Capítulo 500: Aquela que Zarpa

Anne olhava, confusa, para os dois “convidados” na cabana, seu olhar alternando entre Agatha e Duncan. Depois de um longo tempo, a menina finalmente pareceu entender: “Ah, Tio Duncan, você vai ser o guarda do cemitério?”

“Talvez”, disse Duncan, olhando para Agatha, que ainda estava surpresa. “Isso é possível? Ou o guarda do cemitério precisa ser um veterano da guarda?”

Agatha finalmente recobrou o juízo e disse apressadamente: “Não… embora geralmente os guardas do cemitério sejam veteranos aposentados da guarda, se eu intervir, é claro que posso arranjar um lugar para você. O problema não é esse. A questão é… você realmente quer ficar neste cemitério como guarda?”

“Minha identidade em Pland ainda é a de um antiquário”, disse Duncan com um sorriso nos olhos. “O Banido não ficará parado em um lugar, mas meu avatar permanecerá na cidade-estado. Preciso encontrar algo para fazer, não posso passar os dias bebendo chá e lendo jornal naquela casa grande na Rua do Carvalho, certo?”

“Isso… eu realmente não tinha pensado sobre esse problema”, Agatha abriu a boca, sentindo-se um pouco embaraçada. “Eu nunca imaginei o que seu ‘avatar’ precisaria fazer no dia a dia…”

“Normal. A maioria dos romances e filmes também não menciona os protagonistas mudando de emprego após o fim dos eventos. E a realidade é que agora você está fazendo o trabalho de duas pessoas, e Tyrian está sobrecarregado de papelada o dia todo”, Duncan riu. “Para mim, navegar pelo Mar Infinito em um navio fantasma que nunca atraca também é algo muito monótono. Viver uma vida normal na cidade-estado é a minha maneira de garantir que ainda me sinto ‘humano’. Você pode considerar isso como…”

Agatha o interrompeu instantaneamente: “Vou providenciar isso imediatamente. Amanhã você pode vir ao cemitério para ‘assumir o cargo’.”

Duncan: “… Eu ainda não terminei de falar.”

“Eu já ouvi a parte mais importante”, disse Agatha com uma expressão solene. “Pode ficar tranquilo, mesmo que o mais alto santuário questione, garantirei que você possa ser um guarda neste cemitério em paz.”

“… Sinto que você entendeu minhas palavras de forma um pouco exagerada, mas não é um grande problema”, disse Duncan, um tanto sem jeito, e então realmente começou a perguntar sobre o “trabalho”. “O que um guarda de cemitério precisa fazer no dia a dia?”

“Na verdade, basicamente não há muito trabalho. A tarefa do guarda é apenas garantir que o cemitério não seja ‘perturbado’, garantir a calma do poder transcendental, e além disso, registrar as pessoas vivas e mortas que entram e saem do cemitério. Quanto à manutenção das instalações, isso é responsabilidade da igreja próxima”, explicou Agatha. “Dado que atualmente até as noites em Geada se tornaram extremamente seguras, acho que… não apenas você, mas todos os guardas de cemitério não terão muito o que fazer.”

O tom de Agatha era um pouco estranho ao dizer isso, e seu olhar passava por Duncan de vez em quando, obviamente pensando na relação entre a recente calma noturna de Geada e a presença à sua frente.

E ela ainda tinha algumas coisas que não disse em voz alta — mesmo que as noites na cidade-estado ainda fossem perigosas como antes, que diferença faria? O cemitério acolheu um “guarda” como este, e provavelmente nunca mais haveria um incidente de agitação de poder transcendental. Era provável que mesmo que algo do Subespaço saísse de um caixão, seria esbofeteado de volta pelo novo guarda…

De qualquer forma, isso era uma coisa boa.

Duncan, no entanto, não sabia o que Agatha estava pensando. Ele mesmo não considerou coisas muito complicadas, porque ele realmente só queria encontrar algo para seu corpo fazer — e considerando a última vontade remanescente neste corpo, e sua “afinidade” com este cemitério, ele finalmente escolheu ficar aqui e se tornar o novo guarda do cemitério.

Ele continuaria a vigiar Geada daqui, a cuidar e proteger esta cidade-estado, assim como em Pland.

O chá quente em suas mãos já havia esfriado.

Duncan colocou a xícara na mesinha ao lado, levantou-se e observou silenciosamente a pequena casa. A mobília simples e modesta entrou em seus olhos, como se ainda restassem vestígios do antigo proprietário.

Na parede ao lado da porta, uma velha espingarda de caça, que parecia muito antiga, estava pendurada em um gancho de ferro. O ferrolho ainda brilhava, refletindo o fogo da lareira.

Duncan olhou para a velha espingarda por um tempo, assentiu levemente e saiu da cabana.

Uma melodia animada e vibrante vinha de uma rua fora do cemitério, misturada com o som de fogos de artifício.

Anne saiu pela porta da cabana atrás dele e, ouvindo o barulho na rua distante, puxou alegremente a barra da roupa de Duncan: “O desfile do novo Governador vai passar pelo portão do cemitério!”

“Muitas pessoas ainda têm muito medo do novo Governador”, Duncan abaixou a cabeça, com um sorriso nos cantos dos olhos. “Você não parece ter medo nenhum?”

“Eu não tenho medo. Mamãe disse que o novo Governador é um herói que protege a cidade-estado”, Anne ergueu o rosto, semicerrando os olhos sob a luz do sol. “Como o papai, ele é uma pessoa muito poderosa.”

Duncan pensou um pouco e estendeu a mão para afagar suavemente o chapéu felpudo da menina.

“De fato, ele será um excelente Governador.”

No Mar Infinito, Duncan atravessou o convés de popa e voltou para a cabine do capitão.

O Cabeça de Bode estava ao leme com seriedade. Sobre a mesa de navegação, a névoa densa que pairava sobre a grande carta náutica fluía e se dissipava lentamente.

Duncan ficou em frente à carta por um tempo, seu olhar percorrendo as rotas de navegação perto de Geada que gradualmente se tornavam claras, e então caminhou para um canto da sala.

O espelho oval de estilo antigo e elegante da cabine do capitão ainda estava pendurado silenciosamente na parede, refletindo a cena da cabine. Na interação de luz e sombra, a imagem parecia de alguma forma indistinta.

Duncan deu um passo à frente, dobrou os dedos e bateu levemente na borda do espelho.

No segundo seguinte, a superfície do espelho, que parecia comum, ondulou subitamente com camadas de luz e sombra nebulosas, como se inúmeras névoas e poeiras estivessem subindo do mundo do espelho. Em seguida, uma figura emergiu da luz nebulosa.

Agatha — a Guardiã do Portão no espelho — apareceu diante de Duncan.

“Bom dia, capitão”, a voz ligeiramente magnética de Agatha veio do espelho. “É um prazer vê-lo.”

Duncan assentiu e perguntou casualmente: “Como se sente? Está se acostumando?”

“Sinto-me… muito bem”, disse Agatha lentamente. “Quando fui ‘transferida’ para o navio, o vasto e vazio mundo do espelho me deixou um pouco nervosa, mas talvez por estar me adaptando, a escuridão vazia começou a se dissipar… Também tentei conversar com a senhora ‘Masha’. Ela me ensinou muitas habilidades e conhecimentos como uma ‘Imagem Espelhada’, tudo muito útil.”

Duncan ergueu as sobrancelhas ao ouvir isso: “Oh? Você pode contatar Masha diretamente daqui?”

“O Carvalho Negro vaga no reflexo das águas próximas. No mundo dos espelhos, ela e eu somos ‘vizinhas’,” Agatha sorriu. “É uma experiência muito estranha. O mundo nos espelhos é descontínuo, mas conectado em todos os lugares. Posso pular de um espelho para outro, aparecer em muitos espelhos ao mesmo tempo, ou me esconder no vasto vácuo por trás deles… Talvez leve muitos, muitos anos para entender tudo isso completamente.”

Duncan ouvia com interesse enquanto a “Imagem Espelhada” lhe contava sobre as “leis do espelho”, inimagináveis e além da compreensão de uma pessoa comum. Quando ela terminou de falar, ele assentiu levemente: “Parece que você está gostando do processo, isso é bom.”

Agatha fez uma pausa e suspirou baixinho: “… Sim, é melhor do que eu imaginava.”

A cabine do capitão ficou em silêncio por um tempo. Depois de não se saber quanto tempo, Duncan quebrou o silêncio de repente: “Eu quero saber, o que a fez decidir deixar Geada e embarcar em uma jornada com o Banido? Esta será a viagem mais longa de sua vida. Este navio pode ir a muitos lugares: cidades-estado distantes, reinos secretos selados, o Plano Espiritual, as Profundezas Abissais, e até mesmo o Subespaço…”

Agatha no espelho ficou pensativa. Ela considerou a pergunta com seriedade e, depois de vários minutos, falou lentamente: “Acho que foi quando ‘nós’ mergulhamos juntos naquele mar escuro e profundo.”

Duncan não falou, apenas olhou para a pessoa no espelho, esperando que ela continuasse.

A voz no espelho soou novamente—

“Eu tenho todas as memórias e emoções de Agatha. Naquela memória, eu nasci em Geada, acompanhada por família e amigos. Eu estudei e treinei, e passei pelas provações da igreja. E aquelas ruas, aquelas velhas torres de sino, tudo aquilo que estava em mau estado… mas era tão familiar. Todas essas coisas estão na minha mente, claras e profundas, como se… eu mesma as tivesse vivido.

“Mas o que todos nós sabemos é que, até o dia da invasão das Imagens Espelhadas, a vida que realmente pertencia a ‘mim’ mesma, na verdade, durou apenas três dias.”

“Então, quando minha consciência se recuperou, quando voltei a este mundo na forma de uma Imagem Espelhada, eu estive pensando em uma pergunta: eu sou a Guardiã do Portão Agatha, ou sou uma ‘pessoa’ que apenas herdou as memórias de alguém e renasceu neste mundo?”

Ela parou. Como uma “Imagem Espelhada”, seus olhos eram brilhantes, e naquele momento, aqueles olhos estavam fitando seriamente o capitão fora do espelho.

“Você estava certo. Uma ‘pessoa’ não pode viver para sempre como a sombra de outra pessoa.

“Quase toda a minha vida anterior veio de outro indivíduo, mas mesmo assim, naquelas memórias, havia três dias que eram meus.”

“Mas se eu ficasse em Geada, aqueles meros três dias de ‘vida’ seriam, mais cedo ou mais tarde, soterrados por memórias muito maiores e mais profundas. Eu não poderia cortar minha conexão com aquela cidade, não poderia evitar minhas fraquezas como mortal. Eu estava destinada a ser uma sombra, uma sombra cheia de arrependimentos, presa em memórias. E com o tempo… esse arrependimento se transformaria em ressentimento e ódio.

“Eu não podia aceitar essa possibilidade.

“Mas na ‘viagem de mergulho profundo’ que fiz com você, as palavras que você me disse… me mostraram uma nova possibilidade.”