Capítulo 427: Sacrifício

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Um espinho venenoso perfurou a carne, deixando mais um ferimento grave e sem sentido neste corpo já coberto de cicatrizes. Os sussurros e rugidos em seus ouvidos de repente se tornaram excitados. As criações profanas pareciam exultantes com este golpe bem-sucedido, emitindo um barulho nauseante.

Agatha levantou a mão e, com a bengala, repeliu o cultista da Aniquilação, coberto de espinhos ósseos e que já havia perdido quase completamente a forma humana. Em seus ouvidos, ouviu-se um som nítido e agudo de quebra.

Este som a deixou atordoada por menos de um segundo. Só então ela percebeu que era o som de sua bengala de combate se quebrando.

A arma que a acompanhou por muitos anos se quebrou. Diante de um inimigo que parecia não ter fim, ela já havia chegado ao seu último passo.

“A senhora já fez muito bem, senhorita Guardiã do Portão”, a voz detestável e irritante soou novamente. “Como uma oferenda, um aquecimento adequado ajuda no efeito do ritual de sacrifício, mas o excesso de exercício não é uma coisa boa.”

Agatha segurou a bengala quebrada e, pouco a pouco, levantou a cabeça. O sangue seco a deixava enxergar com apenas um olho. Em sua visão estreita e avermelhada, ela finalmente conseguiu ver a cena neste salão.

O ambiente sombrio e estranho havia desaparecido. O que se apresentava a seus olhos era o centro do esgoto, já completamente transformado em um campo de sacrifício. As paredes e os corredores em todas as direções estavam repletos de símbolos profanos e sujos e vestígios de erosão. Algo como estalagmites ou galhos secos cobria o teto acima. E no chão do salão à frente, havia uma enorme “piscina”—

Aquilo já fora o chão, mas agora havia sido corroído em um enorme buraco. O grande buraco estava transbordando de uma substância pegajosa, preta como lama. A lama se agitava lentamente, emitindo um som de contorção nauseante.

Inúmeros cultistas da Aniquilação se reuniam neste salão. Eles, e os demônios abissais que os acompanhavam, eram como um enxame de insetos ao redor de um caldeirão fedorento, murmurando orações e rugindo loucamente para a poça de lama preta no centro do salão. E a poça de lama, nesta oração semelhante a um ruído, tornava-se cada vez mais cheia, cada vez mais ativa.

Este era um local de sacrifício. Eles estavam esperando pela oferenda final. E a “oferenda” na mente desses fanáticos era a Guardiã do Portão da cidade-estado de Geada.

Eles também haviam criado outra Guardiã do Portão antes. Agora, aquela Guardiã do Portão também estava chegando a algum local de sacrifício.

“Ações que se pensam ser de livre arbítrio, na verdade, estão apenas caminhando para um palco predeterminado. A senhora não acha que este arranjo tem uma certa… beleza?”

No centro da poça de lama preta, o jovem de cabelo loiro curto abriu os braços para Agatha. Ele ainda tinha um rosto bonito, mas toda a sua parte inferior do corpo já havia se transformado em uma massa inchada e contorcida. Naquele momento, ele era claramente uma espécie de “extremidade de tentáculo” estendida e deformada daquela poça de lama, simulando a aparência humana de uma forma nauseante.

“Certo, está quase na hora. A senhora também já se adaptou ao ambiente aqui. Agora, dê um passo à frente. Chegou a hora do sacrifício.”

Na beira da poça de lama, um membro semelhante a um tentáculo ergueu-se gradualmente. Ele cresceu da lama, mas sua extremidade gradualmente se transformou em uma estrutura dura e afiada como uma adaga.

Este tentáculo de sacrifício, que ceifava vidas, moveu-se lentamente em direção a Agatha.

Agatha, no entanto, apenas o observou em silêncio e de repente disse em voz baixa: “Quase… nesta posição…”

Ela lentamente estendeu a mão em direção ao peito.

Mas no segundo seguinte, seu movimento parou de repente.

Neste instante, ela perdeu o controle de seu corpo.

“Eu sei que a senhora quer fazer alguma coisa, alguma… ação que não está em nossos planos.”

Em sua percepção subitamente lenta, ela ouviu a voz do jovem de cabelo loiro vindo do lado oposto. Ela usou toda a sua força para tentar levantar a cabeça, mas só conseguiu ver uma pequena parte da figura do outro na borda de sua visão.

“Mas, infelizmente, para evitar que a oferenda perca o controle, preparamos ‘medidas de segurança’ desde o início. A senhora não percebeu? Ao longo de seu caminho, a senhora eliminou tantas cópias, até mesmo uma dúzia de meus avatares. Tudo isso… na verdade, foi apenas para amarrá-la pouco a pouco a esta cidade espelhada.

“A senhora acha que está cada vez mais capaz de sentir a localização deste santuário? Acha que consegue ‘cheirar’ cada vez mais claramente o nosso cheiro de ‘hereges’? Então, a senhora já pensou por que houve essa mudança?

“É simples. Antes de chegar aqui, a senhora já era uma de nós, senhora.”

Agatha finalmente levantou a cabeça. Diante dela, o espinho afiado se aproximava pouco a pouco de seu coração, e seu corpo ainda não conseguia se mover.

Neste momento, ela finalmente entendeu qual era a sensação de incongruência que sentira ao longo do caminho, entendeu por que esses cultistas enviaram tantos buchas de canhão inúteis para travar uma “guerra de desgaste” com ela.

Tudo, era para uma contaminação sutil.

No segundo seguinte, o espinho afiado perfurou seu coração sem qualquer hesitação.

Na poça de lama, o cultista de cabelo loiro ergueu as mãos bruscamente. No instante em que o coração da santa foi perfurado, ele emitiu uma oração de êxtase: “A oferenda foi feita! A vida desta santa será o primeiro passo para a vinda do reino de nosso Senhor! Clamem o nome do Senhor Sagrado, saúdem o dia prometido!”

Em um instante, todos os cultistas no salão começaram a gritar. As figuras disformes e aterrorizantes, que coexistiam com demônios, caíram em êxtase, clamando o nome do Senhor das Profundezas em meio à loucura. Alguém brandiu a adaga que carregava, cortando loucamente sua própria carne e sangue, injetando seu sangue na lama preta que se agitava no centro do salão. Até mesmo os demônios ao lado deles caíram em frenesi, emitindo todo tipo de uivos loucos e desordenados!

No entanto, em meio a esses uivos loucos e desordenados, a matéria preta na poça de lama apenas se agitou violentamente por alguns segundos e depois voltou gradualmente à calma.

O cultista de cabelo loiro no centro da “piscina” finalmente percebeu a anormalidade. Ele despertou bruscamente de seu êxtase, olhando atônito para a piscina que voltava à calma. Em seguida, seu olhar se voltou para o espinho que perfurou o coração da santa, para a Guardiã do Portão que estava na borda do salão de sacrifício.

A Guardiã do Portão, coberta de feridas e com o rosto pálido.

“…Você não tem vida?!”, o fanático finalmente perdeu sua arrogância e compostura, apontando para Agatha, extremamente atônito. “Você… por que você é um cadáver?!”

Agatha o observou calmamente. Neste momento, um sorriso finalmente apareceu no canto de sua boca.

“Embora eu não tenha entendido seu objetivo final antes, como Guardiã do Portão, como eu não perceberia as mudanças incongruentes em meu próprio corpo…”

Enquanto falava, ela levantou o braço lentamente. Parecia que, com o fracasso do ritual de sacrifício, ela sentia este corpo voltando gradualmente ao seu controle.

“Depois de perceber que vocês só queriam me atrair para o local, e de perceber que isso poderia ser algum tipo de ritual de sacrifício que exigia vida, eu fiz uma coisa…”

Ela agarrou pouco a pouco o espinho que perfurou seu coração, seus dedos apertando gradualmente com força, e fios de chamas verdes fluíam entre seus dedos, infiltrando-se no espinho.

Ela levantou os olhos e encarou o cultista na poça de lama.

“Todo sacrifício herege é baseado em sangue. Eu drenei meu próprio sangue.”

“Você… sabe o que fez?!”, o fanático arregalou os olhos, o dedo que apontava para Agatha tremendo violentamente. “Você… você…”

“Não importa, são coisas pequenas”, Agatha, no entanto, apenas sorriu e balançou a cabeça, as chamas que emanavam de seus dedos aumentando cada vez mais. “Contanto que a semente de fogo seja entregue…”

“O que você disse…”

O cultista na poça de lama falou por instinto. No entanto, antes que terminasse de falar, outro estrondo ensurdecedor veio de repente do outro lado do salão. O movimento, como se o céu e a terra estivessem desabando, destruiu instantaneamente a última força de sustentação neste ritual de sacrifício—

Um grande portão nas profundezas do salão, e uma grande parte da parede ao lado do portão, foram completamente explodidos por explosivos de alta potência!

“BOOM!!”

Pedras e terra se desintegraram, cimento voou. Os fragmentos do grande portão e inúmeras substâncias pretas e bizarras misturadas a eles varreram o salão como estilhaços de uma bomba. Os poucos cultistas mais próximos do portão foram lançados pela explosão, e outros cultistas restantes soltaram gritos de espanto—

“Eles romperam o grande portão!”

“Impossível! Eles não conseguiram romper por décadas… como um bando de miragens poderia quebrar seu próprio ciclo?!”

No centro da poça de lama, o líder cultista de cabelo loiro virou a cabeça, chocado, em direção à explosão. Mas antes que pudesse ver claramente as figuras que entravam pelo lado oposto do portão de espinhos, uma chama verde que subia aos céus surgiu na borda de sua visão.

Ele desviou o olhar e viu que a oferenda que deveria ser dedicada ao Senhor das Profundezas já estava envolta em chamas, queimando em uma terrível chama espiritual!

No instante em que o grande portão nas profundezas do salão de sacrifício foi explodido, Agatha finalmente se libertou completamente do controle do ritual de sacrifício. Neste curto período de tempo, ela acendeu a semente de fogo.

O combustível era ela mesma.

O fogo espiritual se ergueu!

Em sua visão, subitamente preenchida por chamas verde-fantasmagóricas, Agatha viu que a parede do outro lado da “piscina” já havia desabado, formando um grande buraco. Um grupo de pessoas que pareciam marinheiros, envoltos em chamas verdes como as dela, entrou no salão.

As chamas em seus corpos ressoavam fortemente com a semente de fogo acesa em seu corpo.

Agatha sorriu.

O conhecimento entrou em sua mente. Ela já entendeu.

Nas chamas, ela abriu lentamente os braços, como se estivesse saudando, e os ergueu.

“O fogo foi aceso.”