Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Em Geada, no escritório de cúpula do Governador da cidade-estado, Tyrian estava em frente a um espelho, ajeitando meticulosamente as medalhas e faixas em seu peito.

    Seu rosto de um olho só ainda era severo, até mesmo um pouco assustador, mas o novo uniforme de Governador e as medalhas brilhantes transformavam essa severidade em uma majestade confiável — neste momento, a cidade precisava de um Governador majestoso.

    Tyrian soltou um leve suspiro e se virou para o outro lado do escritório.

    Dois marinheiros Mortos-Vivos estavam pendurando a nova bandeira da cidade-estado na parede. Ao lado da bandeira, uma frase vigorosa ainda estava profundamente gravada ao lado da grande porta, como há meio século:

    “Deixar o maior número possível de pessoas sobreviver.”

    Tyrian observou as palavras em silêncio por um longo tempo antes de assentir levemente e caminhar em direção à grande mesa de trabalho não muito longe. Ainda havia um pouco de tempo antes do início do evento oficial, e ele poderia usar esse tempo para relembrar e organizar o procedimento que se seguiria, ou para acalmar suas emoções.

    O complexo conjunto de lentes sobre a mesa começou a funcionar por conta própria, e a superfície da esfera de cristal no centro brilhou levemente. A figura de Lucretia emergiu da luz fraca, olhando Tyrian de cima a baixo.

    “Este traje lhe cai muito bem,” disse a “Bruxa do Mar” em seu vestido preto. “Combina com o tapa-olho.”

    Tyrian puxou o colarinho perto de seu pescoço e olhou de soslaio para a irmã na esfera de cristal: “Você veio aqui só para zombar de mim?”

    “Estou elogiando de coração,” disse Lucretia com uma expressão séria. “Faz muitos anos que você não cuida tão seriamente da sua imagem. A aparência rude e intencionalmente assustadora de pirata não combina nada com você.”

    “Pode ser que eu tenha que manter essa imagem por muito, muito tempo, até que um Governador mais adequado apareça, ou até que o pai tenha outros planos”, disse Tyrian, fazendo uma pausa. “Mais cedo ou mais tarde, sentirei falta daqueles dias de liberdade e despreocupação.”

    “Pelo menos não hoje”, Lucretia sorriu levemente. “E então, prestes a prestar juramento como Governador de uma cidade-estado, como se sente? Ouvi dizer que depois você fará um desfile para se mostrar aos cidadãos?”

    “O desfile é para acalmar os corações, para que as pessoas acreditem que a ordem foi restabelecida e que a liderança da cidade-estado ainda está assumindo a responsabilidade. Embora eu não goste muito dessa parte, ela tem sua necessidade”, disse Tyrian. “Quanto a como me sinto sendo Governador…”

    Ele parou, balançou a cabeça um momento depois e continuou: “Não sinto nada em particular, porque a transição do trabalho e a formação da equipe no gabinete já foram feitas há muito tempo. Já estou trabalhando como Governador até agora. A cerimônia de ‘posse’ de hoje é apenas um ‘procedimento’ para o público.”

    “É mesmo? Então, desejo que seu procedimento corra bem, maninho”, Lucretia riu, de repente usando o apelido de quando eram crianças, muitos, muitos anos atrás. Em seguida, ela fez uma pausa, com uma expressão séria. “E sobre o que o pai nos pediu para fazer, como estão seus preparativos?”

    “Já redigi alguns rascunhos de cartas secretas para outras cidades-estado, mas os detalhes ainda precisam ser aprimorados. É preciso transmitir o alerta, fazê-los perceber a gravidade da situação, e ao mesmo tempo evitar ambiguidades e reações excessivas ou exageradas das outras cidades. Francamente, este tipo de trabalho de escritório é muito mais difícil do que liderar uma frota para lutar contra Proles do Mar Profundo ou outros piratas.”

    “Se quer saber minha opinião, apenas diga as coisas de forma clara e séria. De qualquer forma, quem se torna Governador é inteligente, ou pelo menos deveria ter gente inteligente o suficiente sob seu comando. Eles saberão como lidar com isso. Você está apenas dando um aviso, não agindo como uma babá ensinando-os a estabelecer um ‘mecanismo de alerta’,” disse Lucretia casualmente. “Eu já estou me preparando para contatar a Associação de Exploradores. Ha, mal posso esperar para ver a reação deles.”

    “Um alerta da Frota do Banido para todo o mundo civilizado”, disse Tyrian com um tom de emoção. “A última vez que algo semelhante aconteceu foi há um século.”

    “…Sim, quando o pai descobriu pela primeira vez que o fenômeno do colapso da fronteira estava aparecendo no ‘interior'”, disse Lucretia em voz baixa. “Ainda me lembro dos sinos da igreja tocando naquela época. Os jornais de todas as cidades-estado discutiam o alerta do grande aventureiro Duncan Abnomar.”

    “Tantos anos se passaram, e ele está mais uma vez observando a ‘fronteira’ deste mundo. A história parece ter voltado ao ponto de partida. Talvez, de certa forma, o Banido nunca tenha se perdido. Seu século no Subespaço foi apenas um tipo de viagem de longa distância em uma dimensão mais ampla que ainda não conseguimos entender. Agora ele voltou, trazendo o brilho de uma nova rota, como nos versos deixados pelo poeta louco Pullman: ‘Eles podiam seguir em frente em uma direção, até contornar o reverso do mundo, e de um ângulo surpreendente, retornar ao mundo dos homens’…”

    Tyrian recitou em voz baixa este famoso e absurdo poema histórico, levantando-se lentamente de trás da mesa. Do lado de fora do escritório de cúpula, o som de uma banda já podia ser ouvido fracamente, e passos vinham do corredor — a hora havia chegado. Era hora de a cidade ver seu novo Governador.

    “Força, maninho. E não se esqueça da minha Lente do Plano Espiritual.”

    “Não se preocupe, desta vez eu me lembro.”


    O vento frio e cortante soprava através dos arbustos esparsos ao lado do caminho, sobre as grades de ferro escuras e esculpidas, sobre as lápides silenciosas e as plataformas de necrotério vazias ao longo da pequena trilha, finalmente se dissipando nas profundezas do cemitério.

    Duas figuras caminhavam lentamente pela pequena trilha do cemitério.

    Uma figura era excepcionalmente alta e robusta, vestindo um casaco preto puro e um chapéu de abas largas igualmente preto. A pele visível sob as roupas estava coberta por camadas de bandagens, uma visão intimidante.

    A outra usava um simples vestido preto de sacerdotisa, com os olhos vendados e cabelos castanhos soltos.

    “Pensei que você compareceria à cerimônia de posse do Governador Tyrian, mesmo que na forma deste avatar”, disse Agatha em voz baixa, acompanhando Duncan. “Não seria difícil arranjar um lugar adequado para você.”

    “Se eu não aparecer, ele ficará bem. Se eu aparecer, ele pode ficar nervoso”, disse Duncan. “O desfile passará por aqui mais tarde. Eu aceno para ele de longe e já basta.”

    Enquanto falava, ele levantou a cabeça, olhando para a trilha bastante deserta do cemitério e para as plataformas de necrotério vazias ao lado dela.

    “… Até que sinto falta deste lugar. Na minha memória, isto aqui costumava estar cheio de caixões.”

    “Em tempos especiais, tivemos que mudar temporariamente o processo de envio. Os corpos deste período devem ser enviados ao incinerador o mais rápido possível. Os monges do silêncio fazem o consolo e a despedida ao lado do fogo, então o cemitério ficou mais silencioso.”

    Duncan assentiu com um “hum” e parou de repente quando estava prestes a chegar ao final da trilha.

    A modesta cabana do guarda apareceu diante dele — e na frente da cabana havia uma visitante especial.

    Uma menina de doze anos, vestindo um casaco de inverno branco e grosso, com um chapéu felpudo, parecia uma bola de neve bem agasalhada, ocupada na frente da cabana do guarda, segurando uma vassoura grande quase tão alta quanto ela, esforçando-se para limpar a neve acumulada.

    “Aquela é a Anne?” Duncan virou a cabeça ligeiramente e perguntou em voz baixa.

    “É ela. Exceto pelos primeiros dias de toque de recolher, ela vem aqui todos os dias durante o intervalo do almoço da escola,” disse Agatha em voz baixa. “O guarda daqui não está mais, e um novo ainda não foi designado. O cemitério está temporariamente sob a administração da igreja mais próxima. Ela estar aqui… não faz mal, então a igreja permitiu que ela entrasse e saísse livremente.”

    “Com a sua permissão também?”

    “… Sim.”

    A menina que varria a neve na frente da cabana finalmente notou o movimento na direção da trilha.

    Ela se virou, surpresa ao ver as duas figuras que apareceram não muito longe. Depois de alguns segundos, ela jogou a vassoura de lado e correu alegremente.

    “Irmã Guardiã do Portão! E Tio Duncan!”

    Anne cumprimentou alegremente os dois conhecidos, mas assim que terminou de gritar, pareceu se lembrar de algo, endireitou-se rapidamente e olhou para Agatha: “Mamãe disse que devo chamar de Vossa Excelência, a Guardiã do Portão, ou de Arcebispa…”

    “Não se preocupe, pode me chamar como preferir,” Agatha sorriu e afagou o chapéu de Anne. “Está com frio?”

    “Não”, Anne balançou a cabeça, e em seguida agarrou a mão de Agatha, apontando com a outra mão para a cabana não muito longe. “Sua mão está tão fria, entre para se aquecer perto do fogo. Eu também fiz chá de ervas!”

    Agatha instintivamente quis recusar, mas viu que Duncan já havia caminhado em direção à cabana. Ela ficou um pouco surpresa e só pôde segui-lo, resignada.

    Na cabana limpa e simples do guarda, o fogo na lareira estava forte, a lenha estalava no fogão, e um bule de chá ao lado soltava vapor, que carregava o aroma fresco e amargo de ervas.

    Anne serviu duas xícaras de chá quente, colocando as xícaras quentinhas nas mãos de Duncan e Agatha: “Isto é para os guardas da igreja que fazem a ronda. Eles estarão aqui em breve. Se vocês… não beberem, pelo menos aqueçam as mãos.”

    A menina parecia ter acabado de perceber que a “Irmã Guardiã do Portão” à sua frente já era um cadáver.

    Agatha não se importou. Ela agradeceu e segurou a xícara que já começava a esquentar em suas mãos.

    “Está mais quente?” perguntou Anne novamente.

    Frio, o mundo inteiro estava frio. A xícara de chá estava fria, e o fogo da lareira também.

    Agatha sorriu gentilmente: “Muito mais quente.”

    Em seguida, ela notou que Duncan olhava para os lados de vez em quando.

    “O que você está olhando?” ela perguntou, confusa.

    “Estou pensando que este é um bom lugar para ‘instalação’,” Duncan desviou o olhar do quarto e disse a Agatha. “Afinal, se for apenas para ‘instalar’ um avatar, a casa na Rua do Carvalho seria um desperdício.”

    Agatha ficou atônita por um momento e, aos poucos, compreendeu, com uma expressão de surpresa no rosto: “Você… por acaso…”

    “O Banido precisa continuar sua viagem, e este meu avatar que fica na cidade precisa de um lugar para se instalar”, disse Duncan com indiferença. “Não precisa se preocupar com um novo guarda. Isso vai lhes poupar muito trabalho.”

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