Hora da Recomendação, leiam Fagulha das Estrelas. O autor, P.R.R Assunção, tem me ajudado com algumas coisas, então deem uma força a ele ^^ (comentem também lá, comentários ajudam muito)
Talvez passe a usar mais esse espaço para recomendar outras obras (novels ou outras coisas que eu achar interessante ^^)
Capítulo 614: Sob a Ruptura
Duncan sentia seu pensamento se espalhando pelo navio, sua percepção se expandindo como uma teia de aranha. Cada parte do navio parecia ter se tornado parte de sua própria estrutura corporal — mais suave e mais claro do que da última vez. O navio fantasma, navegando na fronteira do sonho, revelava-lhe todos os seus segredos sem reservas.
Seu espírito começou a descer, do alto convés da popa para os porões do convés inferior, para o compartimento onde pólvora e balas de canhão eram armazenadas, para o depósito de cabos de âncora, para o tanque de lastro… de cada parede a cada pilar, de cada corda a cada lanterna…
O navio inteiro se transformava lentamente em uma “projeção” detalhada, surgindo em sua mente.
Duncan comparou a estrutura que surgia em sua mente com a de sua memória, esperando encontrar alguma inconsistência — talvez uma viga que não estivesse no projeto estrutural, talvez um compartimento que não existisse na dimensão real, talvez um espaço oculto que ninguém jamais tivesse descoberto. Esse seria o ponto de deslocamento na fusão da consciência do Banido com a do Cabeça de Bode.
Isso era originalmente apenas um pensamento que surgiu de repente. Duncan apenas percebeu que este navio não era o sonho do “Cabeça de Bode” por si só, e que a própria “memória” do Banido também poderia estar desempenhando um papel. Assim, ele queria encontrar evidências da existência deste último. Mas, à medida que sua percepção continuava a se espalhar pelo navio, essa ideia de “tentar” se tornava cada vez mais firme, como se uma voz invisível o estivesse guiando, dizendo-lhe:
Havia realmente algo escondido nas profundezas deste navio. O Banido realmente queria lhe contar alguns segredos. Em algum lugar que não podia ser visto da dimensão real, o Banido ainda “se lembrava” de algumas coisas que aconteceram no subespaço.
E essa memória oculta apontava para um dos segredos mais centrais deste sonho complexo:
A origem do Cabeça de Bode e a conexão entre este navio dos sonhos e Silantis.
Era sua intuição? Ou o Banido estava realmente sussurrando para ele incessantemente?
Um pensamento nebuloso surgiu na mente de Duncan, mas ele não se deteve nessa questão. Ele se concentrou em seu trabalho, procurando por quaisquer pistas que pudessem existir.
Não foi fácil. Mesmo sendo o navio com o qual ele estava mais familiarizado, Duncan não ousaria dizer que se lembrava claramente da localização de cada item a bordo do Banido. Ele esperava mais que sua “intuição” pudesse desempenhar um papel nesse processo, ajudando-o a encontrar algum lugar inconsistente.
Mas ele não esperava que isso não precisasse de nenhuma ajuda da intuição — a inconsistência era muito mais óbvia e abrupta do que ele imaginava.
Abaixo do terceiro convés, ele percebeu uma grande… “falha de percepção”.
Duncan franziu a testa. Enquanto segurava firmemente o timão, ele baixou o olhar para o lugar que “via” em sua percepção: bem abaixo dele.
O fundo do navio?
Duncan de repente pensou em algo. Em seguida, ele hesitou por um momento e soltou a mão do timão.
Sua conexão com o “leme” foi interrompida.
Mas a percepção que o navio lhe transmitia não foi interrompida. Ele ainda podia sentir que o navio estava conectado a ele. O navio ainda navegava rapidamente na escuridão e na névoa sem fim, e no espaço escuro fora do casco, as enormes estruturas que pareciam raízes e galhos de plantas ainda existiam, passando rapidamente por todos os lados.
O “fluxo de luz” de Silantis também estava lá, e ainda circulava incessantemente ao redor da plataforma de comando.
Vendo esta cena, Duncan teve uma leve compreensão: parecia que, uma vez estabelecida a conexão, ela não seria quebrada até o final deste sonho.
Como ele entrou no sonho como um reflexo, ele próprio já era parte deste sonho. As várias ações que ele realizava aqui não seriam mais consideradas “invasão externa”, nem seriam facilmente expulsas ou apagadas pelo poder de restauração do próprio sonho.
Confirmando este ponto, Duncan soltou um suspiro de alívio. Em seguida, ele deixou rapidamente a plataforma de comando, mas antes de ir para as profundezas do navio, ele voltou ao convés da popa e retornou à cabine do capitão.
Perto da porta da cabine do capitão, ele viu a antiga lanterna pendurada silenciosamente na parede.
Para ir para a estrutura inferior do Banido, era preciso levar uma lanterna. Embora não soubesse se ainda precisava seguir essa regra neste “navio dos sonhos”, ele decidiu agir com cautela.
A figura de Agatha apareceu no espelho próximo. Ela olhou para Duncan com curiosidade: “Capitão, o que o senhor vai fazer?”
“Vou para o fundo do porão”, disse Duncan rapidamente, enquanto olhava para a direção da mesa de navegação. O Cabeça de Bode ainda estava lá, quieto, sem qualquer reação. “Há algo no fundo do navio.”
Agatha ficou surpresa ao ouvir isso, e sua expressão imediatamente se tornou séria.
“Vamos conversando no caminho”, acrescentou Duncan. “Não discuta isso aqui.”
Dizendo isso, ele já havia pegado a lanterna de latão de estilo antigo e saído do quarto.
Ele atravessou rapidamente o convés enevoado e vazio. A “Primeira Chama” já havia acendido a lanterna, fazendo com que a chama emitisse uma luz verde-espectral. A névoa que flutuava ao redor recuou ligeiramente sob a luz da lanterna, e depois se fechou atrás dele. Na luz e sombra delineadas pela lanterna, uma sombra extra também se movia rapidamente ao seu lado, quase se sobrepondo à sua própria sombra.
A voz de Agatha veio daquela sombra: “O fundo do porão que o senhor mencionou… é aquela área da qual o senhor geralmente não me deixa aproximar?”
“Exato.” Duncan assentiu. Ele abriu a porta que levava ao porão inferior e desceu rapidamente as escadas, segurando a lanterna. “Na dimensão real, o fundo do porão do Banido se conecta ao subespaço. Há uma área fragmentada lá, e cada fenda revela uma cena refletida do subespaço. Sem minha companhia, é muito perigoso para qualquer um se aproximar.”
“… Só de ouvir sua descrição já parece muito perigoso.” A sombra de Agatha pareceu tremer. Embora não fosse possível ver sua expressão, a sombra claramente ficou um pouco mais pálida, o que parecia indicar que ela estava um pouco nervosa. “Pela sua reação, parece que a situação no fundo do porão deste ‘navio dos sonhos’ mudou?”
“Apareceu uma estrutura que eu nunca vi antes”, disse Duncan rapidamente. Ele atravessou as escadas sob o convés, passou pelo armazém vazio e escuro, descendo camada por camada. “Está logo ali na frente, a área fragmentada fica no fundo da última escada…”
Depois de atravessar os corredores e escadas com pouca luz, atmosfera sinistra e até mesmo luz e sombra invertidas na velocidade mais rápida possível, Duncan e a sombra de Agatha pararam de repente.
Eles chegaram ao final da última escada, e a porta que conectava à área fragmentada do fundo do porão estava silenciosamente à vista de Duncan.
A sombra de Agatha “rastejou” pela escada até o lado de Duncan, depois subiu um pouco pela parede. A julgar pela silhueta, ela parecia estar olhando para a porta à frente com cautela e nervosismo.
“Não sinto nada do outro lado da porta”, disse ela em voz baixa. “Mesmo a essa distância, não sinto nada… É como se do outro lado da porta houvesse um puro ‘vazio’.”
Duncan olhou para Agatha e depois para a lanterna em sua mão.
O brilho emitido pela lanterna iluminava suavemente os arredores, mas quando atingia a porta à frente, parecia ser absorvido por algo, deixando apenas metade do brilho.
Ele respirou fundo, deu um passo à frente e empurrou a porta.
No mundo real, o espaço atrás desta porta era o porão fragmentado mais baixo do Banido — sua estrutura flutuando no subespaço.
E aqui, o que primeiro saltou aos olhos de Duncan foi uma escuridão sem fim.
Ele quase pensou que ia cair naquela escuridão sem fim.
Duncan sentiu seus nervos ficarem tensos inconscientemente. A vasta escuridão contrastava tão fortemente com a cena do porão anterior que o pegou de surpresa, mas logo ele viu que havia outras coisas na escuridão.
Seus olhos se adaptaram gradualmente e ele viu claramente as enormes coisas que surgiam na escuridão:
Primeiro, uma estrutura contínua extremamente grande, larga como uma estrada flutuando no vazio, com as duas extremidades ligeiramente elevadas. Em seguida, tornaram-se mais claros os muitos “galhos” conectados aos dois lados dessa estrutura contínua. Eles estavam dispostos ordenadamente na escuridão, estendendo-se até o fim do campo de visão, como… costelas.
Duncan estava no meio dessa estrutura contínua de grande escala. Ele viu que, além do “tronco” sob seus pés e dos finos galhos semelhantes a costelas ao redor do tronco, não havia mais nenhuma parede externa do porão — nem mesmo paredes externas fragmentadas. Entre as “costelas”, havia apenas escuridão e vazio. Fios de névoa surgiam na escuridão, pairando neste vasto espaço.

Duncan sabia o que era aquilo.
Ao mesmo tempo, a sombra de Agatha também “rastejou” para fora da porta e pousou ao lado da sombra de Duncan. Ela olhou atônita para a cena inacreditável à sua frente e, depois de um momento, reagiu de repente: “Espere, isso é…”
“A quilha do Banido”, Duncan assentiu levemente, falando com voz grave.
“Quilha… É verdade, o Banido é um navio à vela construído há um século, claro que tem uma quilha…” Agatha hesitou, com um tom de voz estranho. “Mas parece…”
Duncan não deu atenção a Agatha. Sua atenção estava quase que totalmente atraída pela impressionante estrutura que se curvava e se estendia na escuridão.
Esta foi a primeira vez que ele viu a quilha do Banido — porque, de acordo com as regulamentações de construção naval deste mundo, em circunstâncias normais, um navio de guerra à vela concluído não exporia a quilha em uma área visível do porão. E o “compartimento inferior” do Banido, onde a quilha originalmente poderia ser vista, já estava fragmentado e flutuando no subespaço, tornando impossível distinguir a estrutura da quilha.
Ele nunca havia pensado em como seria a quilha deste navio.
Agora ele sabia.
Ele caminhou até a “estrada” que flutuava na escuridão, seguiu em frente e parou na frente do primeiro “segmento”.
A luz da lanterna iluminou a enorme estrutura de conexão elevada e, mais adiante, havia o próximo “segmento” e mais “segmentos”.
Esse tipo de “estrutura de conexão” segmentada certamente não atendia aos requisitos de construção de uma quilha de veleiro. Para os navios à vela da era antiga, a quilha precisava ser uma única peça de madeira completa para suportar as ondas do mar.
Mas Duncan acreditava que a quilha na parte inferior do Banido, com suas muitas “estruturas de conexão”, era absolutamente mais forte do que qualquer outra quilha no mundo.
Porque era a espinha dorsal de um deus antigo.
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