Capítulo 431: Cinzas Ardentes

A névoa estava se dissipando.

Desde o início da guerra, esta era a primeira vez que a névoa densa que pairava sobre as águas de Geada mostrava sinais de se dissipar. Ao redor do Névoa do Mar, na direção de Geada, da superfície do mar ao céu, toda a névoa densa recuava a uma velocidade visível a olho nu. A escuridão que tudo cobria se foi, e toda a área marítima tornava-se gradualmente mais clara.

E na superfície do mar, onde a névoa se dissipava, via-se por toda parte navios ainda em chamas, a frota de cópias de formas grotescas e estranhas, e inúmeros fragmentos de destroços e óleo em chamas que subiam e desciam com as ondas.

Uma fumaça densa rolava, permeando o mar onde a névoa recuava.

O imediato Aiden foi o primeiro a correr para a janela, olhando com os olhos arregalados para o mar onde a névoa diminuía gradualmente. Só depois de um longo tempo ele gritou: “A névoa recuou! Capitão! A névoa está recuando!”

“Eu consigo ver”, Tyrian também se aproximou rapidamente da janela, mas a seriedade em seu único olho não diminuiu em nada com o recuo da névoa. “Recuou… recuou mesmo?”

“Capitão, isso não é uma coisa boa?”, Aiden notou imediatamente o tom estranho de Tyrian e se virou, confuso. “A névoa recuou, isso significa que a força anormal que pairava sobre Geada também…”

“Não… Há um problema”, Tyrian, no entanto, interrompeu o imediato com uma expressão séria. Ele encarava fixamente o mar distante, seu olhar tornando-se cada vez mais aguçado. “A névoa se dissipou, mas aqueles navios fantasmas ainda estão lá, e a aparência do mar…”

“O mar?”, Aiden franziu a testa, confuso, e se virou para olhar para longe. No segundo seguinte, ele finalmente segurou a respiração.

Como o capitão disse, a situação estava estranha. A frota de cópias em todas as direções não mostrava nenhum sinal de se dissipar, e até mesmo novos navios fantasmas estavam emergindo da água do mar. E neste processo, toda a área marítima estava escurecendo gradualmente!

Grandes áreas de escuridão se espalhavam pela água do mar. Algo na escuridão estava se expandindo, e inúmeras coisas indistintas se aproximavam da superfície da água. Esta cena… era como se algo ou um grupo extremamente grande estivesse emergindo das profundezas do mar!

“Mas que…”

Aiden murmurou por instinto, mas antes que terminasse de falar, uma série de enormes estrondos de repente quebrou a calma extremamente breve após a dissipação da névoa.

As águas próximas se abriram, e inúmeros navios enormes emergiram na superfície. Alguns pareciam destroços, outros eram distorcidos como fantasmas, e outros ainda tinham uma familiaridade enganosa. No mar que de repente se tornou escuro como breu, parecia que toda a frota de cópias havia surgido de uma só vez!

“Atenção! Navio inimigo detectado! Navios inimigos… por toda parte!”

Um marinheiro gritou de pavor, e os canhões de defesa próxima na borda do convés rugiram ao mesmo tempo. O estrondo dos canhões ecoou quase simultaneamente pela superfície do mar. Os projéteis assobiaram pelo ar, e enormes colunas de água e bolas de fogo de explosões cobriram novamente o mar.

E nesta mudança súbita confusa, Tyrian ainda observava o mar, observando os inimigos que emergiam um após o outro da água.

Ele reconheceu alguns deles — seus soldados também os reconheceram.

“É o ‘Cavaleiro’! O ‘Cavaleiro’ que afundamos no início!”

“O ‘Bandeira Negra’! O ‘Bandeira Negra’ que afundou há quinze minutos! Ele apareceu de novo!”

“O ‘Coragem’! E o ‘Príncipe Jorton’!”

“Capitão!”, a voz do imediato Aiden chegou aos ouvidos de Tyrian, com um pânico que ele nunca tivera antes. “Toda a frota de cópias… aqueles que eliminamos… todos reapareceram!”

Tyrian abriu a boca, prestes a dizer algo, quando uma voz surgiu de repente em sua mente: “…Isso é normal, porque a raiz da imagem espelhada ainda existe.”

“Pai?!”, Tyrian se assustou e, por instinto, procurou ao redor por qualquer coisa que pudesse produzir um reflexo. “O senhor agora…”

“Não se apresse, Tyrian. O momento é perfeito.”

Tyrian se acalmou rapidamente. Enquanto gesticulava para Aiden ir comandar a batalha, ele respondeu rapidamente em sua mente: “O que o senhor precisa que eu faça?”

E ao mesmo tempo em que a névoa no mar diminuía gradualmente, a névoa que cobria a cidade-estado de Geada também recuava. Mas, assim como no mar, o recuo da névoa não significava o fim da crise.

A imagem espelhada ainda estava emergindo. Outra cidade-estado de Geada, ainda mais aterrorizante, estava se sobrepondo gradualmente à realidade.

A guarda da cidade-estado, que ainda persistia em combate, construiu barricadas para resistir aos inúmeros monstros que pareciam surgir do nada. O estrondo das armas abalava a cidade. A paz e a segurança de antes já haviam sido completamente destruídas. A fumaça da pólvora permeava cada rua. A lama suja e o sangue que esfriava gradualmente encharcavam esta cidade, e mais cenas distorcidas ainda cobriam tudo.

“Senhor, eles estão por toda parte!”

Na frente do cruzamento da Rua da Lareira, uma tropa da guarda da cidade-estado que fora presa na névoa estava usando o poder de fogo de um Caminhante a Vapor para varrer os monstros que apareciam na rua. Os soldados mal tiveram tempo de comemorar quando a névoa se dissipou e já foram arrastados para uma nova e feroz batalha por mais monstros e fenômenos aterrorizantes.

“Então atirem em toda parte!”, o comandante do esquadrão rugiu e, enquanto atirava para longe, correu para os pés do Caminhante a Vapor, para perto do sinaleiro. “Consegue contatar os outros esquadrões?”

“Os esquadrões sete, seis e quatro ainda estão sem contato!”, gritou o sinaleiro em voz alta. “Quase um quarto dos esquadrões desapareceu na névoa anterior, senhor!”

“Continue chamando, até que alguém responda ou até que os reforços cheguem”, o comandante deu um tapa no capacete do sinaleiro e se virou para olhar para longe. “A névoa se dissipou. Aguentem firme, a situação está mudando. Este pode ser o ataque final!”

A torre da metralhadora do Caminhante a Vapor emitiu um rugido contínuo, despedaçando outro Caminhante a Vapor à distância. E no momento em que a enorme máquina caiu com um estrondo, uma grande quantidade de lama suja também jorrou de sua cabine mecânica, espalhando-se pela rua como órgãos internos aterrorizantes.

Os guerreiros mais uma vez reuniram coragem — ou apenas deixaram a dormência continuar a impulsionar seus membros exaustos. O comandante dizia palavras de encorajamento em que nem ele mesmo acreditava e olhou novamente para longe.

Ele viu duas Catedrais da Serenidade erguidas no topo da montanha. O terreno de um lado da cidade-estado se erguia de forma bizarra, como se estivesse se enrolando. Um enorme e contínuo aglomerado de edifícios estranhos subia gradualmente da cidade. Camadas de prédios cobriam as ruas que ele conhecia. Torres tortas e inclinadas se estendiam dos edifícios distantes, como ossos abomináveis que cresciam do corpo de um gigante, estendendo-se e crescendo no céu.

E uma quantidade incontável de lama fluía do aglomerado de edifícios que se erguia, correndo para baixo como se fosse engolir toda a cidade.

“Senhor da Morte…”, no ponto mais alto da Catedral da Serenidade, o Bispo Ivan observava a cidade-estado que se distorcia gradualmente, sendo engolida por um enorme fenômeno anômalo, e finalmente não pôde deixar de dizer em voz baixa. “Hoje é o dia do fim…”

Ele olhou para longe, mas só conseguiu ver uma enorme escuridão subindo de todas as direções. A Prefeitura, que antes ficava do outro lado do topo da montanha, em algum momento fora coberta por um estranho matagal de espinhos. No matagal, erguia-se vagamente outra Catedral da Serenidade. E no sopé da montanha, um aglomerado contínuo de edifícios se empilhava e subia, balançando. As casas, como os membros de um molusco, apresentavam uma aparência de arrepiar.

E fora da cidade-estado, toda a superfície do mar estava sendo gradualmente coberta por uma escuridão agourenta. A escuridão era como um espelho gigante, e no espelho, refletia-se gradualmente outra Geada. Era como observar outro mundo através de um espelho curvo. Aquela “Geada” parecia distorcida, caótica, cheia de erros enganosos por toda parte, cheia de uma malícia negra e rastejante.

A enorme cidade espelhada emergia das profundezas do mar, erodindo tudo simultaneamente da realidade e da ilusão.

“Arcebispo!”, um arquidiácono correu da porta do terraço e chegou atrás do Bispo Ivan. “A última tropa de reserva já está reunida. Os monges do silêncio e os guardas protegerão a Grande Catedral até o último momento!”

“Agatha ainda não voltou?”

“Ainda não conseguimos contatar a Senhora Guardiã do Portão”, disse o arquidiácono rapidamente. “A equipe de exploração que desceu ao poço com ela relatou que a Guardiã do Portão, depois de entrar em uma estranha parede de pedra, não deu mais notícias. Agora a mina já foi engolida pela escuridão, receio que…”

“A Guardiã do Portão não cairá facilmente. Agatha completará sua missão… com certeza completará sua missão”, disse o Bispo Ivan calmamente.

O arquidiácono hesitou por um momento: “Arcebispo, o senhor deveria ir se abrigar…”

“Abrigar? Esconder-se em alguma sala de oração segura de um santuário? Ou fugir desta cidade de barco?”, o Bispo Ivan se virou e balançou a cabeça lentamente. “Eu não preciso me abrigar. Ficarei bem aqui. Vá comandar as tropas de guardas no sopé da montanha, transfira todos os civis que puder para a montanha. Ganhe o máximo de tempo possível.”

O arquidiácono hesitou por mais alguns segundos e finalmente assentiu com força: “Sim! Arcebispo!”

O arquidiácono se retirou. No terraço, restou novamente apenas o velho bispo.

Ele levantou a cabeça, observando a outra catedral, coberta de espinhos, que parecia a sombra da Catedral da Serenidade.

Aquela catedral estava morta, sem sinal de nenhum clérigo dentro dela.

Era apenas uma imagem espelhada. Sua aparição, no entanto, representava que a “inversão” daquela Geada espelhada já havia chegado ao último passo.

“Agatha… você ainda deve estar em algum lugar, continuando a cumprir sua missão…”

O Bispo Ivan disse em voz baixa, como se falasse para si mesmo, ou como se estivesse instruindo suavemente uma subordinada com quem perdera o contato.

Ele levantou a mão lentamente, desatou as vestes suntuosas que simbolizavam a autoridade de um arcebispo, tirou sua coroa e a colocou no corrimão ao lado.

“Então você deve se lembrar. Os santos de Bartok nunca param diante da morte…”

Sob as vestes e a coroa, revelaram-se camadas de ataduras. Ivan tateou com a mão e, pouco a pouco, desatou um nó perto de seu pescoço.

“Nós lutamos contra a imundície com nossos corpos de carne e osso. Após o fim da vida, defendemos a fé com nossas carcaças incansáveis. E quando as carcaças também chegam ao fim…”

As ataduras foram desfeitas. Um recipiente que parecia ter sido selado e suprimido por décadas de repente se libertou de suas amarras. Sob as ataduras, não havia um corpo quebrado — já não havia corpo algum.

Lá embaixo, havia apenas uma poeira pálida.

“Nós ainda temos as cinzas ardentes.”

As ataduras se espalharam. As cinzas esvoaçantes voaram da borda do terraço, transformando-se em uma fina fumaça branca, cobrindo gradualmente o céu de Geada.