Capítulo 471: A Possibilidade por Trás da Chave

Geada, porto sul. Dentro da instalação secreta nas profundezas subterrâneas, o pessoal não essencial já havia sido evacuado. Agatha e Tyrian aguardavam juntos a chegada de Duncan.

Atrás deles, estava a imensa máquina secretamente construída pela antiga prefeitura — a câmara de pressão em forma de ovo estava firmemente presa entre as vigas por cabos de aço. A luz do teto se derramava, iluminando o casco de metal do submersível, que emitia um brilho frio e silencioso.

O silêncio pairava sobre o salão. Após um momento de espera tensa, Agatha de repente ergueu a cabeça, e sua voz etérea e rouca, como a de um espírito, quebrou o silêncio: “Ele chegou.”

Assim que suas palavras terminaram, ela abriu os braços para o ar. Chamas verdes crepitantes surgiram das fendas e cicatrizes que cobriam seu corpo, sua postura como se abraçasse um sol. À sua frente, uma chama verde-escura subitamente se ergueu e se condensou em um portal de fogo giratório. Ai, em sua forma esquelética, foi o primeiro a voar para fora do portal, seguido por uma figura imponente vestida com um casaco preto e envolta em bandagens, que saiu do portal.

Tyrian curvou-se em reverência à figura e deu um passo para o lado: “Pai.”

Agatha baixou os braços, ao mesmo tempo em que recolhia as chamas em seu corpo. Com as mãos unidas em frente ao peito, em uma postura de oração, ela inclinou levemente a cabeça: “Perdão por precisar que o senhor viesse pessoalmente.”

“Não se preocupe, este avatar estava ocioso de qualquer maneira. Vir pessoalmente ao local é mais eficiente do que ouvir um relatório”, Duncan acenou com a mão, passando por Tyrian e Agatha. Seu olhar já estava fixo na imensa máquina atrás deles. “…É isto?”

“Sim”, Agatha assentiu levemente. “O legado deixado pelo Governador Winston — e talvez também o trabalho árduo de outros governadores anteriores. De acordo com as conclusões da inspeção atual, este submersível está quase concluído e em bom estado.”

Duncan emitiu um “hmm” suave, mas não continuou a falar. Ele apenas ficou ali em silêncio, como se observasse um pedaço de história congelada, sem dizer uma palavra por um longo tempo.

Aquela história empoeirada também o observava. O tempo condensava ambições e buscas solitárias que hoje são desconhecidas. Sob as luzes entrecruzadas, neste salão quase selado pelo tempo, todos os medos e coragens dos mortais estavam forjados neste aço frio.

Duncan quase podia ouvir a obsessão e os gritos fundidos no aço.

Ele deu alguns passos à frente, chegando à beira da grade de proteção, e estendeu a mão para tocar o casco frio e duro do submersível. Das profundezas de seu próprio corpo sem vida… uma leve pulsação pareceu emanar, mas a sensação desapareceu em um instante.

No entanto, essa sensação fugaz ainda trouxe a Duncan uma familiaridade. Ele se lembrou, encontrando a origem dessa sensação:

Foi quando ele pisou pela primeira vez na superfície de Pland, de pé diante de Nina como “Tio Duncan”, e Nina correu em sua direção com um sorriso radiante, abrindo os braços para ele. Foi quando ele encontrou o broche de prata no Banido e ouviu o nome “Lucretia” dos lábios de outros. Naquele momento, um resquício de afeto e memória surgiu do fundo de seu coração, como o último pingo de humanidade que restava em um corpo, mas que nunca poderia se dissipar completamente.

Duncan retraiu o braço, baixou a cabeça e olhou pensativamente para a palma da mão, como se observasse o antigo dono deste corpo. Depois de um longo tempo, ele falou em voz baixa: “Ah, você sabia sobre isso…”

A voz de Tyrian veio do lado: “Pai? O que o senhor disse?”

“Nada”, Duncan se virou. “Este submersível pode ser usado agora?”

“Isso…”, o tom de Tyrian carregava uma pitada de dificuldade. “Examinamos cuidadosamente as instalações aqui e o estado do submersível. A estrutura principal do submersível em si está intacta, mas há dois problemas. O primeiro é que os técnicos originais desta instalação parecem ter todos morrido, e os materiais e equipamentos deixados no salão externo estão gravemente danificados. Este problema é relativamente fácil de resolver; alguns dos ‘velhos’ da Frota do Névoa do Mar devem ser capazes de lidar com isso — afinal, foi construído com base nas plantas deixadas pela Rainha de Geada. O segundo problema é mais complicado…”

Tyrian fez uma pequena pausa, organizando suas palavras antes de continuar: “De acordo com a inspeção preliminar, descobrimos que este submersível é muito diferente do usado no passado. Ele não depende de bombas de ar na superfície, mas usa cilindros de oxigênio internos para o suprimento de ar. No entanto, só encontramos o local para instalar os cilindros, mas não os cilindros correspondentes — talvez essa parte ainda não tenha sido fabricada. É por isso que a Sra. Agatha disse que estava ‘quase concluído’. Se tivermos que fabricar um sistema de suprimento de oxigênio compatível com este submersível agora, pode levar um tempo considerável.”

Duncan se virou e olhou silenciosamente para Tyrian.

Tyrian ficou um pouco nervoso: “Pai?”

“Eu não preciso respirar”, Duncan olhou nos olhos de Tyrian. “Ainda há algum problema?”

Tyrian: “…”

O novo Governador de Geada ficou atônito por um momento, só então percebendo. Um rubor de constrangimento apareceu em seu rosto, e ele apressadamente acenou com a cabeça: “Ah, então não há problema algum…”

“Em toda a Frota do Névoa do Mar, mal se encontram alguns que respiram, e você mesmo fica preso nesse problema. Parece que os acontecimentos recentes realmente o deixaram exausto”, Duncan balançou a cabeça. “Certo, já que não há problemas, prepare-o rapidamente. Deixe este submersível pronto no menor tempo possível. Este é o assunto que mais me preocupa em Geada.”

Tyrian endireitou-se instantaneamente. Embora fizesse um século que não recebia ordens de seu pai, ele ainda tensionou os músculos por reflexo: “Sim! Pai!”

Em seguida, Tyrian partiu — para cumprir a ordem de seu pai o mais rápido possível.

Duncan, por sua vez, virou-se e observou por mais um tempo o equipamento de mergulho de aparência estranha. Então, notou que Agatha ainda estava parada no mesmo lugar, parecendo… um pouco hesitante em falar.

Duncan virou a cabeça, seu olhar varrendo Agatha e sua sombra no chão ao lado. Então ele assentiu: “Pode falar. Agora estamos sozinhos aqui. Diga, qual é a situação? Quem de vocês fala primeiro?”

Agatha ficou surpresa por um momento e então reagiu abruptamente: “O senhor… já descobriu?”

“Havia duas sombras na luz do fogo. Embora uma delas tenha se esforçado para se esconder bem, as chamas em seus corpos se originam de mim. Esse tipo de ocultação, para mim, é um tanto… desajeitada”, Duncan se virou, com um toque de gentileza em seu olhar. “Eu descobri assim que cheguei, mas como você não quis falar na hora, eu não perguntei.”

“Eu apenas achei que o General Tyrian não deveria saber sobre este assunto por enquanto”, disse Agatha, afastando-se lentamente dois passos para o lado.

Sua sombra permaneceu no lugar original.

No segundo seguinte, a sombra deixada no chão tremeu de repente. Em seguida, uma imagem virtual, embaçada e indistinta, que vagamente se assemelhava à antiga vestimenta de uma Guardiã do Portão, levantou-se daquela sombra e curvou-se levemente para Duncan. Uma voz rouca, quase idêntica à de Agatha, soou: “É um prazer conhecê-lo, Capitão… Duncan.”

“Esta deve ser a primeira vez que a vejo”, Duncan olhou para a imagem virtual embaçada e trêmula com um toque de surpresa. Depois de observá-la curiosamente por alguns segundos, ele de repente ergueu a cabeça e olhou para Agatha, não muito longe. “Ela sempre foi tão embaçada?”

“No espelho, ela fica muito clara, mas não há espelhos aqui”, Agatha explicou imediatamente. “Além disso, de acordo com nossos testes, ‘ela’ também fica embaçada quando se sente nervosa. Quanto mais nervosa, mais embaçada. Agora… ela está um pouco nervosa na sua frente.”

“…É incrível”, Duncan sentiu-se cada vez mais maravilhado. Ele olhou para o fantasma e, embora já tivesse descoberto sua existência, não pôde deixar de se surpreender. “Eu pensei que você já tivesse se dissipado na escuridão — Agatha leu as memórias residuais que você deixou ao se dissipar.”

“Eu de fato me dissipei por um tempo, mas no final, retornei a este mundo”, disse a sombra nebulosa. “Sinto muito, não sei como explicar esse processo. Quando me tornei consciente da minha existência novamente, eu já era um reflexo em um espelho…”

Agatha, ao lado, continuou: “Suspeitamos que isso esteja relacionado àquela ‘chave’, mas não temos nenhuma prova.”

“Chave?”

“Aquela chave de latão”, Agatha assentiu. “De acordo com as impressões vagas ‘dela’, ‘ela’ reapareceu neste mundo quando eu peguei aquela chave de latão. Talvez aquela chave não apenas tenha o poder de armazenar informações, mas também possa, em certa medida, preservar memórias, personalidades e até almas. Quando as condições são adequadas, as memórias e almas preservadas podem ser ‘remodeladas’ de alguma forma…”

Duncan ouviu em silêncio, sem falar imediatamente.

A chave deixada pela Rainha de Geada, Ray Nora, estava agora no Banido, nas mãos de seu “corpo principal”. Por cautela, ele ainda não havia tentado usar a chave em Alice. E agora parecia que… essa cautela talvez estivesse correta!

Agatha tocou a chave, e então a “Cópia Agatha”, que também já havia segurado a chave, retornou a este mundo. E se a chave fosse usada em Alice? O que aconteceria?

‘Naquela chave… estariam preservadas as memórias, ou até mesmo a alma, da Rainha de Geada, Ray Nora?’

Os sucessivos governadores de Geada foram constantemente influenciados pela chave de latão ao longo do tempo. Eles aprenderam passivamente a verdade sobre o Projeto Abismo, receberam passivamente a “herança” da Rainha de Geada e até tiveram suas próprias vontades interferidas pela vontade da rainha. Durante todo esse tempo, essa “influência” foi simplesmente explicada de forma grosseira como “a maldição da Rainha de Geada”. Mas o que aconteceu com Agatha agora… fez Duncan perceber a possibilidade por trás daquela chave.

Juntando isso com a aparência idêntica de Alice e da Rainha de Geada, essa possibilidade apontava para uma direção ainda mais perturbadora — a boneca é um receptáculo, e a chave armazena a alma. A união dos dois seria a Rainha de Geada.

Duncan permaneceu em silêncio, suspirando suavemente em seu coração.

Ele entendeu por que Agatha não havia mencionado isso na frente de Tyrian.

Mas, logo em seguida, ele de repente sentiu que algo estava errado.

‘Alice, a boneca, e a chave de latão “capaz de armazenar almas”… são realmente o método de ressurreição da Rainha de Geada? Seria tão simples assim?’