Capítulo 58: Nível Inferior
Duncan estava profundamente intrigado pelas características únicas e arrepiantes que tornavam a boneca gótica, Alice, tanto fascinante quanto assustadora. Apenas o som de seu nome fazia os marinheiros tremerem. A boneca, que demonstrava sinais de consciência e se movia sozinha, era uma visão impressionante. Era ainda mais perturbador vê-la correr sem a cabeça. Apesar dessas peculiaridades sombrias, Duncan era cético de que essas características justificassem uma posição tão alta na lista de Anomalias.
Para contextualizar, Duncan consultou uma passagem no livro didático de Nina sobre outra anomalia, na tentativa de entender melhor o sistema de classificação:
A Anomalia 196, conhecida como ‘Sangue’, era uma entidade perigosa contida nos cofres subterrâneos da Igreja da Tempestade em Pland. Ela aparecia como uma massa equivalente ao sangue de um adulto, movendo-se sozinha e buscando substituir o sangue de qualquer ‘hospedeiro’ próximo. Mantida a temperaturas abaixo de zero em vinte e dois tanques especializados, permanecia contida, a menos que sangue fosse derramado a menos de dez metros, momento em que quebrava seu selo e atacava. Esta anomalia podia superar qualquer proteção oferecida por um chamado ‘Santo’, sendo fatal para seu hospedeiro.
A Anomalia 196 era uma das mais mortais sob o controle de Pland, e todos os detalhes sobre ela eram publicamente acessíveis para garantir uma resposta rápida caso fosse acidentalmente liberada.
Duncan, que não estava familiarizado com o termo ‘Santo’, assumiu que se referia a alguém com habilidades sobrenaturais poderosas, como a Inquisidora Vanna, uma figura frequentemente mencionada nos meios de comunicação. Ele se perguntou quantos Santos seriam capazes de lidar com a Anomalia 196 nas cidades-estado.
Embora esta anomalia fosse perigosa, ela estava classificada logo abaixo de 200. Em contraste, Alice, a boneca gótica, estava classificada como 099, indicando um nível de perigo significativamente maior.
No entanto, Nina apontou que a correlação entre os números das anomalias e sua natureza não era tão direta. As classificações nem sempre refletiam diretamente o poder ou a ameaça relativa de diferentes anomalias. Anomalias de classificação mais alta geralmente apresentavam maiores riscos ou exibiam ‘características’ mais erráticas e impactantes, que poderiam potencialmente mudar a história.
Estar entre os cem primeiros indicava uma anomalia com perigo ou complexidade sobrenatural. No entanto, o mistério em torno da boneca amaldiçoada conhecida como Alice persistia…
Duncan, por impulso, olhou para Alice. Ela o seguia lealmente, sorrindo docemente de uma forma que entregava sua aparência inocente.
Duncan se perguntou se ela estava alheia à sua natureza perigosa. Haveria mais detalhes sobre ela ocultos nos arquivos históricos de Pland? Mas, como um humilde comerciante de antiguidades das regiões mais baixas da cidade, ele teria permissão para acessar tais informações?
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Enquanto se movia silenciosamente pelos compartimentos do navio, guiado pela luz verde e fantasmagórica de sua lanterna, a realidade ao seu redor parecia cada vez mais distorcida. Sob essa luz estranha, tudo parecia alterado de maneira antinatural.
Para alguém não acostumado, essas distorções poderiam causar desconforto ou até convulsões. No entanto, Duncan encontrava uma paz e clareza incomuns em resposta à atmosfera do navio. Seu domínio sobre as seções elusivas da embarcação estava lentamente retornando, acalmando os objetos inquietos no convés inferior.
No silêncio inquietante, Duncan dirigiu-se a Alice, notando seu desconforto. “É claro que você estaria desconfortável com as profundezas do oceano. Até mesmo essa descida para os compartimentos parece te incomodar”, observou ele.
Tentando manter a compostura, Alice respondeu:
“Eu… eu não estava preparada para isso! Achei que esta fosse apenas mais uma área do navio. Não percebi que descer para baixo do convés significava estar abaixo do nível do mar! Afinal, eu sou apenas uma marionete!”
Duncan, nada convencido por sua explicação, respondeu asperamente:
“Ainda assim, você se empenhou em aprender a cozinhar, apesar de não precisar comer. Não use sua natureza de boneca como desculpa para fugir das responsabilidades. Você terá que compensar essa falta de conhecimento mais tarde na jornada.”
Alice suspirou, frustrada com suas palavras, mas Duncan rapidamente interveio:
“O que é que te assusta tanto no mar profundo? Especificamente, por que a ideia de estar ‘submersa no mar’ te apavora tanto assim? Eu entendo que o oceano tem seus perigos, e é comum as pessoas terem medo da água. No entanto, seu medo parece ir além do normal — você fica petrificada só de pensar em estar debaixo d’água. Ah, e tente não apertar tanto os babados do seu vestido; não podemos consertá-los se rasgarem enquanto estivermos neste navio.”
Pega de surpresa, Alice rapidamente afrouxou o aperto no vestido, apenas para inconscientemente segurar um botão.
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“Eu… Eu realmente não pensei muito sobre isso. Só tenho medo. Não é normal ter medo?”
Ignorando a pergunta de Alice, Duncan voltou sua atenção para a navegação no navio. Enquanto se aproximavam das escadas que levavam mais fundo na embarcação, mais perto do oceano, a escuridão parecia tão densa quanto nas áreas anteriores. Duncan ergueu sua lanterna para iluminar melhor o caminho, e juntos puderam distinguir vagamente a forma de uma porta à distância.
Notando isso, Duncan, o capitão espectral, franziu o cenho, confuso. A escadaria estava estranhamente posicionada, no lado oposto do navio em relação às escadas que haviam descido inicialmente, o que não fazia sentido arquitetônico.
Além disso, a distância que haviam percorrido parecia excessivamente longa. O Banido era certamente um navio grande, mas a extensão do percurso parecia incomumente prolongada.
E então havia a porta no final da escadaria — por que uma porta estaria posicionada ali?
Com essas perguntas em mente, Duncan continuou cauteloso, motivado pela determinação de não deixar mistérios permanecerem nas sombras.
Alice se sentia ainda mais inquieta com esse desdobramento estranho. Mesmo assim, decidiu que era mais seguro ficar ao lado de Duncan, o capitão e mestre do navio fantasma, do que permanecer sozinha na escuridão no topo das escadas. Então, ela o seguiu.
Quando finalmente chegaram à misteriosa porta no fundo, Duncan ergueu sua lanterna, e ambos notaram uma inscrição acima da moldura da porta que dizia: ‘Porta Final’.
Alice expressou sua confusão:
“Porta Final… Não é estranho uma inscrição simplesmente nomear a porta, ao invés de descrever sua finalidade?”
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Duncan refletiu sobre isso, seus olhos alternando entre a inscrição e a maçaneta que estava prestes a segurar.
“Parece mais um aviso”, concluiu. “Se você passar por aqui e encontrar outra porta, é melhor não mexer com ela.”
Alice assentiu nervosamente e observou enquanto Duncan, com ousadia, empurrava o que estava rotulado como a ‘porta final’.
Assim que entraram, uma luz pálida e estranha preencheu o espaço além.
Alice arfou, incrédula:
“Isso… Isso…”
Recuperando a compostura, ela exclamou:
“Capitão! O fundo do navio está rasgado! Está destruído!”
Duncan parecia imperturbável ao pânico dela. Ele permaneceu imóvel, cativado pela visão à sua frente.
O nível mais baixo do Banido estava em ruínas!
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Por toda parte, a realidade parecia quebrada, com vastas rachaduras distorcendo o espaço, transformando o ambiente em uma cena caótica e fragmentada. Além dessas fendas, Duncan podia ver claramente não as profundezas escuras do oceano, mas um vazio pálido e vago, pontilhado por inúmeras luzes e sombras em movimento, girando pelo imenso vazio.
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