Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 547: O “Lar” de Lucy
Na Rua da Coroa, no bairro localizado na borda do Distrito Superior de Porto Brisa, havia uma mansão sempre envolta em mistério, situada em seu ponto mais profundo — Rua da Coroa, 99.
Era um edifício de três andares com telhado pontiagudo, de um estilo distintamente nortenho, que se destacava das casas de estilo élfico comuns de Porto Brisa. Tinha um telhado de cor escura e paredes externas brancas em contraste, com janelas altas de padrões complexos e linhas solenes. A mansão tinha jardins espaçosos na frente e atrás, algo bastante raro na cidade-estado, onde eram cultivadas várias flores, plantas e arbustos estranhos, cujos nomes quase ninguém conseguia identificar.
Muitas pessoas sabiam da existência desta mansão, mas quase ninguém conhecia seus detalhes, pois seu dono raramente aparecia. Durante o dia, apenas alguns servos silenciosos cuidavam do jardim e da casa. E, ao cair da noite, quando as luzes da mansão se acendiam, algumas sombras de aparência bizarra e aterrorizante apareciam naquelas luzes.
Alguns insistiam que viam os servos que cuidavam da casa durante o dia despirem suas peles humanas à noite, transformando-se em bonecos de madeira e homens de lata que rangiam ao se mover pela casa. Outros declaravam que, ao passar perto da mansão, foram atraídos por sussurros inexplicáveis e, quando recuperaram a consciência, já estavam em outro lugar. Havia até quem dissesse ter visto com os próprios olhos as flores e plantas do jardim da frente se transformarem em espinhos negros no instante em que o sol se punha, envolvendo todo o primeiro andar da grande casa como uma jaula.
Os rumores estranhos que se espalharam a partir daí eram inúmeros. No boato mais absurdo, os curiosos afirmavam que a casa na verdade aprisionava o espírito ressentido de uma senhora, e que o poder da maldição se espalhava do porão da mansão, transformando os servos originais — tornando-os homens de lata e bonecos de madeira sem consciência ou memória quando a noite caía.
No entanto, tudo isso acabou se provando apenas fantasias estranhas imaginadas por transeuntes nervosos — e nas cidades-estado do Mar Infinito, rumores e imaginações semelhantes não eram incomuns.
As mutações e a poluição trazidas pela noite deixavam as pessoas tensas, e era inevitável que muitos, em excesso de vigilância, considerassem cavernas que assobiavam com o vento e casas vazias que emitiam ruídos estranhos como ninhos de imundície que se reproduziam na escuridão. Os guardas da cidade-estado lidavam com muitas denúncias envolvendo o sobrenatural todos os dias, e era inevitável que houvesse “alarmes falsos” de nervosismo — em geral, desde que essa tensão não ultrapassasse a fronteira da “poluição mental”, não haveria problema.
Afinal, a simples tensão não era suficiente para realmente “criar” algo na escuridão, e era melhor que os cidadãos tivessem vigilância suficiente do que não reagir quando a infestação sobrenatural realmente ocorresse.
Quanto ao verdadeiro dono da mansão…
A “Bruxa do Mar” já estava acostumada com os olhares temerosos e as mensagens aterrorizantes que a cercavam. Em certo grau, parte dos rumores que cercavam a Rua da Coroa, 99, foi ela mesma quem espalhou.
“Eu preciso de um lugar para descansar na cidade-estado. Afinal, ficar sempre no mar deixa as pessoas tensas, e eu não sou exceção”, de volta à sua “casa” em Porto Brisa, Lucretia foi até a janela e olhou para a entrada bastante tranquila do lado de fora. “Mas eu não gosto de lidar com pessoas — é difícil encontrar um lugar verdadeiramente tranquilo na cidade-estado, até os bairros mais remotos são lotados. Então, é melhor criar um pouco de barulho assustador para evitar que curiosos fiquem olhando para a minha porta.”
“Por que não considera aprender com Tyrian?” Duncan estava curiosamente examinando a mobília da grande casa e, ao ouvir as palavras de Lucretia, disse casualmente. “Ele encontrou uma ilha deserta na área desabitada do Mar Gélido para servir como base da Frota do Névoa do Mar, e não precisou se preocupar em ser perturbado por um século…”
Lucretia virou a cabeça: “E então ser pego pelo papai enquanto assiste a um show de striptease em casa?”
Duncan tossiu secamente duas vezes: “Tosse, tosse, não fale assim do seu irmão — diga isso na frente dele da próxima vez.”
Lucretia: “…”
O canto do olho da senhorita bruxa tremeu visivelmente — ela não sabia se gostava da personalidade atual de seu pai, mas sabia que obviamente precisava de um pouco de tempo para se adaptar.
No entanto, ela rapidamente recompôs sua expressão: “Não posso aprender com ele. Ocupar uma ilha significa construir e gerenciar inúmeras instalações, além de comandar uma frota e manter todo o sistema, desde a logística até as relações externas. Não tenho cérebro para isso — isso ocuparia muito do meu tempo de pesquisa. Saiba que apenas manter o Brilho Estelar funcionando já consome toda a minha energia.”
Passos vieram do lado. Um servo de uniforme preto e branco, segurando uma bandeja, aproximou-se. Na bandeja havia toalhas aquecidas e uma bebida refrescante para aliviar o cansaço da viagem. O servo se curvou levemente em reverência a Lucretia e Duncan, com um sorriso rígido como o de um cadáver no rosto, e o tique-taque de engrenagens e mecanismos de corda veio de dentro de seu corpo.
“Você e Tyrian têm suas próprias áreas de especialização”, Duncan pegou uma bebida da bandeja e examinou curiosamente o “mordomo”, que parecia idêntico a uma pessoa real, mas que, com um olhar mais atento, revelava uma estranheza não humana que gerava medo psicológico. Ele disse casualmente a Lucretia: “Antes de reencontrá-los, ouvi muitos rumores sobre vocês. Os rumores diziam que a relação entre você e seu irmão era fria, quase hostil. Agora, parece que isso está absurdamente errado.”
“Afinal… a divisão da Frota do Banido foi um grande evento há um século, e o que aconteceu depois não é algo que uma pessoa comum possa descobrir. Eles só sabem que o Brilho Estelar e o Névoa do Mar seguiram caminhos separados, quase indo para os dois extremos do mundo civilizado. Isso inevitavelmente os leva a imaginar… um monte de drama.”
Lucretia disse, balançando a cabeça com uma expressão complexa.
“Depois que você… partiu, meu irmão e eu nos reunimos brevemente algumas vezes. Naquela época, o Banido já havia desaparecido completamente do mundo real, mas podíamos sentir que você ainda estava… ‘vivo’.”
Ela olhou pela janela, como se falasse consigo mesma, sussurrando sobre o passado que os outros não conheciam.
“Perto da fronteira, ao cair da noite, nas rotas que você já havia explorado, bastava um leve relaxamento mental para ‘ouvirmos’ sua voz. Aquele rugido irracional, cheio de malícia e desejo de destruição, vinha das profundezas do mundo, vez após vez, como se lutasse para emergir, querendo rasgar a barreira entre o mundo real e o Subespaço…
“Várias vezes, nós até vimos você e o Banido no crepúsculo, na transição do dia para a noite — aquele navio emergia da escuridão, aproximando-se de nós como o apocalipse. Por onde passava, havia apenas morte.
“No entanto, mais tarde descobrimos que apenas nós podíamos ver aquela cena. Ela existia apenas em nossa visão, em nossos pensamentos.
“Mais tarde ainda, meu irmão resumiu algumas regras. Ele descobriu que era precisamente por causa da ‘nossa’ existência que o seu ‘olhar’ era atraído. Quanto mais próximos eu e Tyrian estávamos, mais forte era essa atração… Você sabia? Como luzes. Duas luzes juntas emitem um brilho mais forte, e eu e Tyrian éramos o seu ‘farol’ para retornar do Subespaço ao mundo real…
“Então, nós nos separamos, cada vez mais distantes. Tyrian foi para a fronteira norte, e eu continuei navegando para o sul — quando estávamos a meio mundo de distância, finalmente paramos de ver sua ilusão. E quando nos afastamos um pouco mais… finalmente paramos de ouvir seu rugido.”
Lucretia soltou um leve suspiro, como se um grande peso tivesse sido removido, uma frase contida por um século, um suspiro atrasado por cem anos.
Duncan ouvia em silêncio ao lado, sem saber o que dizer. Ele sabia que a “bruxa” estava, na verdade, relembrando e discutindo outra pessoa. Ele não precisava sentir nenhum fardo por sua narrativa, nem precisava sentir nenhum pesar ou culpa. Mas, por alguma razão, era difícil para ele permanecer indiferente, e até mesmo um “sentimento” que não sabia se pertencia a ele surgia incontrolavelmente em seu coração. Assim, após um longo silêncio, ele só pôde suspirar suavemente: “Foi difícil para vocês.”
“Na verdade… tudo bem”, Lucretia sorriu, balançando a cabeça suavemente. “Nos primeiros dez anos, sentimos muito a sua falta. Até mesmo ao ouvir aquelas vozes e ver aquelas ilusões, tínhamos pensamentos irreais, pensando que se você realmente retornasse ao mundo real seguindo a ‘luz’, talvez tudo pudesse ficar bem novamente.
“E nos dez anos seguintes, os desastres aterrorizantes causados pela aproximação frequente do Banido ao mundo real aumentaram dia a dia. Começamos a ter medo. Além disso, impulsionados por um sentimento que não sabíamos se poderíamos chamar de ‘senso de responsabilidade’, meu irmão e eu começamos a procurar uma maneira de exilá-lo completa e verdadeiramente.
“Alguns anos depois… nosso ‘exílio’ pareceu começar a funcionar. Quando o medo gradualmente diminuiu, a saudade não pôde deixar de surgir. Meu irmão ocasionalmente mencionava os velhos tempos. Tínhamos muito cuidado para não mencionar seu nome e o do Banido, mas não podíamos deixar de discutir as grandes rotas e as viagens memoráveis…
“E nos últimos trinta ou quarenta anos, tudo o que podia ser discutido já havia sido discutido. Finalmente, gradualmente paramos de falar sobre o Banido. Tudo parecia ter passado. Até mesmo nos documentos oficiais da maioria das cidades-estado e nas experiências de navegação dos capitães, o Banido já havia se tornado um ‘termo histórico’, uma lenda — e, com isso, o medo do mundo em relação ao Névoa do Mar e ao Brilho Estelar também pareceu diminuir bastante.
“Então, você apareceu — o Carvalho Branco escapou da tempestade e trouxe a terrível notícia para a cidade-estado de Pland… Você sabia? Tyrian não dormiu bem por três dias inteiros depois de receber a notícia.”
Ela de repente riu, como se não risse tão relaxadamente em um século.
Nas pontas de seu cabelo, o adorno de cabelo prateado em forma de ondas e penas balançava com o sorriso, emitindo um brilho quente.
Duncan suspirou suavemente.
No entanto, quando ele estava prestes a dizer algo, um grito agudo veio de repente da direção da sala de estar, interrompendo a conversa entre ele e Lucretia.
Parecia a voz de Nina.
Duncan e Lucretia se entreolharam rapidamente e correram em direção à sala de estar.
No meio do caminho, ouviram a voz de Nina, cheia de choque e raiva —
“Por que! Eles! Colocam! Feijão podre! Nas panquecas—”
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