Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 597: Corrente de Luz
Desde que descobrira este sinistro Banido navegando na escuridão e névoa sem fim, Duncan fora muito cauteloso e não tentara assumir seu timão.
Porque ele não tinha certeza da natureza deste navio, nem sabia como ele reagiria à sua “tomada de controle”.
Mas agora, ele sabia que este navio era a sombra do Banido, e que a “entrada no sonho” inconsciente do Cabeça de Bode causara essa transformação, o que dissipou muitas de suas preocupações.
Era hora de fazer este navio, que navegava em um sonho, saber quem era o verdadeiro capitão.
Duncan subiu lentamente à plataforma de comando no convés da popa, passando pelos ganchos de ferro e cabos próximos. Os cabos permaneciam em silêncio, à espreita na escuridão, enquanto o timão de cor escura oscilava levemente para a esquerda e para a direita no centro da plataforma, como se estivesse fazendo microajustes no leme mesmo neste mundo dos sonhos, como se o Cabeça de Bode ainda estivesse controlando o curso com toda a diligência.
Duncan parou diante do leme, respirou fundo e não pôde deixar de se lembrar da primeira vez que subiu à plataforma de comando e colocou as mãos no timão.
Afastando temporariamente os pensamentos irrelevantes, ele estendeu a mão e agarrou lentamente o cabo de madeira na borda do timão. Uma sensação lisa e fria veio ao toque, junto com uma leve resistência.
Duncan ignorou a resistência que vinha através do sonho. Ele mobilizou as “chamas seguras” que havia enviado para o navio anteriormente, ordenando que se reunissem na plataforma de comando, enquanto apertava o leme com força.
No instante seguinte, filetes de fogo surgiram do nada na escuridão. As chamas espirituais incendiaram a plataforma de comando da popa em um piscar de olhos. O corpo de Duncan se transformou em um espírito semitransparente no fogo, e toda a plataforma, incluindo o timão, foi instantaneamente envolvida pelas chamas!
Naquele momento, Duncan sentiu o navio se transformar em suas mãos, sentiu-o apresentar uma estrutura clara e distinta em sua mente, assim como o Banido do mundo real. Ele percebeu seu convés, seus mastros, cada uma de suas velas e cada cabo, e abaixo do convés, os compartimentos e corredores envoltos em escuridão e segredo…
O navio inteiro rangeu. Este Banido, feito de sombra como “matéria-prima” e moldado pelo poder dos sonhos, pareceu despertar de repente. Ele finalmente reconheceu seu capitão. Cada parte do navio parecia exultar, e os cabos, barris e outros objetos que estavam em silêncio um segundo antes começaram a balançar na escuridão.
Em seguida, à medida que as velas espirituais se enchiam, Duncan sentiu que este navio fantasma, que antes apenas vagava lentamente na névoa escura, começou a acelerar, como se tivesse um destino, e começou a navegar em direção a algum ponto na escuridão.
Duncan ficou surpreso com a mudança no navio, especialmente sua aceleração súbita na escuridão. No entanto, antes que pudesse perceber o que havia à frente, uma voz surgiu abruptamente de algum lugar, falando diretamente em sua mente: “… Quem está aí?”
Era uma voz feminina que soava um tanto infantil, com uma confusão sonolenta, como se estivesse meio acordada. A voz era onipresente na escuridão e, no segundo seguinte a ouvi-la, Duncan sentiu luzes e sombras surgirem diante de seus olhos. Em seguida, uma estrutura colossal emergiu abruptamente da escuridão à frente, e um brilho etéreo apareceu no curso do navio!
Parecia um vórtice gigante, mas dentro dele podiam-se ver inúmeras estruturas semelhantes a vinhas ou galhos. Infinitas vinhas e galhos avançaram da proa do Banido e, em um piscar de olhos, cobriram quase cada centímetro de espaço além da amurada. Diante dos olhos de Duncan, a vasta estrutura vegetal ocupou todo o seu campo de visão e continuou a se estender e mover para trás conforme o Banido navegava.
A sensação era como se o navio tivesse subitamente “voado” para um “túnel” tecido por alguma estrutura vegetal colossal. As vinhas e galhos entrelaçados formavam as paredes e o teto do túnel, trazendo consigo uma imensa sensação de opressão. Ao mesmo tempo, inúmeros pontos de luz surgiram ao longo das vinhas, reunindo-se como água.
Essas “luzes” finalmente tocaram o Banido e começaram a se aproximar do convés da popa, onde Duncan estava, seguindo pelo convés e pela amurada. Algo parecia se aglutinar na luz, mas nunca conseguia formar uma imagem clara. Elas apenas se reuniam, aproximando-se, como se procurassem por algo.
Em meio à avassaladora pressão visual e ao brilho misterioso, Duncan segurava firmemente o timão. Ele se controlava, decidido a não dar um passo para fora da plataforma de comando, acontecesse o que acontecesse. Ele observava as vinhas e galhos escuros se moverem do lado de fora da amurada, sentindo a velocidade do Banido diminuir pouco a pouco, como se uma resistência invisível estivesse freando o navio. Então, as luzes errantes finalmente se reuniram perto dele, e ele ouviu novamente aquela voz infantil, como a de uma criança:
“Quem é? Quem está aí?”
Duncan encarou a luz, observando-a se aproximar e vagar sem rumo ao redor da plataforma de comando, enquanto a voz ecoava em sua mente.
“Você voltou? Sasroka… você voltou para casa? Você esteve fora por tanto tempo…
“Eu não consigo te ver… onde você está? Já posso abrir os olhos? Já acabou tudo?
“Eu… eu não consigo abrir meus olhos, Sasroka. Estou com um pouco de medo, não consigo ver nada… mas algo chegou…
“Eu protegi todos eles. Construí uma muralha, você poderá vê-los quando voltar… mas eu não consigo te ver. Você está aí? Você voltou?”
A luz chamava repetidamente, vagando e se reunindo ao redor da plataforma de comando, apenas para se dispersar novamente em correntes de luz cegas e caóticas. Várias vezes, o brilho chegou perto do timão, tocando até mesmo a bainha e os punhos da roupa de Duncan.
No entanto, “ela” parecia incapaz de perceber a presença de Duncan.
“Ela” não via nada, como se… a dona da voz e Duncan estivessem separados por dimensões diferentes, em tempos e espaços distintos.
Duncan olhou para as correntes de luz errantes, ouvindo as vozes que pareciam ecoar diretamente em sua mente. Quando a luz se aproximava, ele podia até sentir um leve calor, e as palavras repetidas pareciam transmitir muitas informações cruciais. Ele franziu a testa e, após uma breve hesitação, finalmente estendeu a mão. Com uma mão ainda no timão, a outra alcançou uma das correntes de luz.
A luz tocou sua palma, transmitindo uma temperatura que parecia ao mesmo tempo real e ilusória.
Em seguida, o brilho atravessou seu braço, e a temperatura que trazia desapareceu, como se estivesse em outra dimensão. A luz fluiu em direção à popa.
Mas foi nesse breve momento de contato que Duncan soube, ou melhor, “confirmou” o nome por trás daquele brilho e daquela voz: ela era Silantis, a Árvore do Mundo dos elfos.
O nome foi impresso diretamente na mente de Duncan como informação, como se manifestasse… a natureza contaminante do conhecimento.
Duncan ficou atordoado por um instante e, em seguida, sentiu o convés sob seus pés tremer de repente.
No segundo seguinte, o tremor se espalhou por todo o navio. Este “Banido”, que navegava na névoa escura, começou a balançar violentamente. As velas espirituais se extinguiram rapidamente na escuridão, e inúmeras rachaduras apareceram no convés. Tudo o que constituía o casco do navio estava se desvanecendo, se desintegrando. Até mesmo o timão nas mãos de Duncan começou a perder sua sensação sólida.
Duncan ficou perplexo por um momento e logo percebeu o que estava acontecendo.
A estabilidade do sonho estava diminuindo. O momento de “despertar” chegara.
Mas desta vez ele havia evitado claramente estimular Silantis com as chamas, e no contato anterior, ele não sentiu nenhum sinal de que Silantis estivesse “despertando”… Por que a estabilidade do sonho ainda estava caindo tão rapidamente?
O vento desordenado que se levantou de repente no deserto despertou Vanna de seus pensamentos. Ela se levantou abruptamente do abrigo de pedras e olhou na direção de onde o vendaval soprava.
A areia se erguia à distância como uma muralha. Tudo na poeira e na névoa rapidamente se tornou indistinto, e as rochas escarpadas se tornaram etéreas e distorcidas, como se pudessem desaparecer deste mundo a qualquer momento.
Após um breve momento de espanto, Vanna recebeu uma mensagem do Capitão.
A estabilidade do Sonho do Inominado estava diminuindo. O sonho desta vez estava prestes a acabar.
A poeira que se erguia e o cenário distante que se distorcia e se tornava etéreo indicavam que a fronteira do sonho se aproximava rapidamente.
Vanna virou a cabeça abruptamente, olhando para o outro lado da fogueira que estava quase se apagando.
O velho gigante estava levantando a cabeça, e chamas calmas queimavam em suas órbitas oculares afundadas como se fossem esculpidas em pedra.
“Viajante, parece que chegou a hora de dizer adeus.”
Vanna ficou perplexa por um momento e de repente entendeu: “Como… como o senhor sabe…”
“Não sei o que vai acontecer, mas sinto o fim temporário de uma jornada. Você está partindo, não é?” disse o gigante gentilmente, levantando-se lentamente do monte de pedras. Seu corpo se ergueu como uma torre ao vento, e ele olhou calmamente nos olhos de Vanna. “Você não pertence a este mundo destruído. Ainda há vida em você, e este mundo não vê vida há muito tempo.”
Vanna abriu a boca, mas não sabia o que dizer. Neste breve momento antes do despertar do sonho, o tempo que lhe restava parecia ser apenas para despedidas.
O gigante sorriu e se curvou para pegar seu cajado de aparência peculiar.
Vanna notou que mais alguns símbolos haviam aparecido na superfície deste enorme “cajado”, que era mais alto que o próprio gigante.
Eram algumas letras, com uma estranha… e enganosa familiaridade. Por um instante, ela até sentiu que estava prestes a entendê-las, mas no segundo seguinte, o significado daquelas palavras escorreu de sua mente como água.
Eram palavras que ela não conhecia.
“Viajante, talvez nos encontremos novamente,” a voz do gigante veio de cima, interrompendo o devaneio de Vanna. “E talvez em breve.”
Vanna ficou surpresa: “Por quê?”
O gigante apontou para o cajado: “Porque há uma frase aqui que ainda não terminei de gravar.”
Vanna piscou, prestes a perguntar algo, mas o vendaval já havia avançado ferozmente por trás dela. Na poeira que se erguia subitamente, o mundo em sua visão balançou e desmoronou rapidamente.
No instante seguinte, o mundo em colapso se recompôs, tornando-se a sala de estar familiar, a mesa de jantar familiar e o teto familiar.
Aqueles rostos familiares também reapareceram diante dela.
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