Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Agatha caminhava pelas ruas desertas. As paisagens familiares da cidade-estado agora pareciam repletas de uma atmosfera silenciosa e bizarra. Entre as sombras dos edifícios, atrás das portas e janelas fechadas, pareciam se esconder pares de olhos curiosos.

    Ela procurava a saída deste “Domínio Anômalo”, ou o culpado que a aprisionou ali.

    Cada lugar que parecia dissonante poderia ser uma fenda que se entrelaçava com o mundo real, mas até agora ela não encontrara tal fenda nesta bizarra “cidade-estado de Geada”.

    Apenas de uma coisa ela tinha certeza: ela havia tocado na sombra que sempre pairou sobre a cidade-estado. Seja por acaso ou por uma ação deliberada do cérebro por trás de tudo, ela havia conseguido cruzar a “barreira” que sempre obstruiu sua visão.

    Este lugar, semelhante, mas diferente de Geada, certamente era a origem das situações bizarras que ocorriam com frequência na cidade-estado ultimamente.

    O som de rodas de carroça rolando sobre as lajes de pedra veio de longe. O som vago de sinos de carroça e portas se abrindo e fechando chegou aos seus ouvidos.

    Agatha ergueu a cabeça na direção do som, mas só conseguiu ver ruas vazias. No entanto, mais longe, ela realmente podia ver algumas sombras, como de carroças, passando rapidamente por um cruzamento, e silhuetas, como de pedestres, atravessando apressadamente aqueles cruzamentos.

    Havia “pessoas” nesta cidade, mas na maioria das vezes só se viam algumas silhuetas distantes. Podia-se ouvir as vozes dos residentes, mas muitas vezes era impossível localizar a fonte do som com precisão.

    Como um sonho bizarro, caótico e distorcido.

    A figura de Agatha cruzou mais um cruzamento e depois parou entre as sombras dos edifícios.

    A exploração cega era apenas um desperdício de energia e tempo. Ela precisava avaliar cuidadosamente a situação ao seu redor.

    Ela fechou os olhos, permitindo que sua percepção se espalhasse, distinguindo cuidadosamente as várias informações do ambiente — sons, cheiros, a direção do vento e… o calor de pessoas vivas.

    Após um momento, Agatha ergueu a cabeça e olhou em uma determinada direção, começando a andar para lá. Seus olhos ainda estavam fechados, mas ela parecia ver claramente ao redor, desviando com precisão de todos os obstáculos no caminho. Ela atravessou becos, passou por cruzamentos e pequenas ruas. Depois de caminhar por um tempo desconhecido, ela parou em frente a um edifício na esquina de uma rua.

    Agatha abriu os olhos e viu um pequeno restaurante à sua frente. O restaurante estava bem iluminado, e de dentro vinham vozes animadas.

    As vozes eram muito reais, e delas emanava a aura de pessoas vivas.

    Agatha se recompôs e empurrou a porta do restaurante.

    Um sino nítido tocou, a porta se abriu, e a cena dentro do restaurante a atingiu, refletida nos olhos de Agatha. Naquele instante, ela ficou um pouco confusa, até mesmo duvidando se já havia deixado o bizarro “Domínio Anômalo” e retornado ao mundo real normal.

    O restaurante estava bem iluminado, com clientes jantando por toda parte e garçons correndo entre as mesas e o balcão. O recepcionista estava ocupado atrás do balcão. Aos seus ouvidos, chegava o som nítido de talheres e pratos se chocando, e as conversas das pessoas sobre o tempo, o trabalho e os preços. A atmosfera silenciosa e fria acumulada nas ruas lá fora parecia ter sido varrida por esta animada “paisagem mundana”.

    No entanto, no segundo seguinte, Agatha descobriu a óbvia dissonância aqui. Embora os clientes estivessem jantando em suas mesas, seus pratos e copos estavam vazios. Embora o recepcionista estivesse ocupado atrás do balcão, ele apenas andava de um lado para o outro no mesmo lugar, limpando repetidamente o mesmo copo em sua mão.

    Todos pareciam marionetes programadas, apenas repetindo as ações da vida normal, mas… eles imitavam com perfeição.

    Agatha franziu a testa. Após perceber a verdade, a atmosfera aqui tornou-se ainda mais bizarra do que as ruas vazias lá fora. Mas ela não se virou para ir embora; em vez disso, deu um passo para dentro da loja.

    Quanto mais bizarro o lugar, mais isso significava que ela estava na direção certa.

    Com o primeiro passo de Agatha, as conversas animadas no restaurante pararam de repente.

    Todos os clientes que conversavam calaram-se ao mesmo tempo, mas seus rostos ainda mantinham as várias expressões da conversa de antes, e suas mãos ainda mantinham os movimentos de comer. No vasto espaço, após o desaparecimento das vozes humanas, restava apenas o som monótono de pratos e talheres se chocando.

    Agatha deu o segundo passo, e o som de pratos e talheres se chocando também desapareceu. Todos no restaurante pararam seus movimentos, como se tivessem sido subitamente desligados, congelados em suas mesas quadradas.

    Agatha deu o terceiro passo, e todos no restaurante largaram seus talheres. Eles se levantaram como zumbis, viraram a cabeça com expressões impassíveis, e dezenas de olhares vazios pousaram sobre ela.

    Agatha olhou para o balcão à sua frente. O recepcionista que estava limpando o mesmo copo finalmente parou também. Mas, ao contrário dos “clientes” vazios e rígidos como zumbis ao redor, este recepcionista ergueu a cabeça lentamente e, ao olhar para Agatha, tinha um leve sorriso no rosto.

    O sorriso era até um pouco amigável.

    “Olá, senhorita Guardiã do Portão”, o recepcionista falou. Era um jovem de cabelos loiros curtos e aparência razoavelmente boa, vestindo uma camisa branca limpa e uma jaqueta preta. Falava com cortesia, como se estivesse realmente recebendo um cliente. “É um prazer tê-la como nossa convidada. O que a senhora acha desta cidade encantadora?”

    “Parece que você é o culpado por trás de tudo isso”, Agatha encarou calmamente o “recepcionista” loiro à sua frente. “Foi um pouco mais fácil encontrá-lo do que eu pensava.”

    “Talvez não tão fácil quanto a senhora imagina”, o jovem loiro sorriu. “Gostaria de algo? Água suja envenenada? Ou pão feito de terra? Ou… uma tigela vazia? Temos de sobra por aqui.”

    Agatha não deu a menor intenção de responder, apenas ergueu sua bengala e a agitou no ar.

    O jovem loiro atrás do balcão foi instantaneamente envolvido por camadas de chamas pálidas que surgiram do nada. Aquela pele foi queimada até virar cinzas em poucas respirações pelo poder de “cremação” da Guardiã do Portão, restando apenas cinzas branco-acinzentadas que se espalharam pelo balcão.

    No entanto, a expressão no rosto de Agatha não mudou, pois antes mesmo de as chamas se acenderem, ela já havia percebido que não havia mais a aura de uma pessoa viva dentro do corpo daquele jovem.

    Um som bizarro de matéria viscosa se contorcendo veio do lado. Agatha se virou e viu um “cliente” de pé, rígido, ao lado de uma mesa não muito longe, começar a tremer. No segundo seguinte, o corpo daquela pessoa derreteu como cera, e uma substância de lama preta fluiu e se deformou em sua superfície. Em poucas respirações, aquele cliente se transformou na aparência de um jovem loiro de camisa branca e jaqueta preta.

    “Que maneira hostil de cumprimentar”, o jovem loiro espanou a poeira de suas roupas, olhando para Agatha com um ar de resignação. “Senhorita Guardiã do Portão, a senhora não acha que isso pode lidar comigo, acha? A senhora acha que eu exporia meu corpo principal de forma imprudente em um lugar tão perigoso?”

    “Eu sei que você não está aqui”, disse Agatha com uma expressão impassível. “Mas isso pelo menos pode te calar por um tempo.”

    “Ok, ok, parece que a senhora não está com vontade de conversar. A senhora é uma mulher sem graça. Em comparação, o professor Melson foi muito mais interessante em seus últimos momentos”, o jovem loiro deu de ombros. “Mas não importa. Contanto que eu consiga mantê-la aqui por um tempo, não me importo que a senhora seja uma prisioneira sem graça.”

    Ao ouvir as palavras “professor Melson”, a expressão de Agatha mudou ligeiramente. Ela pensou na Ilha Adaga desaparecida, pensou nas explosões em série mencionadas nos relatórios que ocorreram na ilha um momento antes de seu desaparecimento. E, em seguida, ela notou a informação revelada nas últimas palavras do outro.

    “O que você quis dizer com suas últimas palavras?”, ela encarou o jovem loiro à sua frente, falando com um tom gélido.

    “Nada, apenas convidando-a a ser nossa hóspede por um tempo”, o jovem loiro sorriu alegremente. “A senhora não precisa se preocupar com a situação ‘lá em cima’. Em breve, outra você retornará para lá. Ela reunirá os guardiões como a senhora, e então preparará um relatório com base na situação real do centro de tratamento de esgoto…

    “Fique tranquila, ela relatará com veracidade, incluindo a contaminação sofrida pelo centro de tratamento e a substituição do pessoal. Então, ela retornará à Grande Catedral para se apresentar, como a senhora sempre faz, e conversará com aquele Bispo Ivan. Depois, ela patrulhará a cidade-estado, continuará a lidar com os vários problemas que a cidade enfrenta, continuará as investigações que a senhora não conseguiu concluir… Nada será atrasado.”

    O rosto de Agatha finalmente ficou completamente gelado. Ela encarou o jovem loiro à sua frente: “Vocês até criaram uma ‘cópia’ da Guardiã do Portão?!”

    “Isso é difícil?”, o jovem loiro desfez lentamente o sorriso no rosto, olhando para Agatha com um leve sarcasmo. “Claro, ela não tem o seu poder, mas fora isso, ela é impecável, até mais perfeita do que qualquer cópia anterior. A senhora sabe o quão perfeita ela é? Ela… nem mesmo sabe que é falsa.”

    O rosto de Agatha estava como gelo, e os nós de seus dedos, que seguravam firmemente a bengala, estavam um pouco brancos: “Uma cópia não pode enganar a Grande Catedral. Há inúmeros pares de olhos atentos lá.”

    “Inúmeros pares de olhos atentos — olhos mortais. A senhora superestima demais seus colegas”, o jovem loiro encarou o olhar frio de Agatha com calma, falando sem pressa. “E falando em cópias… a senhora realmente acha que há alguma diferença entre a senhora, e os outros, e as ‘cópias’ de que fala?”

    Ele sorriu novamente, erguendo lentamente as mãos, como um santo em um sermão revelando a verdade do mundo: “Senhorita Guardiã do Portão, desde o início não existiram cópias. Ou melhor… todos nós somos cópias. Essa é a verdade.”

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