Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 296: O Carvalho Branco Parte Mais Uma Vez
No distrito do cais sudeste de Pland, um belo navio branco de turbina a vapor passava por uma última inspeção de preparação.
Após um longo período atracado, o Carvalho Branco finalmente se preparou para zarpar novamente. Desta vez, ele levaria inúmeros itens comissionados da cidade-estado de Pland, atravessando a rota central e a rota norte, seguindo sempre para o norte, passando por Porto Frio, até chegar a Geada.
Era uma viagem considerável, mas para um navio de exploração especialmente modificado, projetado para viagens rápidas de longa distância, essa rota, que em sua maior parte se encontrava em águas seguras, não representava um grande desafio. O poderoso núcleo a vapor garantiria a força avassaladora do navio, e a recém-reformada capela a bordo era suficiente para proteger a segurança de toda a tripulação.
Os marinheiros, que se atarefavam em terra e a bordo, pareciam bastante relaxados.
Na sala de máquinas na popa do Carvalho Branco, o chefe dos mecânicos e sua assistente supervisionavam os marinheiros que completavam os preparativos finais do núcleo a vapor.
Essa máquina imensamente poderosa era tão grande quanto uma casa, fixada à estrutura de suporte principal do casco por uma robusta armação de aço. Era composta por três contentores esféricos dispostos verticalmente e uma série de tubos, válvulas e dispositivos de ligação complexos que os circundavam. Uma passarela de ferro suspensa na metade da altura dos três contentores servia para que os marinheiros inspecionassem o funcionamento do núcleo a vapor e realizassem a manutenção necessária.
Nesse momento, alguns marinheiros trabalhavam ativamente na passarela de ferro. Eles abriram as pesadas comportas dos contentores esféricos, removeram algumas barras de metal escuras e desgastadas de dentro, e fixaram várias barras de metal dourado-claro, com a espessura de um antebraço e quase um metro de comprimento, nos encaixes dentro das comportas. Acionaram então o mecanismo, que enviou as barras de metal para o centro dos contentores.
Aquelas eram as mídias catalisadoras feitas de Ouro Fervente, a fonte da força formidável do núcleo a vapor e uma das principais garantias para o funcionamento estável da máquina. Assim como as orações e os rituais de incenso dos sacerdotes perto dos dutos de vapor, a mídia de Ouro Fervente dentro do núcleo a vapor também podia, até certo ponto, resistir à invasão de certas forças malignas, evitando que a máquina subitamente “enlouquecesse” após longos períodos de operação.
O som rangente das polias e dobradiças era constante. A operação de dois marinheiros pareceu um pouco brusca, e o chefe dos mecânicos, um homem careca e robusto, gritou imediatamente: “Cuidado! Não quebrem esses catalisadores de Ouro Fervente, essa coisa é praticamente mole como uma baguete. Se quebrar uma, o capitão vai querer comer gente!”
“Se você está se referindo às baguetes que o chef Finley assa, então deveria se preocupar em não quebrar os trilhos e encaixes do núcleo a vapor!”, gritou de volta um marinheiro na passarela, rindo. Mas, apesar da brincadeira, seus movimentos se tornaram mais cuidadosos.
“Quando chegarmos a Geada, preciso sugerir ao capitão que compre um lote de catalisadores de Ouro Fervente de alta qualidade. Naquele lugar, o Ouro Fervente é tão barato quanto as pedras no chão”, murmurou a assistente do mecânico ao lado. Ela era uma mulher que aparentava ter entre trinta e quarenta anos, com braços tão fortes e poderosos quanto os de um homem, e seu macacão estava manchado de graxa. “Os canais de compra da Associação de Exploradores são exploradores demais.”
“Isso depende se o cliente e a Igreja concordam”, disse o chefe dos mecânicos, encolhendo os ombros. “Metade dos porões de carga do Carvalho Branco são ‘câmaras seladas’ especiais. Desta vez, estamos transportando muitas matérias-primas e produtos semiacabados de relíquias sagradas encomendados pela Igreja. Essas coisas são muito sensíveis, e os suprimentos enviados para o navio precisam ter uma lista rigorosa. O Corvo Cinzento, por exemplo, teve problemas porque um idiota trouxe a bordo um barril de hidromel por conta própria, o que afrouxou uma das câmaras seladas. Duas sombras escaparam e mataram metade da tripulação…”
“Eu sei, por isso só vou dar uma sugestão ao capitão”, disse a assistente, balançando a mão, e em seguida franziu ligeiramente a testa. “Mas, falando nisso, parece que o capitão ainda não chegou. Ele não costuma se atrasar.”
“O capitão virá”, afirmou o chefe dos mecânicos. Ele fez uma pausa e, como se para enfatizar, repetiu: “O capitão virá. Ele ainda não se aposentou.”
“Você realmente deveria se aposentar”, disse a esposa, encostada no batente da porta ao lado, com os braços cruzados e uma expressão severa, o olhar tão afiado quanto nos velhos tempos. “Não espere eu ir até o navio puxar sua orelha para você perceber o quão grave é a sua situação.”
Lawrence não respondeu. Ele apenas se olhava no espelho, ajeitando silenciosamente seu uniforme de capitão e verificando o cabelo impecavelmente penteado. Com solenidade, pegou o chapéu que estava ao lado e, depois de colocá-lo, soltou um leve suspiro.
“Obrigado, Masha, mas preciso partir”, disse o velho capitão em voz baixa. “O Carvalho Branco está esperando no porto.”
A esposa o observou em silêncio. Sem palavras ásperas, sem queixas intermináveis, apenas um longo olhar e silêncio.
Depois de um tempo que pareceu uma eternidade, ela suspirou suavemente: “Tudo bem, então tome cuidado e volte logo. E não bata em mais nenhuma coisa estranha.”
“Tomara”, suspirou Lawrence, resignado, e se afastou do espelho.
“Pegou tudo?”
“Peguei tudo.”
“As chaves de casa e o amuleto para a viagem?”
“Estão todos aqui, não esqueci.”
“Leve um pequeno livro de orações, vai ser bom.”
“Também está aqui”, disse Lawrence, inclinando-se para pegar a pequena mala ao lado da porta e batendo nela. “E algumas páginas de orações manuscritas e as velas sagradas que peguei na grande catedral.”
A esposa abriu a boca, parecendo querer dizer algo mais, mas Lawrence se virou, com um sorriso no rosto: “Eu peguei tudo. Ainda não estou velho a ponto de esquecer as coisas.”
A esposa ficou em silêncio por um momento, depois respirou fundo: “Seu remédio.”
Os movimentos de Lawrence congelaram.
“Seu remédio, não se esqueça”, repetiu a esposa.
Os lábios de Lawrence tremeram levemente, e seu olhar se moveu pouco a pouco para o lado.
Sobre a mesinha baixa perto da porta, um pequeno frasco de vidro marrom repousava em silêncio. A luz do sol incidia sobre ele, revelando vagamente a textura límpida do líquido em seu interior.
Após um longo silêncio, Lawrence pegou o frasco de remédio. Vários segundos se passaram antes que ele abrisse a pequena rolha.
Ele ergueu o olhar para Masha e viu sua esposa ainda encostada no batente da porta, de braços cruzados, observando-o, exatamente como em sua memória.
“Tenha uma boa viagem”, ela articulou com os lábios.
“Estou de saída”, respondeu Lawrence em voz baixa. Em seguida, seguindo as instruções do psiquiatra, pingou algumas gotas do remédio na boca.
Um sabor intenso se espalhou por sua boca, e a imagem de sua esposa se dissipou silenciosamente sob a luz do sol.
Lawrence, em silêncio, fechou bem o frasco de remédio, abriu a pequena maleta e colocou o restante do líquido em um canto seguro, onde não quebraria. Enquanto arrumava suas coisas, resmungou uma queixa: “Aquele psiquiatra só me engana… Isso é amargo como a morte, que aroma de ervas o quê.”
O velho capitão, que passara metade da vida navegando no Mar Infinito, terminou de arrumar seus pertences, suspirou suavemente, pegou a maleta e saiu de casa.
Após um dia de trabalho, Heidi finalmente voltou para casa antes do anoitecer. Ela abriu a porta, tirou o casaco e, ao entrar na sala de estar, a primeira coisa que fez foi se jogar em uma cadeira de forma nada elegante, soltando um profundo suspiro.
A mãe estava sentada ao lado da lareira quente, organizando algumas cartas. Ao ouvir o barulho da filha chegando, virou a cabeça ligeiramente: “Você já é uma moça crescida, preste um pouco mais de atenção à sua aparência. Uma dama não agiria assim.”
“Deixe a dama descansar um pouco. A dama hoje passou o dia lidando com pesadelos bizarros e marinheiros delirantes”, disse Heidi, esparramada na cadeira, acenando com a mão sem energia. “Um navio teve uma falha mecânica no Mar Infinito e ficou parado em alto-mar por quase o dobro do tempo planejado. Vários marinheiros tiveram que ser trazidos amarrados. Foi um desastre.”
Ao dizer isso, ela suspirou e balançou a cabeça, lamentando: “Ganhar a vida no Mar Infinito realmente não é fácil.”
A mãe ergueu o olhar das cartas: “Isso parece terrível. Então, mais um motivo para não ficar aí jogada. Suba, tome um banho para relaxar. A água já está quente.”
“Tudo bem, você tem razão”, resmungou Heidi, finalmente se levantando da cadeira com um esforço. Ela caminhou em direção à escada, mas de repente parou, curiosa. “Essas cartas são…”
“Conta de água, eletricidade, gás, todo tipo de contas. Um monte de coisas”, disse a mãe com indiferença, em um tom tranquilo. “Antes era seu pai quem cuidava disso. Agora que ele está fora, eu cuido.”
“Certo, eu não quero nem saber dessas coisas”, disse Heidi, acenando com a mão enquanto subia as escadas.
A mãe observou a filha subir em silêncio, depois desviou o olhar de volta para as cartas à sua frente.
A maioria delas eram de fato contas.
Mas havia duas que eram cartas de verdade — e uma delas vinha de um lugar que as pessoas do mundo dificilmente poderiam imaginar.
Era uma carta de Morris, entregue naquela tarde por um mensageiro envolto em chamas verdes.
A carta continha um feitiço especial do deus da sabedoria para impedir que seu verdadeiro conteúdo fosse visto por estranhos.
A velha senhora olhou com um sorriso para a caligrafia familiar:
“…Estou a caminho de Geada. Não há muita paisagem para ver ao longo do caminho, exceto pelos pequenos blocos de gelo flutuante que aparecem ocasionalmente no mar e a névoa fria ao longe, que são bem interessantes…
“…Nina estava fazendo o dever de casa das férias de inverno no refeitório hoje, e uma sombra estranha saiu de seu livro. Todos correram para espancá-la, foi muito animado…
“…Antes do almoço, o capitão foi pescar de novo. Você sabe, aquele tipo de ‘peixe’. Desta vez, ele se debateu com muita violência. Foi uma cena de tirar o fôlego. O capitão disse que peixe com mais vitalidade tem um sabor melhor, mas, para ser sincero, eu não senti a diferença…”
A velha senhora sorriu, colocou a carta de lado por um momento e pegou outra correspondência que acabara de abrir.
Esta carta, no entanto, vinha de Geada.
O remetente era Brown Scott.
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