Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Devido ao atraso da tarde, quando Shirley e Nina voltaram para a Rua da Coroa, 99, o céu já estava perto do crepúsculo, na hora do jantar.

    Nesta “Cidade dos Elfos”, não havia muitas opções de comida que pudessem ser consideradas normais, mas, felizmente, ingredientes normais sempre podiam ser comprados. Os “servos” de Lucretia prepararam um jantar suntuoso para os convidados, e Nina e Shirley finalmente puderam comer “comida que humanos deveriam comer”.

    Só que elas não comeram essa refeição com muita tranquilidade.

    O que viram e ouviram naquela instalação de contenção subterrânea ainda as deixava um pouco atordoadas — havia muitas coisas que não entendiam, muitas coisas que ultrapassavam sua visão de mundo, sobre a Grande Aniquilação, sobre a “Muralha Negra” no ponto de partida da história, sobre aqueles apocalipses, sobre aqueles velhos mundos destruídos e sobre este “Mundo Novo” nascido na Era do Mar Profundo…

    Para duas meninas que, estritamente falando, ainda podiam ser consideradas “crianças grandes”, essas coisas eram um pouco complexas e avançadas demais.

    Depois de terminar apressadamente o jantar, Shirley voltou para seu quarto. Ela sentou-se à mesa, atordoada por um tempo, e então ouviu o leve som de correntes se agitando ao seu lado. Cão projetou a cabeça para fora da sombra.

    Shirley baixou a cabeça, olhou para este “amigo” que quase a devorou, mas que a criou desde pequena, e perguntou muito seriamente: “Você entendeu tudo o que o Capitão disse hoje? Algo sobre fragmentos de vários mundos se juntando e então a Era do Mar Profundo e tal…”

    “Consegui entender uma parte”, Cão deitou-se, esfregando suavemente o joelho de Shirley com sua cabeça enorme. “Mas as partes que ultrapassam demais o senso comum, eu também não entendi.”

    “Eu quase não entendi nada”, disse Shirley honestamente. “Claro, eu entendi as frases, mas pedir para minha mente imaginar como essas coisas aconteceram especificamente é um pouco demais para mim. Afinal, por que deveríamos nos importar como este mundo nasceu?”

    Ela disse, muito confusa. Embora soubesse que estava se mostrando muito superficial, na frente de Cão, ela nunca precisou esconder nada.

    “Não se pode viver sem saber de nada, não é?”, ela continuou. “De qualquer forma, nós dois vivemos assim por mais de dez anos…”

    Cão de repente levantou a cabeça. Suas órbitas oculares vazias, cheias de uma luz cor de sangue, fixaram-se nos olhos de Shirley. Uma voz baixa e rouca veio de seu corpo esquelético: “Pode-se viver sem saber de nada, mas também precisamos saber que esta sobrevivência não é algo garantido — isso vale para as pessoas comuns, e para o próprio mundo também.”

    A atitude repentinamente séria de Cão assustou Shirley. Ela primeiro ficou atônita e, em seguida, pareceu vagamente entender algo, mostrando uma expressão pensativa.

    “O mundo não vai ‘sobreviver’ assim para sempre”, Cão, vendo a reação de Shirley, deitou a cabeça novamente e disse com a voz abafada. “A Grande Aniquilação pôde destruir aqueles ‘velhos mundos’, então a Era do Mar Profundo de hoje também pode ser terminada por outra força. As pessoas comuns talvez possam permanecer ignorantes até o dia em que o fim chegue. Elas encontrarão o fim em uma ilusão de paz duradoura, assim como na terra natal daquele ‘guerreiro’, aqueles cidadãos no reino que esperavam pelo retorno triunfante dos heróis. A ‘ignorância’ é sua maior bênção… Para eles, pode-se viver sem saber de nada, porque eles também não sabem a que distância a morte está.

    “Mas Shirley, nós não somos aqueles que permaneceram no reino — estamos no Banido.

    “Você também viu os presságios. O sol negro que desceu sobre Pland, o projeto do criador fora de controle nas profundezas de Geada, o Mar Infinito quando o Fenômeno 001 se apagou, e aqueles cultistas enigmáticos… Se você fosse uma ‘pessoa vivendo no reino’, não teria contato com eles.”

    Cão falou longamente, balançou a cabeça, retraiu cuidadosamente as presas e esfregou o focinho no joelho de Shirley.

    “Shirley, é verdade que se pode viver sem saber de nada, mas agora você já sabe — o Capitão está preocupado com aqueles presságios sinistros, e na verdade você também está, só que você mesma não percebeu.”

    Shirley ficou em silêncio. Ela sentou-se na cadeira por um longo tempo, e só então estendeu a mão e a pousou no crânio de Cão, sua voz carregada de um pouco de inquietação: “Cão, nós somos aqueles que andam pela terra devastada?… Como aquele ‘guerreiro’, nós também estamos marchando rumo ao apocalipse?”

    “Nós caminhamos em direção ao apocalipse, e o apocalipse caminha em nossa direção. A ‘cognição’ é uma via de mão dupla. Quando sabemos de sua existência, não há mais diferença. A única questão é… de que forma e quando ele nos alcançará. Acho que é isso que preocupa o Capitão.”

    “… Cão, por que você entende tão bem? Você entende… esse sentimento?”

    A luz sangrenta nos olhos de Cão brilhou e escureceu lentamente: “Porque eu já senti algo semelhante antes — quando você era muito, muito pequena.”

    Ele levantou a cabeça e olhou nos olhos de Shirley.

    Sua voz era muito suave, como há muitos anos, quando ele tentava acalmar a menina assustada para dormir em uma noite de tempestade —

    “No início, você era uma… pequena criatura que eu não conseguia entender de forma alguma. Você era tão pequena, tão fraca, seus braços eram como gravetos finos que poderiam ser facilmente quebrados. Mesmo com uma simbiose com um demônio, você era tão frágil que parecia que poderia morrer a qualquer momento…

    “Todos os dias, a cada segundo, eu me preocupava com a chegada dessa ‘morte’. Eu não entendia sua respiração, não entendia seus batimentos cardíacos, não entendia como os humanos sobreviviam. Eu só descobri que você precisava procurar comida depois que você ficou com fome por vários dias — como um demônio abissal, eu ainda não estava acostumado a ‘pensar’ naquela época, e você… não se comunicava muito comigo.

    “Então, eu sempre senti que você poderia morrer a qualquer momento por algo que eu ainda não conseguia entender. Sua respiração, seus batimentos cardíacos, sua circulação sanguínea, esses estranhos ‘fenômenos’ eram, aos meus olhos, ‘equilíbrios temporários’ extraordinariamente frágeis. A interrupção de qualquer um desses elos faria você me deixar. É por isso que, quando você era pequena, sempre me via ao seu lado, apalpando e observando quando acordava, porque eu precisava verificar sua respiração e seus batimentos cardíacos, para verificar se você já estava morta.

    “Essa preocupação é muito semelhante à preocupação do Capitão hoje.”

    Cão fez uma pausa, levantou a cabeça para olhar para o segundo andar, mas logo desviou o olhar.

    “Eu e o Capitão não podemos ser comparados, e eu não deveria especular sobre seus pensamentos levianamente. Mas hoje, em seu olhar, senti aquela… preocupação familiar. Este mar aparentemente vasto e infinito, para ele, é provavelmente como você era para mim há muitos anos — uma ‘coisa estranha’, pequena e fraca, sem saber como sobreviveu, apenas sabendo que morreria a qualquer momento.”

    Cão falou longamente e agora finalmente se calou. Shirley, no entanto, ainda o olhava aturdida, sem emitir um som por um longo tempo.

    “Por que você não está falando?” Cão perguntou, confuso.

    “Você… nunca me disse isso antes”, disse Shirley, um pouco atordoada. “Acontece que quando eu era pequena…”

    “Tudo passou”, disse Cão em voz baixa. “Você sobreviveu, então todas as preocupações e dificuldades do passado são coisas do ‘passado’.”

    Shirley franziu os lábios e, de repente, levantou a cabeça com um pouco de preocupação, olhando na direção do segundo andar: “Cão, você acha… que seremos como o guerreiro e seus companheiros da história?”

    “Se possível, não quero ser como eles”, Cão balançou a cabeça. “O guerreiro não pôde impedir o fim do mundo com uma espada de aço. Sua jornada em direção ao apocalipse foi árdua, mas fadada ao fracasso — mas, como é o Capitão quem nos lidera, obviamente temos mais do que apenas uma espada de aço, então estou disposto a ser um pouco mais otimista.”

    “O Capitão, ah…”, Shirley suspirou. “Quem sabe o que o Capitão está fazendo agora… ele nem desceu para jantar.”

    “Você quer subir para levar comida e dar uma olhada depois?”

    Uh, melhor não — de qualquer forma, Alice com certeza irá.”

    “É verdade.”


    Olhando para o céu peculiar do lado de fora da janela, onde a luz do dia se desvanecia e o céu escurecia, mas uma leve camada de “luz solar” dourada sempre permeava as frestas entre os edifícios altos, Duncan soltou um leve suspiro, virou-se e acendeu a luz elétrica do quarto.

    Embora a “luz solar” que se espalhava pelas ruas trouxesse uma “iluminação” eterna para Porto Brisa, depois que o Fenômeno 001 se pôs, a luz do sol que se espalhava da superfície do mar próxima e era bloqueada camada por camada pelos edifícios, afinal, não podia iluminar toda a cidade. Nas profundezas da cidade-estado, onde a “luz solar” era bloqueada pelos edifícios, a noite ainda era visível, e aqui, as pessoas ainda precisavam do consolo da luz.

    A luz brilhante dissipou a penumbra que se espalhava ao redor, parecendo adicionar um pouco de calor ao quarto.

    Do lado de fora da janela, devido ao enfraquecimento do poder do Fenômeno 001, no céu sem estrelas e sem lua, a fenda pálida da Criação do Mundo estava gradualmente emergindo.

    Um brilho frio e pálido se espalhava na noite, mas era cortado em pedaços pela “luz solar” que permeava entre os edifícios altos, apresentando uma cena bizarra, que não podia ser vista em outras cidades-estado, da Criação do Mundo e da luz solar aparecendo e se entrelaçando simultaneamente.

    Duncan olhou para a “ferida” em forma de fenda no céu, mas em sua mente ainda se lembrava das “ilusões de memória” que vira hoje.

    Ele pensou naquele “rubor profundo”, semelhante a uma enorme cicatriz, que atravessava o céu.

    Aquela “luz vermelha”, que se estendia pelo espaço cósmico e cuja lei de propagação parecia não estar em conformidade com o senso comum da física, o que era exatamente?

    Seja na ilusão da queda da Nova Esperança, na pintura a óleo da mansão de Alice, ou na terra natal do “guerreiro” à beira da destruição, aquela luz vermelha estava presente.

    Não havia dúvida de que aquela luz vermelha era o “culpado” que os eruditos buscavam arduamente, que causou o evento da “Grande Aniquilação”, ou pelo menos o “primeiro símbolo” da ocorrência da Grande Aniquilação.

    Olhando para a “Criação do Mundo”, que também atravessava o céu, Duncan não pôde deixar de ter uma série de “associações” infundadas em seu coração —

    A destruição de cada “velho mundo” foi acompanhada pelo aparecimento daquela enorme luz vermelha, e na “Era do Mar Profundo” do Mundo Novo, a pálida Criação do Mundo pairava no céu… Haveria alguma conexão entre os dois?

    A “Criação do Mundo”, que iluminava o céu noturno do Mar Infinito, era um eco do apocalipse do velho mundo? Ou um remanescente da força destrutiva da Grande Aniquilação?

    Duncan até teve uma suposição ainda mais inquietante —

    Aquela força destrutiva talvez nunca tenha se dissipado. Ela agora apenas entrou em algum tipo de estado de sono, aparecendo no céu noite após noite, e a chamada “Criação do Mundo”… era apenas a forma daquela “luz vermelha” durante seu período de sono.

    A função do Fenômeno 001 não seria “hipnotizar” periodicamente aquele “rubor profundo apocalíptico”?

    Em meio a essa série de suposições, o olhar de Duncan gradualmente se tornou solene, e outra questão que ele não havia considerado antes surgiu de repente em sua mente.

    Em sua terra natal, pelo menos na terra natal de sua memória… ele não havia visto aquela “luz vermelha”.

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