Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 610: Dormindo no Crepúsculo
Apesar de serem ambos grupos de cultistas, o Culto do Sol e o Culto da Aniquilação tinham características totalmente diferentes, o que levava Duncan a ter de considerar suas “particularidades” ao lidar com suas ações.
A essência dos cultistas da aniquilação era a de “humanos” que obtinham poder e se transformavam através de pactos com demônios. Embora esses cultistas sombrios acreditassem explicitamente no Senhor das Profundezas, seu “deus” na verdade não correspondia a essa relação. Portanto, além de seu poder transcendental profano, o Culto da Aniquilação, como um todo, ainda era um grupo de mortais. Suas ações e limitações eram baseadas na identidade “humana” — não importava o quão alto gritassem o nome do Senhor, esses loucos não tinham muita relação com um deus antigo.
Se seu culto fosse dividido em uma “estrutura de pirâmide”, então desde os crentes comuns sem poder na base, passando pela classe sacerdotal capaz de invocar demônios, até os chamados “Santos” no topo, que já não pareciam mais humanos, cada nível se esforçava para escalar em direção à suposta “verdade” superior — mas o “Senhor das Profundezas” no topo da pirâmide não queria saber deles.
O Culto do Sol, no entanto, não era assim. A “transmissão estrutural” do Culto do Sol era de cima para baixo.
No topo estava o “sol negro” moribundo. Este deus antigo em mau estado, em seu sono à beira da morte, gerou uma poderosa descendência chamada “Prole”. Essa “Prole”, por sua vez, observava atentamente e protegia os monstros humanoides conhecidos como “remanescentes”, que eram as Escórias do Sol. Mais abaixo, estavam os numerosos e confusos crentes do sol. E esses crentes mortais não adoravam o sol negro por vontade própria, mas porque o poder do sol negro vazou para a dimensão da realidade, causando uma distorção espiritual em uma parte da humanidade, que se converteu espontaneamente em crentes.
Portanto, de certa forma, todo o “Culto do Sol” podia ser visto como uma “excrescência” de um deus antigo, uma estrutura ramificada do poder e da carne do sol negro.
Ao enfrentar o Culto da Aniquilação, era preciso pensar neles como humanos. Ao enfrentar o Culto do Sol, no entanto, era preciso primeiro pensar “nele” como um deus antigo caótico — cada Prole, cada Escória, eram os tentáculos que o deus antigo movia e contraía inconscientemente em seu sono.
Esses tentáculos se infiltravam no Sonho do Inominado, e um certo “instinto” de um nível superior os impelia a roubar o “sol” do Sonho do Inominado. Considerando sua natureza superior, o método desses seres para entrar no Sonho do Inominado era provavelmente mais simples e brutal do que o dos cultistas da aniquilação… e também mais perigoso.
Duncan soltou um suspiro leve, pondo de lado temporariamente seus pensamentos turbulentos.
“Após o fim deste Sonho do Inominado, faça com que Rabi confirme a localização daquele navio o mais rápido possível”, ele disse a Lucretia em sua mente. “Quanto mais rápido, melhor — contanto que se tenha cuidado para não alertar aquele ‘Santo’.”
A voz de Lucretia hesitou por alguns segundos antes de responder: “O senhor está… preocupado com os elfos usados como oferendas?”
“Pelo ritual de entrada no sonho, eles não correm risco de vida por enquanto, mas aqueles cultistas podem realizar outros rituais, e pode não haver apenas aqueles dois elfos naquele navio”, o tom de Duncan era sério. “Essa é uma das razões. A outra é que estou muito interessado naquela ‘cabeça de bode’ em suas mãos. A essência da cabeça de bode pode realmente ser um ‘fragmento de um deus antigo’. Se for o caso, esse fragmento não pode continuar nas mãos de um bando de cultistas. Quem sabe que nova operação suicida eles inventarão a seguir?”
Não sabia se era impressão sua, mas assim que Duncan terminou de falar, ele sentiu uma leve… mudança emocional vindo da “marca” de Lucretia. O humor da bruxa parecia ter melhorado inexplicavelmente.
“Entendido. Vou planejar isso direitinho com Rabi”, a voz de Lucretia soou. “Em breve, encontrarei aquele navio.”
“Certo.”
Duncan respondeu em sua mente, depois soltou um suspiro e se virou para a mesa de navegação.
A escultura de madeira preta de uma cabeça de bode olhava calmamente para ele. Embora parecesse imóvel no momento, ela já havia mudado de ângulo uma vez.
Ela despertou, mas ainda não falou.
Duncan caminhou até a mesa de navegação, seu olhar varrendo a superfície.
A projeção daquela floresta misteriosa e exuberante no mapa já havia substituído as marcações oceânicas e as rotas de navegação anteriores. A imagem etérea do Banido se movia lentamente sobre o mar de árvores.
O Cabeça de Bode na borda da mesa seguiu os passos de Duncan, movendo lentamente seu olhar.
Depois de um tempo indeterminado, este Cabeça de Bode taciturno (para ser honesto, Duncan achava que essa palavra soava um pouco incongruente com o Cabeça de Bode) finalmente quebrou o silêncio: “Você veio de novo, amigo… você parece ter mudado um pouco.”
“Mudado?” Duncan arqueou as sobrancelhas. “Que tipo de mudança?”
“Eu não sei dizer, mas agora, você parece… me fazer sentir mais seguro”, disse o Cabeça de Bode lentamente. “Antes, quando você aparecia aqui, me deixava confuso e nervoso. Eu não conseguia entender sua existência. Mas agora, embora eu ainda não saiba quem você é, aquela sensação de confusão e nervosismo desapareceu.”
Duncan olhou silenciosamente nos olhos do Cabeça de Bode.
Ele sabia que seu “método” desta vez funcionou.
Ele havia entrado no reflexo do Banido através do espelho antes das nove da noite, assim como Agatha havia feito. E quando a transformação ocorreu depois das nove, ele se tornou diretamente parte deste “navio dos sonhos” junto com a mudança do reflexo.
Em outras palavras, ele passou de um “intruso” para um “dos nossos” neste sonho.
Após várias tentativas, ele finalmente encontrou o verdadeiro caminho para “entrar aqui”. Agora, ele podia finalmente agir livremente — fosse explorando este navio, assumindo o leme, ou navegando com este navio para explorar aquela névoa escura, ele não despertaria mais Silantis, nem o Cabeça de Bode.
“Provavelmente porque finalmente nos familiarizamos,” Duncan sorriu. Ele obviamente não podia revelar a existência deste sonho a uma entidade mental adormecida, então usou outra explicação. “Isso é bom.”
“Familiarizados?” O Cabeça de Bode virou levemente a cabeça, parecendo pensar brevemente nas palavras de Duncan. Comparado ao último encontro, seu estado de torpor e sonolência parecia ter diminuído um pouco, mas ainda estava um pouco lento para reagir. “Ah, isso parece ser realmente bom… agora somos amigos melhores.”
Duncan pensou um pouco e desistiu da ideia de ir para a plataforma de comando “assumir o leme” por enquanto. Em vez disso, sentou-se na cadeira de encosto alto atrás da mesa de navegação.
Ele olhou para o Cabeça de Bode que o observava em silêncio e fez uma pergunta cautelosa: “Onde está Silantis agora?”
O Cabeça de Bode virou a cabeça, parecendo um pouco surpreso com a pergunta de Duncan. Ele hesitou de forma rara e, após essa reação quase humana, falou lentamente: “Silantis está aqui, em todos os lugares.”
“Aqui? Em todos os lugares? Pode explicar melhor?” Duncan franziu a testa e logo acrescentou: “Não tenho más intenções. Só quero… conversar com ela. Não sei se você consegue entender, mas ela está em perigo. Um grupo de pessoas mal-intencionadas quer machucar Silantis, e eu espero encontrá-la antes deles.”
Duncan não sabia se sua explicação posterior teve algum efeito, mas, após um momento de silêncio, o Cabeça de Bode de fato falou.
“…Aqui é Silantis”, ele disse, olhando nos olhos de Duncan. “Você já está dentro de Silantis. Você está em seus pensamentos, em suas memórias. Aqui é a fronteira, e também o centro. Mas… você não pode vê-la.”
Ouvindo a primeira parte das palavras da cabeça de bode, Duncan teve uma epifania instantânea, mas a última frase o deixou perplexo: “Por quê?”
“Porque Silantis ainda não se lembrou de si mesma. Antes que ela se lembre de tudo, ela não é uma existência definida… e agora, ela não quer acordar.”
“Você quer dizer que Silantis está atualmente dispersa nesta névoa escura como uma espécie de entidade espiritual, e por não conseguir formar uma consciência completa de si mesma, ela é uma existência sem forma no momento?” Duncan entendeu imediatamente o que o outro queria dizer e logo perguntou: “Então, há alguma outra maneira de eu poder vê-la? Ou apenas estabelecer comunicação já seria suficiente.”
Ele se lembrou de sua experiência anterior “assumindo o leme” neste navio dos sonhos, lembrou-se das correntes de luz que apareceram na escuridão e das vozes dentro delas. Ele tinha certeza de que eram os pensamentos de Silantis, mas esses “pensamentos” pareciam estar em outra dimensão, não respondendo ao seu chamado.
Desta vez, o Cabeça de Bode ficou em silêncio por mais tempo do que antes.
Depois de um tempo indeterminado, ele finalmente falou:
“Deixe-a dormir mais um pouco, só um pouquinho… não precisa de muito tempo, deixe-a acomodá-los…”
Um vento desordenado soprou de repente em seus ouvidos, e a poeira que se espalhava envolveu sua visão em um instante.
No entanto, antes que Vanna pudesse levantar a mão instintivamente para bloquear a poeira, o vendaval parou à sua frente, e uma voz veio do vento: “Viajante, nos encontramos novamente.”
Vanna olhou imediatamente na direção da voz.
Na poeira que se acalmava gradualmente, a figura do gigante se tornou clara.
Ele estava sentado em meio a um monte de rochas negras desmoronadas e em ruínas. Ao seu lado, estava aquele “cajado” exageradamente grande. A “fogueira” que queimara por um tempo indeterminado já se apagara. Aos pés do gigante, restava apenas uma pilha de cinzas que ainda emitia um leve calor e faíscas.
Vanna ergueu o olhar e olhou ao redor.
Ainda era o mesmo lugar onde se despediu do gigante, o mesmo abrigo, ao lado da mesma fogueira. Ela havia retornado com precisão a este “local”, e o gigante parecia estar esperando por ela.
“Eu disse que nos encontraríamos novamente em breve”, o gigante sorriu gentilmente, as rugas se acumulando em seu rosto. “Veja, a fogueira ainda está quente.”
“Você esteve me esperando aqui o tempo todo?” Vanna ficou um pouco surpresa. “Eu pensei…”
“Foi apenas uma pequena espera”, disse o gigante calmamente. “De qualquer forma, aqui só resta desolação, e eu não tenho muito o que fazer. Esperar, de certa forma, tem algum significado.”
Ele fez uma pausa e depois ergueu a cabeça, seu olhar se fixando à distância.
“Já que você chegou, Viajante… se você também não tem um destino no momento, gostaria de levá-la a um lugar.”
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