Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    A massiva aranha mecânica dobrava seus membros articulados junto ao corpo, recolhendo suas garras de aço, enquanto deslizava velozmente pelas ruas pavimentadas, impulsionada pelas rodas montadas nas extremidades de suas pernas metálicas.

    Sobre sua carapaça blindada, a Inquisidora Vanna permanecia imóvel e firme, como se fosse uma extensão da própria máquina.

    O vento noturno, carregado com um leve cheiro de maresia, cortava as ruas vazias, enquanto o ar frio aguçava ainda mais sua mente.

    Os seguidores do Sol Negro eram uma ameaça persistente à civilização moderna.

    E, infelizmente, não eram a única.

    Sempre havia olhares malévolos espreitando do Subespaço, sempre havia humanos tolos e ambiciosos tentando tocar o que jamais deveria ser tocado.

    Nesse teatro de insanidade, onde deuses antigos e mortais imprudentes se entrelaçavam, criaturas distorcidas do passado, proles proibidas e ecos de corrupção rastejavam pelos cantos sombrios das cidades-estado, sempre à espreita, tentando desestabilizar a ordem do mundo.

    E entre todas essas ameaças, os cultistas do Sol Negro eram os mais temidos pelos guardiões de Pland.

    Eles não eram apenas fanáticos religiosos.

    Eram fragmentos vivos de uma história perdida.

    Ao contrário da maioria dos cultos, que se formavam a partir da ignorância e desespero, os seguidores do Sol Negro possuíam uma crença consolidada e um propósito duradouro.

    Embora sua fé fosse distorcida e fanática, e suas fileiras estivessem repletas de oportunistas e lunáticos, suas lideranças preservavam um conjunto de crenças imutáveis, transmitidas por séculos.

    A base de sua doutrina girava em torno da ideia de um ‘Período de Ordem’, uma era dourada que teria existido sob a luz do Sol Antigo.

    Eles tinham suas próprias escrituras, uma cronologia do ‘Verdadeiro Calendário Solar’, ignorada e rejeitada pela civilização moderna.

    Para eles, eram os herdeiros legítimos de uma grande civilização perdida, destinada a renascer e restaurar sua glória.

    Como inquisidora da Igreja do Mar Profundo, Vanna não se importava com as doutrinas e delírios desses cultistas.

    Mas sabia que era justamente essa doutrina que tornava o Culto do Sol Negro muito mais resiliente e organizado do que qualquer outra seita herege.

    Era essa crença inabalável que os fazia resistir mesmo após inúmeras caçadas.

    Era essa convicção sombria que os fazia se esconder, crescer e esperar, espalhando-se como raízes venenosas nas sombras das cidades-estado.

    Mas o fato de estarem renascendo em Pland ainda a pegava de surpresa.

    Há quatro anos, um expurgo massivo quase aniquilou o culto na cidade.

    Segundo relatórios das últimas investigações, os remanescentes do culto haviam sido expulsos para Lansa, Mok e até para as regiões mais distantes, como Porto Frio.

    Em Pland, os únicos cultistas que restavam eram fanáticos abandonados que não tinham influência suficiente para seguir seus superiores.

    Eram ratos escondidos nos esgotos, sobrevivendo apenas por conhecerem os caminhos subterrâneos e pelas distorcidas bênçãos do Sol Negro, que os ajudavam a escapar dos guardiões da cidade.

    Por quatro anos, eles estavam em declínio constante.

    Sua única opção era sobreviver às sombras.

    Mas agora, quatro anos depois, eles se reuniram novamente.

    E mais do que isso, ousaram arriscar-se, realizando um ritual de sacrifício em um local de culto.

    Quem lhes deu essa coragem?

    Ou melhor… algo grande está prestes a acontecer nesta cidade?

    Haveria um motivo forte o suficiente para que esses hereges, mesmo sabendo que estavam arriscando sua própria extinção, quisessem atrair o olhar do Sol Negro para Pland?

    O núcleo a vapor da aranha mecânica vibrava constantemente, produzindo um ronco metálico abafado pelo casco blindado.

    Pelo escape de pressão, uma fina névoa de incenso purificador escapava, sendo dispersa pelo vento noturno.

    Vanna afastou seus pensamentos e ergueu o olhar para o céu.

    A ‘Criação do Mundo’, a cicatriz espectral que cortava os céus, brilhava intensamente, espalhando sua luz pálida sobre os telhados, chaminés e torres de Pland.

    A equipe avançava pela periferia do distrito industrial.

    Enormes tubulações de vapor e conduítes de líquidos ferventes se estendiam sobre as ruas, ligando fábricas como veias de um titã.

    Vanna sentiu um eco do passado se manifestando em sua mente.

    Ela se lembrou.

    Lembrou-se da noite mais terrível de sua vida.

    Aquela noite em que seu tio a carregou nos ombros, fugindo de um inferno de fogo e sangue.

    As ruas estavam repletas de pessoas enlouquecidas, vítimas de um delírio coletivo, e de sombras carnais pulsantes, monstros de carne distorcida se arrastando pelos becos.

    Eles escaparam subindo pelas tubulações das fábricas.

    O cheiro de sangue e o odor químico oleoso dos dutos ainda pareciam estar impregnados em sua memória.

    A aranha mecânica tremeu repentinamente.

    O impacto a despertou do devaneio.

    A estrada pavimentada chegara ao fim.

    Diante deles, estendia-se um setor abandonado da cidade, onde o terreno era irregular e repleto de escombros.

    As duas máquinas de combate a vapor desativaram o modo de deslizamento, estendendo suas longas pernas mecânicas, adaptando-se ao solo acidentado.

    Em poucos minutos, a equipe chegou ao ponto de encontro.

    Ali, um grupo de oito guardiões já aguardava, mantendo a área bloqueada para civis.

    Vanna fez um rápido aceno de reconhecimento antes de seguir o líder da equipe para dentro dos esgotos.

    Passaram por passagens escuras e corredores úmidos, atravessando as estradas ocultas da cidade até chegarem ao local do culto.

    Ali, ela viu mais guardiões.

    E viu sacerdotes da Igreja do Mar Profundo realizando rituais de purificação.

    No centro da câmara subterrânea, uma plataforma ritualística de madeira se erguia, sua superfície queimada e carbonizada.

    Os símbolos blasfemos do Culto do Sol Negro ainda eram vagamente visíveis.

    O totem profano, uma estrutura feita para adoração dos hereges, havia sido incendiado.

    Mas sua estrutura básica ainda estava de pé.

    Ao redor do altar, dezenas de cultistas estavam ajoelhados, com as mãos amarradas e as cabeças baixas.

    A maioria tremia de medo.

    Mas alguns ainda moviam os lábios.

    Murmuravam orações silenciosas e distorcidas para sua divindade sombria.

    No entanto, agora que o ritual havia sido interrompido e a Deusa da Tempestade voltara seus olhos para este lugar, suas preces eram inúteis.

    Perto do altar, os corpos das vítimas sacrificadas foram retirados das cavernas próximas e colocados sobre lençóis de linho gravados com runas.

    Os agentes funerários, que haviam chegado às pressas, examinavam cada cadáver para avaliar suas condições.

    Enquanto isso, sacerdotes da Igreja do Mar Profundo caminhavam em torno do altar, balançando correntes de bronze.

    Na ponta dessas correntes, incensários sagrados liberavam fumaça branca e purificadora.

    Assim que essa névoa tocava o chão próximo ao altar, manchas sombrias emergiam — vestígios contaminados pela influência do Sol Negro.

    Mas a fumaça continuava se espalhando, absorvendo e dissipando essa energia corrupta, erradicando lentamente a influência do culto herege.

    “Inquisidora, por aqui.” Um dos guardiões a chamou, apontando para um grupo de corpos próximos ao altar. “Algo está muito errado aqui.”

    Ele hesitou antes de acrescentar:

    “E tome cuidado. O chão ainda está impuro.”

    Vanna avançou sem hesitação.

    Mas, ao olhar para um dos cadáveres, seu semblante se endureceu.

    Era um cultista, um dos sacerdotes hereges responsáveis pelo ritual de sacrifício.

    Seu rosto estava coberto por uma máscara dourada.

    E seu peito… estava aberto por um enorme buraco vazio.

    “… O que aconteceu aqui?” Vanna franziu as sobrancelhas.

    “Ele se sacrificou no final do ritual?”

    Ela estreitou os olhos.

    “Eu nunca ouvi falar de um culto ao Sol Negro que incluísse o auto-sacrifício em seus rituais.”

    “Isso é exatamente o que torna a situação tão estranha.” O guardião que a acompanhava balançou a cabeça, sua expressão carregada de desconforto.

    Ele hesitou antes de continuar:

    “Segundo os cultistas capturados… o ‘Emissário’ foi sacrificado… pelo próprio sacrifício.”

    Vanna ergueu uma sobrancelha.

    “O emissário foi sacrificado por… um sacrifício?”

    “Sim.”

    O guardião soltou um suspiro.

    “Parece loucura.”

    Ele abriu os braços em um gesto de frustração.

    “Na verdade, quando chegamos aqui, quase todos os cultistas já estavam insanos.”

    “Insanos?”

    “Sim. O ritual deles deu muito errado.”

    O guardião continuou, seu tom ficando mais sombrio:

    “Muitos estavam completamente enlouquecidos.”

    “Alguns começaram a atacar uns aos outros… como se vissem os próprios companheiros como ‘criaturas possuídas’ por alguma entidade aterrorizante.”

    Ele fez uma pausa e acrescentou:

    “Foi essa insanidade que os fez fugir do local e acabou chamando a atenção dos oficiais da lei que patrulhavam a área. Se não fosse por isso, talvez o culto ainda estivesse escondido.”

    O guardião suspirou.

    “Quando chegamos, só restavam alguns que ainda conseguiam falar de maneira coerente… e todos eles insistiram que ‘o sacrifício devorou o emissário’.”

    Vanna apertou os lábios, seu olhar ficando ainda mais sério.

    “Eles enlouqueceram? Lutaram entre si? E viam os próprios companheiros como possuídos?”

    Ela cruzou os braços.

    “Vocês já verificaram se isso foi resultado da contaminação do Sol Negro?”

    “Não encontramos sinais de corrupção externa.” O guardião negou com a cabeça. “Tudo indica que foi uma loucura… autoinduzida.

    “Ou seja, a causa dessa insanidade está dentro da própria mente deles.”

    Ele então apontou para uma mulher vestindo um longo vestido negro, que caminhava calmamente entre os cultistas capturados.

    “A senhorita Heidi já está aqui. Se confirmarmos que os cultistas não foram corrompidos pelo Sol Negro, talvez possamos recorrer à hipnose para descobrir o que aconteceu.”

    Capítulo Revisado dia 08/02/2025.

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