Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    “A situação é esta, Vanna. O que você acha disso?”

    No convés do Banido, Duncan falou para Vanna, que estava esculpindo um amuleto em um pedaço de Madeira do Sopro do Mar.

    Vanna ouviu, atônita, enquanto Duncan recontava os problemas que o Carvalho Branco enfrentava e os planos do capitão para o futuro. Demorou um bom tempo para ela processar tudo. Jogando o amuleto recém-esculpido em um barril de madeira, ela ergueu a cabeça: “O senhor quer dizer que eu, como Santa, devo garantir pelo Carvalho Branco e, então, como Inquisidora, emitir um passe de acesso que permita a um navio anômalo retornar à sua identidade legítima?”

    “O procedimento parece viável”, disse Duncan, com uma expressão séria. “Afinal, você é de fato uma Santa da Deusa da Tempestade — e também uma Inquisidora de Pland.”

    “Mas minha posição de Inquisidora já foi revogada…”

    Duncan acenou com a mão: “Isso não foi um arranjo particular da sua Papisa? Sua identidade oficial em público não mudou.”

    Vanna ficou pasma novamente — a mulher, de natureza franca, parecia ainda não estar acostumada com a maneira de pensar de Duncan. “Explorar uma brecha nas regras” era algo completamente novo, que ela nunca havia considerado em seus muitos anos como Inquisidora. Instintivamente, sentiu que algo estava errado, mas não conseguia apontar o quê. Hesitante, ela começou: “O procedimento… eu não sei se está correto, mas…”

    Com uma expressão severa, Duncan interrompeu a hesitação de Vanna: “O Carvalho Branco precisa recuperar sua identidade legítima, e a Frota do Banido precisa restabelecer contato com o mundo civilizado. Você também não gostaria que fôssemos para sempre uma sombra pairando sobre o mundo. Neutralizar a Frota do Banido, que uma vez ameaçou o mundo, é uma coisa boa. E como Santa da Deusa da Tempestade, você deveria tomar a iniciativa de promover isso, não acha?”

    Vanna congelou. Com uma expressão calma, ela mergulhou em pensamentos. Depois de um longo tempo, ergueu a cabeça e olhou nos olhos de Duncan: “Seu tom de voz é exatamente como o que o senhor usa para enganar a Alice.”

    “Você não é a Alice. A Alice teria acreditado em mim na primeira frase.”

    Vanna: “…”

    “Mas o princípio é o mesmo. O Carvalho Branco realmente precisa da sua ajuda agora”, Duncan continuou, impassível. “E, de um ponto de vista prático, ter mais um navio de exploração transcendente, controlável e poderoso, não é uma coisa ruim para as cidades-estado. É certamente melhor do que deixar este navio se tornar uma sombra errante no Mar Infinito.”

    “Eu…”

    Vanna abriu a boca, parecendo prestes a dizer algo, mas nesse momento, um sino etéreo e distante soou de repente em sua mente, interrompendo-a.

    Ela ergueu a cabeça, ouvindo instintivamente a direção de onde vinha o sino, cujo toque com um ritmo peculiar parecia ecoar em sua alma. A voz preocupada de Duncan soou como se viesse do outro lado de uma pesada cortina: “O que aconteceu?”

    “O Sino de Convocação… A Catedral está convocando os Santos de todos os lugares. Parece ser notícia da Tumba do Rei Sem Nome1 …”, Vanna murmurou em meio à confusão, com um traço de incredulidade na voz. “Por que eu ainda consigo ouvir esta convocação…”

    Duncan ergueu as sobrancelhas: “Isso é estranho? Você ainda é uma Santa da Igreja do Mar Profundo.”

    “Mas eu pensei…”, Vanna franziu a testa. “Pensei que, depois de embarcar no Banido, eles não me convocariam mais.”

    O canto do olho de Duncan tremeu. Ele percebeu no tom dela um indício de “entrei no navio errado”, mas rapidamente disfarçou a mudança em sua expressão e disse com calma: “Não pense demais nisso. Já que é uma convocação da Catedral, vá para a sala de orações. Se tiver a chance de ver aquela Papisa Helena, aproveite para perguntar a ela sobre a emissão de um passe de acesso para o Carvalho Branco.”

    Uma expressão estranha surgiu no rosto de Vanna, mas desta vez, ela conseguiu controlar o impulso de questionar. Ouvindo o sino em sua mente tocar repetidamente, como se a apressasse, ela acenou rapidamente para Duncan e se virou, caminhando a passos largos em direção à cabine.

    Havia muitas cabines vazias no Banido e, com a permissão do capitão, uma delas já havia sido transformada por ela em uma sala de orações. Embora nunca tivesse tentado antes, em teoria, ela deveria ser capaz de responder à comunicação espiritual daquela cabine e ir para o “Local da Assembleia”.

    Vanna partiu. Somente quando sua silhueta desapareceu atrás da porta da cabine, Duncan desviou o olhar.

    Ele observou a direção em que Vanna desapareceu, depois se virou para olhar Alice, que havia retornado com ele ao Banido e agora arrastava um grande balde de água para lavar o convés. Depois de um longo tempo, ele suspirou suavemente: “Ai… bem mais difícil de enganar.”

    Após o suspiro, ele se curvou e pegou do barril ao lado o amuleto de Madeira do Sopro do Mar que Vanna havia acabado de esculpir.

    O amuleto não era excessivamente refinado, mas era evidente que havia sido feito com esmero. Duncan ficou na beira do convés, brincando distraidamente com a pequena peça de madeira enquanto esperava Vanna retornar.

    Teoricamente, não deveria demorar muito.

    E nessa espera ociosa, ele lentamente organizava as informações que reunira, especialmente aquelas que acabara de obter no Carvalho Branco.

    A imensa sombra sob o mar profundo, o “híbrido” chamado Masha e… as mudanças que ocorreram naquele híbrido.

    A imagem daquela sombra pulsante se reagrupando e se estabilizando como “Masha” surgiu na mente de Duncan, assim como… a visão do “peixe” que apareceu diante de seus olhos antes daquela cena.

    Ele virou a cabeça, olhando para a superfície do mar suavemente ondulante à distância. O oceano era profundo, suas ondas como uma cortina.

    A superfície do mar parecia um véu que escondia todos os segredos, ocultando a verdade sob as águas. Quando a linha de pesca era lançada, ninguém sabia o que seria fisgado.

    E o que ele havia pescado daquela vez foi um “peixe”.

    Uma expressão séria gradualmente tomou conta dos olhos de Duncan. Ele baixou o olhar para o amuleto de ondas em sua mão, hesitou um pouco e o jogou de volta no barril. Pegou ao lado um pedaço de madeira não esculpida, de aparência comum.

    Ele olhou para o pedaço de madeira com muita atenção e, depois de um longo tempo, falou com um tom lento e solene: “Isto é um pedaço de pão.”

    A madeira continuou sendo madeira, sem sofrer qualquer alteração.

    Duncan encarou o pedaço de madeira por mais um tempo, torceu o canto da boca, ergueu a cabeça para confirmar que não havia ninguém por perto e jogou a madeira de volta em seu lugar.

    ‘Parece que não é tão simples… então qual é o princípio por trás disso…’

    Ao mesmo tempo, em uma cabine privada sob o convés do Banido, Vanna já havia preparado rapidamente o “local” para realizar o ritual.

    Ela trancou a porta da cabine e olhou para o campo ritualístico que havia arranjado.

    Normalmente, para responder a uma convocação da assembleia, seria necessário usar a “Câmara da Maré”, construída especificamente em uma igreja, para estabelecer um canal espiritual. Mas isso era claramente irrealista nas condições limitadas de um navio. Ela só pôde colocar seu livro de orações de uso frequente no chão próximo para servir como âncora do “lugar sagrado”. No centro da sala, acendeu um grande candelabro para servir de braseiro ritualístico. Em seguida, encontrou o Óleo Sagrado e a essência que comprara na cidade-estado, para servirem como “oferendas” para aprimorar o efeito do ritual, conseguindo assim reunir os elementos necessários para abrir o canal espiritual.

    Para ser honesta, as condições eram extremamente improvisadas, quase desrespeitosas com a Deusa — mas não havia alternativa melhor.

    O sino em sua mente continuava a tocar, ecoando repetidamente, como se fosse continuar até que ela respondesse.

    “… Espero que a Deusa não me culpe… Se eu soubesse, teria ao menos preparado um Óleo Sagrado de melhor qualidade”, Vanna murmurou e, finalmente decidida, pegou o Óleo Sagrado e a essência, gotejando-os no candelabro.

    Em meio às chamas que subiram abruptamente, ela respirou fundo, acalmando a mente…

    Um céu perpetuamente escuro pairava sobre o vasto Local da Assembleia. Fluxos de luz caótica emergiam e flutuavam no topo de inúmeras colunas antigas e solenes. Na praça em ruínas entre as colunas, figuras indistintas apareciam uma após a outra.

    Somente depois que todas as figuras estavam em seus lugares, a projeção da alma de Vanna chegou, tardiamente.

    Uma leve tontura e dissociação sensorial a fizeram ficar parada por alguns segundos. Depois de se adaptar inicialmente, ela baixou a cabeça para verificar seu estado e os contornos das figuras ao redor.

    ‘Até que foi tranquilo…’

    Ela resmungou, um tanto surpresa.

    Sem usar uma Câmara da Maré, mas sim um altar improvisado com condições limitadas a bordo do Banido e velas servindo como braseiro ritualístico, ela não tinha muitas esperanças no sucesso dessa operação, mas não esperava que funcionasse de primeira.

    Uma figura se aproximou ao seu lado, interrompendo os pensamentos de Vanna.

    Ela ergueu a cabeça e, pelo contorno e aura familiares, reconheceu o dono daquela figura — era o Bispo Valentine, a quem não via há muito tempo.

    “Vanna, você finalmente chegou!”, a voz do velho bispo continha um toque de alegria pelo reencontro. “Não esperava que você realmente viesse…”

    “Eu também… não esperava”, disse Vanna, com um tom ligeiramente embaraçado. “Todos estão esperando há muito tempo? As condições aqui são limitadas, preparei o ritual às pressas, demorou muito…”

    “Não se preocupe, por alguma razão, a Papisa também se atrasou muito hoje e ainda não chegou”, disse Valentine imediatamente, e então se aproximou, baixando a voz. “Onde você está agora? Ainda no ‘navio’?”

    “…Sim, no ‘navio’. Acabei de sair de Geada”, Vanna olhou ao redor e também baixou a voz. “Eu estava conversando com o ‘capitão’ há uns dez minutos.”

    “…Ele realmente deixou você montar uma sala de orações no navio?”, o tom de Valentine estava carregado de incredulidade. “E você conseguiu até mesmo abrir um canal espiritual do navio? Você encontrou alguma relíquia sagrada poderosa?”

    “É apenas um campo ritualístico improvisado”, disse Vanna, um tanto embaraçada. “Eu também não esperava que fosse funcionar…”

    “Um campo ritualístico improvisado?”, Valentine perguntou, confuso, mas logo em seguida, um estrondo vindo do centro da praça interrompeu o que ele ia dizer.

    Acompanhado pelo som retumbante, a antiga e solene Tumba do Rei Sem Nome ergueu-se lentamente do centro da praça. Os Santos reunidos em várias partes do Local da Assembleia silenciaram, e seus olhares se voltaram unanimemente para a estrutura em forma de pirâmide cinza-esbranquiçada.

    Vanna também olhou instintivamente para a estrutura, para o pesado portão em frente à pirâmide.

    O portão se abriu lentamente, e o guardião da tumba, envolto em bandagens e parecendo pairar entre a vida e a morte, saiu de dentro.

    O coração de Vanna se moveu, e então ela viu o alto guardião caminhar diretamente em sua direção. Um pequeno murmúrio percorreu o Local da Assembleia.

    Pela terceira vez, o guardião da tumba havia escolhido consecutivamente a mesma “ouvinte”.

    No entanto, por alguma razão, Vanna sentiu uma sensação de… alívio, como se já esperasse por isso. Ela se virou e, impotente, abriu as mãos para a imagem virtual de Valentine. Em seguida, deu um passo à frente, esperando o guardião se aproximar.

    O gigante, que pairava entre a vida e a morte, aproximou-se de Vanna a passos largos, seus olhos amarelos e turvos baixando o olhar. “Boa tarde, por favor, siga-me.”

    1. Eu notei que eu acabei traduzindo, por descuído, o nome da Tumba do Rei Sem Nome diferente (algumas vezes como Tumba, outras como Mausoléu ou Túmulo) em alguns capítulos, agora padronizei todas as aparições, então basicamente é isso: O Fenômeno se chama Tumba do Rei Sem Nome, sua área interna é Câmara Mortuária (local onde está o corpo do dono da Tumba, como citado lá no capítulo 104) e o Guardião é chamado de Guardião da Tumba. Fiz as correções nos capítulos anteriores e seguiremos essa padronização daqui pra frente.[]
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