturno, essa próspera ‘Joia do Mar’ lentamente mergulhava no sono.

    Mas, na escuridão silenciosa, sempre há aqueles que vigiam a cidade adormecida.

    No topo da estrutura mais alta da cidade — a Grande Torre do Relógio — uma jovem mulher de cabelos longos e grisalhos observava atentamente a cidade abaixo.

    Sua figura era alta e esguia, sua presença imponente, com traços faciais belos, porém marcados por uma cicatriz profunda sobre o olho esquerdo.

    Ela usava uma armadura leve prateada sobre uma saia de batalha, e sua postura sugeria disciplina e força.

    Ao alcance de sua mão, repousava uma imensa espada que irradiava um brilho prateado sutil.

    O punho da lâmina era adornado com símbolos de ondas, e sua superfície brilhava suavemente, como se a luz ali fluísse como água em movimento.

    Atrás dela, o som rítmico de engrenagens preenchia o ambiente.

    Os mecanismos internos da Grande Torre do Relógio giravam constantemente, impulsionados pelo núcleo a vapor que os mantinha funcionando. Engrenagens intricadas e complexas conectavam o chão ao teto, movendo os quatro mostradores gigantes no topo da torre e um planetário mecânico oculto nas profundezas da estrutura.

    Pelo som do mecanismo, tudo parecia funcionar perfeitamente.

    Nenhuma força maligna parecia ter corrompido o sagrado núcleo a vapor.

    No entanto, a Inquisidora Vanna ainda não conseguia afastar a inquietação que a atormentava.

    Era uma sensação ruim — um pressentimento nebuloso e inevitável.

    Como se algo estivesse prestes a acontecer… ou já tivesse acontecido.

    E, pior, como se ela estivesse impotente para impedir isso.

    Essa sensação incômoda a deixava irritada.

    Passos ecoaram na escadaria em espiral.

    Vanna virou-se para ver um sacerdote subindo os degraus.

    Ele vestia os mantos rituais da Igreja do Mar Profundo e carregava um incensário de bronze, de onde uma fumaça purificadora se espalhava ao seu redor.

    O sacerdote caminhou até o núcleo mecânico no centro da sala e removeu o incensário antigo pendurado na estrutura, substituindo-o por um novo.

    Ele observou o fluxo da fumaça, garantindo que ela circulava livremente entre as engrenagens e hastes móveis do mecanismo.

    Somente após essa verificação, ele murmurou o nome da Deusa da Tempestade, finalizando o ritual.

    Então, voltou-se para a inquisidora.

    “Boa noite, Inquisidora. Você está em vigília mais uma vez?”

    Vanna permaneceu de costas para ele, olhando pela janela.

    “Tenho um mau pressentimento.” Sua voz era firme, mas carregava um tom de inquietação. “Venho sentindo isso há dias… Mas esta noite, está pior.”

    O sacerdote ergueu o olhar, sua expressão carregada de preocupação.

    “Um presságio da Deusa?”

    “Não tão claro quanto um presságio divino.” Vanna balançou a cabeça, sua expressão sombria. — Mas sinto que… alguma coisa está se aproximando desta cidade.”

    Capítulo revisado 08/02/2025.

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