Capítulo 400: Viagem Juntos pela Via Fluvial

Agatha guardou instantaneamente a bengala e então arregalou os olhos, observando com espanto e alerta o monstro “cópia” que lentamente levantava a cabeça à sua frente. E, nesse instante, ela percebeu… este monstro, constituído de “lama” de Primal, havia sofrido uma mutação.

Algum tipo de poder ou vontade desceu sobre seu corpo e alterou instantaneamente sua essência — ele se transformou em um intermediário, liberando continuamente um poder aterrorizante neste esgoto escuro.

Camadas de ruído soaram, transformando-se em inúmeros sussurros e rugidos incompreensíveis em sua mente. Agatha sentiu sombras trêmulas se espalharem pelas bordas de sua visão, e nessas sombras, incontáveis olhos pareceram se abrir instantaneamente. Era um sinal de que sua mente estava sofrendo contaminação. O cansaço acumulado das batalhas contínuas e os danos mentais enfraqueceram sua capacidade de proteção, deixando-a quase impotente para resistir.

Mas essa contaminação durou menos de dois segundos. Parecia que o mestre do poder o controlou conscientemente, contendo a energia que emanava deste avatar. Os sentidos de Agatha se tornaram claros e estáveis novamente, e neste momento de clareza, ela percebeu a “identidade” da pessoa à sua frente.

“O senhor é… aquele que desceu…”, ela disse, hesitante, enquanto massageava a testa.

“Sou eu”, disse o avatar. Este corpo, feito de lama de Primal, ainda se contorcia e se deformava constantemente, como se não pudesse suportar um poder excessivo, incapaz de manter uma imagem clara e estável. “Pode me chamar de capitão. Meus seguidores todos me chamam assim.”

“Capitão?”, Agatha franziu a testa. As sequelas da contaminação mental deixaram seu raciocínio um pouco lento. Ela achou o título um tanto estranho, mas logo abandonou a preocupação com isso. Havia inúmeros “capitães” neste mundo, e um ser transcendental superior de origem desconhecida poderia simplesmente se autodenominar “capitão” por interesse. Não era algo que valesse a pena investigar a fundo.

“Por que o senhor está aqui?”, ela perguntou, confusa.

“Eu estive procurando por você por um longo tempo”, disse Duncan. “Você desapareceu de repente na cidade-estado, e eu julguei que você sofreu um acidente.”

“O senhor estava me procurando?”, Agatha ficou um tanto surpresa e, em seguida, levantou a cabeça e olhou rapidamente ao redor. “Como está a situação ‘lá fora’?”

“Se você se refere à ‘Geada’ do mundo real, então tudo está como de costume, normal a um ponto anormal”, Duncan balançou a cabeça. “Você sabe onde está presa?”

“Eu… não tenho certeza”, Agatha apoiou-se na bengala e encostou-se lentamente na parede ao lado. Ela havia conseguido um precioso momento de segurança e precisava aproveitar essa oportunidade para recuperar um pouco de suas forças. “Aqui é outra Geada, uma Geada completamente controlada por ‘cópias’. Aqui não há sol, a conexão com os deuses é muito fraca, mas há pistas das atividades daqueles hereges da Aniquilação. Eu estava rastreando um deles, e segui o rastro até aqui…”

Ela parou, ofegando levemente, e se virou para olhar o “capitão”.

“Uma imagem espelhada”, disse o avatar temporário. “Você está presa na imagem espelhada de Geada.”

“Imagem espelhada?”, Agatha ficou chocada por um instante, depois baixou a cabeça com uma expressão pensativa. “Então é isso… uma imagem espelhada…”

“Eles podem ter copiado toda a Geada, incluindo uma parte do mar ao redor, e esta imagem espelhada é a fonte de todas as ‘cópias'”, continuou Duncan. “O pior é que há sinais de que esta ‘imagem espelhada’ e o mundo real estão se aproximando gradualmente. Este deve ser o verdadeiro plano daqueles cultistas da Aniquilação.”

Agatha levantou a cabeça bruscamente: “O senhor quer dizer…”

“As ‘cópias’ que aparecem com frequência na cidade-estado, o Andorinha do Mar copiado, a Ilha Adaga desaparecida, e até mesmo o seu aprisionamento, são todos resultados da ‘Geada Espelhada’ se aproximando constantemente da ‘Geada real’. O objetivo dos cultistas da Aniquilação nunca foi invadir ou destruir esta cidade, Agatha. O que eles querem é transformar toda a cidade no ‘reino’ da profecia.”

“…Em algum momento, a imagem espelhada e a realidade em aproximação colidirão…”, Agatha respirou fundo, murmurando para si mesma. Ela já havia pensado nessa possibilidade. “Não é de admirar, não é de admirar que aquele herege disse que quando os guardas encontrassem o ‘santuário’, seria o momento em que o plano deles teria sucesso… Aquele instante é o instante em que a imagem espelhada e a realidade se tocam!”

“Parece que você já tem uma ideia”, disse Duncan. “Você disse agora há pouco que encontrou pistas daqueles cultistas aqui e está os rastreando?”

“Sim, eu senti o cheiro deles, nas profundezas desta ‘Segunda Via Fluvial'”, Agatha levantou a cabeça, olhando para uma direção no fundo do corredor. Após um breve descanso, ela já havia recuperado um pouco de suas forças. Endireitou-se com vigor e começou a andar para a frente. “Há um herege, ele tem me obstruído o tempo todo, mas quanto mais ele me enreda, mais ele expõe seu paradeiro. Sinto que já estou muito perto…”

O avatar controlado por Duncan acompanhou os passos de Agatha.

“Sinto muito”, disse Agatha de repente, enquanto caminhava à frente.

“Por que pede desculpas?”

“Agora há pouco… eu quase o ataquei”, o tom de Agatha parecia um pouco embaraçado.

Duncan hesitou por um momento e depois se lembrou da cena que viu quando acabou de entrar neste avatar: a bengala de estanho na mão de Agatha estava a apenas alguns milímetros de sua cabeça.

Mas ele pensou um pouco e achou que não era grande coisa.

‘Melhor do que o ataque saltado da Vanna naquela época.’

“Eu não me importo, e já me acostumei.”

“…Se acostumou?”

“Uma de minhas seguidoras, quando se assusta, de repente usa um ataque saltado. Às vezes, o alvo sou eu, embora agora ela não faça mais isso.”

Agatha: “…?”

A jovem Guardiã do Portão ficou profundamente chocada e não conseguiu deixar de imaginar como uma existência como essa, suspeita de ser um deus antigo, normalmente se dava com seus seguidores, e que tipo de existências absurdas, bizarras e malignas eram seus seguidores.

Depois de pensar por um bom tempo, seu medidor de sanidade quase zerou, mas ela não conseguiu entender.

Duncan, no entanto, não se importou com o súbito atordoamento e reflexão de Agatha. Ele apenas continuou a andar para a frente, observando seriamente a situação no corredor ao longo do caminho.

Aqui era a Segunda Via Fluvial da Geada espelhada — obviamente, existiam grandes diferenças em relação à Segunda Via Fluvial do mundo real.

Ele parou e olhou pensativamente para o corredor do esgoto que se estendia à frente sob a luz fraca.

“Pensou em algo?”, Agatha também parou e se virou para perguntar, confusa.

“No mundo real, aqui é uma área de desabamento, o caminho está bloqueado”, disse Duncan, com um tom pensativo. “Parece que nesta Geada espelhada, a Segunda Via Fluvial está intacta e até mostra sinais de uso contínuo.”

“…Talvez, ela se apresente como era na era da Rainha”, disse Agatha com a voz rouca. “Eu já notei, muitos detalhes desta Geada espelhada… são semelhantes, mas diferentes do que eu conheço, não parecem ser da era moderna.”

Duncan ouviu a análise de Agatha e não falou por um momento. Só depois de alguns segundos ele quebrou o silêncio: “Parece que não poderei acompanhá-la no resto do caminho.”

Agatha se virou, surpresa.

Ela viu o avatar do “capitão” se desintegrando gradualmente. A lama negra que fluía e se deformava constantemente, como se carregasse um poder excessivo, agora se desprendia pouco a pouco, deixando rachaduras entrecruzadas como teias de aranha na superfície do corpo. E entre as rachaduras, chamas verde-fantasmagóricas saltavam, como se estivessem prestes a se dissipar e fluir sem controle.

Ela exclamou por instinto: “Seu corpo…”

“Não se preocupe, esta cópia de baixa qualidade não consegue suportar meu poder de forma estável. O colapso é inevitável”, Duncan, no entanto, apenas balançou a cabeça, com um tom calmo. “Conseguir aguentar para conversar tanto com você já foi muito inesperado.”

Em seguida, ele acenou com a mão, impedindo Agatha de tentar falar.

“Seu estado atual é muito ruim, você precisa de mais ajuda. Deixarei algumas sementes de fogo aqui. Elas podem fortalecer a conexão entre mim e você. Leve-as com você e continue a rastrear o ninho daqueles cultistas. Eu continuarei a ajudá-la.”

Agatha instintivamente deu um passo à frente, parecendo ainda querer perguntar algo, mas antes que pudesse abrir a boca, o avatar, que já estava à beira do colapso por suportar poder demais, atingiu seu limite.

Em meio a uma chama verde-fantasmagórica que se ergueu subitamente, a lama de Primal que compunha o avatar parou de fluir instantaneamente e foi engolida pelas chamas, despedaçando-se. Inúmeros fragmentos de cinzas se espalharam com um estrondo.

E no centro dos restos de Primal negro queimados até virarem cinzas, restou apenas uma pequena chama, do tamanho de um dedo.

A chama flutuava no ar, perto do chão.

Agatha olhou fixamente para a chama flutuante. Sua aparência verde-fantasmagórica despertou o alerta da Guardiã do Portão. Ela sentiu instintivamente medo e tensão. No entanto, após um momento de hesitação, ela deu um passo à frente e se curvou lentamente.

“…Espero que esta seja a escolha certa.”

Ela disse em voz baixa e invocou o nome de Bartok em seu coração. Em seguida, estendeu a mão, como se tomasse uma decisão com grande coragem, e tocou a pequena chama com a ponta dos dedos.

A chama era como uma pétala sem peso, e ela a segurou na mão.

“…Realmente dá para pegar.”

Agatha olhou, perplexa, para a chama que já estava em sua palma. E neste momento, ela sentiu a conexão entre ela e esta chama.

Fraca, maravilhosa, mas real. Após um breve momento de transe, ela se recuperou e, cuidadosamente, protegeu a chama na palma da mão, enquanto com a outra mão pegava sua bengala já coberta de cicatrizes e caminhava em direção às profundezas da Segunda Via Fluvial.