Capítulo 375: O Reflexo

Aidi embarcou no pequeno barco que ia para o Névoa do Mar. Aqueles marinheiros mortos-vivos de aparência assustadora o observavam de cima a baixo como se estivessem admirando um animal raro.

Isso deixou o senhor secretário confidencial desconfortável, até mesmo um pouco arrepiado.

“Realmente não esperava que você pedisse para vir sozinho”, o marinheiro de corpo inchado falou, com um tom de admiração. “Nosso capitão disse que permitia que três pessoas embarcassem.”

“Três pessoas ou uma pessoa não faz diferença”, Aidi balançou a cabeça. “Se o General Tyrian me permitisse trazer toda a minha equipe, eu certamente traria todos os meus conselheiros e assistentes, mas ele só permitiu três pessoas… então não é diferente de eu ir sozinho.”

“Você poderia ter trazido dois soldados para te dar coragem”, um marinheiro morto-vivo ao lado riu alto, e um som sibilante saiu de sua garganta esburacada.

“Eu não preciso de coragem, e os soldados não ajudariam”, Aidi balançou a cabeça, dizendo com toda a seriedade.

Sua atitude deixou os marinheiros mortos-vivos bastante desinteressados, e alguém no pequeno barco resmungou: “…Funcionário pretensioso.”

Um momento depois, Tyrian viu o emissário da cidade-estado — um homem de trinta e poucos ou quarenta anos, de terno, com óculos de aro dourado, cabelo penteado impecavelmente, que parecia ter saído de seu escritório onde tomava chá um segundo antes.

Com uma aparência elegante e polida, e vindo sozinho.

Isso deixou o grande pirata, que estava preparado, bastante surpreso, e até sentiu uma sensação estranha de ter se preparado para nada. Ele pensou que o primeiro a embarcar no Névoa do Mar seria pelo menos um militar.

Mas logo, ele adivinhou aproximadamente a intenção por trás do arranjo das autoridades de Geada:

A relação entre a Frota do Névoa do Mar e a cidade-estado já era tensa o suficiente. Os dois lados se enfrentavam em um barril de pólvora há cinquenta anos. Neste momento sensível, enviar mais alguns oficiais militares para negociar não faria sentido. Enviar um funcionário público, pelo menos, mostraria um pingo de amizade.

Este senhor funcionário estava obviamente um pouco nervoso.

No convés do Névoa do Mar, Tyrian observava de cima a baixo o “emissário da cidade-estado” à sua frente. Ele podia distinguir claramente o olhar forçadamente calmo do outro e o ritmo desordenado de sua respiração. A compostura deste senhor já era muito boa, mas infelizmente, essa compostura podia enganar pessoas comuns, mas não um capitão que comandava uma legião de mortos-vivos.

Tyrian podia até ouvir claramente cada batida do coração do senhor emissário.

Aidi também observava o grande pirata à sua frente — observando este homem que outrora defendeu a cidade-estado, mas que agora se tornou a fonte de lendas aterrorizantes nos corações de quase todos em Geada.

Alto, forte, silencioso, majestoso. Seu único olho carregava um ar de escrutínio e superioridade, e cada olhar era como um julgamento.

Diante deste grande pirata, até mesmo respirar parecia se tornar um esforço.

“General Tyrian”, Aidi respirou fundo duas vezes, tentando se endireitar, e enfrentou o olhar examinador do grande pirata. “Em nome da cidade-estado de Geada, apresento meus cumprimentos. É um grande prazer embarcar neste lendário navio de guerra.”

“Meio século”, Tyrian encarou calmamente o homem um palmo mais baixo que ele. “Geada finalmente criou coragem para falar comigo?”

Aidi não se importou com o tom provocador das palavras do outro e apenas continuou: “Eu vim com uma missão. O conflito entre Geada e a Frota do Névoa do Mar de fato existe, mas não é disso que vamos falar hoje. O senhor deve saber dos problemas que a cidade-estado está enfrentando. Queremos apenas saber a intenção da Frota do Névoa do Mar. General Tyrian, o que o senhor quer, e o que pretende fazer?”

“General… guarde esse título. Ele não me agrada”, Tyrian olhou para Aidi com indiferença e caminhou lentamente em direção à amurada não muito longe. “Quanto ao que eu vou fazer… não é óbvio o suficiente? Estou bloqueando esta cidade-estado que está prestes a cair, para evitar que seus problemas se espalhem e prejudiquem meus ‘parceiros comerciais’ no Mar Gélido.”

“Parceiros comerciais?”

“Acho que este termo não tem problema. Eles pagam um preço, e a Frota do Névoa do Mar protege sua segurança no Mar Gélido”, Tyrian se virou. “Você não acha que é uma relação comercial muito boa?”

O canto da boca de Aidi tremeu ligeiramente, mas ele rapidamente disfarçou a mudança. Ele olhou para os marinheiros mortos-vivos ao redor e só então caminhou lentamente até o lado de Tyrian: “O senhor quer dizer… que só quer ajudar Geada a controlar esta crise?”

“Uma interpretação um tanto presunçosa, mas não há problema se vocês quiserem pensar assim”, disse Tyrian casualmente. “Eu não preciso que vocês façam nada, contanto que não me atrapalhem.”

Aidi ficou em silêncio por dois segundos e finalmente falou com cautela: “…Posso saber por que o senhor decidiu ajudar?”

Tyrian apoiou as mãos na amurada do navio, sem se virar: “O motivo é importante?”

“Eu preciso de um motivo. Isso pode tranquilizar meus superiores e colegas.”

“Ah, senhor Aidi, então você realmente precisa de um motivo que possa tranquilizar as pessoas”, Tyrian riu. Ele se virou e encarou os olhos de Aidi. “Então eu lhe direi o motivo: ordens do meu pai, apenas isso.”

Aidi ficou atônito.

Um momento depois, sua expressão tornou-se visivelmente aterrorizada.

“Parece que você entendeu. Sim, ordens do meu pai. Pode considerar que vieram do subespaço. Ele me mandou enviar tropas para cercar sua pobre e pequena cidade-estado. Então, volte e diga aos seus superiores que a Frota do Névoa do Mar está executando a vontade do subespaço”, o tom de Tyrian era bastante alegre. “E então eles poderão ter um sono de bebê.”

A expressão alegre no rosto do grande pirata era muito óbvia. Aidi finalmente reagiu — ou pensou que havia reagido. Ele soltou um suspiro de alívio e enxugou o suor fino da testa com a mão: “Essa sua piada não tem a menor graça, General Ty… Capitão. Eu entendi o que o senhor quer dizer. Já que não quer dar mais explicações, posso não perguntar.”

Tyrian encarou o “embaixador de Geada” à sua frente e, após um momento, estalou a língua.

Hoje em dia, ninguém acredita quando se diz a verdade.

Mas seu humor ainda estava excelente.

Ver este oficial de alto escalão de Geada, todo sério, ficar chocado na sua frente era, afinal, uma coisa agradável.

“Pode se retirar, senhor Aidi”, ele disse com bastante polidez. “Não preparamos jantar para o senhor a bordo.”

Aidi ficou visivelmente surpreso: “Ah? Espere, eu ainda…”

“Você ainda tem muito a perguntar. Por exemplo, os planos futuros da Frota do Névoa do Mar, o assunto da Ilha Adaga, a Rainha daquela época e o Projeto Abismo. Mas, infelizmente, eu não tenho muito a dizer a Geada”, Tyrian disse com uma expressão calma. “Você já alcançou seu objetivo, completou sua missão. Volte e diga aos seus superiores que, se houver mais alguma coisa, podem entrar em contato diretamente por telégrafo sem fio. Não precisa mais enviar pessoas. Qualquer frequência aberta, nós receberemos.”

Aidi ficou atônito e reagiu imediatamente, com um traço de alegria no rosto: “Ah, certo, Capitão Tyrian, muito obrigado pela sua compreensão…”

Ele parou no meio da frase, como se de repente se lembrasse de algo, e falou apressadamente: “Ah, espere, mais uma pergunta, a última pergunta!”

Tyrian ergueu as sobrancelhas: “Oh?”

“Sobre… os misteriosos sinais de luz que o senhor enviou para nossos barcos de reconhecimento antes”, a expressão de Aidi era um pouco embaraçada, e ele falou enquanto escolhia as palavras. “Nós tentamos decifrar por um longo tempo quando voltamos…”

Tyrian encarou o senhor emissário à sua frente em silêncio, até que a expressão do outro se tornou cada vez mais estranha sob seu olhar. Só então ele sorriu de repente.

“Os marinheiros foram negligentes na manutenção, e o sinalizador estava com defeito, apenas isso.”

Aidi: “…?”

Tyrian finalmente riu alto e alegremente.

A expressão no rosto de Aidi mudou várias vezes. Sua mão passou pelos botões de seu terno, mas gradualmente, ele também começou a rir, acompanhando Tyrian em uma gargalhada.

Tyrian, no entanto, parou de rir de repente.

Ele estendeu a mão e deu um tapinha forte no ombro do “emissário de Geada” à sua frente.

“Eles enviaram uma pessoa muito boa, senhor Aidi. Eu quase quis convidá-lo para jantar a bordo.”

“Mas preciso retornar ao meu navio a tempo”, Aidi também parou de rir e balançou a cabeça lentamente. “Muitas pessoas estão com os nervos à flor da pele. Não podemos continuar a gastar nossa energia em vigilância e suspeitas mútuas.”

Tyrian não disse nada, apenas assentiu levemente e estendeu a mão para o lado, em um gesto de despedida.

Aidi também assentiu levemente, ajeitou seu terno e gravata e preparou-se para ir em direção à escada do outro lado do convés.

Mas, nesse momento, o canto de seus olhos pareceu ver algo, e seus passos pararam de repente.

O emissário de Geada aproximou-se da amurada, surpreso, olhando para o mar abaixo: “…Capitão Tyrian, o que é aquilo?”

“Hã?”, Tyrian franziu a testa e também olhou confuso na direção que Aidi apontava.

Ele viu aquilo — era uma sombra.

Sob a superfície do mar, a uma profundidade indeterminada, uma sombra turva e indistinta passava pela vasta área entre o Névoa do Mar e vários navios de escolta, movendo-se rapidamente para longe.

A sombra era etérea e transparente, como o reflexo de um navio na água, mas não se via nenhuma estrutura do navio. Tyrian encarou a coisa por um bom tempo, mas sentiu apenas que parecia… o fundo de um navio.

Como se um navio invertido estivesse navegando sob a superfície da água.

Tyrian ergueu a cabeça, olhando na direção para onde a sombra navegava.

Era a direção onde a Ilha Adaga costumava estar.