Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 346: O Bloqueio
A garota parada na porta parecia ter no máximo onze ou doze anos. Era baixa, vestia um casaco branco, grosso e quente, e um gorro de lã de onde saía um leve vapor — ela parecia ter vindo correndo. Ao ver Morris, ainda ofegava, mas logo um sorriso radiante floresceu em seu rosto.
“É o vovô Morris, certo? Mamãe me pediu para trazer isto”, disse ela, estendendo a mão para entregar uma chave. “É a chave do porão. Mamãe disse que esqueceu de entregar a vocês quando saiu.”
“Ah, obrigado, mocinha”, Morris reagiu, pegando a chave e assentindo. “Entre para se aquecer, sim?”
A garota estava prestes a falar quando a voz de Duncan soou de repente atrás de Morris, com um toque de surpresa: “Anne?”
Olhando por cima do ombro do velho erudito, Duncan observou a menina na porta com espanto.
Era Anne Barbieri, a mesma que ele havia encontrado antes no portão do cemitério — a filha de Christo Barbieri, o capitão do Obsidiana.
Duncan entendeu o que havia acontecido. Não sabia se deveria chamar de coincidência ou lamentar o quão “pequena” era a cidade-estado. Depois de tantas voltas, ele havia encontrado novamente a filha do capitão do Obsidiana. O alojamento temporário que Morris e Vanna passaram o dia procurando… era justamente a casa da família de Anne.
Anne também viu a figura imponente que apareceu de repente e seus olhos se arregalaram.
A situação inesperada a deixou um pouco desnorteada. Ela ficou olhando por alguns segundos antes de reagir, cumprimentando desajeitadamente: “Ah, é o tio do portão do cemitério… O-olá?”
Sua última saudação foi visivelmente hesitante. Ela claramente se lembrava do encontro no cemitério e da cena extraordinária das chamas que subiram ao céu quando Duncan partiu. Naquele momento, Duncan não pensou muito, mas a cena, sem dúvida, deixou uma impressão profunda na mente da menina.
Mesmo sendo jovem, Anne sabia que aquilo era um poder sobrenatural. Esse conhecimento já estava escrito nos livros didáticos de todas as cidades-estado e era parte da educação geral de todos os cidadãos. Um entendimento básico dos poderes sobrenaturais e das técnicas de proteção era fundamental para a sobrevivência das pessoas comuns neste mundo.
Mas que tipo de poder era aquele, Anne não conseguia distinguir. Seus livros não mencionavam, o velho guarda do cemitério não explicou, e quando contou à sua mãe em casa, ela também não lhe disse nada.
Parecia ser um segredo que as crianças ainda não deveriam saber.
Anne olhou para Duncan, um pouco atordoada. O aviso do velho guarda ainda ecoava em seus ouvidos, o que a deixava instintivamente inquieta. No entanto, a figura imponente de repente se moveu para o lado. Sua voz soava um pouco assustadora, mas também continha um traço de gentileza: “Entre e descanse um pouco. Começou a nevar lá fora de novo.”
Só então Anne olhou para trás e viu os flocos de neve caindo do céu mais uma vez. Alguns entraram em seu colarinho com o vento, provocando um arrepio.
Quase que por instinto, ela entrou na casa, olhando ao redor, confusa.
A bela irmã de cabelos dourados e aparência nobre também estava na sala de estar, ao lado da mesa de jantar, lançando-lhe um olhar curioso.
Ela havia tirado o véu e era muito bonita — quase a pessoa mais bonita que Anne já vira.
“Mamãe disse para não incomodar os inquilinos”, disse Anne, esfregando a lama e a neve de suas botinhas no capacho da entrada, ainda hesitante. “Ela disse que o vovô Morris é um grande erudito e seria muito indelicado perturbá-lo…”
“Você não está incomodando. Estávamos justamente querendo saber mais sobre nossa nova casa”, disse Morris, que já havia entendido a situação. “Além disso, está nevando de novo. Não é seguro você voltar correndo pelo atalho. Descanse um pouco aqui. Depois, Vanna a levará para casa.”
Anne olhou para Vanna, que parecia uma pequena gigante, e assentiu inconscientemente.
Em seguida, ela se virou para Duncan e, após hesitar por alguns segundos, perguntou: “Então… o senhor também precisa morar em uma casa?”
“Claro que eu moro em uma casa”, Duncan riu, enquanto a levava para o sofá da sala. “Sua mãe não se preocupa com você correndo por aí sozinha?”
Para ele, Anne corria demais. Não só ia sozinha ao cemitério de manhã cedo, como também atravessava os becos entre as ruas neste tempo horrível para entregar uma chave a inquilinos desconhecidos. Era muito preocupante.
“Está tudo bem. Todo mundo me conhece por aqui. Mamãe diz que metade das pessoas nestas duas ruas são amigas do papai”, Anne não pareceu se importar. Sentou-se no sofá, com as mãos sob as coxas, balançando o corpo para frente e para trás. “Além disso, mamãe geralmente está muito ocupada. Ela faz a contabilidade e preenche formulários para as pessoas, e às vezes vai ajudar na capela. Já estou acostumada a correr por aí.”
Duncan pensou por um momento e perguntou: “Então… você contou à sua mãe o que eu lhe disse quando chegou em casa?”
“Contei”, Anne assentiu, mas sua expressão ficou estranha. “No começo, ela disse que eu estava inventando coisas. Depois, contei o que o vovô guarda do cemitério disse, e ela foi para o quarto sozinha… Quando saiu, parecia que tinha chorado… mas depois sorriu e me disse que faria peixe frito à milanesa e ensopado de linguiça para o jantar, porque hoje era um dia que valia a pena comemorar.”
Ela parou de balançar o corpo, parecendo um pouco confusa. Ergueu a cabeça para Duncan e disse com curiosidade e hesitação: “Eu sinto que… não entendo muito bem.”
“Não se preocupe, mais cedo ou mais tarde você vai entender”, Duncan sorriu. “Algumas coisas são muito complicadas para você agora.”
“O senhor fala igual ao vovô guarda, ele também diz isso com frequência”, murmurou Anne. Depois, balançou a cabeça, parecendo pensar seriamente por um momento antes de erguer o olhar novamente. “Tio, o senhor… não quer ser incomodado, não é?”
Duncan ficou curioso: “Por que diz isso?”
“Porque você se veste assim… e quando foi embora, simplesmente desapareceu. Mamãe disse que esse é o… estilo, acho que essa é a palavra, o estilo do pessoal secreto da Catedral ou dos eremitas das sociedades.”
Por um momento, Duncan não soube como responder à garota, mas ela claramente não esperava por uma resposta. Anne refletiu por conta própria e, de repente, acrescentou: “Eu não vou contar a ninguém, pode deixar. O vovô guarda também me avisou para fingir que nunca o vi e não contar a ninguém, exceto à mamãe.”
Duncan deu uma risada contida, mas antes que pudesse falar, Anne continuou: “Então posso contar ao vovô guarda? Dizer a ele… que o senhor está morando na minha casa?”
Morris e Vanna, que haviam se aproximado do sofá para ouvir a conversa, não puderam deixar de se entreolhar. Alice, por sua vez, voltou seu olhar imediatamente para Duncan.
Todos sentiram que havia algo de estranho naquela situação.
No entanto, Duncan apenas ficou em silêncio por alguns segundos antes de assentir com um sorriso: “Pode, eu não me importo.”
Ao mesmo tempo, perto do porto leste, o trabalho de coleta de amostras dos destroços do Andorinha do Mar já havia começado.
Vários barcos rápidos partiram do cais, aproximando-se com cautela da área do mar que ainda flutuava com uma “lama” turva e algumas chamas. Cada barco estava equipado com um sacerdote, relíquias sagradas e dinamite de nitroglicerina para emergências.
Em terra, a guarnição do porto também preparou o trabalho de recepção.
Um armazém vazio foi escolhido como instalação de trânsito temporária. Sacerdotes e guardas vindos da igreja superior já haviam concluído a purificação e a instalação de contramedidas em toda a área. A Guardiã do Portão Agatha, antes de partir, deixou para trás uma equipe de elite para o caso de algum acidente ocorrer durante a coleta das amostras dos destroços.
Liszt estava no cais, observando a situação no mar. Alguns de seus subordinados de confiança estavam ao seu lado, acompanhando o progresso do trabalho de resgate.
“Será que não vai dar problema trazer essas coisas para a costa?”, perguntou um dos subordinados com um tom de apreensão. “Claro, não estou questionando a decisão da Guardiã do Portão, mas essas coisas… poucas horas atrás, elas estavam avançando em direção à ilha principal de Geada a uma velocidade impressionante. Elas estão realmente ‘mortas’ agora?”
“A senhora Agatha confirmou repetidamente no Plano Espiritual que essas coisas não têm mais atividade”, disse Liszt com uma expressão calma. “Elas de fato podem ser ‘mortas’. A julgar pela atitude e pelo plano de ação da senhora Agatha, acho que a Grande Catedral talvez até já tenha lidado com coisas semelhantes.”
“Coisas semelhantes? Já apareceram na cidade-estado?”, um oficial de baixa patente pareceu surpreso. “Isso… não ouvi nenhuma notícia a esse respeito…”
“Se você não ouviu, significa que o assunto não deve ser divulgado, pelo menos não ainda. A Grande Catedral e a prefeitura têm seu próprio julgamento”, Liszt balançou a cabeça. “De qualquer forma, a senhora Agatha é confiável. Ela não arriscaria a segurança da cidade-estado. O que temos a fazer é seguir o julgamento dos profissionais. Os sacerdotes sabem lidar com esse tipo de coisa bizarra muito melhor do que os soldados.”
O subordinado não disse mais nada. Mas, naquele momento, ouviu-se o som de passos apressados. Um soldado correu até o cais.
“Comandante!”, o soldado trotou até Liszt e, após uma saudação, entregou um documento recém-chegado pelo tubo de ar comprimido ao comandante da defesa. “Uma ordem da prefeitura.”
“Parece que a ordem oficial para bloquear a Ilha Adaga chegou”, disse Liszt enquanto pegava o documento. No entanto, ao ver o conteúdo, sua expressão mudou subitamente.
Um subordinado notou: “Comandante? Algum problema?”
“…De fato, é uma ordem de bloqueio de rotas, mas não para bloquear a Ilha Adaga”, disse Liszt com uma expressão séria e um tom excepcionalmente grave. “Estritamente falando, não é só para bloquear a Ilha Adaga. A ordem exige o bloqueio de todas as rotas de entrada e saída de Geada. Todas as guarnições devem entrar em estado de prontidão para o combate.”
“Bloquear… toda a ilha principal de Geada?!”
“A Frota do Névoa do Mar apareceu nas águas próximas”, Liszt respirou fundo, seu rosto ainda mais sombrio e feio do que o céu naquele momento. “A Frota do Névoa do Mar inteira.”
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