Índice de Capítulo

    Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)

    Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)

    Agora, Shirley estava mais uma vez a caminho da lendária “Muralha do Silêncio” — junto com Lucretia e ainda sob a guia da jovem elfa chamada “Shireen”.

    Elas atravessavam a densa floresta, onde luz e sombra se entrelaçavam, pisando em trilhas cobertas de galhos secos e folhas caídas, passando por espinheiros e arbustos. Os sons de pequenos animais e pássaros desconhecidos ecoavam das profundezas da mata, mas apenas acentuavam a solidão e a frieza do lugar. Olhando para as costas de “Shireen” à sua frente, Shirley teve a estranha sensação de que o tempo havia retrocedido, como se estivesse de volta à sua recente jornada pela floresta com a mesma guia.

    Porque tudo parecia inalterado. A floresta mantinha sempre a mesma aparência, os sons ao redor eram idênticos, e as duas “Shireen” eram absolutamente iguais.

    A única coisa que lembrava a Shirley que as coisas haviam mudado era a presença da senhorita bruxa ao seu lado, que ocasionalmente se transformava em confetes coloridos para se locomover.

    A essa altura, Shirley já havia contado tudo a Lucretia sem que a jovem elfa percebesse, compartilhando a informação com todos os que estavam presos no sonho, incluindo o Capitão, que operava de fora. Os preparativos do Capitão antes de entrar no sonho foram bastante eficazes; o poder das chamas mantinha todos conectados, e essa ligação era mais útil do que Shirley imaginara.

    Ao saber o que acontecera com a “outra Shireen”, Lucretia não pôde deixar de olhar para a jovem elfa à frente com um sentimento diferente.

    ‘A “Shireen” que acompanhou Shirley virou uma árvore no final… e, antes da transformação completa, ela parecia ter algo a dizer…’

    ‘Então, essa “Shireen” também vai virar uma árvore de repente?’

    ‘Nina e Morris também encontraram uma guia que se autodenominava “Shireen”. E aquela “Shireen” deles? Também passará pela mesma mudança?’

    ‘Afinal, qual é a história por trás dessas “Shireen” que aparecem no Sonho do Inominado?’

    No início, Lucretia pensava que “Shireen” era apenas uma entidade mental, caoticamente formada a partir da consciência subjacente do sonho. No entanto, as pistas agora indicavam que ela possuía uma particularidade muito além do imaginado. Essa elfa chamada “Shireen” parecia ter uma conexão extremamente complexa com esta floresta e com todo o “Sonho do Inominado”, uma relação muito mais profunda do que a simples ligação entre um “sonho” e uma “entidade mental”.

    Seu “processo de transformação” em árvore talvez revelasse a essência dessa conexão.

    A jovem elfa à frente diminuiu o passo de repente. Ela se virou, olhou para Lucretia e Shirley, que haviam ficado para trás, e acenou com vigor: “Andem logo, a floresta está perigosa demais agora. Poderão descansar quando chegarmos à Muralha do Silêncio.”

    Lucretia olhou para Shirley e Cão ao seu lado, e então todos aceleraram o passo.

    Enquanto se apressava para acompanhar, Shirley sussurrou em voz baixa: “Aquele coelho de pelúcia gigante vai mesmo conseguir encontrar aqueles cultistas que vivem se escondendo? Tenho a sensação de que ela não é muito confiável…”

    “Rabi às vezes é mesmo desobediente, mas, contanto que eu dê uma ordem clara, ela não causa problemas,” disse Lucretia suavemente. “Caçar em sonhos é a sua especialidade. Ela vai rastreá-los, persegui-los até o mundo real, e então poderemos descobrir onde esses cultistas estão escondidos.”

    “…Então, que diabos é aquele coelho gigante?” resmungou Cão ao lado. “Senti nele um… cheiro de gente. Definitivamente não é uma simples criação mágica, nem mesmo um espírito ou demônio comum. E não é só ele, as outras coisas no seu navio também têm essa mesma sensação, me dão um arrepio estranho.”

    “Cheiro de gente?” Lucretia olhou para Cão com um leve sorriso. “Ah, só posso dizer que você faz jus ao nome de Cão de Caça Abissal. Sua percepção é realmente aguçada… Sim, é cheiro de gente. O ‘cheiro de gente’ emitido por uma parte da minha alma.”

    Cão ficou pasmo por um momento: “…Hã?”

    “Não é nada demais. Na primeira vez que encontrei Rabi, ela arrancou um pedaço da minha alma. O que ela provavelmente não esperava era que aquele pequeno pedaço de alma o privaria de sua liberdade para sempre. Muitas coisas no Brilho Estelar são assim. São entidades perigosas da fronteira ou do plano espiritual que, em algum momento, se consideraram caçadoras e me viram como presa… Isso, para mim, é uma grande conveniência.”

    Lucretia falou sem pressa, com um sorriso sutil no rosto.

    “Eu uso minha alma como isca para procurar servos na fronteira. Uma alma amaldiçoada pelo subespaço é o melhor veneno e a melhor corrente. Aqueles que se enganam pensando que são os caçadores acabam presos pela minha alma, costurados em tecidos, engarrafados em frascos, entalhados em madeira, tornando-se parte do Brilho Estelar. Esses servos são todos necessários, pois preciso de assistentes para minhas explorações na fronteira, e os humanos… têm uma taxa de mortalidade muito alta.”

    Após explicar, a Bruxa do Mar baixou o olhar para Cão: “Sua percepção está correta. Aquele navio está cheio de pequenos ‘cheiros de gente’. Você não precisa ficar tão chocado.”

    Cão e Shirley ouviram, atônitos, aparentemente abalados com o que Lucretia descrevia. Os dois ficaram em silêncio por um tempo.

    Vendo a reação deles, Lucretia apenas sorriu, satisfeita com o silêncio de Shirley e Cão. Ela se virou e continuou a seguir os passos de Shireen.

    Observando a “Bruxa do Mar” se afastar, Shirley balançou a corrente em sua mão e, embora estivesse falando através da conexão mental, não pôde deixar de baixar a voz: ‘Cão, Cão, isso não é o que o Capitão chama de… como é mesmo… ceva? Ela usa a si mesma como ceva1?’

    ‘Parece muito com isso’, Cão também sussurrou na conexão mental. ‘O Capitão mencionou isso quando me explicou as técnicas de pesca.’

    ‘Digna filha do Capitão…’ Shirley não pôde deixar de suspirar. ‘Parece que a família inteira tem talento para a pesca…’

    ‘O Tyrian não parece ser muito bom nisso, ou é?’

    ‘Ele pescou tantos submersíveis do mar naquela época! Mesmo que não tenha sido com as próprias mãos, ele era um dos responsáveis…’

    ‘Isso também conta?’

    ‘Me diga se eles foram ou não tirados do mar!’

    ‘…’


    Duncan fechou silenciosamente a “escuta” da conversa de Shirley e Lucretia.

    Ele estava sentado em uma “cadeira” delineada por um amontoado de linhas e cores caóticas, com as palavras “ceva” e “pesca” girando em sua mente. Depois de um tempo, ele desviou o olhar para um “espelho” próximo, feito de linhas irregulares, e resmungou para a imagem de Agatha que apareceu na superfície: “Ela não consegue memorizar conhecimento sério, mas quando lhe digo outras coisas, ela as assimila muito bem. Se Shirley dedicasse um décimo dessa mentalidade para decorar vocabulário, não estaria competindo em notas com a cabeça oca da Alice.”

    Agatha ficou em silêncio por um momento, hesitando por alguns segundos antes de falar: “Para ser sincera, também acho que a senhorita Lucretia tem ‘técnicas de pesca’ excepcionais…”

    Duncan acenou com a mão: “De qualquer forma, não precisamos nos preocupar com Shirley e Lucretia por enquanto. Estar juntas é muito mais seguro do que agir sozinhas, e talvez aquele coelho chamado Rabi realmente consiga capturar aqueles cultistas esquivos. O mais importante agora… é este navio.”

    Ele se levantou da cadeira, seu olhar varrendo as cores e linhas caóticas ao redor, discernindo os contornos do quarto em meio ao caos. Após se adaptar inicialmente ao ambiente confuso e estonteante, ele já conseguia reconhecer muitas coisas familiares.

    Móveis básicos como a cama e as cadeiras estavam todos lá, e em geral correspondiam às suas posições “corretas” no mundo real. No entanto, quando se tratava de detalhes específicos, como os objetos sobre a mesa ou as decorações na parede, havia apenas manchas de cor vagas e confusas.

    Exatamente como Duncan havia deduzido: ‘O Cabeça de Bode do mundo real não ousa espiar a verdadeira situação dentro do meu quarto. No máximo, ele só conseguiu dar uma olhada rápida na aparência geral quando abri a porta, e essas impressões vagas formaram as linhas e cores caóticas deste cômodo.’

    ‘Fora deste quarto, no entanto, o Banido foi recriado quase perfeitamente, um por um. Isso porque o Cabeça de Bode do mundo real conhece cada detalhe do navio, exceto o quarto do capitão.’

    Este “Banido” de atmosfera sinistra foi transformado a partir da “sombra” do Banido do mundo real, mas não era uma simples conversão. No processo, a “cognição” e a “memória” do Cabeça de Bode desempenharam um papel crucial.

    O fato era óbvio: este navio era o sonho de seu “primeiro-imediato” — embora o Cabeça de Bode não fizesse a menor ideia de que estava sonhando.

    Mas, ao mesmo tempo, este também era o sonho de Silantis — ou, pelo menos, existia algum tipo de “conexão” entre este lugar e o sonho de Silantis.

    Duncan ergueu a mão e uma pequena chama apareceu no ar à sua frente. A chama ondulou como a superfície da água, espalhando-se rapidamente em todas as direções, mas parou ao tocar as bordas do “quarto caótico”, refletindo-se de volta com ondulações.

    Este era o resultado dos “testes” que Duncan vinha fazendo ali há algum tempo.

    Dentro deste “quarto que o Cabeça de Bode não consegue perceber”, ele podia invocar suas chamas livremente, sem se preocupar em despertar Silantis como da última vez. Fora do quarto, porém, ele só podia usar as chamas que havia “mapeado” previamente para este navio. Qualquer chama adicional poderia despertar Silantis e levar ao fim prematuro do Sonho do Inominado.

    ‘Então… existe uma maneira segura de me permitir assumir o controle total deste navio e, ao mesmo tempo, estabelecer um contato mais profundo com Silantis, sem “assustá-la” como da última vez, evitando sua “resistência”?’

    Em meio à sua reflexão, Duncan ergueu a cabeça e olhou para a saída do quarto.

    ‘Talvez eu esteja complicando demais as coisas — pode ser algo muito simples.’

    Após um momento de hesitação, ele instruiu Agatha a permanecer temporariamente nesta “sala segura” e saiu do quarto.

    O “Cabeça de Bode” atordoado ainda estava parado, olhando fixamente para o nada perto da mesa de navegação, sem reagir à aparição de Duncan. Duncan passou direto por ele, atravessou a sala de mapas, saiu pela porta da cabine do capitão e, seguindo a rota familiar em sua memória, subiu as escadas na parte de trás da cabine e chegou ao convés da popa.

    Na escuridão infinita e na névoa que flutuava lentamente, algo surgiu no campo de visão de Duncan, como se estivesse esperando silenciosamente por ele, e há muito tempo.

    Era o leme do Banido.

    “… É preciso assumir o leme mais uma vez.”

    1. Ceva é o mesmo que isca, em contexto de pesca[]
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