Capítulo 34: Colheita
Duncan foi abruptamente retirado de seu devaneio semiconsciente pelo alto estrondo das ondas, trazendo-o de volta à realidade. Seus olhos se abriram num instante, deixando para trás os fragmentos de seu mundo onírico cativante, que agora desapareciam em ecos tênues. Ele ainda guardava uma lembrança vívida de peixes com corpos prateados deslizando pelo ar, desafiando a gravidade e a água ao mesmo tempo. O sabor tentador deles permanecia em sua língua, mas os detalhes de suas aparências escapavam de sua memória.
Peixes realmente poderiam nadar no ar? pensou, descartando a ideia como absurda.
Piscando para afastar a confusão, Duncan encontrou-se preso em uma mistura estranha de realidade e sonho, o que o deixou momentaneamente desorientado. Seu olhar fixou-se no trio de varas de pesca firmemente presas em seus suportes, com os anzóis vazios. O mar, antes calmo, começara a agitar-se violentamente, com ondas arremessando-se contra o casco robusto de seu navio, o Banido.
As ondas cresciam cada vez mais. Uma após a outra, subiam em uma sucessão implacável de caos espumante, enquanto o vento e o mar castigavam o navio resistente, enchendo seus ouvidos com uma barulheira incessante.
Ao olhar para cima, Duncan percebeu que o céu permanecia claro, em um contraste marcante com o mar turbulento abaixo. As condições eram mais severas do que alguém esperaria para um dia tranquilo de pesca, mas não havia sinais de uma tempestade iminente.
“As condições não são ideais para pescar…”, murmurou Duncan para si mesmo, ponderando se seria sábio recolher suas linhas. Mas, justo enquanto pensava nisso, a ponta de uma das varas inclinou-se repentinamente com grande força!
A linha de pesca de alta resistência, projetada especificamente para pesca em alto-mar, esticou-se sob o peso. A vara, feita para suportar grandes capturas, curvou-se dramaticamente como um arco ao suportar o puxão do que devia ser um peixe enorme. Junto com esse movimento, veio um ruído estridente de raspagem, enquanto o suporte rangia sob a pressão, deixando claro para Duncan: ele havia fisgado algo grande!
Todos os pensamentos de desistir desapareceram, substituídos pela onda de excitação única dos pescadores ávidos. Rapidamente, Duncan se colocou ao lado da vara tensionada, segurando-a firmemente com uma mão para evitar que fosse puxada, enquanto ajustava cuidadosamente a tensão da linha com a outra.
Eu sabia! Não havia chance de eu voltar para casa de mãos vazias!
Uma onda de emoção percorreu Duncan enquanto se engajava em uma feroz batalha de força com a enorme e invisível criatura presa na outra ponta de sua linha. O confronto era intenso; a criatura marinha claramente não estava disposta a se render facilmente. Apesar da força física de Duncan e do suporte sólido do porta-varas, a disputa estava num equilíbrio delicado.
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Conforme as ondas ao redor do Banido se tornavam mais violentas, Duncan permanecia calmo, mesmo com o balançar constante. A teimosia de seu adversário aquático alimentava seu espírito competitivo, mas ele tomava cuidado para não deixar a oportunidade de uma captura notável escapar entre seus dedos.
A tensão na linha de pesca havia se tornado perigosamente alta, a ponto de quase arrebentar e permitir que o peixe gigantesco escapasse.
Após um longo e exaustivo impasse, Duncan decidiu agir. Quase espontaneamente, uma explosão brilhante de chamas verdes sobrenaturais irrompeu de sua mão que segurava firmemente a vara.
O fogo verde espalhou-se e girou como líquido, suas chamas hipnotizantes avançando rapidamente pela vara e pela linha. À medida que a chama espectral avançava, traçava um caminho direto até o mar agitado. De repente, uma silhueta misteriosa, brilhando com uma estranha luz verde, apareceu nas águas escuras ao redor do Banido.
Destacada pelo fogo etéreo e enigmático, uma imensa sombra emergiu das profundezas. Essa figura enigmática se espalhava sob a superfície do oceano, estendendo-se como uma criatura gigantesca do abismo. A figura inspiradora cobria o mar ao redor do barco, com seus membros sombrios se estendendo por centenas de metros, transformando-se em tentáculos escuros e fluidos. Esses tentáculos inflavam sob a água como inúmeros braços serpenteantes, controlando as correntes invisíveis do oceano e agitando as ondas contra o casco do Banido.
Surpreso por esse espetáculo sob o mar, Duncan lutava para manter o equilíbrio diante de sua “presa” esquiva. Seus olhos, cheios de curiosidade, buscavam o fundo do oceano. Para sua surpresa, ele não via nada fora do comum, apenas o choque rítmico usual das ondas, não muito diferente de qualquer outra experiência de pesca em alto-mar. Mais importante, ele sentiu que a força contra sua vara de pesca diminuía, possivelmente indicando que seu oponente estava perdendo força.
Um sorriso vitorioso se espalhou pelo rosto de Duncan enquanto ele recolhia a linha metodicamente, trazendo gradualmente seu adversário marinho para mais perto da superfície.
Enquanto isso, Alice foi abruptamente despertada de seu sono por uma cacofonia de rugidos e assobios penetrantes vindos do lado de fora de sua cabine. A violenta perturbação fez os objetos dentro de seus aposentos colidirem caoticamente, aumentando a confusão. Rapidamente, ela se apoiou no corrimão mais próximo para evitar ser jogada de um lado para o outro, com uma expressão de perplexidade no rosto.
“O que está acontecendo?” se perguntou.
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O Banido parecia tremer como se estivesse preso nas garras poderosas de uma tempestade aterrorizante. Do interior fantasmagórico do navio, um som profundo e ameaçador ecoava, como se o próprio navio estivesse rugindo e desafiando o terror invocado pelas misteriosas profundezas do oceano, lutando contra um leviatã invisível que parecia ameaçar engoli-lo.
O tilintar de objetos caindo dentro da cabine continuava, emitindo ruídos que pareciam uma linguagem criptográfica que Alice não conseguia entender. Mas uma coisa era clara para ela: uma tempestade de caos estava se formando do lado de fora.
Impulsionada por essa percepção alarmante, Alice decidiu enfrentar a tempestade e ir até o convés do navio. Tropeçando e agarrando-se às paredes para se equilibrar, ela correu para fora de sua cabine em direção ao coração do tumulto.
Após enfrentar uma série de obstáculos, como cordas espalhadas e barris fora do lugar, ela finalmente chegou à base das escadas. Empurrou a porta de madeira oscilante e foi confrontada pelo oceano em plena fúria, produzindo ondas gigantescas.
O céu estava negro e ameaçador, escuro como obsidiana, com nuvens sinistras formando uma cortina espessa e pesada que parecia pronta para tocar a superfície do oceano. Enormes ondas rugiam e espumavam sob as nuvens escuras, sua energia selvagem cercando o Banido. Embora Alice não fosse uma marinheira, ficou impressionada pela cena dramática diante dela e soube instintivamente que precisava encontrar o capitão.
Seu olhar rápido pelo convés logo encontrou o homem que procurava, parado à beira do convés, aparentemente imune à tempestade.
Para Duncan, os mares tumultuosos e os ventos ferozes eram apenas distrações menores. Prestes a vencer, ele sentia a resistência decrescente de seu oponente aquático através da tensão na linha e das chamas espectrais verdes. Gradualmente, estava trazendo a criatura das profundezas mais perto da superfície.
“Suba e enfrente-me, seu monstro!” ele gritou, sua voz engolida pela tempestade enquanto dava uma última e poderosa puxada na vara de pesca.
Um peixe saltou da água — uma criatura enorme, quase metade do tamanho de Duncan.
No silêncio inquietante daquele momento, Duncan se viu olhando nos olhos do gigantesco peixe suspenso no ar.
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“…Um verdadeiro monstro, não é?” ele disse em voz alta, suas palavras ecoando pela tempestade.
E monstruoso ele era. O corpo negro e grotesco do peixe estava coberto por uma textura nodosa e tumoral, com padrões cinza-esbranquiçados serpenteando por suas barbatanas. Vários espinhos ósseos se projetavam de sua cabeça, abaixo dos quais um par de olhos perolados e ocos fitavam Duncan sem piscar.
Algo naqueles olhos fez um calafrio de inquietação percorrer Duncan, sugerindo uma inteligência malévola dentro do peixe. De repente, em uma reviravolta surpreendente, o peixe se contorceu violentamente, e seus olhos, fixos em Duncan, explodiram em um espetáculo horrível, espalhando sangue pelo ar.
Com um baque alto, o peixe caiu no convés. Contorcia-se em seus estertores de morte, parecendo uma criatura eletrocutada. No entanto, a luta violenta foi breve. O peixe logo ficou estranhamente imóvel, sua boca e olhos destruídos escorrendo sangue que começou a manchar as tábuas envelhecidas do convés.
Transfixado, mas um tanto enojado, Duncan observava enquanto o peixe monstruoso dava seus últimos espasmos no convés. Seus pensamentos voltaram-se para um pedaço de curiosidade que ele havia lido certa vez em um livro: criaturas das profundezas frequentemente pareciam grotescas, e seus corpos, adaptados à intensa pressão das profundezas oceânicas, podiam estourar os vasos sanguíneos e morrer rapidamente quando trazidos abruptamente à superfície. Ele se perguntou se essa lei natural também se aplicava às formas de vida aquática deste mundo.
Sua contemplação foi interrompida pelos sons distintos de mais corpos pousando no convés. Surpreso, ele se virou para a fonte da comoção a tempo de ver vários outros “peixes estranhos” se juntando ao seu parente maior no navio. Cada um era uma réplica em miniatura da besta original, com não mais de meio metro de comprimento. Como seu predecessor, eles também sangravam profusamente, sua força diminuindo rapidamente sob o olhar atento de Duncan.
Pego de surpresa, Duncan finalmente conseguiu formular uma piada: “Será que é algum tipo de promoção no atacado?”
Enquanto isso, Alice estava encolhida junto ao corrimão do navio, seus olhos arregalados de terror enquanto assistia ao espetáculo horrível que se desenrolava a poucos passos de distância. O capitão Duncan estava na proa, envolto em chamas verdes fantasmagóricas que dançavam violentamente ao seu redor, transformando-o em um titã enfrentando o mar implacável. A seus pés, três anzóis de pesca se projetavam do convés, um dos quais estava envolto pelas mesmas chamas sinistras.
Das profundezas turvas abaixo, uma enorme sombra emergiu, e um tentáculo mais grosso que o mastro do navio surgiu do mar. O tentáculo era uma visão aterrorizante: cravejado de inúmeros olhos malévolos e alinhado com fileiras de dentes afiados que se moíam uns contra os outros, como se ansiasse despedaçar o navio.
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O medo tomou conta de Alice, impulsionando-a a avisar o capitão e correr em seu auxílio, mas antes que pudesse se mover, o tentáculo investiu contra Duncan.
Alice observou, fascinada e horrorizada, enquanto Duncan levantava o olhar, seu rosto iluminado pelas chamas brilhantes, um sorriso bizarro estampado em sua face. Ele fixou os olhos nos incontáveis olhos do tentáculo, e, naquele instante, os olhos explodiram em um espetáculo grotesco.
Um grito ensurdecedor e agonizante ecoou no ar, vindo dos dentes aninhados entre os olhos. Então, como se a entidade monstruosa sob o mar tivesse decidido amputar seu próprio membro, o tentáculo ferido se partiu, descartado e abandonado no convés.
O tentáculo amputado caiu com um baque, sua extremidade aberta exalando um líquido viscoso e fétido que se espalhou pelo convés, respingando próximo aos pés do capitão.
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