Capítulo 371: Uma Aura Anormal

Ao chegar à rua, o vento frio que soprava pelo espaço entre os edifícios atingiu seu rosto, despertando Agatha completamente.

No entanto, em sua mente, ainda permanecia a série de perguntas que quase abalou seus três pilares e remodelou sua cognição:

“Vocês em Geada não dão recompensas para cidadãos entusiasmados que denunciam pistas sobre cultos malignos?

“Você nunca usou uma conta bancária? O pessoal da sua igreja normalmente não tem contato com a vida das pessoas comuns?

“Você não percebeu que aquilo era um número de conta bancária?”

Agatha nunca em sua vida imaginou que sua maior perda de compostura ao lidar com uma existência transcendente seria em uma situação como esta.

E ela estava bastante convencida de que a reação do Bispo Ivan da Grande Catedral e do bando de criptógrafos e adivinhos que ainda estavam reunidos na igreja, quebrando a cabeça para decifrar o “número secreto”, não seria muito diferente da sua.

Passos soaram ao lado. Os poucos subordinados que estavam esperando em um abrigo próximo saíram. Um dos guardas de preto notou o transe no olhar de Agatha e ficou um pouco preocupado: “A senhora está bem? Naquela casa…”

Agatha ergueu a mão, interrompendo as palavras do subordinado. Ela olhou para trás, depois, segurando sua bengala, caminhou lentamente em direção ao carro a vapor não muito longe, enquanto falava lentamente: “Não perturbem os moradores desta casa. Notifiquem a igreja deste distrito e façam com que os guardas se afastem daqui. A Catedral da Serenidade assumirá diretamente a comunicação com este local.”

“Sim, Guardiã do Portão”, o guarda de preto baixou a cabeça imediatamente em obediência, mas logo em seguida não pôde deixar de perguntar. “A senhora… precisa descansar um pouco?”

Agatha parou por um momento, suspirando: “Aih… se eu pudesse, procuraria a igreja mais próxima para aconselhamento psicológico, ou consultaria um psiquiatra de renome…”

O subordinado ficou atônito: “Hã?”

“Não se preocupe, eu não preciso descansar”, Agatha acenou com a mão. “Vamos voltar para a Grande Catedral. Precisamos começar o mais rápido possível a busca no subsolo da cidade-estado.”

“O pessoal da igreja foi embora”, disse Morris, parado em frente à janela, observando o movimento na rua lá fora. Depois de ver o carro a vapor cinza-azulado sair do cruzamento, ele se virou para Duncan. “Pensei que eles deixariam pelo menos alguns ‘olhos’.”

“A posição da Guardiã do Portão na Igreja da Morte é equivalente à de um Inquisidor na Igreja do Mar Profundo. Ela deve cumprir sua promessa. Já que disse que não iria perturbar, naturalmente não fará nenhum movimento secreto”, disse Vanna ao lado. “Além do mais, ela sabe que esses ‘movimentos secretos’ não têm sentido.”

Duncan ergueu os olhos e olhou para Vanna: “Pensei que você conversaria um pouco mais com aquela Guardiã do Portão. Vocês são, de certa forma, colegas de profissão.”

“…Realmente não consegui pensar em nada para conversar”, Vanna balançou a cabeça. “Minha identidade é um pouco embaraçosa. Seja como Inquisidora do Mar Profundo ou como membro do Banido, estabelecer comunicação com a Igreja de Geada neste momento só traria problemas.”

Duncan resmungou um “uhum” e não disse mais nada. Foi Nina, ao lado, que de repente quebrou o silêncio com curiosidade: “Aquela ‘Guardiã do Portão’ parecia um pouco animada antes de sair, como se tivesse algum plano… Que plano de busca é esse que ela mencionou? Tio, o senhor tem alguma ideia?”

O olhar de Vanna e Morris pousou em uníssono em Duncan, que, após uma breve ponderação, assentiu levemente.

Embora tenha ficado um pouco confuso no início, agora ele já entendia o que estava acontecendo. A reação de Agatha indicava uma coisa: após a busca infrutífera nas principais áreas da cidade-estado, a atenção da Igreja de Geada parecia ter se voltado para o escuro mundo subterrâneo.

A Segunda Via Fluvial.

No passado, devido aos altos custos e às dificuldades práticas de execução, as autoridades de Geada haviam deixado a Segunda Via Fluvial, um legado da era da Rainha, em hibernação silenciosa nas profundezas da cidade-estado, no máximo realizando alguns trabalhos simbólicos de purificação e bloqueio na zona superior que se conectava à via fluvial. Mas agora parecia… que eles finalmente não podiam mais se preocupar com os custos.

Duncan ergueu a cabeça e disse a Vanna: “À tarde, vá novamente à taverna de Nemo e o avise que a igreja pode iniciar uma operação na Segunda Via Fluvial em breve. Diga a ele e a seus ‘colegas’ para ficarem atentos.”

A Segunda Via Fluvial era vasta, e o que Nemo e seus “colegas” controlavam era, na verdade, apenas uma pequena parte de todo o sistema de esgoto. Esta pequena parte era muito bem escondida e havia sido deliberadamente ocultada e bloqueada. Em teoria, não deveria ser notada pelas autoridades e pela igreja, mas ninguém sabia o quão determinada a igreja estava desta vez, então era melhor avisar.

“Além disso, o assunto da Ilha Adaga também é muito preocupante”, após pensar um pouco, Duncan continuou. “O processo de desaparecimento daquela ilha foi claramente anormal. Temo que haverá mais reviravoltas. Morris, fique atento às várias notícias na cidade recentemente, especialmente nos bairros perto do porto leste, para ver se há algum boato incomum.”

Morris assentiu: “Entendido.”

“Depois também preciso avisar o Tyrian, para que ele fique de olho nas mudanças naquela área do mar…”

Duncan coçou o queixo, falando para si mesmo, pensativo, e ao mesmo tempo refletindo se havia esquecido algo. E, nesse momento, ele viu Shirley se aproximar sorrateiramente.

Na ponta dos pés, parecendo furtiva.

“O que foi?”, Duncan perguntou casualmente ao vê-la.

“Não sou eu, é o Cão”, Shirley acenou rapidamente com a mão e depois ergueu o braço. Correntes escuras emergiram do ar, e Cão, que havia se escondido apressadamente por causa da aparição da Guardiã do Portão, apareceu diante de Duncan. “Cão disse que tem algo a relatar ao senhor…”

“Algo?”, Duncan franziu a testa, olhando para o Cão de Caça Abissal de cabeça baixa. “O que foi?”

Cão balançou sua grande e feia cabeça, depois olhou cautelosamente para a porta e finalmente falou: “Não sei se senti errado, mas aquela ‘Guardiã do Portão’ chamada Agatha… eu senti que ela tinha uma aura familiar…”

O ambiente ficou instantaneamente um pouco silencioso, e o olhar de Duncan tornou-se imediatamente sério: “Aura familiar? Do que você está falando? Um demônio das Profundezas?”

“Não, não um demônio das Profundezas”, Cão balançou a cabeça rapidamente. “Também não sei explicar. O senhor sabe, minhas memórias antes de receber um ‘coração’ são um pouco vagas, mas aquela aura… me fez lembrar um pouco do Senhor das Profundezas. Hmm, a atmosfera que eu sentia quando estava perto do Senhor das Profundezas.”

Assim que Cão disse isso, todos se entreolharam, e Duncan imediatamente falou com uma expressão séria: “Por que você não disse isso antes?”

“Eu não me atrevi a aparecer agora há pouco!”, Cão encolheu o pescoço. “Afinal, ela é uma Guardiã do Portão. Claro, ela definitivamente não é sua oponente, mas agora Geada está caçando Aniquiladores e demônios das Profundezas por toda a cidade. Tive medo de não conseguir me explicar se aparecesse, e no final acabaria atrapalhando seus assuntos…”

A explicação de Cão tinha alguma lógica, e Duncan não insistiu no assunto. Mas o que ele relatou obviamente estava além das expectativas de todos.

‘A Guardiã do Portão de Geada, Agatha… como ela poderia ter a aura do Senhor das Profundezas?!’

“Será que… aquela Guardiã do Portão já caiu? Ou já foi contaminada?”, a expressão de Morris era grave. “Mas o comportamento dela foi completamente normal, não havia nada de errado em suas palavras ou ações…”

“Talvez ela mesma não saiba?”, Shirley interveio cautelosamente ao lado. “Não dizem que a contaminação cognitiva é a mais difícil de detectar, especialmente pela própria pessoa?”

Duncan não falou, apenas ergueu a cabeça e olhou para Vanna.

“Não parece que já caiu ou sofreu contaminação, e obviamente não é nenhuma ‘cópia'”, Vanna franziu a testa, enquanto relembrava cuidadosamente todos os detalhes sobre Agatha e falava lentamente. “E eu não senti nenhuma aura anormal nela. Cão, você tem certeza de que seu sentimento está correto?”

“Eu disse agora há pouco, também não tenho certeza se senti errado”, disse Cão, com um tom excepcionalmente inseguro. “Só havia uma aura muito, muito fraca, que me fez pensar no Mar Profundo… Talvez nem tenha sido ela que a emitiu. A propósito, ela não disse que capturou alguns Aniquiladores recentemente? Embora não fossem personagens importantes, lidar com eles todos os dias, é normal que ela tenha se contaminado com um pouco da aura do Mar Profundo, certo?”

Duncan, no entanto, ainda estava com a testa franzida.

A explicação de Cão parecia ter alguma lógica, mas ele sentia que as coisas não deveriam ser tão simples. Uma clériga profissional, a “Guardiã do Portão” de uma cidade-estado, se esqueceria de realizar uma autopurificação após interrogar cultistas? Deixaria-se andar por aí contaminada com a aura de cultistas?

Vanna deu um passo à frente: “Devemos chamar aquela ‘Guardiã do Portão’ de volta para perguntar sobre a situação? Ou devemos ir procurá-la?”

“Nenhum dos dois. Se ela realmente corre o risco de cair, ou se estabeleceu uma conexão com as forças das Profundezas, qualquer contato direto pode alertá-la”, Duncan balançou a cabeça e, ao mesmo tempo, olhou na direção para onde Agatha havia partido. “Vou monitorar este assunto secretamente. Vocês não entrem em contato com ela.”

‘Monitorar secretamente?’

Vanna ficou atônita por um momento e, quando estava prestes a perguntar como Duncan pretendia “monitorar secretamente”, ela pareceu se lembrar de algo. Certas memórias surgiram em sua mente, e ela entendeu imediatamente.

“O senhor… já deixou uma marca nela?”

“Ela já me viu.”

Duncan assentiu levemente e, em sua outra visão, a uma certa distância dali, um pequeno tufo de chama verde tremeluzia suavemente.

Era exatamente a direção para onde Agatha havia partido.