Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Neste instante, Geada, no verdadeiro sentido da palavra, tornou-se uma cidade flutuando sobre uma superfície de espelho.

    O mar era este espelho.

    O que se refletia no espelho não era apenas aquela cidade espelhada, distorcida e aterrorizante, mas também um par de olhos em chamas e uma existência maior que a cidade-estado, tão grande quanto toda esta região marítima de Geada.

    A autoridade do fogo foi transferida em um instante. Todas as chamas que queimavam dentro e fora desta superfície de espelho se tornaram um meio para estender e amplificar o poder.

    “Senhor! Senhor! Fogo… fogo!”

    O grito assustado do oficial subalterno despertou Liszt de seu torpor. Este último se recuperou com um sobressalto e, em seguida, seguiu o som e olhou pela janela. Ele viu toda a costa em chamas, e até mesmo toda a superfície do mar já havia sido incendiada. Chamas violentas subiam, e um toque de verde-fantasmagórico emergiu do fogo como água corrente, tingindo rapidamente todo o seu campo de visão.

    As chamas espirituais que subiam de todas as direções pareciam carregar um poder que abalava a alma, fazendo com que Liszt recuasse por instinto. No entanto, no segundo seguinte, ele viu que até mesmo as chamas dentro das lâmpadas a gás embutidas nas paredes próximas também se tingiam silenciosamente com uma camada de verde-fantasmagórico.

    Um baixo estrondo veio de um lugar distante, como se abalasse toda a cidade. No meio, era acompanhado pelo som gigante de algo enorme sendo rasgado e quebrado. Todos no posto de comando ouviram esses enormes estrondos.

    Alguém olhou na direção da cidade-estado e viu os edifícios disformes e distorcidos, que antes cobriam quase completamente a cidade, se partindo em pedaços. E chamas ainda maiores jorravam dessas fendas. E no meio daquelas grandiosas chamas espirituais, inúmeras substâncias pretas estavam sendo gradualmente queimadas até virarem cinzas.

    Perto da zona de defesa do porto, uma tropa da guarda da cidade-estado, exausta, escondia-se atrás de uma cobertura vacilante, observando os edifícios distorcidos e retorcidos se desintegrarem. Centenas de milhares de coisas disformes e rastejantes fugiam pelas fendas, mas havia chamas atrás delas, perseguindo-as e queimando-as até virarem cinzas negras.

    No sopé da montanha, no centro da cidade-estado, as tropas de guardas lutavam até a morte contra os monstros cópias invasores. No entanto, um exército semelhante a uma miragem surgiu de repente da luz e sombra desordenadas. Esta tropa usava os uniformes da Guarda da Rainha de meio século atrás. Eles invadiram as ruas, gritando o nome da Rainha de Geada, e lutaram até a morte com os monstros disformes que invadiram a realidade.

    Na última linha de defesa em frente à Catedral da Serenidade, o arquidiácono estava organizando os clérigos para lutar contra os monstros que invadiam a praça. As línguas de fogo cuspidas pelos Caminhantes a Vapor e as chamas pálidas liberadas pelos monges do silêncio se entrelaçaram em uma rede, resistindo com dificuldade à invasão daqueles monstros e da lama.

    “Segurem-nos!”, o arquidiácono gritou com a voz rouca. Na borda de sua visão, cinzas pálidas e finas caíam de cima da Catedral da Serenidade, como a primeira neve esvoaçante. “Bloqueiem o portão da igreja! Bloqueiem…”

    Um estrondo enorme e um tremor que parecia abalar a montanha alta vieram de repente. O arquidiácono quase caiu no chão com este movimento cataclísmico. Um espinho formado por lama, envolto em malícia, perfurou-o vindo de uma brecha na linha de defesa.

    No entanto, no instante em que o arquidiácono estava prestes a ser perfurado por este espinho, uma chama verde-fantasmagórica apareceu de repente no ar, transformando o ataque venenoso em cinzas.

    O arquidiácono levantou a cabeça, atônito, e viu uma figura flutuando diante dele.

    Ela usava um traje preto, esfarrapado como um manto de asceta. Seu corpo estava coberto de rachaduras grandes e pequenas, e o fogo jorrava de seu corpo, como sangue eterno e escaldante.

    “Agatha… Guardiã do Portão?”

    O arquidiácono olhou, atônito, para a figura que apareceu diante de seus olhos, mas sentiu a figura familiar e estranha. Ele chamou seu nome, mas viu uma a uma, figuras estranhas aparecerem ao lado da Guardiã do Portão. Todas essas figuras estavam envoltas em chamas espirituais verde-fantasmagóricas.

    “Eu voltei”, Agatha se virou. Nas órbitas vazias, dois pontos de fogo saltavam. Sua voz era misturada com um crepitar. “Leve o resto das pessoas e recue, ou encontre um lugar seguro e fique firme.”

    “Ficar firme?”, o arquidiácono repetiu, atônito, sem conseguir entender o significado da frase por um momento. “E… por que a senhora se tornou…”

    Agatha, no entanto, não deu atenção a ele. Em meio aos estrondos baixos cada vez mais densos, ela já havia se virado em outra direção, observando o mar fora da cidade-estado.

    A fumaça densa subia na superfície do mar, as nuvens desciam pesadas e pretas, o mar era escuro como um espelho, e uma existência inominável e gigantesca… estava se levantando do espelho.

    Dois enormes globos de luz verde, que quase lembravam o sol, subiam pouco a pouco na fumaça densa e nas nuvens. Um contorno inimaginável para os humanos se formava gradualmente na fumaça e nas nuvens, como se o próprio oceano e a atmosfera estivessem se erguendo e se reunindo. Esta cena…até mesmo fez Agatha, que já havia parado de respirar, sentir-se sufocada mais uma vez.

    Era um sufocamento no nível da alma.

    “Deus da Morte…”, o arquidiácono não suportou a enorme pressão. O corpo que mal conseguira se levantar cambaleou e caiu novamente. “O que… o que é aquilo?!”

    Agatha, no entanto, apenas virou a cabeça ligeiramente, seu tom com um toque de resignação: “Eu avisei, encontre um lugar seguro e fique firme.”

    O arquidiácono já não conseguia ouvir o que a Guardiã do Portão lhe dizia. No processo de rápida condensação do contorno nas nuvens, ele finalmente percebeu o que era.

    Era uma figura que se erguia do mar sem fim, uma existência projetada no mundo real usando toda a região marítima de Geada como intermediário.

    Aquelas duas massas de chamas verdes, que lembravam o sol e queimavam gloriosamente nas nuvens, eram na verdade Seus olhos. As nuvens que se enrolavam e se agitavam eram Sua respiração. A enorme sombra que se erguia lentamente na fumaça… era Seu braço.

    Agora, aquela mão se estendia na direção de Geada.

    “Senhor!!!”

    Alguém gritou na praça.

    No entanto, a velocidade com que a mão se estendia, embora parecesse lenta, era mais rápida do que qualquer grito ou oração. Ela já havia cruzado a superfície do mar, cruzado a área do mar onde a Frota do Névoa do Mar, a marinha de Geada e a frota de cópias lutavam, cruzado a costa da cidade-estado e, como se penetrasse na fumaça, penetrou nas profundezas de Geada.

    No segundo seguinte, aquele braço começou a subir lentamente, como se sustentasse bilhões de toneladas de peso, subindo pouco a pouco.

    E o que subia com aquele braço era uma cidade espelhada que estava sendo gradualmente arrancada da Geada real—

    Todos os edifícios distorcidos, a terra inchada e enrolada, os espinhos que cobriam as altas montanhas, todas as coisas profanas que eram semelhantes, mas diferentes do mundo real, e que reescreviam a realidade com uma postura aterrorizante, foram arrancadas da cidade-estado de Geada pouco a pouco por aquela mão.

    A Geada espelhada emergiu no mundo real. Agora, ela “flutuava” mais alto do que seus criadores haviam planejado, e continuava a subir.

    Agatha riu, um sorriso mais alegre do que nunca.

    A Geada espelhada se separou da cidade-estado e, naquele momento, ainda estava subindo. Esta cena era como expulsar um espírito maligno de um corpo possuído. E o “espírito maligno” foi finalmente levantado lentamente por um braço gigante até perto das nuvens.

    Nas profundezas das nuvens densas, duas massas de fogo verde, que queimavam como o sol, tremeram ligeiramente. O rosto, vagamente visível, imponente e inspirador de reverência, parecia estar olhando para baixo.

    Muitos sons pequenos vinham da palma da mão.

    Alguns desses pequenos sons eram sons reais, mas a maioria era como vibrações no nível do pensamento, uivos que ecoavam em uma pilha de destroços distorcidos e as fantasias e delírios teimosos e obsessivos que pairavam na cidade espelhada.

    Duncan olhou para a palma de sua mão através das nuvens. Ele viu a cidade espelhada como uma massa de carne inchada e deformada. As ruas, geradas por uma imitação desajeitada do mundo real, estavam se degenerando rapidamente para a forma original de lama suja. E entre aquelas ruas, montanhas e torres inchadas e deformadas, pequenos espinhos ainda se expandiam e se contraíam de forma irregular. Faíscas, tão pequenas que eram difíceis de distinguir, saltavam no centro desta massa de matéria. A obsessão entrelaçada de centenas de milhares de crentes loucos zumbia ali, emitindo um som como o de mosquitos.

    Misturado a isso, havia medo, raiva, ressentimento e uma malícia absoluta.

    ‘Aqueles fanáticos ainda estão tentando em vão pregar suas teorias do fim do mundo? Ou estão procurando uma explicação razoável para o desastre que eles mesmos criaram?’

    Duncan ouviu por um tempo e baixou o olhar.

    “Vocês não entendem porra nenhuma de sacrifícios em grande escala.”

    Seu olhar se concentrou naquela massa da cidade espelhada, e então toda a cidade, sob seu olhar, em sua palma, começou a queimar.

    Inúmeras cinzas, destroços e fogo verde caíram do céu, como uma chuva torrencial caindo das nuvens.

    A mão, tão grande quanto uma cidade-estado, fechou-se lentamente em um punho. A Geada espelhada, queimada até virar cinzas em sua palma, transformou-se em pó com um som de trituração e atrito aterrorizante. Inúmeras substâncias residuais foram derramadas na região marítima de Geada, caindo no mar, caindo na costa, caindo em todos os lugares que o olhar de Tyrian podia alcançar.

    Mas quase todos os objetos que caíram evitaram a ilha principal de Geada, a Frota do Névoa do Mar e a marinha de Geada, que ainda estavam ativas na superfície do mar.

    Tyrian olhou ao redor.

    Todos os navios cópias estavam se desintegrando rapidamente.

    Finalmente terminou.

    Ele soltou um suspiro leve.

    O imediato Aiden, por sua vez, estava ao lado dele. O careca musculoso olhou para o céu, mas só conseguiu ver uma pequena parte do contorno da enorme figura.

    O corpo de Aiden ainda tremia ligeiramente.

    “Algum pensamento?”, Tyrian se virou, olhando para seu imediato com um sorriso irônico.

    Aiden tateou e tirou o cachimbo do bolso, mas suas mãos tremiam tanto que ele não conseguiu acendê-lo por um bom tempo. Só depois de muito tempo ele abaixou o cachimbo, sua voz tremendo ligeiramente: “O velho capitão… não vai se importar que a gente tenha lutado com ele antes, vai?”

    Tyrian, no entanto, apenas sorriu e tirou um cigarro do bolso.

    “Meu pai não se importa com essas coisas pequenas.”

    No entanto, o grande pirata do Mar Gélido tremeu por um bom tempo e também não conseguiu acender o fogo.

    Fim do Volume II – As Cidades-Estado

    Volume III – Mar & Névoa

    Caso queira me apoiar de alguma forma, considere fazer uma doação

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (2 votos)

    Nota