Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 329: A Aluna
Alice e Vanna se esconderam nas sombras de um canto da rua. Elas esperariam por ordens ali, enquanto observavam o movimento ao redor do edifício.
Duncan e Morris, por sua vez, foram até o prédio com a porta preta.
O interior do edifício estava silencioso — o que era de se esperar, já que o sol ainda não havia nascido, e a noite neste mundo nunca foi adequada para as atividades de pessoas comuns. A maioria das pessoas normais não tinha vida noturna e ir dormir cedo para esperar o amanhecer era o padrão.
‘Mas será que uma “réplica” retornada do mar profundo seguiria a rotina de uma pessoa comum?’
Duncan ergueu a cabeça, notou um botão saliente no canto da moldura da porta e o pressionou duas vezes.
Vagamente, eles puderam ouvir o som agudo e apressado de uma campainha elétrica vindo de dentro do prédio. Na noite silenciosa, o som da campainha era excepcionalmente abrupto.
“Talvez não devêssemos ter vindo durante o toque de recolher”, Morris coçou a testa, com um tom de hesitação. “Se assustarmos os vizinhos, levantaremos suspeitas.”
“Mas seu amigo provavelmente não pode esperar muito. Quanto mais cedo, melhor”, disse Duncan com indiferença. “Não se preocupe com o resto. Levantar suspeitas da igreja ou alertar as autoridades da cidade-estado faz parte da vida. Você deveria se acostumar a ser um membro do Banido.”
Morris abriu a boca, mas não disse nada. Nesse momento, Duncan estendeu a mão novamente e apertou a campainha mais duas vezes.
Finalmente, eles ouviram o som de passos apressados vindo de dentro do prédio, acompanhado pelo barulho de algo sendo derrubado. Em seguida, a luz da sala de estar foi acesa, e uma luz suave se espalhou pela rua através da janela ao lado.
O som da fechadura girando soou, e a porta preta se abriu uma fresta. Um olho vigilante espiou por entre a fresta, e uma voz jovem e nervosa perguntou: “Quem é?”
Soava como uma jovem mulher.
Duncan e Morris se entreolharam. O primeiro ficou um pouco surpreso, enquanto o segundo parecia pensativo, como se tivesse se lembrado de algo.
“É Galoni?”, Morris perguntou, hesitante. “O senhor Brown Scott está em casa? Sou um amigo do seu professor.”
Dizendo isso, ele se virou para Duncan e sussurrou rapidamente: “Pode ser aquela aluna de Brown Scott. Ouvi ele mencioná-la.”
Duncan assentiu compreensivamente. Enquanto isso, a dona da jovem voz atrás da porta hesitou visivelmente ao ouvir as palavras de Morris, antes de falar com relutância: “Desculpe, está muito tarde, e o professor está dormindo. Podemos conversar amanhã de manhã?”
Morris franziu a testa. A situação era diferente do que ele esperava. Ele não imaginava que, seis anos após a morte de Brown Scott, a aluna dele ainda estivesse morando nesta casa. Mas, após um breve momento de reflexão, ele organizou suas palavras: “Chegamos muito tarde e ainda não encontramos um lugar para ficar. Além disso, seu professor me escreveu uma carta antes. Foi ele quem me convidou.”
Dizendo isso, o velho erudito fez uma pausa e continuou: “Meu nome é Morris Underwood. Seu professor deve ter falado de mim para você.”
A voz dentro da porta se calou. A tal “Galoni” parecia estar se lembrando e pensando. Vários segundos depois, sua voz soou novamente: “Então… esperem um momento, vou tirar a corrente.”
O som de metal colidindo e correntes se arrastando ecoou na noite. A pessoa dentro da porta abriu a trava de segurança interna, e a porta finalmente se abriu. Sob a luz quente e brilhante, Duncan viu uma figura… alta e um tanto estranha.
A figura era apenas alguns centímetros mais baixa que Vanna. Sua altura de quase um metro e noventa era particularmente notável. E, diferente de Vanna, que era alta, mas ainda esbelta, esta jovem senhora na porta tinha contornos de músculos fortes e poderosos visíveis por todo o corpo. Mas o que mais chamava a atenção não era sua altura, mas sua pele, que tinha um tom cinza-esbranquiçado como rocha, e as linhas douradas tênues que apareciam e desapareciam na superfície de sua pele.
Mas, além dessas características não-humanas marcantes, seu rosto não era diferente do de uma jovem humana comum, e até parecia um tanto… delicado.
Por ter sido acordada no meio da noite, a jovem de aparência rochosa usava apenas um roupão solto. Seus longos cabelos castanhos estavam um pouco desgrenhados e caíam sobre suas costas. Ela se apoiava no batente da porta, observando os dois visitantes inesperados com um olhar cauteloso e examinador.
Assim como Duncan a observava com curiosidade, ela também o observava com curiosidade — um visitante robusto em um casaco preto e chapéu de abas largas. Nenhuma característica facial era visível nas frestas de suas roupas, apenas camadas e mais camadas de ataduras.
Mesmo que o povo de Geada estivesse acostumado com “ataduras”, a aparência deste visitante era um pouco opressora demais.
Seus músculos se contraíram visivelmente.
“Ah, esqueci de mencionar”, a voz de Morris soou de repente, quebrando a atmosfera um tanto embaraçosa e tensa. Ele se virou para Duncan. “A aluna de Brown, Galoni, é uma Sen’jin. Eles não são muito comuns nas cidades-estado do norte.”
Em seguida, ele se virou para Galoni, que estava na porta: “Este é o senhor Duncan, ele é…”
“Um amigo do senhor Morris, um explorador em viagem. Estou muito interessado na pesquisa do senhor Brown Scott, por isso vim visitá-lo de passagem”, disse Duncan, tomando a iniciativa. “Espero não ter causado nenhum transtorno.”
“…O professor está descansando, não sei quando vai acordar. Mas ele mencionou que o senhor Morris poderia vir nos visitar”, disse Galoni. Em contraste com sua estatura alta e robusta, sua voz sempre parecia um pouco baixa e hesitante, com uma falta de confiança quase temerosa. Ao falar, ela nem sequer se atrevia a fazer contato visual com Duncan e Morris, apenas resmungava enquanto se afastava. “Entrem, por favor. Está frio aí fora.”
Morris agradeceu e entrou na casa com Duncan.
O som do eixo da porta girando quebrou o silêncio da noite, e a porta preta se fechou. A rua ficou em silêncio novamente.
Ao entrar, a primeira coisa que viram foi uma sala de estar bastante simples. Os móveis pareciam ter sido usados por dez ou vinte anos. De um lado, a sala se conectava à cozinha e à sala de jantar; do outro, havia uma escada que levava ao segundo andar. Abaixo da escada, podia-se ver uma porta estreita, que provavelmente levava a um porão ou adega.
Sob a luz brilhante da lâmpada elétrica, não havia cantos escuros suspeitos na sala. Tudo o que se via era muito acolhedor e… comum.
Duncan e Morris não demonstraram curiosidade excessiva. Eles simplesmente olharam ao redor e se sentaram na sala de estar, guiados por Galoni. Em seguida, a alta senhora Sen’jin foi para a cozinha e começou a preparar chá e lanches.
“Querem umas panquecas doces e linguiça? É tudo o que tenho agora…”, Galoni gritou da cozinha para os dois convidados, com um tom de desculpa na voz.
“Uma xícara de água quente é o suficiente, não precisa se incomodar”, Morris acenou com a mão. Quando Galoni se aproximou, ele perguntou casualmente: “A propósito, você sempre morou aqui?”
“Sim, sempre morei aqui”, Galoni assentiu. “O professor viajou por um tempo, ele me deu a chave e pediu para eu cuidar da casa. Então eu me mudei do lugar que alugava antes e estou aqui desde então. Ele voltou recentemente, e eu continuei aqui para cuidar dele.”
“Viajou por um tempo?”, Morris franziu a testa instintivamente. “Quando foi isso?”
“…Uns cinco ou seis anos, eu acho”, Galoni pensou um pouco e disse, incerta, com uma expressão um pouco envergonhada. “Eu nunca sou boa com o tempo. O professor sempre me repreende por isso.”
Morris e Duncan trocaram um olhar.
“Quando o senhor Brown voltou?”, Duncan perguntou, como se fosse uma pergunta casual.
“Cerca de um mês atrás”, Galoni não pareceu pensar muito, apenas respondeu à pergunta do convidado como se estivessem conversando. “Ele voltou de repente, disse que a viagem foi cansativa e que precisava descansar por um tempo… Ah, foi depois disso que ele mencionou que convidaria o senhor Morris para uma visita.”
“Quando recebi a carta dele, também fiquei muito surpreso”, Morris continuou a conversa. “Ele não entrava em contato comigo há muitos anos. A última vez que tive notícias dele, anos atrás, foi quando soube que ele ia viajar de navio… Ah, acho que era um pequeno navio de cruzeiro chamado ‘Obsidiana’?”
Enquanto falava, ele observava discretamente a reação da pessoa à sua frente.
No entanto, Galoni não teve nenhuma reação ao ouvir “Obsidiana”. Ela apenas pensou um pouco e balançou a cabeça: “Isso eu não sei. Ele não me disse muito quando saiu…”
O tom e a expressão da aluna ao responder não tinham nada de errado.
No entanto, a resposta em si estava claramente errada.
Ela não sabia em qual navio seu professor viajou!
Se fosse uma relação normal de professor e aluna, isso não seria nada demais. Mas a relação dela com o folclorista era claramente mais do que isso. Brown Scott podia confiar a chave de sua casa a esta aluna, que, por sua vez, morou aqui por seis anos e, após o “retorno” do professor, assumiu a responsabilidade de cuidar dele sem hesitação. Com uma relação tão próxima e de confiança mútua, era impossível que Brown não tivesse informado Galoni sobre seu itinerário ao sair.
Galoni encontrou o olhar dos visitantes com naturalidade, sua expressão calma e serena.
Como se tudo o que acontecia ao seu redor fosse perfeitamente normal.
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