Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 31 - Resquícios
Vanna ergueu a cabeça e olhou para a mulher de vestido preto que examinava o estado mental de alguns cultistas. A outra percebeu seu olhar, levantou a cabeça e fez um leve aceno.
A mulher parecia ter pouco mais de vinte anos, mas exalava uma maturidade serena muito além de sua idade. Seus longos cabelos negros estavam presos em um coque, e os brincos de cristal azul-claro em suas orelhas refletiam a luz do lampião a gás próximo enquanto balançavam suavemente.
“… Heidi também veio… Foi a Prefeitura que a enviou?” Vanna perguntou ao jovem guardião ao seu lado.
“Não, quando tudo aconteceu, a senhorita Heidi estava por perto. Assim que soube da notícia, veio diretamente para cá. Há algum problema?”
“Não, nada de mais. Heidi pode ser uma funcionária da Prefeitura, mas colabora frequentemente com a Igreja. Depois, faremos um registro formal da sua presença no local”, Vanna balançou a cabeça, logo voltando sua atenção para o que tinha à frente. Ela inspecionou o sacerdote cultista que morrera enlouquecido, enquanto perguntava distraidamente: “O que mais disseram os cultistas ainda lúcidos? Como exatamente tudo aconteceu?”
“As palavras deles são confusas. Dois mencionaram que o ritual de sacrifício já havia terminado normalmente, mas, de repente, alguém capturou um sacrifício fugitivo perto do local do encontro. Então, o emissário decidiu oferecer esse sacrifício ao Sol Negro…” O guardião falou enquanto tentava lembrar. “Esses dois cultistas estavam afastados do altar e não viram claramente o que aconteceu no palco. Apenas disseram que o sacrifício teve seu peito perfurado, mas não morreu. Pelo contrário, ele gritou o nome do Sol Negro e, de repente, apontou para o emissário, transformando-o na nova oferenda… No final, o próprio emissário foi sacrificado.”
“… Um sacrifício escolhido, no meio do ritual, gritou o nome de um deus herege e instantaneamente fez com que o oficiante fosse sacrificado no lugar?” Vanna sentiu como se estivesse ouvindo uma fantasia absurda. Aquilo parecia completamente irracional, mas a informação vinha de um guardião da Igreja, rigorosamente treinado e de confiança. Ela não podia simplesmente ignorar aquilo. Seu rosto assumiu uma expressão estranha. “Como algo tão absurdo pode acontecer? Se isso fosse possível, então qualquer vítima de um ritual de sacrifício poderia apenas gritar rápido o suficiente para virar o jogo contra os sacerdotes hereges?”
“Pois é. Mesmo o mais incompetente dos sacerdotes ainda tem controle absoluto sobre o ritual enquanto o conduz. Como ele poderia perder o controle para um simples humano fraco, com apenas uma frase?” O jovem guardião balançou a cabeça. “Além disso, examinamos esse sacerdote. De fato, há marcas de corrupção deixadas por projeções vindas das ‘profundezas’ do mundo. Ele era um verdadeiro ‘batizado’. E, de acordo com os relatos dos cultistas presentes, ele segurava uma adaga ritualística abençoada durante o sacrifício…”
Enquanto falava, o jovem guardião se aproximou de outro corpo no chão.
“Mas… senhorita, veja isso. Este é o tal ‘sacrifício’ que conseguiu reverter o ritual e eliminar o sacerdote.”
Vanna lançou um olhar para o guardião antes de finalmente focar no cadáver sem vida à sua frente. No instante seguinte, sua expressão se tornou afiada.
Era um jovem magro—tão magro que sua estrutura corporal se assemelhava à de um adolescente. Mas o detalhe mais marcante de seu corpo era o enorme buraco vazio em seu peito.
“… Ele já havia sido sacrificado…”
“Sim, este era um sacrifício já consumado. Com base nas evidências no local e nos depoimentos dos cultistas, podemos concluir que esse ‘sacrifício’ provavelmente já estava sem coração antes mesmo de ser levado ao altar”, disse o guardião com um tom grave. “Então… a verdade é que um cadáver ambulante caminhou diante de todos até o altar e sacrificou o sacerdote que presidia o ritual.”
“… Magia necromântica?” Vanna murmurou consigo mesma, ponderando. “Não… O poder do Sol Negro exerce uma forte supressão sobre necromantes. Seus mortos-vivos nunca conseguiriam simplesmente andar até um totem do Sol Negro… Será que era um ressuscitado sob influência anômala?”
Ela ergueu a cabeça de repente, olhando para o guardião ao seu lado. “Vocês verificaram as fontes de luz nesta área? Num raio de quinhentos metros, há algum espaço subterrâneo completamente escuro?”
“Verificamos, e não encontramos nenhuma caverna sem luz—nem mesmo os cultistas são tolos o suficiente para se arriscar em lugares assim. Nos túneis onde descartam corpos, sempre deixam tochas e lampiões acesos. São extremamente cuidadosos quanto a isso.”
Vanna não respondeu de imediato. Em vez disso, inclinou-se diante do cadáver do jovem, tomada por dúvidas. Aquele era o ‘sacrifício’ que, diante de todos, havia ofertado um sacerdote e causado o colapso do ritual. Ela começou a inspecionar o corpo, movendo os olhos rígidos do morto com os dedos, tentando identificar qualquer vestígio de influência herética.
De repente, um lampejo capturou o canto de sua visão—como se o cadáver tivesse aberto os olhos por um instante. No fundo de suas órbitas vazias, chamas esverdeadas brilharam tenuemente. Uma minúscula fagulha pulou de seu olho para a ponta do dedo indicador da mão direita de Vanna… e então desapareceu com o vento.
Num instante, seus olhos se tornaram frios e afiados. Sem hesitar, ela sacou a adaga da cintura com a mão esquerda e, num golpe rápido e preciso, cortou seu próprio dedo indicador direito. Em seguida, girou o pulso e fincou a lâmina na testa do cadáver.
A adaga sacerdotal, repleta de runas, incendiou-se de imediato, engolfando o corpo em chamas purificadoras.
Tudo aconteceu em menos de um segundo. No instante em que o fogo consumiu o cadáver, Vanna já havia se levantado e recuado dois passos. Ela puxou um frasco de óleo sagrado da cintura, arrancou a rolha com os dentes e despejou o líquido sobre o toco sangrento de seu dedo amputado. O óleo sagrado entrou em contato com a carne e, instantaneamente, começou a soltar uma fumaça branca densa.
A dor lancinante disparou por sua mão, mas seu rosto permaneceu impassível. Ela viu o guardião ao seu lado sacar rapidamente sua espada e decapitar o cadáver em chamas. Logo depois, ele jogou sobre as chamas um pó medicinal misturado com extrato de algas e prata em pó.
Acompanhado de explosões contínuas e labaredas que subiram violentamente ao teto, quase lambendo as vigas superiores, o cadáver corrompido foi reduzido a cinzas em um piscar de olhos.
Porém, as chamas intensas não se espalharam para os outros corpos ao redor.
Os guardiões reagiram imediatamente. Metade deles desembainhou suas espadas rúnicas de aço e cercou Vanna em formação defensiva, enquanto a outra metade sacou seus revólveres de grande calibre, estabelecendo um perímetro de segurança ao redor. Os dois sacerdotes presentes também puxaram seus revólveres ocultos sob as vestes e, enquanto recitavam o nome da Deusa da Tempestade, Gomona, começaram a ungir as armas com fumaça de incenso purificador, mantendo os canos apontados para os cultistas enlouquecidos, que se agitavam com a mudança repentina no ambiente.
“Dama Inquisidora!” O jovem guardião que empunhava a espada rúnica finalmente conseguiu se aproximar de Vanna. “Você está bem? Agora há pouco…”
“Havia algum tipo de resquício de poder dentro daquele ‘sacrifício’. Essa força conseguiu contornar todas as proteções que a Deusa me concedeu… e até mesmo ignorou minha percepção espiritual.” Vanna ergueu a mão para interromper o guardião, seu olhar fixo em sua própria mão direita—o milagre da Deusa já estava em ação, e o dedo amputado começava a se regenerar lentamente. Porém, mesmo com a dor diminuindo, sua inquietação só crescia.
“Algo está errado. Aqui não se trata apenas do Sol Negro… Parece que outra força poderosa esteve envolvida nesse ritual de sacrifício… e essa força ainda não foi completamente dissipada. Há algo que ainda deseja obter daqui.” Ela rapidamente chegou a uma conclusão. “Removam todas as evidências e testemunhas. Levem tudo para a catedral e mantenham sob vigilância rigorosa. Todos os interrogatórios e exames serão conduzidos lá. Este local precisa ser completamente purificado… Há mais alguém aqui?”
Um dos guardiões ao lado respondeu prontamente: “Sim, encontramos um grupo de ‘sacrifícios designados’ presos em uma caverna próxima. Eles estão temporariamente detidos em uma sala de manutenção ao lado.”
“Levem-nos também para a catedral. Embora sejam vítimas, precisarão passar por uma rigorosa inspeção antes de serem liberados para voltar para casa”, disse Vanna rapidamente. Então, como se de repente tivesse se lembrado de algo, perguntou: “E a senhorita Heidi? Ela está bem?”
“Estou aqui.”
Uma voz feminina calma veio das proximidades. Heidi, a ‘médica espiritual’ de vestido preto contratada pela Prefeitura, se aproximou com passos tranquilos e fez um leve aceno para Vanna. “Não se preocupe. Eu sequer tive tempo de reagir—o que exatamente aconteceu?”
“… Como em tantas histórias clássicas, os cultistas atraíram algo ainda mais sinistro do que eles mesmos.” Vanna lançou um olhar para a médica espiritual. “Recomendo fortemente que você tome precauções extras ao examinar e hipnotizar esses cultistas… Algo que não deveria estar aqui esteve presente… e ainda há resquícios dessa força.”
Capítulo revisado dia 08/02/20/2025.
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