Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 493: O Quarto Roubado
Com a mente cheia de inúmeras perguntas e suposições, Duncan guardou a chave de latão junto ao corpo. Alice esperava obedientemente ao lado, seus olhos girando de um lado para o outro, como uma criança ansiosa por um segredo.
“Você sente algo diferente agora?”, perguntou Duncan, olhando nos olhos de Alice.
“Algo diferente?”, Alice inclinou a cabeça, levando a mão às costas. Depois de um tempo, balançou a cabeça. “Só senti uma coceirinha no buraco da chave agora há pouco, mas já passou.”
Duncan franziu a testa ao ouvir isso: “…Mais nada? Só isso?”
“Nada mais”, respondeu Alice honestamente, e em seguida mostrou uma expressão curiosa. “Deveria haver algo? Sua expressão está tão séria… O senhor descobriu algo sobre a chave?”
Duncan franziu a testa com força. Após um momento de hesitação, ele finalmente organizou seus pensamentos e palavras, sentou-se na cama em frente à boneca e disse com seriedade: “Você pode ter sentido que passou apenas um instante, mas eu estive em um lugar peculiar por um longo tempo. Era uma mansão antiga e enorme, e seu nome… era ‘Mansão de Alice’.”
Os olhos da boneca gótica se arregalaram pouco a pouco, enquanto ela ouvia a narração do capitão com surpresa e confusão.
Duncan não escondeu sua experiência na Mansão de Alice. Ele contou tudo o que viu e ouviu lá para a senhorita boneca à sua frente, e depois mencionou o que viu e ouviu nas profundezas do mar, incluindo seu encontro com a Rainha de Geada, Ray Nora.
Claro, ele sabia que Alice provavelmente só entenderia uma parte, e mesmo a parte que entendesse seria de forma confusa. As coisas de que ela se lembraria depois também seriam limitadas, mas ele ainda assim escolheu contar tudo.
Porque era algo que ela deveria saber. Ele não podia, com a mentalidade de “ela não vai entender de qualquer maneira”, tomar a decisão de esconder as coisas dela. Era o mínimo de respeito.
Alice ouviu tudo, atônita, até o fim. Mesmo depois que Duncan terminou de falar, a boneca gótica levou mais de dez segundos para voltar a si: “…Uau.”
Em seguida, ela coçou o cabelo, com uma expressão de confusão e um pouco de desculpa: “Eu… não entendi muito bem, minha cabeça está meio tonta… Desculpe, Capitão, o senhor se esforçou tanto para me ajudar a entender essas coisas, mas eu pareço ser um pouco burra…”
“Não, você não é burra, é que essas coisas são excessivamente complexas”, Duncan sabia que ela reagiria assim e sorriu, balançando a cabeça. “Até eu sinto que tudo isso está cheio de mistérios. As pistas são muitas e muito dispersas, e obviamente ainda estamos longe de desvendar o nevoeiro final.”
Alice assentiu, meio que entendendo, e depois de pensar um pouco, ficou curiosa: “Havia muitas pessoas naquela ‘mansão’? E todas sem cabeça?”
“Eu só vi um que se dizia mordomo, mas de acordo com ele, havia de fato muitas pessoas na mansão, só que todas estavam escondidas”, disse Duncan, relembrando. “Além disso, pelo que observei, todos deveriam ser servos sem cabeça.”
Alice franziu a testa, resmungando enquanto se esforçava para pensar: “Será que tem a ver com a minha habilidade de ‘decapitação’…”
“É uma possibilidade. Não se pode descartar que alguns servos sejam as almas daqueles que você já decapitou”, como alguém que conhecia a “Guilhotina de Alice”, Duncan naturalmente também pensou nessa direção. No entanto, ele logo mudou de assunto. “Mas, de acordo com algumas informações reveladas pelo mordomo, a mansão também reúne um grande número de almas ‘à deriva’, como uma espécie de exilados que recebem a proteção da mansão. Essa parte dos servos não parece ser de decapitados…”
Ele fez uma pausa, pensou um pouco e continuou: “Talvez, seja a sua habilidade de guilhotina que faz com que todas as almas reunidas na mansão apareçam sem cabeça, independentemente de sua ‘origem’ específica.”
“Oh…”, Alice pareceu entender. Em seguida, ela pareceu pensar em algo. “E aquela ‘Rainha de Geada’? Ela simplesmente desapareceu?”
“O quarto realmente desapareceu”, Duncan assentiu. “Parece que, como ela mesma disse, quando o tentáculo do deus antigo que servia como ‘ponto de conexão’ foi destruído, o ‘Lugar à Deriva’ perdeu suas amarras, como se as cordas de um…”
Ele parou de repente, com uma expressão pensativa.
“Capitão?”, Alice olhou para Duncan, sem entender. “Por que o senhor parou de falar de repente?”
Ela perguntou duas vezes antes que Duncan levantasse a cabeça de sua reflexão, com um tom sério: “Estou pensando se o ‘Lugar à Deriva’ de que Ray Nora falou se referia ao seu quarto ou a toda a Mansão de Alice.”
“Ah?”, Alice não entendeu de imediato. “Qual é a diferença?”
“Se o Lugar à Deriva se referisse a toda a Mansão de Alice, então, quando o ‘ponto de conexão’ foi queimado por mim, o que deveria ter desaparecido seria a mansão inteira, e não um único quarto no segundo andar. Se o Lugar à Deriva se referisse apenas ao quarto onde ela dormia, então qual seria a relação entre aquele quarto e a mansão inteira? Ou melhor… a ‘conexão’ entre o quarto dela e a mansão inteira, não contaria como um ‘ponto de conexão’?”
Duncan fez uma pausa e apontou para Alice.
“Mais importante, depois de girar a chave em você, eu entrei naquela ‘Mansão de Alice’. É óbvio que a conexão entre aquela mansão e você é a mais forte. Vocês deveriam até mesmo ser uma espécie de ‘unidade de corpo e mente’. Se o ‘Lugar à Deriva’ precisa de um ponto de conexão para existir de forma estável… então você é obviamente o ponto de conexão mais estável.”
Alice piscou, ouvindo atentamente, esforçando-se para entender — mas não conseguiu.
No entanto, sua virtude sempre foi a sinceridade: “Do que o senhor está falando?”
“O quarto onde a Rainha de Geada dormia foi ‘arrancado’ do corpo principal da mansão, com marcas óbvias de destruição nas bordas. No início, não prestei muita atenção a isso, mas agora me ocorreu… Ray Nora pode ter me escondido algumas coisas.
“O chamado ‘Lugar à Deriva’, teoricamente, deveria se referir a toda a Mansão de Alice. E essa mansão está intimamente ligada a você, e pelo que observei, não tem tendência a ‘derivar’. Portanto, é muito provável que Ray Nora tenha aproveitado a oportunidade de eu queimar o tentáculo do deus antigo, aproveitando o enfraquecimento de alguma ‘conexão’, para ‘separar’ à força seu quarto do corpo principal da mansão.”
Alice continuou a se esforçar para entender.
Mas desta vez, ela finalmente entendeu a maior parte.
“O senhor quer dizer que a Rainha de Geada aproveitou o incêndio que o senhor provocou para ‘fugir’ com o quarto dela? Como quem aproveita um nevoeiro denso para fugir com o bote salva-vidas do navio?”
Duncan ficou surpreso ao ouvir isso, olhando para a boneca com espanto: “Sua analogia é sutilmente pertinente… Como você pensou nisso?”
“O Senhor Cabeça de Bode me contou muitas histórias sobre isso. Marinheiros rebeldes que aproveitam o nevoeiro denso para roubar o bote salva-vidas do navio, roubar os barris de vinho, roubar o queijo, roubar o peixe salgado… e então o capitão sábio e poderoso cruzaria todo o Mar Infinito para recuperar o peixe salgado roubado… O senhor vai capturar aquela Rainha de Geada que roubou o quarto?”
Duncan ouviu, atônito. Quando Alice terminou, ele fez uma careta estranha: “Primeiro, sem falar por que um marinheiro rebelde roubaria peixe salgado, e por que eu cruzaria todo o Mar Infinito para recuperar um peixe salgado… Onde eu vou encontrar essa Rainha de Geada? Além disso, se alguém tem que capturá-la, deveria ser você, ela roubou o seu quarto. Você é a dona da Mansão de Alice.”
“…É mesmo”, Alice pensou um pouco e aceitou a lógica com simplicidade, depois balançou a cabeça. “Então eu não vou capturá-la. Afinal, aquele quarto era dela originalmente. Mas… por que ela faria isso? O senhor não acabou de dizer que, uma vez que o Lugar à Deriva perdesse suas amarras, ele sairia voando por aí, e poderia até cair no subespaço, como um exílio? Isso não é muito assustador?”
Duncan não pôde deixar de ponderar, falando lentamente em meio à sua reflexão: “Sim, por quê?…”
Ele se lembrou da Ray Nora que conhecera, daquela “Rainha de Geada” que parecia ter usado grilhões desde o nascimento, foi coroada com grilhões, derrubada com grilhões e, mesmo caindo nas profundezas do mar, continuou aprisionada em um pesadelo.
Ela disse que sempre dormiu em uma jaula, mesmo que as grades tenham sido removidas mais tarde.
Agora, ela havia escapado da prisão — levando sua cela com ela.
“Provavelmente pela ‘liberdade'”, disse Duncan em voz baixa.
Mas seria apenas pela “liberdade”?
Os ponteiros dos mostradores no console de controle tremiam rapidamente. A oscilação ao se aproximar da superfície tornava-se cada vez mais evidente. Através da espessa vigia de vidro, já era possível ver vagamente alguns raios de luz vindos de cima na água profunda e sem fim.
A luz do sol apareceu na água, o que significava que o submersível se aproximava rapidamente da superfície.
No entanto, o brilho crescente não conseguia dissipar completamente a impressão opressiva deixada pelas profundezas do mar. Era como se, na vasta escuridão sob o submersível, algo continuasse a subir, a se dissipar, a estender tentáculos invisíveis, a abrir os braços para cima, a reter os intrusos que haviam invadido as profundezas.
As coisas que Duncan lhe contara durante a subida ainda giravam em sua mente: chocantes, bizarras, estranhas, abalando suas crenças.
Fosse a alma da Rainha de Geada, que conviveu com um deus antigo por cinquenta anos nas profundezas do mar, ou a terrível possibilidade contida em todas as coisas do mundo mortal, tudo era suficiente para fazer uma pessoa de mente firme e fé devota sentir um frio cortante sob o sol.
‘Todas as coisas do mundo mortal são proles de deuses antigos, a carne e o sangue dos deuses antigos existem em todos os seres vivos e estão despertando gradualmente.’
Mesmo nos textos mais blasfemos e heréticos, ninguém ousaria registrar tais palavras. Aqueles Aniquiladores mais loucos apenas tocaram superficialmente em teorias como “o Senhor das Profundezas criou o mundo”.
A luz do sol vinda da superfície tornava-se cada vez mais brilhante.
Mas o corpo já morto não sentia nenhum calor.
Agatha juntou as mãos no peito, chamando silenciosamente o nome de Bartok, querendo orar ao seu deus.
Mas não conseguia se acalmar de jeito nenhum.
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