Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Anne foi embora feliz, parecendo não suspeitar de nada — afinal, ela era apenas uma criança.

    O velho guarda, no entanto, permaneceu na entrada do cemitério por um longo tempo, olhando na direção em que Anne partira. Só depois de um tempo que pareceu uma eternidade, ele despertou com um sobressalto e, com os dedos tremendo levemente, levou a mão ao bolso do peito, tirou um frasco de remédio e o despejou na boca.

    Ele se sentiu muito melhor.

    “Isso é bizarro demais… preciso reportar à Grande Catedral imediatamente… pelo deus da morte… isso é bizarro demais…”

    O velho resmungou, virou-se e caminhou rapidamente em direção à sua cabine. Após entrar e fechar a porta, ele foi direto para uma escrivaninha de aparência velha e comum ao lado da cama. Ao abrir uma tampa na escrivaninha, revelou-se um sistema engenhoso de tubos e válvulas, além de botões e alavancas.

    Várias cápsulas de metal repousavam silenciosamente em um compartimento ao lado dos tubos.

    O velho tirou um papel de carta da gaveta, sentou-se, pegou a caneta-tinteiro ao lado e começou a escrever rapidamente um relatório. Em seguida, enrolou o relatório, inseriu-o na cápsula de metal, abriu o compartimento secreto dos tubos na escrivaninha e colocou a cápsula no encaixe.

    “Que Bartok abençoe este tubo e o fluxo de ar que corre por ele… Que as válvulas funcionem suavemente, sem emperrar, vazar pressão ou explodir — e que a máquina diferencial no centro de triagem não cometa erros.”

    O velho fez uma breve oração e então apertou um botão ao lado do tubo de pressão. Depois que a luz verde no compartimento secreto se acendeu, ele puxou a alavanca ao lado do botão.

    Um som estranho de gorgolejo veio das profundezas do tubo, soando como o ruído de um fluxo de ar obstruído, mas logo o som desapareceu. O assobio do funcionamento normal do tubo de pressão e o som da cápsula deslizando rapidamente soaram em seguida.

    O velho olhou para o tubo com certa preocupação, resmungando: “…Será que é porque a carta mencionou uma existência superior e isso afetou a máquina…”

    Após um momento, as duas luzes verdes que indicavam que o “despacho urgente” havia chegado ao centro de triagem superior se acenderam. Só então o velho guarda finalmente relaxou, fechando a tampa do compartimento secreto.


    Alice caminhava pela rua segurando um grande saco de papel, olhando curiosamente para os edifícios ao redor, observando esta cidade tão diferente de Pland e a vida das pessoas nela.

    Dentro do saco de papel estavam as coisas que ela acabou de comprar na loja da esquina — alguns vegetais, ovos, manteiga congelada e dura como pedra, e dois pedaços de carne de carneiro. Eram os ingredientes para o almoço de hoje.

    Alice já conseguia fazer compras sozinha, embora não com muita habilidade e ocasionalmente errando o valor do troco, mas ela estava se esforçando para aprender tudo isso — progredindo a cada dia, mesmo que não muito.

    Ela baixou um pouco a cabeça, segurando o saco de papel com uma mão e, com a outra, tirou um bilhete do saco, confirmando seu conteúdo.

    Nele, com uma caligrafia torta, estavam escritas algumas letras. Era a lista de compras de hoje. Parte do conteúdo eram palavras que ela sabia ler e escrever, e outra parte era substituída por desenhos simples. Esta lista foi escrita por ela mesma, com muito esforço.

    Elaborar o cardápio diário, planejar os ingredientes a serem comprados, escrever a lista de compras, ir à loja comprar as coisas — tentar calcular o troco corretamente e depois tentar voltar para casa na hora certa. Se conseguisse fazer tudo isso, o capitão ficaria muito feliz.

    Alice também ficaria muito feliz.

    Confirmando que a lista e o conteúdo do saco de papel estavam corretos, a senhorita boneca guardou o bilhete satisfeita e continuou caminhando em direção à sua residência temporária na Rua do Carvalho.

    Mas, no meio do caminho, uma agitação vinda da esquina de repente chamou sua atenção.

    Ela ergueu a cabeça na direção do som e viu cerca de uma dúzia de pessoas reunidas ao lado de um prédio residencial de aparência bastante antiga. Algumas pessoas apontavam para o andar de cima, e todas discutiam algo em voz alta. No meio, ouvia-se ocasionalmente frases como “aquela mulher enlouqueceu”, “pobre coitada”, “até a igreja foi acionada”.

    Alice não pôde deixar de diminuir o passo, cada vez mais devagar, até finalmente parar, olhando para aquela direção com grande hesitação.

    ‘Isso é… uma confusão. O capitão disse para não se meter em confusão, porque se a cabeça cair em um lugar com muita gente, a confusão seria grande demais.’

    Mas parecia muito interessante lá, e o que eles estavam discutindo… parecia ser algo que também interessaria ao capitão.

    Alice ficou em um dilema e, em meio ao dilema, moveu-se um pouco naquela direção, e depois mais um pouco.

    ‘Vou só ver o que está acontecendo… é para coletar informações para o capitão… não é me meter em confusão à toa, é me meter em confusão com muita seriedade…’

    Alice usou toda a sua inteligência para se convencer, e ela conseguiu.

    Com uma mão na cabeça e a outra segurando o saco de papel, a senhorita boneca logo se aproximou da multidão reunida e, junto com eles, olhou para o prédio residencial à sua frente.

    Diferente da pequena casa de dois andares que o capitão alugou temporariamente, este edifício parecia mais antigo e apertado. As janelas estreitas e os canos de gás externos pareciam apinhados e caóticos, como se muitos moradores independentes estivessem reunidos neste prédio.

    A discussão da multidão ao redor era confusa, e Alice ouviu por um bom tempo sem entender o que estava acontecendo. Então, ela cutucou cuidadosamente o ombro da pessoa ao seu lado e perguntou educadamente: “Com licença… o que aconteceu aqui?”

    A pessoa ao lado se assustou, mas ao ver que quem falava era apenas uma jovem de véu, relaxou e apontou para cima: “Uma mulher enlouqueceu, insistindo que matou o próprio marido e ainda tentou estrangular o filho… Primeiro os oficiais de segurança foram acionados, e agora até o pessoal da igreja chegou. Acho que este assunto não é pequeno.”

    Assim que ele terminou de falar, outra pessoa ao lado interveio: “Falando nisso, se até o pessoal da igreja chegou… será que é realmente algo ruim?”

    “…Espero que não seja nada grave”, uma senhora resmungou na multidão. “Eu moro no andar de baixo deles. Se algo acontecer, não teremos para onde ir…”

    “Com ou sem problemas, é melhor ir à igreja hoje. Peça ao padre para fazer um exorcismo, é sempre bom ter cuidado.”

    A multidão ao redor começou a discutir novamente em voz alta e logo entrou em um território que Alice não entendia. Ela se distraiu um pouco com a discussão caótica, e seu olhar vagou lentamente para o ar.

    Fios leves e finos flutuavam em seu campo de visão, e mais fios finos se estendiam dos prédios residenciais próximos, balançando no ar como fios de cabelo ao vento, agitando silenciosamente o céu.

    Alice piscou de repente.

    Ela notou subitamente que, dos fios que flutuavam sobre a cidade-estado, alguns pareciam excepcionalmente etéreos, transparentes, e até mesmo piscavam como uma lâmpada com mau contato.


    O velho prédio residencial tinha um leve cheiro de mofo. O antigo sistema de encanamento tinha um pequeno vazamento em algum lugar, e o som de gotas d’água era ouvido de vez em quando. Guardas vestidos de preto, segurando bengalas e lamparinas, estavam reunidos na sala de estar, tornando o cômodo já pequeno ainda mais apertado.

    Uma mulher de cabelos compridos e desgrenhados estava encolhida no canto do sofá, com a cabeça baixa como se estivesse assustada, murmurando ocasionalmente frases ininteligíveis.

    Dois guardas de preto estavam de pé ao lado, vigiando a mulher mentalmente instável.

    Os guardas examinavam as pistas restantes na casa. Eles já estavam ocupados ali há duas horas.

    Um vento cinzento soprou pelo corredor, atravessou a porta aberta e entrou na sala de estar, girando.

    Os guardas pararam o que estavam fazendo e saudaram o redemoinho cinza-esbranquiçado.

    A figura de Agatha emergiu do vórtice, seu olhar varrendo o cômodo.

    “Qual é a situação agora?”, ela ergueu a cabeça, olhando para o guarda de mais alta patente no local.

    A capitã dos guardas era uma mulher de cabelos pretos curtos e ar decidido. Diante da pergunta da Guardiã do Portão, ela deu um passo à frente imediatamente: “Coletamos uma pequena amostra de ‘lama’ no chão do banheiro, confirmamos que é consistente com as amostras coletadas anteriormente.”

    “‘Primal’…”, disse Agatha em voz baixa, depois franziu a testa. “Uma pequena amostra? Quanto? Muito pouco?”

    “Cerca de um tubo de ensaio”, a capitã de cabelos curtos gesticulou com a mão. “Essa foi toda a amostra. Já revistamos todo o prédio, e só restava um pouco no chão do banheiro.”

    Agatha ponderou em silêncio, depois se virou para olhar para a mulher de cabelos compridos encolhida no canto do sofá.

    “Ela é a pessoa envolvida?”

    “Sim”, a capitã assentiu. “Ela mora aqui de aluguel. Investigamos, sua história é limpa, sem antecedentes criminais. É contadora substituta em um escritório próximo. Além disso, seu marido trabalhava na Mina de Ouro Fervente — os registros mostram que ele morreu em um acidente de mineração há três anos.”

    ‘Mina de Ouro Fervente… acidente de mineração…’

    Talvez influenciada pelos acontecimentos recentes, Agatha instintivamente notou essas palavras. Em seguida, ela se recompôs e se aproximou da mulher que ainda murmurava incessantemente.

    “Senhora, sou a Guardiã do Portão da cidade-estado. Você está segura agora”, disse Agatha com voz firme, usando sutilmente um poder para acalmar o espírito. “Diga-me, o que aconteceu exatamente?”

    A mulher de cabelos compridos no sofá parou de tremer ao ouvir a voz e, depois de resmungar algo ininteligível, ergueu a cabeça de repente.

    Um par de olhos ainda marcados pelo medo e pela loucura encarou Agatha fixamente.

    “Ele voltou, ele voltou… Eu o matei, eu matei aquele monstro… no banheiro! Ele derreteu no banheiro!”

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