Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 376: Entrincheirados
O som de máquinas em funcionamento ecoava pela instalação industrial. Fluxos de água rugiam dentro dos canos gigantes, e um cheiro forte de produtos químicos pairava no ar, causando náuseas.
Agatha estava ao lado de um parapeito de proteção, esticando a cabeça para olhar o tanque de amortecimento abaixo. Viu o líquido turvo agitar-se e borbulhar naquele enorme reservatório, ocasionalmente emitindo bolhas e um brilho de cor estranha, tão nojento quanto o ácido estomacal de uma fera gigante.
Um administrador de casaco marrom-claro e cabelo um tanto ralo estava atrás da jovem Guardiã do Portão, com uma expressão nervosa no rosto, uma mão inconscientemente puxando um botão em seu peito.
“O esgoto do distrito norte da Rua do Carvalho e dos arredores do Cemitério Nº 4 converge todo para cá”, o administrador observava a expressão da Guardiã do Portão enquanto relatava cuidadosamente. “Após receber a ordem, nós imediatamente cortamos as conexões dos canos ao redor e verificamos os dispositivos de alarme de cada tanque de amortecimento, não encontramos nenhum sinal de contaminação profana…”
Agatha ouvia em silêncio e, após um momento, perguntou de repente: “Como o esgoto é geralmente tratado?”
“Como é tratado?”, o administrador ficou surpreso por um momento e respondeu apressadamente. “Primeiro, com vapor de alta pressão, para purificar qualquer possível contaminação profana. A senhora sabe, aquele esgoto esteve em contato com humanos e fluiu por canos escuros, é inevitável que se torne um portador de certas coisas. Após a purificação a vapor, vem a decantação e a filtragem. O que a senhora vê é o tanque de decantação. Depois, há uma segunda purificação a vapor. Após esta purificação, parte da água é enviada para as fábricas para reciclagem, e a outra parte… é despejada no mar.”
Agatha assentiu levemente e perguntou em seguida: “Quanto tempo leva para o esgoto despejado do distrito norte da Rua do Carvalho chegar até aqui?”
“Isso depende da situação específica, mas geralmente não mais de duas horas”, respondeu o administrador.
“Quanto tempo a água fica retida aqui?”
“A água nos tanques de decantação é trocada a cada setenta e duas horas”, o administrador ergueu a mão, ficando cada vez mais nervoso com as perguntas sucessivas da Guardiã do Portão. Ele enxugou o suor frio da testa, mas ainda respondeu com precisão. “Os procedimentos de purificação e inspeção têm regulamentos rígidos, não podem ser mais curtos que isso.”
Agatha assentiu levemente, enquanto calculava rapidamente em sua mente a relação entre o horário do “incidente da cópia” naquela residência e o tempo de tratamento do esgoto. Ela disse, pensativa: “Isso quer dizer que, se aquela coisa realmente conseguiu escapar pelo sistema de esgoto, ela ainda deve estar aqui…”
“Senhora Guardiã do Portão”, o administrador enxugou novamente a testa brilhante e finalmente não pôde deixar de perguntar com curiosidade. “O que… aconteceu exatamente? Será que há contaminação se espalhando pelo sistema de esgoto?”
“…Não descarto essa possibilidade”, Agatha olhou para o administrador, e depois seu olhar se voltou para os guardas de preto que estavam coletando amostras e inspecionando as instalações não muito longe. “Mas, de acordo com nossas inspeções até agora, tudo aqui está normal.”
“Sim”, o administrador deu um sorriso um tanto forçado. “Cada etapa aqui tem dispositivos de alarme, especificamente para detectar possível contaminação profana. O centro de tratamento também tem três padres residentes, e eles também testam amostras de água todos os dias…”
“Padres residentes?”, Agatha pareceu ter pensado em algo de repente e se virou. “Você disse agora que há quantos padres residentes aqui?”
“Três… três”, talvez o tom de Agatha tenha se tornado um pouco assustador, e o administrador gaguejou inconscientemente. “Há algum problema?”
“Aqui só pode haver dois padres. O número de padres residentes em instalações municipais de todos os níveis tem regulamentos rígidos. De onde veio o terceiro?”
A expressão do administrador congelou instantaneamente. Em seguida, uma camada de suor fino e visível apareceu em sua testa, e o pânico e o medo surgiram em seus olhos.
Agatha, ao ver isso, imediatamente ergueu sua bengala e a apoiou no ombro dele, suprimindo à força o “medo” de sua consciência, enquanto dizia com uma expressão séria: “Ouça, agora você deve manter a calma. Vá trazer todos os padres residentes aqui. Diga que a Guardiã do Portão precisa saber de mais informações. Não demonstre nenhuma outra emoção, entendeu?”
O estado de espírito do administrador se acalmou consideravelmente, mas um pouco de nervosismo ainda permanecia. Ele assentiu apressadamente: “Sim, en… entendi… vou agora mesmo.”
Agatha assentiu e guardou a bengala. Mas, quando ele estava prestes a sair, ela se lembrou de algo e falou apressadamente: “Espere, não apenas os padres residentes. Chame todos aqui.”
O administrador se virou, surpreso: “Todos?”
“Todos”, Agatha repetiu com voz grave, e depois perguntou, preocupada. “Alguém deixou este centro de tratamento desde ontem?”
“Não!”, o administrador respondeu imediatamente. “Quando recebemos a ordem, faltavam exatamente quinze minutos para a troca de turno. Todos que trabalham aqui permaneceram.”
“Ótimo, traga todos eles. Diga que é uma inspeção necessária. Aja de forma relaxada, não levante suspeitas. Vá.”
O administrador um tanto calvo se virou e foi embora rapidamente, acalmando suas emoções enquanto caminhava. Agatha permaneceu imóvel ao lado do tanque de amortecimento, observando a figura dele desaparecer atrás de uma porta não muito longe. Só então ela ergueu a mão e fez um sinal para os guardas ao redor, que já haviam notado o movimento.
Os guardas de preto próximos começaram a agir imediatamente, montando runas ocultas no espaço aberto ao redor do tanque de amortecimento, espalhando óleos essenciais e pó de incenso moído nos cruzamentos e entre os canos, e posicionando-se em locais específicos, fingindo que ainda estavam inspecionando as instalações.
Enquanto os guardas agiam, Agatha ergueu sua bengala e desenhou lentamente um contorno triangular com cerca de dois metros de lado na área onde estava. Em seguida, ela se posicionou no centro do triângulo, apoiou as duas mãos na bengala e esperou calmamente.
Não muito tempo depois, o som de passos veio da direção do portão principal. O administrador voltou para a área do tanque de amortecimento, com um grande grupo de pessoas atrás dele.
Entre eles, destacavam-se três clérigos vestindo as túnicas da Igreja da Morte e usando o emblema sagrado.
Uma dúzia de funcionários do centro de tratamento, liderados pelo administrador, aproximou-se de Agatha, formando uma fila frouxa, e cumprimentaram nervosamente a “Guardiã do Portão” à sua frente. Os três padres residentes vieram do lado da fila e saudaram Agatha de acordo com a etiqueta e o status internos do clero da Igreja da Morte.
Agatha ordenou que os três padres se espalhassem e, em seguida, seu olhar varreu lentamente todos os rostos.
Ela percebeu a dissonância.
Embora visualmente não visse nenhuma expressão ou movimento suspeito, e embora sensorialmente não sentisse nenhuma aura estranha, a bênção de Bartok já a havia feito confirmar a existência da dissonância — escondida na respiração daquelas pessoas, escondida em seus batimentos cardíacos, e até mesmo escondida nas sombras que projetavam no chão.
Agatha piscou, confirmando novamente que tudo o que via estava normal. Então, seu coração entendeu.
‘Realmente existe interferência cognitiva. E mesmo com a minha presença, a “Guardiã do Portão”, essa interferência cognitiva ainda existe.
‘É apenas por serem muito ousados? Ou por não conhecerem o poder de uma Guardiã do Portão? Ou… essa interferência cognitiva não é controlada?’
Agatha virou a cabeça lentamente, seu olhar pousando nos três padres.
Deixando de lado a dúzia de funcionários, um desses três padres certamente era falso — mas qual deles?
“Recitem o nome de Bartok”, disse Agatha lentamente. “Que o Senhor da Morte nos observe, para que possamos discernir a falsidade no mundo mortal.”
“Em nome do Senhor da Morte, Bartok”, um padre falou imediatamente. “Que Ele nos observe…”
Em seguida, o segundo e o terceiro padre também falaram imediatamente: “Em nome do Senhor da Morte, Bartok…”
As três vozes soaram sucessivamente, como um eco.
Agatha franziu a testa.
‘Serem capazes de recitar o nome de um deus significa que eles não são “cópias” feitas de lama, muito menos cultistas que acreditam em heresias. Caso contrário, o intenso conflito de fé seria suficiente para rasgar sua sanidade.’
Mas como isso era possível? Os três padres eram verdadeiros?
Os pensamentos de Agatha giraram instantaneamente, mas sua expressão permaneceu calma. Ela assentiu para os três: “A seguir, preciso fazer alguns testes necessários. Por favor, compreendam.”
Dizendo isso, ela estendeu a mão para o olho esquerdo — um globo ocular vivo saltou imediatamente da órbita e caiu precisamente em sua mão.
Agatha ergueu o globo ocular e “olhou” para os três padres à sua frente.
A figura do primeiro padre apareceu em sua visão — um velho magro, vestindo uma túnica de linho. Correntes pretas como tinta se estendiam de debaixo de suas costelas, e o Cão de Caça Abissal no final da corrente erguia a cabeça em sua direção, sua boca acumulando e formando rapidamente uma energia profana e suja!
‘Herege!
‘Como ousa ficar aqui de forma tão descarada!’
A expressão de Agatha mudou ligeiramente, mas ela já estava preparada. No instante em que o Cão de Caça Abissal abriu sua enorme boca, sua figura já havia se esquivado para o lado. Ao mesmo tempo, a bengala em sua mão direita já estava erguida, com uma chama pálida queimando intensamente na ponta.
No entanto, assim que ela estava prestes a incendiar o herege, o som de outro feitiço baixo e obscuro veio de repente do lado.
O globo ocular na mão esquerda de Agatha girou abruptamente. No segundo seguinte, ela viu um jovem de cabelos amarelados e nariz aquilino erguer as mãos em sua direção. Atrás dele, flutuava uma água-viva cinza-escura, como se condensada de névoa.
Era o segundo “padre”.
Uma sensação de tontura invadiu sua mente. Assim que Agatha ia se firmar, ouviu o som de um terceiro feitiço.
Uma mulher de rosto pálido, na beira de sua visão, ergueu a mão em sua direção. Ao lado da mulher, rastejava um gato feito de ossos e névoa.
Era o terceiro padre.
Todos os padres eram falsos.
Gritos e sons de batalha vieram de todas as direções.
No instante em que os três Aniquiladores atacaram, os guardas ao redor reagiram e tentaram ajudar, mas também encontraram seus próprios inimigos.
A dúzia de “funcionários” trazidos pelo administrador e os guardas de preto próximos entraram em um combate feroz.
No canto do olho de Agatha, ela podia ver que, quando os “funcionários” eram atingidos, seus corpos se rompiam, liberando uma imundície viscosa semelhante a lama.
Apenas o administrador de cabelo ralo correu loucamente para um cano próximo, soltando um grito de desamparo e pânico.
Todo o centro de tratamento de esgoto… tinha apenas um “humano”.
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