Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    O Velho Guarda do cemitério não gostava de dias em que a neve caía sem parar. Não apenas porque o tempo frio fazia suas articulações já sobrecarregadas doerem, mas também porque dias de neve sempre o lembravam de coisas de muito tempo atrás.

    Coisas não muito boas.

    Como a rebelião de cinquenta anos atrás, o desastre do congelamento de trinta anos atrás, o grande colapso do distrito sul dezessete anos atrás… Nevar tanto assim nunca era um bom sinal.

    O velho esfregou as mãos e olhou para trás, para o cemitério que também estava coberto de neve.

    Os caminhos do cemitério estavam com as bordas borradas pela neve. O chão branco era marcado apenas por pegadas que delineavam a rota para o necrotério e a cabana do guarda. As lâmpadas a gás já estavam apagadas, e seus postes pretos se erguiam na neve como troncos de árvores mortas, parecendo bastante solitários.

    Vários carros a vapor estavam estacionados no pátio do cemitério, completamente cobertos de neve. Os guardas de preto estavam se esforçando para limpar a neve dos veículos e tentando abrir um caminho na neve para os carros passarem — pareciam bastante desajeitados.

    Eles precisavam terminar o trabalho antes que a neve endurecesse e a estrada se tornasse ainda mais difícil de limpar.

    Uma rajada de vento uivou por perto, e no vento, uma fumaça cinzenta surgiu instantaneamente. A figura de Agatha saiu do vento e da fumaça. A jovem Guardiã do Portão aproximou-se do Velho Guarda: “Hoje, metade dos homens será retirada. Apenas duas equipes ficarão para ajudar a vigiar o cemitério.”

    “Eles podem ir todos embora, se quiserem. Terei um pouco mais de paz”, o Velho Guarda ergueu as pálpebras e olhou para a Guardiã do Portão. “Tanta gente aqui é um desperdício.”

    “Não é um desperdício de mão de obra. E não precisa se preocupar se meus homens não são suficientes.”

    “Não estou tão desocupado para me preocupar com você”, resmungou o Velho Guarda, e então, como se não quisesse nada, mencionou: “Ontem, no meio da noite, você enviou uma equipe de elite. Aconteceu alguma coisa na cidade?”

    Agatha olhou para o velho: “O senhor ainda se importa com o que acontece fora do cemitério?”

    “Só estou perguntando. Diga se quiser”, o Velho Guarda deu de ombros.

    “…Aconteceu algo na Rua da Lareira. Houve uma batalha entre praticantes sobrenaturais de alto nível, e o barulho não foi pequeno. Os guardas de patrulha foram até lá, mas não encontraram ninguém”, disse Agatha lentamente. “Por enquanto, só podemos confirmar que um dos lados era de Aniquiladores. Eles morreram de forma terrível, e um deles teve uma morte bizarra, que não corresponde a nenhum poder sobrenatural conhecido.”

    As sobrancelhas do Velho Guarda tremeram visivelmente, e seu tom ficou mais sério: “Rua da Lareira?”

    “… Fique tranquilo, nenhum cidadão inocente ficou ferido”, Agatha parecia saber com o que o velho estava preocupado. “Mas, pelo relatório da equipe, há mais de uma pista bizarra por lá. Talvez eu tenha que ir ver a situação pessoalmente.”

    O Velho Guarda não disse nada, apenas assentiu levemente, mas seu olhar já havia se tornado sério.

    Agatha era uma Guardiã do Portão jovem, mas por mais jovem que fosse, seu status de “Guardiã do Portão” foi obtido através de treinamento rigoroso e testes difíceis. Como a mais alta representante da igreja na cidade-estado, suas ações por si só indicavam a urgência da situação.

    O que aconteceu na Rua da Lareira provavelmente não era tão tranquilo quanto sua atitude demonstrava. E certamente não era apenas uma simples batalha entre praticantes sobrenaturais. Uma equipe de elite de guardas foi investigar, e no final a própria Guardiã do Portão teve que ir resolver. Isso não era pouca coisa.

    Mas isso era algo fora do cemitério, não algo que ele, um “Guardião do Túmulo” aposentado, devesse se preocupar.

    ‘Deixe a jovem Guardiã do Portão e os guardas cuidarem disso.’

    Após um esforço considerável, os guardas finalmente limparam a neve e ligaram o núcleo a vapor dos carros. Dois carros a vapor cinza-escuros saíram do cemitério e logo desapareceram no caminho que levava ao quarteirão.

    O Velho Guarda observou os dois carros partirem, balançou a cabeça e se preparou para voltar ao cemitério.

    Mas, assim que estava prestes a se virar, o canto de seu olho de repente viu uma pequena figura familiar aparecer no final do caminho.

    Uma garotinha vestindo um casaco grosso caminhava com alguma dificuldade em direção ao cemitério.

    O Velho Guarda parou imediatamente. Ele observou a pequena figura se aproximar, com uma expressão que parecia um pouco zangada no rosto. E a pequena figura, naquele momento, também viu o velho parado na entrada do cemitério. Ela parou na beira da estrada, ergueu o rosto, acenou alegremente com os braços e continuou a caminhar em direção ao velho, afundando na neve a cada passo.

    Finalmente, ela chegou às marcas de pneu deixadas pelos dois carros a vapor, e seus passos finalmente ficaram um pouco mais fáceis. Ela se abaixou, bateu na neve da bainha de suas roupas e calças, chegou à entrada do cemitério e olhou sorrindo para o velho de rosto sério, quase zangado.

    “Vovô Guarda, eu vim de novo!”, Anne cumprimentou o Velho Guarda alegremente.

    Hoje ela usava um casaco branco grosso e botas brancas compridas, além de um gorro de lã também branco na cabeça. Ela inteira parecia prestes a derreter na cidade coberta de neve.

    “Saindo com um tempo desses, e ainda por cima vindo para um lugar como este!”, o Velho Guarda arregalou os olhos, com um tom muito severo. “Você vai preocupar sua família.”

    “Eu avisei a mamãe que voltaria logo hoje”, disse Anne, sorrindo, com o rosto um pouco vermelho do frio. “A escola está de férias. Eu ia brincar com meus amigos, mas eles não queriam sair, então vim procurar o senhor!”

    “…Ficar em casa como seus amigos é melhor do que vir a um cemitério com as estradas bloqueadas pela neve”, disse o velho em tom frio. “O cemitério não está aberto hoje, tem muita neve lá dentro. Vá para casa.”

    No entanto, a menina pareceu não ouvir. Ela apenas esticou a cabeça para olhar atrás do velho e depois ergueu o rosto com expectativa: “Meu pai, ele…”

    “Não veio”, disse o velho sem rodeios. “Com um tempo tão ruim, mesmo que houvesse um plano de entrega de espírito, seria adiado.”

    Anne ficou pasma por um momento, mas não muito desapontada. Ela franziu os lábios: “Então… quando o tempo melhorar, eu venho perguntar de novo… Ele virá, não é?”

    O Velho Guarda olhou silenciosamente para os olhos da criança. Por um ou dois segundos, ele até se arrependeu. Arrependeu-se de ter prometido àquela criança, seis anos atrás, que “seu pai voltaria para cá”. No fundo, seu coração naquela época… ainda era um pouco mole.

    Após um silêncio de duração desconhecida, o velho finalmente abriu a boca: “…Talvez, um dia no futuro, você tenha notícias dele.”

    Esta foi a sua maior delicadeza.

    Uma criança de doze anos já deveria entender essas coisas.

    Anne piscou, um sorriso apareceu em seu rosto. Ela meteu a mão na pequena bolsa que carregava e tirou um pacote, entregando-o ao velho à sua frente.

    “Biscoitos de novo?”, o Velho Guarda ergueu as sobrancelhas.

    “É pó de chá de gengibre. Eu ajudei mamãe a fazer. Tem ervas para aquecer o estômago e espantar o frio!”, disse Anne, orgulhosa, enfiando o pacote na mão do velho sem aceitar recusa. “O senhor está sempre sozinho guardando o cemitério, e agora que nevou, deve fazer muito frio à noite, não é?”

    O velho olhou para o que tinha nas mãos.

    Ele não precisava disso. Os suprimentos de poções que a igreja fornecia aos guardas do cemitério eram dez vezes mais eficazes. Sua cabana de guarda, que parecia frágil, estava na verdade coberta de feitiços de proteção e materiais especiais. Não apenas resistia ao vento frio, mas mesmo que o cemitério perdesse o controle, a cabana poderia resistir a impactos externos como uma fortaleza de aço.

    “Obrigado”, ele aceitou o presente de Anne. Talvez por não sorrir há muito tempo, o arco de seus lábios estava um pouco rígido. “Isso me será muito útil.”

    Em seguida, sua expressão endureceu novamente.

    “Eu aceitei o presente. Agora vá para casa e tente não sair nos próximos dias.”

    “Por quê?”

    “…A cidade não está segura ultimamente”, disse o Velho Guarda, sério. Ele pensou no que Agatha acabara de lhe dizer, no evento sobrenatural que ocorreu na Rua da Lareira na noite anterior. “Volte e diga à sua mãe para sair menos. Se notar algo estranho, peça ajuda na igreja ou ao xerife mais próximo. Anne, isso é muito sério, você entendeu?”

    Anne pareceu intimidada pelo tom subitamente severo do velho. Ela hesitou por um momento e depois assentiu apressadamente: “En… entendi.”

    “Bom, então vá para casa”, o velho suspirou, dando a ordem de dispensa. “Enquanto o dia ainda…”

    Ele ergueu a cabeça, e a segunda metade da frase morreu em seus lábios.

    Uma figura extraordinariamente alta e robusta apareceu perto do portão do cemitério, olhando na sua direção. A figura usava um longo casaco preto, um chapéu de abas largas e tinha o rosto coberto de ataduras. Todos os detalhes de seu corpo estavam escondidos sob as roupas, o chapéu e as ataduras.

    E ao lado dessa figura robusta havia outra pessoa, uma senhora delicada em um vestido longo roxo e suntuoso, com cabelos loiros em cascata, um chapéu macio na cabeça e um véu cobrindo o rosto, tornando sua aparência indistinta, mas exalando uma aura de elegância e mistério.

    Mas quase toda a atenção do Velho Guarda estava na figura alta e robusta. Ele olhava fixamente naquela direção, seus globos oculares como se estivessem ancorados por uma força invisível, difíceis de mover. Um leve ruído começou a zumbir em sua mente, e as bordas de sua visão começaram a tremer e a se deslocar sutilmente — sinais claros de que seu espírito estava sofrendo uma leve contaminação e interferência.

    O experiente Velho Guarda percebeu instantaneamente o que estava acontecendo: era o “visitante”.

    Por ter tido múltiplos contatos com este convidado inominável e por ter caído em um estado de loucura sob o efeito do incenso, ele estabeleceu uma certa conexão com ele!

    Mas era apenas uma conexão preliminar e quase inofensiva, então o Velho Guarda não perdeu a capacidade de se mover como antes.

    Ele ainda conseguia se mover. Então, estendeu a mão e puxou Anne para trás de si.

    “Criança, não olhe para lá.”

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