Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 491: Nos Fundos do Jardim
Era uma grande pintura a óleo, predominantemente em tons de preto e vermelho, pendurada na parede mais próxima da escada em espiral.
Assim como a maioria das pinturas nesta “mansão”, ela parecia borrada e caótica, a superfície coberta por linhas e blocos de cor grosseiros e bizarros, que deixavam o observador tonto e incapaz de discernir qualquer conteúdo significativo, como um rabisco feito por um louco em meio a uma alucinação.
No entanto, quando o olhar de Duncan se fixou na pintura, observando-a por um longo tempo, ele de repente descobriu que algo nos blocos de cor caóticos e sombrios parecia mudar lentamente. Linhas emergiram das sombras e, entre as cores desordenadas, algo gradualmente se tornou discernível.
Parecia haver uma chama ardente, e dentro dela, algo semelhante ao casco de uma nave, atravessando um céu de nuvens espessas e caindo em direção ao mar. O céu era dividido em dois pela chama, e o mar fervia e se agitava sob o impacto do fogo. Atrás daquela chama, havia uma massa caótica de um vermelho escuro, que se aproximava sombriamente como um apocalipse em perseguição.
A cena inteira ainda era borrada, tudo apresentado em um estado extremamente abstrato, misturado e confuso. Mas foi essa cena vaga que fez o olhar de Duncan mudar instantaneamente.
Ele se lembrou instintivamente da cena que vira em sua visão anterior: a nave em formato de tridente em chamas caindo do céu, desintegrando-se na explosão ao atingir o mar.
Duncan parou, virou-se e examinou cuidadosamente a cena na pintura a óleo.
Logo, ele descobriu que a cena na pintura não era exatamente a mesma que ele vira na visão. A nave que ele vira na visão tinha um estilo distinto, sua tecnologia superior e sua imponência eram evidentes à primeira vista. No entanto, o “objeto envolto em chamas” na pintura tinha apenas um casco vago, que até parecia ser de alguma estrutura de madeira. As chamas ao seu redor pareciam mais uma simples combustão do que os jatos de propulsão na parte traseira de uma nave estelar.
Isso dava a impressão de que um pintor louco da Idade Média havia visto acidentalmente uma nave espacial de uma era futura em um sonho, mas, incapaz de compreender sua existência, só pôde, ao acordar no dia seguinte, esgotar seu conhecimento limitado e sua imaginação para recriar na tela aquela imagem ambígua, baseada na impressão superficial deixada pelo sonho.
A voz do mordomo sem cabeça veio de trás: “Convidado, está interessado nesta pintura?”
“…De onde vieram todas as pinturas daqui?”
“Elas estão aqui desde o início, convidado”, disse o mordomo sem cabeça.
“O início?”, perguntou Duncan, confuso. “Quando foi o início? Desde o nascimento desta ‘Mansão de Alice’? Desde que ‘Alice’ se tornou a dona daqui?”
“Desde o início dos tempos”, disse o mordomo sem cabeça com grande paciência. “Antes de tudo.”
‘Que tipo de resposta é essa?’
Duncan franziu a testa instintivamente, sentindo que a resposta do mordomo sem cabeça não dizia nada. No entanto, ao encarar a figura polida, ele não conseguiu discernir nenhuma emoção em sua postura. Aquele homem sem cabeça não tinha expressão nem olhar, apenas palavras educadas e apropriadas, com uma cortesia vazia.
Após um momento de reflexão, Duncan fez mais duas perguntas: “…Esta pintura a óleo tem um nome? Você sabe o que ela retrata?”
“Não tem nome. Nenhuma pintura aqui tem nome. Elas são existências naturais, não precisam de nomes ou interpretações. Quanto ao que a imagem descreve… peço desculpas, isso está além do meu conhecimento.”
“Você não é o mordomo daqui? Não conhece a situação desta mansão?”
“Sou apenas um servo. Esta mansão tem inúmeros segredos, e ela os guarda zelosamente. Não é um domínio que um servo deva conhecer.”
O canto da boca de Duncan tremeu.
Ele sentiu um impulso de atear fogo naquele mordomo, mas, no segundo seguinte, controlou à força esse pensamento perigoso.
Pois esta era a mansão de “Alice”, e este mordomo era parte dela. Suas ações aqui deveriam ser extremamente cuidadosas para evitar causar qualquer dano a Alice.
Duncan respirou fundo, acalmando-se, enquanto seu olhar varria as outras pinturas penduradas no corredor. Havia inúmeras pinturas a óleo ali, manchadas com incontáveis cores incompreensíveis.
Mas nenhuma das outras pinturas mudou sob seu olhar.
“…Vamos”, Duncan finalmente desviou o olhar, dizendo ao mordomo sem cabeça com um toque de pesar. “Leve-me a esse ‘jardim’ de que você falou.”
O mordomo sem cabeça fez uma leve reverência, virou-se e continuou a guiá-lo. Ele levou Duncan através da plataforma do segundo andar, desceu a escada em espiral e depois se virou em direção ao fundo do salão do primeiro andar. Havia uma pequena passagem ali, que levava ao jardim dos fundos da mansão.
No entanto, Duncan parou antes da passagem e se virou para olhar com curiosidade na outra direção do salão. No final de um longo tapete vermelho, havia uma porta de madeira escura, extremamente alta e imponente. Ao lado da porta, havia janelas estreitas, e do lado de fora parecia haver um emaranhado de espinhos.
Aquela parecia ser a “porta de entrada” de todo o edifício.
“O que há do outro lado daquela porta?”, perguntou Duncan de repente.
Ao ouvir essa pergunta, o corpo do mordomo sem cabeça tremeu visivelmente. No segundo seguinte, seu tom, que sempre fora gentil e calmo, pela primeira vez mostrou pânico: “Jamais se interesse pelo que há do outro lado daquela porta, convidado! Lá fora é um lugar de perdição eterna, de onde ninguém retorna!”
“Lugar de perdição eterna?”, a expressão de Duncan tornou-se séria. “Por que diz isso? Lá fora é o subespaço?”
“Subespaço? Não entendo o que isso significa… mas, por favor, não tente abrir aquela porta!”, o mordomo sem cabeça gesticulava freneticamente com as mãos. “Este é o maior tabu da mansão. Nenhum membro, sob nenhuma circunstância, pode abrir aquela porta…”
“Mas eu não sou um membro daqui”, vendo a reação do outro, Duncan adotou deliberadamente uma atitude de quem está ansioso para tentar. Foi a primeira vez que ele viu o mordomo sem cabeça tão transtornado, o que o fez sentir que havia encontrado uma brecha para obter informações. “E você disse desde o início que, por eu ter a chave, posso abrir qualquer porta aqui.”
“A chave em sua mão certamente pode… mas o senhor não deve fazer isso!”, disse o mordomo sem cabeça em pânico. Ele parecia querer mostrar uma oposição mais forte, mas talvez devido a alguma restrição, só podia agitar os braços ansiosamente a um metro de Duncan, tentando impedi-lo com palavras. “Não abra aquela porta, por todos os ocupantes…”
“O que há exatamente do outro lado daquela porta?”, Duncan encarou o mordomo sem cabeça, seu tom excepcionalmente sério.
“Do outro lado daquela porta… do outro lado daquela porta…”, o mordomo sem cabeça hesitou, como se estivesse se esforçando para organizar as palavras. “Convidado, o mundo do outro lado daquela porta já foi aniquilado, o fim de todas as coisas está chegando. A porta impede a aproximação do Apocalipse. Por favor, não a abra, não deixe o Apocalipse entrar…”
Duncan franziu a testa, ouvindo as palavras tensas e confusas do mordomo sem cabeça, tentando juntá-las com o que já sabia sobre este mundo.
‘O mundo do outro lado da porta já foi aniquilado… o fim de todas as coisas está chegando…’
Ele franziu a testa em profunda reflexão e, depois de um longo tempo, finalmente soltou um suspiro.
“Relaxe, eu não pretendo abrir aquela porta.”
Depois de suprimir temporariamente os vários pensamentos em sua mente, ele acenou levemente para o mordomo sem cabeça.
O outro suspirou de alívio. Embora não tivesse cabeça, e muito menos “expressão”, todo o seu corpo relaxou visivelmente.
“O senhor realmente me assustou, convidado”, disse o mordomo, virando-se para continuar a guiar o caminho. “Por favor, não faça mais esse tipo de brincadeira. Devemos evitar que o Apocalipse atravesse a porta. Ele já destruiu tudo no mundo, esta já é a última barreira…”
Duncan ouviu em silêncio as divagações assustadas do mordomo, seguindo-o sem dizer uma palavra. Eles atravessaram o pequeno corredor e finalmente chegaram a uma porta um pouco estreita. A porta era feita de grandes pedaços de vidro translúcido, reforçada com aço. A moldura de aço preto dividia a porta em muitas figuras geométricas de tamanhos variados, e dentro de cada figura, havia rabiscos de várias flores e plantas, criando uma atmosfera bizarra que misturava conto de fadas e terror.
“A dona da casa está no jardim. Por favor, sinta-se à vontade.”
O mordomo sem cabeça deu um passo à frente, girou a maçaneta da porta do jardim e se virou para Duncan.
“Você não vem comigo?”, Duncan ficou um pouco surpreso.
“O jardim é apenas para a dona da casa e visitantes com a chave. O jardineiro só entra no jardim quando necessário”, disse o mordomo sem cabeça. “Pode entrar sem receio. Se precisar de algo, puxe o cordão perto da porta. Estarei esperando aqui.”
“…Entendido, obrigado por me guiar.”
Duncan acenou para o mordomo bizarro e, sem mais se importar com a reação dele, avançou e empurrou suavemente a porta do jardim.
Um leve rangido quebrou a paz da mansão e do jardim.
Duncan atravessou a porta, e uma luz solar inacreditável inundou sua visão.
‘Luz do sol!
‘Nas profundezas desta mansão sombria e bizarra, cheia de sombras estranhas, realmente existe um jardim banhado pela luz do sol?!‘
Com um toque de espanto, Duncan avançou. Plantas exuberantes surgiram diante de seus olhos. Canteiros bem arranjados, arbustos bem podados e caminhos ladeados por grama verde eram um deleite para os olhos. E acima deste jardim vibrante, um brilho quente…
Duncan ergueu a cabeça, e sua expressão de surpresa gradualmente se transformou em uma testa franzida.
Ele viu um “céu” extremamente bizarro. Contra um fundo pálido, muitos traços semelhantes a rabiscos de criança flutuavam no alto, retratando um céu azul, nuvens brancas e um sol rudimentar. Ao redor do sol, havia muitas linhas douradas desenhadas para simbolizar a luz solar que se espalhava.
A “luz do sol” quente que iluminava todo o jardim era emitida por aquele “sol” ridiculamente parecido com um desenho de criança.
Uma ponta de alerta surgiu no coração de Duncan. O céu acima do “jardim” não o fazia mais se sentir aquecido, mas apenas deixava uma estranheza infinita.
Ele desviou o olhar do céu e, com grande cautela, começou a observar cuidadosamente a situação no jardim.
Uma mancha de cor diferente no final de um caminho chamou sua atenção.
Ele caminhou rapidamente naquela direção, contornou um arbusto e um muro baixo de flores, e finalmente viu a origem daquela cor diferente.
No cruzamento de vários caminhos, no centro de uma clareira nas profundezas do jardim, uma figura estava sentada em silêncio, encostada em uma coluna de mármore coberta de trepadeiras floridas, como se estivesse em um sono profundo.
E muitos espinhos negros, que se estendiam das trepadeiras, estavam enrolados por todo o seu corpo.

“… Alice?”
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